Uma boa parte das dicas aqui contidas vieram de revistas que tratam da Língua Portuguesa (na maioria daquelas encontradas nas bancas). As demais foram colhidas aqui e ali, pela Internet, ou, ainda, num ou noutro texto perdido nas catacumbas de meu computador…
- A correta grafia de horas
- Um guia para usar o “etc.” do jeito certo
- Tautologia aplicada
- Oxímoro: uma rápida explicação detalhada
- Há alguns anos atrás
- Maiores esclarecimentos
- Tampouco ou tão pouco?
- Por hora ou por ora?
- Novo Acordo Ortográfico
- “Dia-a-dia” ou “Dia a dia”?
- “Em vez de” e “Ao invés de”
- Manual (bem-humorado) de Redação
- Metáforas, metonímias, catacreses…
- Os dilemas da preposição
- Como se conjuga o verbo no infinitivo?
- Pronomes pelo correio
- Regras básicas de Correspondência Comercial
- Correspondência Comercial sem Clichês
Grafia de horas
As formais mais comuns de grafar as horas que podem e devem ser seguidas em cartazes, convites, convocações, jornais, sentenças e coisas do gênero são as seguintes:
(1) Hora redonda:
1 hora – 2 horas – 3 – 4 horas – 5 horas…
“A reunião será às 8 horas.”
Ou
1h – 2h – 3h – 4h – 5h – 6h – 7h – 8h…
“A reunião será às 8h.”
Observe: sem espaço ente o número e o h, sem s e sem ponto!
(2) hora quebrada:
1h20min – 2h30min – 4h40min – 5h50min – 7h15min
“O início da palestra está marcado para as 19h30min.”
Ou
1h20 – 2h30– 4h40 – 5h50 – 7h15
“O início da palestra está marcado para as 19h30.
A grafia por extenso se reserva para convites formais, como o de casamento:
“A cerimônia será realizada às vinte horas do dia vinte de novembro de dois mil e quinze.”
Porém é totalmente aceitável nos dias de hoje optar pelas formas mais comuns.
A grafia com dois pontos, por fim, é usada em áreas especificas, como em anotações de voo, competições e programações com horário em sequência:
08:00h – 10:00h – 17:00h…
Não use esta última grafia em textos formais. Esta é usada em áreas especificas, somente.
Um guia para usar o “etc.” do jeito certo
O termo “etc.” é a abreviação da locução latina “ét cétera”, que significa “e outras coisas”. Emprega-se com o sentido de “e outros”, “e assim por diante”, “e o resto”, ou seja, para indicar que outras coisas mencionadas devem ser subentendidas. A grande questão aqui é: deve haver ou não deve haver vírgula antes de “etc.”?
Assim como antes da conjunção “e”, somente em casos raros existirá uso de vírgula antes da locução latina abreviada “etc.”, de acordo com a tradição gramatical.
Na visão gramatical moderna, conforme descreve a obra O Português do Dia a Dia, do professor Sérgio Nogueira Duarte da Silva, o uso da vírgula antes do “etc.” é facultativo.
O Dicionário Aurélio, na versão eletrônica, por exemplo, cita o seguinte exemplo: “Comprou na feira legumes, verduras, frutas, etc.”
No entanto, é importante salientar algumas regras:
– Não se deve usar o conectivo “e” antes de “etc”;
– Deve ser evitado o uso de “etc” para pessoas: “Estão presos Silva, José, Abreu etc.”;
– Caso o termo “etc.” finalize uma frase, o ponto final não deve ser duplicado (etc..);
– Não se usa “etc.” acompanhado por reticências (etc….). Usa-se “etc.” ou reticências.
Havendo dúvida, lembre-se de que “etc.”, tradicionalmente, não é precedido por vírgula. Questões modernas, de uso, tornaram tal vírgula facultativa.
O texto completo está neste link aqui.
Oxímoro: uma rápida explicação detalhada
Oxímoro é uma figura de retórica em que se combinam numa mesma expressão elementos linguísticos semanticamente opostos. Como exemplos, conforme se dê a construção de um texto, poderíamos ter as expressões “estridente silêncio”, “futuro arcaico”, “falsamente verdadeiro”, “simpatia assustadora”, “sofisticada simplicidade” e tantas outras mais.
A palavra oxímoro é formada de dois termos gregos” oxýs, que significa “agudo”, “penetrante”, “inteligente”, “que compreende rapidamente”, e morós, que quer dizer “tolo”, “estúpido”, “sem inteligência”.
Como se vê, o vocábulo é formado de dois elementos contraditórios, o que significa que a palavra “oxímoro” é um oxímoro…
A expressão há alguns anos atrás e outras de estrutura semelhante (ex.: há dois minutos atrás, há três dias atrás), apesar de muito divulgada e de ser considerada aceitável por muitos falantes, é desaconselhada por conter em si uma redundância desnecessária: o verbo haver indica tempo decorrido (ex.: há dois anos que não a vejo; o filme acabou há uns minutos) e o advérbio atrás serve também para indicar tempo passado (ex.: semanas atrás tinha havido o mesmo problema, um minuto atrás disse o contrário). Por este motivo, será aconselhável substituir a expressão há alguns anos atrás por há alguns anos ou por alguns anos atrás.
É um vício comum na linguagem empresarial pedir ou fornecer maiores esclarecimentos ou informações. Este comparativo “maior” está, entretanto, usado erradamente, pois uma informação não pode ser maior, em termos de crescimento; ela só pode ser acrescida de outras. Portanto, o correto é: mais esclarecimentos ou melhores esclarecimentos.
Vejamos os exemplos:
– Como você chegou aqui em tão pouco tempo?
– Não queria ir ao cinema, tampouco você!
– Tinha pouco interesse em ir à aula!
– Não gostei do espetáculo, tampouco das interpretações!
Observando as orações acima, devemos usar:
Tampouco quando queremos significado de “também não” ou “nem”. Muitas vezes, é comum pessoas dizerem: nem tampouco, como uma maneira de reforçar a negação. Exemplo:
– Sua atitude não me agradou, nem tampouco a do seu irmão.
Tão pouco quando significar “muito pouco”, “curto”, “pouca coisa”, “algo pequeno”, “escasso”. Tem relação com medida de tempo, de valor, de quantidade, etc. Observe:
– Ele gastou tão pouco para comprar o sapato, que deu até para comer uma pizza depois do shopping! (valor)
– Na nossa cidade choveu tão pouco que teve algumas queimadas. (quantidade)
– Estudei tão pouco que não sei se consigo fazer a prova! (quantidade)
– Estou aqui há tão pouco que ainda não vi sua mãe! (tempo)
Importante: O termo “pouco” acompanha e concorda com o substantivo em gênero e número quando se refere ao mesmo. Veja:
– Vocês ficaram tão poucos dias que não deu para conversarmos o suficiente!
– Tinha tão poucas pessoas no evento… mas foi muito bom termos ido!
– Há tão pouca honestidade no mundo, que ficamos pensativos no porvir!
Como se escreve a expressão por ora? A resposta depende da situação em que ela vá ser empregada.
Não se deve confundir a palavra hora, escrita com “h”, com a palavra ora, escrita sem “h”. Isso porque hora é o intervalo equivalente a sessenta minutos, é um tempo mensurável, é a hora incluída no relógio.
E, embora tenha a mesma origem da palavra hora, ora tem uso diferente. A palavra vem da expressão latina “haq hora”, que deu origem à palavra “agora”. Ou seja, a expressão “por ora” quer dizer “por enquanto”.
Pra quem ainda não sabe, a partir de janeiro de 2009 entrou em vigor o novo acordo ortográfico, as mudanças no idioma visam universalizar a língua portuguesa. Facilitando o intercâmbio cultural entre os países lusófonos entre outras coisas.
No Brasil 0,5% das palavras sofrerão modificações, em Portugal e nos restantes países lusófonos, as mudanças afetarão cerca de 2.600 palavras, ou seja, 1,6% do vocabulário total.
Alfabeto
• Nova Regra: O alfabeto agora é formado por 26 letras
• Regra Antiga: O ‘k’, ‘w’ e ‘y’ não eram consideradas letras do nosso alfabeto.
• Como Será: Essas letras serão usadas em siglas, símbolos, nomes próprios, palavras estrangeiras e seus derivados. Exemplos: km, watt, Byron, byroniano
Trema
• Nova Regra: Não existe mais o trema em língua portuguesa. Apenas em casos de nomes próprios e seus derivados, por exemplo: Müller, mülleriano
• Regra Antiga: agüentar, conseqüência, cinqüenta, qüinqüênio, frqüência, freqüente, eloqüência, eloqüente, argüição, delinqüir, pingüim, tranqüilo, lingüiça
• Como Será: aguentar, consequência, cinquenta, quinquênio, frequência, frequente, eloquência, eloquente, arguição, delinquir, pinguim, tranquilo, linguiça.
Acentuação
• Nova Regra: Ditongos abertos (ei, oi) não são mais acentuados em palavras paroxítonas
• Regra Antiga: assembléia, platéia, idéia, colméia, boléia, panacéia, Coréia, hebréia, bóia, paranóia, jibóia, apóio, heróico, paranóico
• Como Será: assembleia, plateia, ideia, colmeia, boleia, panaceia, Coreia, hebreia, boia, paranoia, jiboia, apoio, heroico, paranoico
Observações:
• nos ditongos abertos de palavras oxítonas e monossílabas o acento continua: herói, constrói, dói, anéis, papéis.
• o acento no ditongo aberto ‘eu’ continua: chapéu, véu, céu, ilhéu.
• Nova Regra: O hiato ‘oo’ não é mais acentuado
• Regra Antiga: enjôo, vôo, corôo, perdôo, côo, môo, abençôo, povôo
• Como Será: enjoo, voo, coroo, perdoo, coo, moo, abençoo, povoo
• Nova Regra: O hiato ‘ee’ não é mais acentuado
• Regra Antiga: crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem
• Como Será: creem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem
• Nova Regra: Não existe mais o acento diferencial em palavras homógrafas
• Regra Antiga: pára (verbo), péla (substantivo e verbo), pêlo (substantivo), pêra (substantivo), péra (substantivo), pólo (substantivo)
• Como Será: para (verbo), pela (substantivo e verbo), pelo (substantivo), pera (substantivo), pera (substantivo), polo (substantivo)
Observação:
• o acento diferencial ainda permanece no verbo ‘poder’ (3ª pessoa do Pretérito Perfeito do Indicativo – ‘pôde’) e no verbo ‘pôr’ para diferenciar da preposição ‘por’
• Nova Regra: Não se acentua mais a letra ‘u’ nas formas verbais rizotônicas, quando precedido de ‘g’ ou ‘q’ e antes de ‘e’ ou ‘i’ (gue, que, gui, qui)
• Regra Antiga: argúi, apazigúe, averigúe, enxagúe, enxagúemos, obliqúe
• Como Será: argui, apazigue,averigue, enxague, ensaguemos, oblique
• Nova Regra: Não se acentua mais ‘i’ e ‘u’ tônicos em paroxítonas quando precedidos de ditongo
• Regra Antiga: baiúca, boiúna, cheiínho, saiínha, feiúra, feiúme
• Como Será: baiuca, boiuna, cheiinho, saiinha, feiura, feiume
Hífen
• Nova Regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por ‘r’ ou ‘s’, sendo que essas devem ser dobradas
• Regra Antiga: ante-sala, ante-sacristia, auto-retrato, anti-social, anti-rugas, arqui-romântico, arqui-rivalidae, auto-regulamentação, auto-sugestão, contra-senso, contra-regra, contra-senha, extra-regimento, extra-sístole, extra-seco, infra-som, ultra-sonografia, semi-real, semi-sintético, supra-renal, supra-sensível
• Como Será: antessala, antessacristia, autorretrato, antissocial, antirrugas, arquirromântico, arquirrivalidade, autorregulamentação, contrassenha, extrarregimento, extrassístole, extrasseco, infrassom, inrarrenal, ultrarromântico, ultrassonografia, suprarrenal, suprassensível
Observação:
• em prefixos terminados por ‘r’, permanece o hífen se a palavra seguinte for iniciada pela mesma letra: hiper-realista, hiper-requintado, hiper-requisitado, inter-racial, inter-regional, inter-relação, super-racional, super-realista, super-resistente etc.
• Nova Regra: O hífen não é mais utilizado em palavras formadas de prefixos (ou falsos prefixos) terminados em vogal + palavras iniciadas por outra vogal
• Regra Antiga: auto-afirmação, auto-ajuda, auto-aprendizagem, auto-escola, auto-estrada, auto-instrução, contra-exemplo, contra-indicação, contra-ordem, extra-escolar, extra-oficial, infra-estrutura, intra-ocular, intra-uterino, neo-expressionista, neo-imperialista, semi-aberto, semi-árido, semi-automático, semi-embriagado, semi-obscuridade, supra-ocular, ultra-elevado
• Como Será: autoafirmação, autoajuda, autoaprendizagem, autoescola, autoestrada, autoinstrução, contraexemplo, contraindicação, contraordem, extraescolar, extraoficial, infraestrutura, intraocular, intrauterino, neoexpressionista, neoimperialista, semiaberto, semiautomático, semiárido, semiembriagado, semiobscuridade, supraocular, ultraelevado.
Observações:
• esta nova regra vai uniformizar algumas exceções já existentes antes: antiaéreo, antiamericano, socioeconômico etc.
• esta regra não se encaixa quando a palavra seguinte iniciar por ‘h’: anti-herói, anti-higiênico, extra-humano, semi-herbáceo etc.
• Nova Regra: Agora utiliza-se hífen quando a palavra é formada por um prefixo (ou falso prefixo) terminado em vogal + palavra iniciada pela mesma vogal.
• Regra Antiga: antiibérico, antiinflamatório, antiinflacionário, antiimperialista, arquiinimigo, arquiirmandade, microondas, microônibus, microorgânico
• Como Será: anti-ibérico, anti-inflamatório, anti-inflacionário, anti-imperialista, arqui-inimigo, arqui-irmandade, micro-ondas, micro-ônibus, micro-orgânico
Observações:
• esta regra foi alterada por conta da regra anterior: prefixo termina com vogal + palavra inicia com vogal diferente = não tem hífen; prefixo termina com vogal + palavra inicia com mesma vogal = com hífen
• uma exceção é o prefixo ‘co’. Mesmo se a outra palavra inicia-se com a vogal ‘o’, NÃO utliza-se hífen.
• Nova Regra: Não usamos mais hífen em compostos que, pelo uso, perdeu-se a noção de composição
• Regra Antiga: manda-chuva, pára-quedas, pára-quedista, pára-lama, pára-brisa, pára-choque, pára-vento
• Como Será: mandachuva, paraquedas, paraquedista, paralama, parabrisa, parachoque, paravento
Observação:
• o uso do hífen permanece em palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constiui unidade sintagmática e semântica, mantendo o acento próprio, bem como naquelas que designam espécies botânicas e zoológicas: ano-luz, azul-escuro, médico-cirurgião, conta-gotas, guarda-chuva, segunda-feira, tenente-coronel, beija-flor, couve-flor, erva-doce, mal-me-quer, bem-te-vi etc.
O uso do hífen permanece
• Em palavras formadas por prefixos ‘ex’, ‘vice’, ‘soto’: ex-marido, vice-presidente, soto-mestre
• Em palavras formadas por prefixos ‘circum’ e ‘pan’ + palavras iniciadas em vogal, M ou N: pan-americano, circum-navegação
• Em palavras formadas com prefixos ‘pré’, ‘pró’ e ‘pós’ + palavras que tem significado próprio: pré-natal, pró-desarmamento, pós-graduação
• Em palavras formadas pelas palavras ‘além’, ‘aquém’, ‘recém’, ‘sem’: além-mar, além-fronteiras, aquém-oceano, recém-nascidos, recém-casados, sem-número, sem-teto
Não existe mais hífen
• Em locuções de qualquer tipo (substantivas, adjetivas, pronominais, verbais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais): cão de guarda, fim de semana, café com leite, pão de mel, sala de jantar, cartão de visita, cor de vinho, à vontade, abaixo de, acerca de etc.
• Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao-deus-dará, à queima-roupa.
Consoantes não pronunciadas
Fora do Brasil foram eliminadas as consoantes não pronunciadas:
• ação, didático, ótimo, batismo em vez de acção, didáctico, óptimo, baptismo
Grafia Dupla
De forma a contemplar as diferenças fonéticas existentes, aceitam-se duplas grafias em algumas palavras:
• António/Antônio, facto/fato, secção/seção.
A expressão “dia a dia” é com hífen?
Se você consultar um dicionário, terá como resposta “dia-a-dia”. Exatamente assim, com hífen. Mas… não se dê por satisfeito, não. O uso do hífen depende do caso. Veja o texto deste anúncio, de um shopping center de São Paulo, veiculado em outdoors:
O dia-a-dia das mães é aqui.
No anúncio, “dia-a-dia” é sinônimo de “cotidiano“. A expressão está substantivada e grafa-se com hífen.
Dia-a-dia = cotidiano
“Dia a dia” pode ser escrita sem hífen também, como na canção “Pacato cidadão”, gravada pelo Skank:
Pacato cidadão, te chamei a atenção
não foi à toa, não
C’est fini la utopia mas a guerra todo dia
dia a dia, não
Tracei a vida inteira planos tão incríveis
Tramo a luz do sol
Apoiado em poesia e em tecnologia
Agora a luz do sol
Nesse caso, “dia a dia” não tem o sentido de “cotidiano”. Quer dizer antes “diariamente“, “todo dia“. Trata-se de um advérbio. Nesse caso, o hífen está dispensado.
dia a dia = dia após dia, diariamente
Veja outros exemplos de “dia a dia” sem hífen:
Ela melhora dia a dia.
Ela melhora dia após dia.
Ela melhora diariamente.
A expressão “dia-a-dia”, portanto, só é grafada com hífen quando é substantivada, quando aparece na frase como substantivo.
Por essas e por outras, preste sempre atenção quando for consultar o dicionário. Deixe a pressa de lado e leia o verbete até o fim.
Dica sugada lá do Alô Escola
Ao invés de significa “ao contrário de”; “ao revés de”; “lado oposto”. Assim, para usar a locução ao invés de, é necessário que existam idéias contrárias entre os termos conectadas. Veja alguns exemplos:
– Ao invés de triste, é alegre. (triste é antônimo de alegre).
– O preço do petróleo, ao invés de baixar, subiu.
– Ao invés partir, ficou. Maria, ao invés de sair, entrou. Joaquim, que pensara em dar uma “escapadinha”, ao invés ficar alegre, ficou triste.
Já o termo em vez de indica “substituição”; “troca”; “em lugar de”, ou seja, algo que é substituído por outra coisa:
– Em vez de ir ao cinema, foi ao teatro.
– Bebeu refrigerante em vez de cerveja.
– Em vez de investir na capacitação dos funcionários, a empresa preferiu terceirizar os serviços. (Repare que nessa frase não é possível empregar a locução “ao invés de” pelo fato de “investir na capacitação dos funcionários” não representar uma oposição expressa de “terceirizar os serviços”).
– Maria, só para ficar de olho no seu português, em vez de ir ao Shopping, foi ao Jogo de futebol.
Manual (bem-humorado) de Redação
1. Vc. deve evitar abrev., etc.
2. Desnecessário faz-se empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, segundo deve ser do conhecimento inexorável dos copidesques. Tal prática advém de esmero excessivo que beira o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. “não esqueça das maiúsculas”, como já dizia dona loreta, minha professora lá no colégio alexandre de gusmão, no ipiranga.
5. Evite lugares-comuns assim como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Chute o balde no emprego de gíria, mesmo que sejam maneiras, tá ligado?
9. Palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa merda.
10. Nunca generalize: generalizar, em todas as situações, sempre é um erro.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer meu amigo: “Quem cita os outros não tem idéias próprias”.
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Em outras palavras, não fique repetindo a mesma idéia.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Use a pontuação corretamente o ponto e a virgula especialmente será que ninguém sabe mais usar o sinal de interrogação
19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem bilhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las-ei!”
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca! Seu texto fica horrível!
25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da idéia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando, desta forma, o pobre leitor a separá-la em seus componentes diversos, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língüa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
Metáforas, metonímias, catacreses…
Linguagem figurada consiste no emprego de palavras e frases fora de seu sentido próprio.
Metáfora
É a transferência (do grego metaphora) de significado de um termo para outro, por semelhança ou suposta semelhança entre os termos comparados. A relação é subjetiva, e os termos – o que substitui e o substituído – mantêm a significação distinta e original. É recurso essencial à linguagem poética.
Na metáfora “a neve de seus cabelos” – menção à cabeleira branca -, neve obviamente será sempre neve e cabelo, sempre cabelo, até que não caia todo. Em outra metáfora terrível, “o mel de sua voz adoçou meus ouvidos”, o mel não perde as características por causa do mau uso, nem os ouvidos lambuzados deixam de ter sua serventia básica com o mesmo nome.
Eufemismo
É a substituição de palavra ou expressão deselegante, rude, ofensiva, imoral ou obscena por outra de sentido mais agradável ou menos chocante; representa uma mesma realidade, mas atenuada.
Às vezes, o sentdio é só supostamente desagradável. Entregar a alma a Deus (morrer), homem de cor (negro), fraqueza pulmonar (tuberculose), doença ruim (câncer), robustez (gordura).
Disfemismo
Emprego de expressão ou palavra grosseira em lugar de outra mais neutra: calhambeque por automóvel, perna-de-pau por jogador. Alguns aumentativos e diminutivos têm sentido pejorativo e servem, pois, ao disfemismo: poetastro, velhote, jogadorzinho, atorzinho.
Metonímia
Substituição de um termo por outro que com ele tem relação de sentido lógica e constante. Há entre os termos afinidade ou continuidade de sentido. A relação pode ser:
1) De causa pelo efeito ou vice-versa, como: o sol (calor) me sufoca. Você é minha perdição (é a causa da minha perdição);
2) Do lugar do produto pelo produto: um conhaque, um panamá (chapéu), um havana (charuto);
3) Do descobridor pela descoberta: ohm, volt, ampère;
4) Do símbolo pela causa simbolizada: a toga (magistratura), o altar (religião), a cruz (cristianismo), o bisturi (cirurgião);
5) Do autor pela obra: ler Drummond, comprar um Portinari;
6) Do termo abstrato pelo concreto e vice-versa, como: cérebro (inteligência), juventude (os jovens), realeza (rei), o moreno de tua pele (por tua pele morena);
7) Da coisa pelo lugar ou vice-versa: esteve na Editora Segmento (no lugar onde ela funciona); a greve provém da Place de Grève (lugar onde se reuniam os operários em dissídio) etc.
Sinédoque
Espécie particular de metonímia. É o emprego de um termo em lugar de outro, havendo entre os dois relação de extensão. O termo de extensão menor se inclui no outro de extensão maior. Ou vice-versa. Toma-se a parte pelo todo (pão por alimento, vela por navio, chaminé por fábrica), o singular pelo plural (O político é honesto), a matéria pelo produto (O bronze (sino) soou 11 horas), gênero pela espécie (O homem é um predador), etc.
Catacrese
Consiste no uso impróprio de uma palavra para dar nome a alguma coisa. É uma espécie de uso abusivo e se baseia na semelhança da forma ou função dos dois entes ou idéias. Perna de mesa, perna de cadeira, olho d’água, leito do rio, braços de poltrona; dentes do serrote; nariz do avião; pescoço de garrafa; virar um vaso de cabeça para baixo, embarcar (de barco) num avião, cabeça de prego etc. Tais usos, aparentemente indevidos, na primeira vez constituíam metáfora. Como passaram a integrar o uso cotidiano, pederam o valor metafórico. Catacrese, então, é metáfora desgastada, uma ex-metáfora.
Parábola
É uma narrativa alegórica, que transmite uma mensagem indireta por meio de comparação ou analogia. Significa “ilustração”, em grego. Parábola dos dez talentos, parábola do filho pródigo, encontradas nos Evangelhos.
Comparação
Consiste em confrontar um fato real com uma imagem e estabelecer um paralelo entre dois significados. Com ela se cotejam as qualidades e as ações dos seres. É uma metáfora com os elementos de comparação explícito: como, qual, tal qual, etc.
Recurso básico da linguagem, nela se fundamentam várias outras figuras. “Como a ave que volta ao ninho antigo (…)” (Raimundo Correia), é bela qual um pôr-do-sol, corre como um veado campeiro, tem a leveza de um hipopótamo.
O uso dessas palavras invariáveis que criam dependência entre dois termos nem sempre é evidente.
1. Seios de quê?
Em comentários sobre moda e decoração, artes plásticas e ouriversaria, muita gente diz e escreve que as estátuas foram feitas em mármore, em bronze; que os vestidos são feitos em seda, em algodão; que os relógios são feitos em ouro.
Quando se quer apontar a matéria de que uma coisa é feita, a preposição de é a indicada e numca a preposição em, um galicismo inútil nessa circunstância.
Estátua de mármore e não em mármore; armário de madeira e não em madeira; vestido de seda, bota de couro, copo de vidro, relógio de ouro.
Portanto, as áreas arredondadas de Danielle Winitis, Vera Fischer, Xuxa e Ana Maria Braga, entre outras, são de silicone e não em. Pelo menos recheadas com esse material. Elas próprias admitem. Se é moda, o que se há de fazer?
2. Um copo de água
Como se deve dizer? Copo de água ou copo com água?
Alguns especialistas consideram que o copo com água é o copo cheio e copo de água é o copo não cheio. Mas a maioria concorda em que tanto faz usar copo de água ou com água, porque cada preposição estabelece várias relações entre dois termos – o segundo sempre dependente do primeiro.
Assim, o de indica matéria de que são feitas as coisas (copo de vidro, relógio de ouro, seios e bumbuns de silicone), mas estabelece também outras variadas relações. Entre elas, o conteúdo. Por isso, copo de água e copo de vinho, sim. Ninguém de bom senso vai pensar que, quando se diz copo de água, quer-se dizer que o copo é feito de água. Ou de leite ou de cachaça. A menos que seja marciano.
Preposições, portanto, são palavras invariáveis que ligam dois termos entre si, indicando que o segundo depende do primeiro. Isto é, o segundo (termo regido) funciona como complemento ou adjunto do primeiro (termo regente).
Por isso, casa de mãe-joana (posse), caixa de ferramentas (finalidade), espera de nove meses (tempo), avião de 57 mil dólares (preço), congresso de alto nível (classificação). E muitas outras mais.
3. Por que porquê?
Quando e por que se escreve porque ou por quê, isto é, em uma ou duas palavras, com ou sem acento. E o porquê dessas variações formais.
PORQUE
Quando pode ser substituído por: pois, que, porquanto, uma vez que, pelo fato, pelo motivo e outras conjunções explicativas e causais.
– Choveu, porque o chão está molhado.
– Acho que morreu, porque parou de respirar.
– Faltou ao trabalho porque caiu da cama.
– O Júnior trabalha demais porque ganha bem.
– Porque é bem pago ele trabalha demais?
– Você não a quer porque ela é ciumenta?
Observações:
a) É equivocada, portanto, a informação frequente de que porque se divide em duas palavras sempre que há pergunta. Nos dois últimos exemplos interrogativos, expõe-se uma causa, que exige resposta positiva ou negativa.
b) É sutil e discutível a diferença entre a conjunção coordenativa explicativa e a subordinativa causal, ambas expressas às vezes por porque; costuma-se preceder por vírgula porque quando conjunção explicativa.
c) Em casos raros, porque equivale a “para que”, conjunção final:
– Torço porque ela seja feliz no quinto casamento.
PORQUÊ
Quando substantivo, sinônimo de motivo, causa, razão.
– Ignoro o porquê do escândalo.
– Os porquês dela são insondáveis.
POR QUE
Nas perguntas e sempre que puder ser substituído por: a razão pela qual, por qual razão, por qual motivo, o motivo pelo qual; para que, pelo qual, pelos quais. Ou se uma destas palavras -causa, motivo, razão – estiver implícita ou puder ser usada junto de por que sem acento.
Justificativa: Escreve-se o por separado do que quando o que tem função de pronome relativo ou de pronome interrogativo.
– Não sei por que o ilustre representante do povo ficou tão rico.
– Acho que sei por que (razão) ele sempre vota com o governo.
– Quero saber (a razão) por que ele refugou a CPI.
– Por que (motivo) aqueles políticos apóiam qualquer governo? Patriotismo?
POR QUÊ
Nos mesmos casos anteriores, mas no fim da frase, caso em que, por convenção, o que se torna palavra tônica.
– Sofreu sem saber por quê.
– Você não parece estar gostando. Por quê? Não está bom?
– Não sei por quê, mas o país vai mal.
Observação: No caso de que seguido de vírgula, a maioria dos sábios não o acentua, talvez por considerar que vírgula não configura fim de frase. Como há dúvida, melhor acentuá-lo apenas antes de ponto final.
Como se conjuga o verbo no infinitivo?
Já se escreveram livros sobre o assunto, e os sábios costumam divergir. De todo modo, podemos discuti-lo em resumo. Infinitivo é a forma verbo-nominal terminada em r: amar, comer, dormir, pôr. Há casos em que se deve ou não flexioná-lo. Basicamente, convém limitar a flexão aos casos em que for importante identificar – tornar claro – o sujeito do infinitivo.
I. Flexiona-se o infinitivo (em negrito) quando ele tiver sujeito próprio, diferente do sujeito da outra oração (verbo grifado), ou quando for preciso deixar claro tal sujeito:
– Era comum deitarem-se na mesma cama três pessoas.
– Calou-se, ouvindo os outros reclamarem do Severino.
– Lula admitiu existirem grandes problemas no país.
– Achei curioso os dois amarem a mesma mulher.
– Eles dizem termos muito que esconder.
– Ele não te amaldiçoou por teres revelado o propinoduto?
– Fez o possível para os deputados manterem a calma.
– Considero perigoso votarmos naquele candidato.
II. Não se flexiona o infinitivo (casos essenciais):
1. Quando forma locução verbal (dois verbos funcionando como um; o verbo auxiliar – grifado – já indica o plural):
– Devemos evitar que paguem mensalão. (Não: “evitarmos”.)
– Nós, mulheres, podemos tomar o poder. (Não: “tomarmos”.)
– Não quiseram os deputados aceitar os jetons. (Não: “aceitarem”.)
– Devem os empréstimos às empresas ser feitos a juros decentes. (Não: “serem”.)
2. Quando o sujeito é o mesmo da oração principal (um sujeito para os dois verbos):
– Alguns políticos acham que têm direito [eles] de enganar. (Não: “enganarem”.)
– Aquelas damas gostam [elas] de ser maltratadas. (Não: “serem”.)
– Temos o direito [nós] de receber o mensalão. (Não: “recebermos”.)
3. Aqui, o sujeito também é o mesmo, e a oração infinitiva completa o sentido de substantivo e adjetivo – grifados:
– Não tiveram tempo de esconder a prova. (Não: “esconderem”.)
– Temos o dever de reclamar da pouquidade do mensalão. (Não: “reclamarmos”.)
– Não estão dispostos a perder a boquinha. (Não: “perderem”.)
4. Quando o infinitivo depender dos verbos deixar, fazer, mandar, ouvir, sentir e ver – e tiver por sujeito um pronome oblíquo (o, a, os, as):
– Deixei-os esperar.
– Seu Casseta fê-los rir.
– Araújo mandou-as sair.
Um dos problemas mais comuns em correspondências oficiais e comerciais, seu uso inadequado é identificado a desleixo ou despreparo por quem o lê.
1. Os pronomes oblíquos o, a, os, as, tranformam-se em lo, la, los, las depois de formas verbais terminadas com r, s e z. E os verbos perdem essas consoantes. Fazê-lo, pusemo-lo, fi-lo.
2. Os pronomes o, a, os, as substituem substantivos que completam o sentido da frase sem estar precedidos de preposição. Vejo a moça, vejo-a. Encontro com o Gil, encontro-o. Abraço Gilda, abraço-a.
3. Os pronomes lhe, lhes representam substantivos regidos de preposições a ou para. Dei um livro a ela, dei-lhe um livro. Levei um doce a ela, levei-lhe um docinho.
Regras básicas de Correspondência Comercial
1. Evite floreios, rodeios e lugares-comuns; usar linguagem direta, concisa em frases e parágrafos curtos; quando possível, palavras curtas. É tolice registrar: “Atestamos para os devidos fins…”. Ninguém atesta nada para fins indevidos.
2. Não misturar tratamentos pronominais na mesma carta: se começar com a primeira pessoa do plural, não mudar para a primeira pessoa do singular; nem passar de “V.Sas.” para “vocês”.
3. Revisar a redação; erros de conteúdo e de forma são indesculpáveis: datas, valores, medidas; nada de “há anos atrás”, “a nível de”, “vamos estar mandando” (é “há anos” ou “anos atrás”, “vamos mandar” ou “mandaremos”).
4. Não importa a circunstância, é preciso tratar o destinatário sempre com cortesia, mas sem bajulação quando superior hierárquico, nem descortesia quando inferior hierarquicamente.
Correspondência Comercial sem Clichês
A correspondência comercial sempre foi contaminada pelo burocratês, filho do causidiquês ou juridiquês, provindo da comunicação oficial. Desde os tempos de D. Pedro II, os funcionários do governo eram advogados, e a maioria deles utiliza até hoje um jargão inchado por expressões antigas e latinismos.
A herança dessa linguagem pomposa, pretensiosa e artificial dos bacharéis contaminou a correspondência comercial por muito tempo. Hoje, ela começa a libertar-se da carga. Há um esforço para evitar as fórmulas feitas. Elas não significam nada, principalmente as de exagerada cortesia, que soam hipócritas ou rídiculas. Ou ambas.
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