De onde viemos – Parte I

Toda história deve ter um começo.

E a nossa começa muito, muito tempo atrás…

Embora os primeiros hominídeos tenham surgido na zona tropical do continente africano há aproximadamente 2 milhões de anos – e a partir dali lentamente se espalharam e se multiplicaram pelo restante do mundo, gradativamente começando a assumir características físicas próprias de acordo com cada região – foi somente há cerca de 60 mil anos que surgiram os primeiros sinais de um despertar da criatividade na raça humana, notadamente com o desenvolvimento da fala e de primórdios da escrita, bem como com a criação de ferramentas rudimentares para utilização na caça e no seu dia a dia.

Eram, então, pequenas tribos nômades ou seminômades que se deslocavam sistematicamente dentro de sua região em busca de recursos naturais que lhes garantisse a sobrevivência. Há aproximadamente 15 mil anos a.C. teve início um lento processo de degelo, elevando o nível do mar e fazendo com que o planeta assumisse seus atuais contornos físicos. A elevação da temperatura global ampliou as áreas habitáveis e permitiu à raça humana as condições necessárias para que começassem a se estabelecer de forma mais perene em seus territórios. Há cerca de 10 mil anos a.C. o clima se estabilizou e a humanidade passou a dominar as técnicas de cultivo de grãos e de domesticação de animais, de modo que não era mais necessário o constante deslocamento atrás de caça ou frutas, pois passaram a ter condições de produzir seu próprio alimento, o que lhes garantiu a comodidade de se fixar e construir moradias mais elaboradas.

Mas ainda que essas mudanças tenham acontecido de forma gradativa, não necessariamente ocorreu com toda a raça humana. Os povos de algumas localidades se desenvolviam mais rapidamente que o de outras – até por conta do clima e da geografia de cada região – de modo que para uns a lavoura era o foco principal de seu cotidiano enquanto que para outros a criação de animais vinha em primeiro lugar, também existindo aqueles que se mantiveram através da caça, bem como alguns que de tudo faziam um pouco, inclusive mantendo-se nômades em vez de se fixarem em determinado lugar.

Foi com a criação da escrita, ocorrida há cerca de 5 mil anos a.C., que finalmente, ainda que à sua própria maneira e segundo seu próprio sistema, cada um desses povos passou a ter a possibilidade de registrar sua história, criando assim um conceito de civilização e passando cada qual a ter uma identidade cultural única.

E nas diversas regiões do mundo muitos desses povos que não tinham mais a necessidade do nomadismo passaram a se organizar em pequenas aldeias, que com o tempo se transformaram em cidades, cidades essas que constituíam reinos e reinos esses que travavam disputas entre si pelos mais variados motivos…

Para nossa história em particular o que vai nos interessar especificamente são os povos que se fixaram em dois pontos quase opostos do planeta. Em primeiro lugar temos aqueles que habitavam o sudoeste da continente europeu, na Península Ibérica – que recebeu esse nome por se tratar de uma península, ou seja, uma porção de terra quase toda circundada por água com exceção de uma estreita faixa que a liga ao continente, e, no caso, cortada pelo maior rio da região, naquela época conhecido como Rio Iber. E vem daí o nome de seus habitantes: Íberos.

A presença humana na Península Ibérica remonta a aproximadamente 35 mil anos, mas foi a partir de cerca de 8 mil anos a.C. que esse território passou a servir de ponto de encontro para migrantes de várias origens e que nele acabavam por se estabelecer, já que o mar formava uma barreira intransponível para seguir adiante. E para lá, dentre outros povos existentes, os primeiros colonizadores vieram principalmente da Fenícia, de Cartago e da Grécia. E assim eles foram se mesclando, se confundindo, e através desse milenar processo de miscigenação de sangue e de sucessivas sobreposições culturais foram modelados em um determinado tipo humano, mas não se definiram nos moldes de uma raça específica. E ali desenvolveram uma cultura voltada à agricultura e a construções que tinham por base grandes blocos de pedra rude.

Por volta do ano 1.000 a.C., quando estávamos em plena Idade do Bronze, o continente europeu sofreu a invasão dos Celtas, vindos da região das ilhas britânicas, um povo culturalmente mais avançado, dotado de muita ciência e muita mística, que, inclusive, tinham uma enorme vantagem técnica sobre os demais povos já instalados: sabiam trabalhar o ferro, metal muito superior ao bronze em relação à dureza e abundância de jazidas, o que permitia a fabricação de armas e ferramentas melhores e mais duradouras.

Os Celtas lutaram durante um bom tempo com as populações locais, mas no decorrer dos séculos seguintes acabaram por se estabelecer e se fundir com elas, ocupando o noroeste da Península Ibérica, especificamente onde nos dias de hoje encontram-se a comunidade de Galiza (cujo nome significa “a terra dos Celtas”), na Espanha, bem como o norte de Portugal. Essa fusão entre Celtas e Íberos fez surgir os assim denominados celtíberos, antepassados dos atuais habitantes dessas regiões.

E assim a Península Ibérica, com o passar do tempo, passou a ser formada por diversas tribos e reinos, os quais se reuniam em territórios distintos segundo seus próprios costumes: a Lusitânia e a Hispânia. Mas esses costumes acabaram por ser gradualmente romanizados, o que se deu a partir de 197 a.C. em decorrência da guerra entre Cartago e Roma, sendo que esta, num movimento expansionista que viria a culminar em um novo império, acabou por anexar toda a Península Ibérica. Essa situação perdurou até o ano 418 d.C., quando houve a invasão de povos germânicos, os Visigodos, que viriam a assumir o domínio de toda a região pelos trezentos anos seguintes, trazendo novos hábitos e costumes aos habitantes locais. A seguir, em 711 d.C., se deu a invasão muçulmana, que não dominou toda a península, mas fez com que os íberos convivessem com os árabes até sua expulsão em definitivo, o que só viria a ocorrer no ano de 1492.

Foi desse modo, através da miscigenação de todos esses povos e da assimilação de novas culturas e línguas, que consolidaram-se as características daqueles povos e as nações de Portugal e da Espanha. Portugal começou a adquirir independência e identidade a partir do ano de 1139, quando, após uma série de batalhas para manter o Condado Portucalense, D. Afonso Henriques autoproclamou-se Rei de Portugal.

E foi aproximadamente nessa época que lá na região de Galiza, um reino situado ao norte de Portugal, bem na pontinha da Península Ibérica, em determinada localidade às margens do Rio Eumes, pouco antes de desaguar num braço de mar do Oceano Atlântico, veio a surgir em pleno século XII um pequeno povoado que recebeu o nome de Freguesia de Andrade.

E esta é apenas uma parte da nossa história…