Como montar uma Árvore Genealógica ( IV )

Tradicionalmente existem duas maneiras de se representar os trabalhos genealógicos: graficamente, através de genogramas (diagramas genealógicos), e analiticamente, através da descrição detalhada de cada um dos indivíduos. Enquanto que com os genogramas temos um trabalho visual e quase que artístico, já através da descrição analítica, para correta identificação de cada um dos componentes, é necessário lhes atribuir endereços ou códigos que permitam identificar corretamente sua posição dentro da estrutura familiar. Para isso existem diversos sistemas de numeração, cada qual com suas vantagens e desvantagens.

Ainda do ponto de vista analítico, existem basicamente dois tipos de árvores genealógicas: a árvore de descendentes (sistema de numeração decrescente) e a árvore de ascendentes (sistema de numeração crescente).

A árvore de descendentes, também conhecida como árvore de geração, ou ainda como árvore genealógica direta, é a árvore formada pelos descendentes de um indivíduo. Partindo do passado ela avança no tempo, multiplicando-se, geração após geração, e facilitando a visualização do antepassado comum de vários indivíduos na atualidade. Sua estrutura é orgânica e aleatória, pois não há como racionalizar o número de filhos de cada indivíduo.

Existem diversos sistemas disponíveis para esse tipo de registro, cada qual com suas vantagens e desvantagens, sendo os mais conhecidos: Sistema de RegistroSistema NGSQHenry SystemSistema d’Aboville, Sistema Meurgey de Tupigny, Sistema de Villiers/Pama, Felizardo/Carvalho/Xavier, Hunsche, Dullius/Stemmer, dentre outros. E, sim, na maioria das vezes seus “inventores” modestamente lhe atribuíram o próprio nome…

Particularmente prefiro o Sistema d’Aboville, eis que permite rapidamente identificar a posição e geração do indivíduo. Para nossa pequena árvore construída até o momento, partindo de um ancestral em comum, teríamos:

1. João Agnello de Andrade. Foi casado com Iria Rita de Bem.

1.1. Antonio de Andrade. Nascido por volta de 1909 em Santa Rita do Jacutinga, MG, nesta mesma cidade casou-se por volta de 1936 e faleceu em 30/09/1970, às 10h20min, na Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos, SP. Sua esposa foi Sebastiana dos Santos Andrade, filha de Alcindo de Paula Maia c.c. Laura Casaes Santos. Antonio residia no Bairro do Machado, em São José dos Campos, SP, e era eleitor em Igaratá, com o título de nº 783. O óbito foi firmado pelo Dr. José Fernando Leal, que deu como causa mortis: anoxia, edema cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico. Foi declarante José Alves de Souza. Deixou bens para seus onze filhos.

1.1.1. José.

1.1.2. .

1.1.3. Roberto.

1.1.4. Esperança.

1.1.5. Caridade.

1.1.6. Felisberto.

1.1.7. Jorge.

1.1.8. Geraldo de Andrade. Nascido em 02/02/1956, às 14:00h, em casa, no Bairro do Sobrado, Igaratá, SP. Foram testemunhas de nascimento: Oriosle Orestes da Silva e Sebastião Orestes da Silva. Por ter nascido em casa, seu pai somente efetuou o registro  cerca de um mês depois, em 05/03/1956, junto ao Cartório de Registro Civil da chamada “Igaratá Velha”, Comarca de Santa Isabel, cidade hoje submersa nas águas da Represa do Jaguari.

1.1.9. Maria.

1.1.10. Pedrina.

1.1.11. Laura.

Para melhor exemplificar, nesse sistema, caso Geraldo fosse pai de, digamos, três filhos, seus números, do mais velho ao caçula seriam respectivamente 1.1.8.1, 1.1.8.2 e 1.1.8.3.

Aliás, para esse sistema de numeração é bastante recomendável a utilização de indentação (como fiz aí em cima), isto é, a cada geração seguinte avançar um pouco no espaço de abertura entre a margem e o início do parágrafo. Com isso, quanto maior a árvore, mais fácil fica a rápida identificação dos parentes distantes.

Já a árvore de ascendentes, também conhecida como árvore de costados, ou ainda como árvore genealógica inversa, é a árvore formada pelos antepassados de um indivíduo, partindo da atualidade e retroagindo no tempo, montando toda a linha de antepassados de um único indivíduo. Sua estrutura é geométrica e racional, pois para cada geração que subimos dobra-se o número de antepassados: dois pais, quatro avós, oito bisavós, e assim por diante.

Na prática, funciona da seguinte maneira: dá-se ao indivíduo base o número 1 e ao pai deste o dobro de seu número, ou seja, 2, enquanto à sua mãe é atribuído o dobro mais um, ou seja, 3, e assim sucessivamente, retroagindo no tempo. Dessa maneira, para encontrar o pai de determinado indivíduo, independentemente de sua posição, basta multiplicar seu número por dois, e para sua mãe seria exatamente esse dobro mais um.

Esse sistema, denominado Notação de Sosa-Stradonitz – mas equivocadamente conhecido como Numeração de Ahnentafel -, foi utilizado em 1676 pelo sábio franciscano espanhol Jerónymo de Sosa (?-1711), tendo sido retomado mais tarde, em 1898, pelo genealogista e heraldista alemão Stephan Kekule von Stradonitz (1863-1933). A razão do equívoco quanto ao seu nome tem origem no fato de que a difusão desse sistema se deu com a publicação da obra deste último: o Ahnentafel Atlas, que acabou sendo adotado para descrevê-lo.

Esse método nos fornece um tipo de árvore infinito e contínuo, onde todos os homens possuem número par e todas as mulheres possuem número ímpar, permitindo indefinidos acréscimos sem perturbação de sua rigorosa estrutura.

Assim, para esta nossa árvore, partindo do próprio descendente Geraldo teríamos os seguintes ascendentes:

Primeira Geração

1. Geraldo de Andrade. Nascido em 02/02/1956, às 14:00h, em casa, no Bairro do Sobrado, Igaratá, SP. Foram testemunhas de nascimento: Oriosle Orestes da Silva e Sebastião Orestes da Silva. Por ter nascido em casa, seu pai somente efetuou o registro  cerca de um mês depois, em 05/03/1956, junto ao Cartório de Registro Civil da chamada “Igaratá Velha”, Comarca de Santa Isabel, cidade hoje submersa nas águas da Represa do Jaguari.

Segunda Geração

2. Antonio de Andrade. Nascido por volta de 1909 em Santa Rita do Jacutinga, MG, nesta mesma cidade casou-se por volta de 1936 e faleceu em 30/09/1970, às 10h20min, na Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos, SP. Residia no Bairro do Machado, em São José dos Campos, SP, e era eleitor em Igaratá, com o título de nº 783. O óbito foi firmado pelo Dr. José Fernando Leal, que deu como causa mortis: anoxia, edema cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico. Foi declarante José Alves de Souza. Deixou bens para seus onze filhos.

3. Sebastiana dos Santos Andrade.

Terceira Geração

4. João Agnello de Andrade.

5. Iria Rita de Bem.

6. Alcindo de Paula Maia.

7. Laura Casaes Santos.

Obviamente, independentemente da maneira pela qual você decidiu organizar seus registros (fichas, aplicativos online ou programas stand alone), esses sistemas são utilizados para apresentação da árvore genealógica para terceiros, ou seja, para publicar o resultado de suas pesquisas em artigos, sites, livros, etc.


Agora que já sabemos que os pais de Geraldo vieram de Santa Rita do Jacutinga, MG, o próximo passo será arregimentar mais informações acerca de seus avós junto ao Cartório de Registro Civil daquela cidade.

(Parte III)                                           (Início)                                           (Parte V)

Técnica de Leitura: nomes e abreviaturas em documentos dos séculos XVII e XVIII

( Publicado originalmente em 10/09/2001 no blog Legal. )

Cobra Maria José & Rubem Queiroz
(Autores de Um comerciante do século XVIII)
COBRA.PAGES.nom.br – Internet, Brasília, 2001

Em nossas pesquisas para os livros sobre os Távora (em preparo) e os Cobra, utilizamos quase todos os tipos de documentos listados abaixo. O livro dos Segredos da Santa Casa de Misericórdia é de difícil acesso, mesmo tratando-se de volumes dos séculos passados:

Nomes. Repetiam-se grandemente os nomes, ocorriam também muitos casamentos na mesma família, inclusive tios com sobrinhas ou tias com sobrinhos. Torna-se importante qualquer dado que possa identificar a pessoa, e que acompanha o seu nome. Por esse motivo, na identidade de um indivíduo é importante levar em conta:

a) O nome da mulher. Mas aqui também não se pode confiar integralmente, pois era frequente casarem-se as pessoas duas vezes, devido ao alto índice de viuvez.

b) Tão importante ou talvez mais importante que a vinculação ao nome de uma mulher, é o nome do lugar onde o indivíduo vivia ou de onde ele era natural. Hoje, devido à facilidade de movimentação de indivíduos e famílias, esse dado parece irrelevante para identidade, e o pesquisador tende a não lhe dar a importância que tinha em épocas antigas.

Desde a antiguidade, o local de nascimento ou moradia da pessoa era com frequência agregado ao nome do indivíduo, para identificá-lo entre outros de mesmo nome. Assim, “Domingos Pereira, morador na Sobreda”, vale para toda a vida desse Domingos, uma vez que provavelmente viverá sempre naquela localidade e assim se distinguirá de muitos outros Domingos Pereira. Muitos nomes de lugares incorporaram-se assim ao nome de família dos indivíduos. Esse costume passa da idade média à idade moderna, e vai praticamente desaparecer na época contemporânea.

c) A crença de que alcunhas tenham se tornado nomes de família não parece corresponder à verdade. As alcunhas eram indicadas muito distintamente, e serviam como identificador quando havia muitos nomes iguais no mesmo lugar. Pelo menos nos documentos das Igrejas da Vila de Almada, as alcunhas eram sempre indicadas com muita clareza e nao acompanhavam os nomes de filhos e netos. Assim Diogo da Costa, o Camílio, Antônio Vaz, o Bengala, etc.

Mudança de nomes. Abandono de um nome da linha paterna por um nome da linha materna pode ocorrer, ou alguma alteração por influência social mudar o sobrenome de todo um grupo. Uma família italiana que veio de Gênova para o Brasil e cujo sobrenome era Covre, teve, por descuido do funcionário que lhes emitiu documentos brasileiros, alterado para Cobra (Os Cobra de Piracicaba, S.P.).

Quando os judeus foram obrigados a adotar a religião católica, desapareceram os Isaac, Jacob, Judas, Salomão, Levi, Abeacar, Benefaçam, etc., e ficaram somente nomes e sobrenomes cristãos. Tomaram nomes vulgares, sem nada que os diferenciasse da maioria dos cristãos velhos, a não ser por vezes a manuntenção de algum sobrenome antigo judaico pelo qual o individuo era vulgarmente conhecido. Assim aconteceu com Jorge Fernandes Bixorda, Afonso Lopes Sapaio, Henrique Fernandes Abravanel, Duarte Fernandes Palaçano, Duarte Rodrigues Zaboca, etc.

Daí que é falsa a idéia de que os cristãos novos usavam nomes de árvores como Nogueira, Pereira, Pinheiro Carvalho, etc., para distinguir-se. Estes já eram sobrenomes existentes e pertencentes a própria nobreza de épocas anteriores.

Abreviaturas. A leitura da documentação antiga é tarefa um tanto dificil para o iniciante, mas que, após algum esforço, vai se tornando cada vez mais fácil. Existem umas poucas regras que facilitam muito a leitura dos documentos mais difíceis. É imprescindível também conhecer de antemão as formas de abreviatura comuns em cada época. São abreviados não somente palavras nos textos do documento como também os nomes das pessoas. Existem livros inteiramente dedicados a este problema.

Alguns nomes e sobrenomes passaram a existir a partir de abreviaturas como por exemplo “Roiz”, abreviatura de Rodrigues; Brites, abreviatura de Beatriz; Alves, provável abreviatura de Alvarez, etc.

Os sobrenomes eram frequentemente escritos com a inicial minúscula: oliveira, pereira, etc.

Aqui vão alguns exemplos de abreviaturas extraídas de documentos dos séculos XVII e XVIII:

7bro = setembro

8bro = outubro

Alz’ = Alvares

Ant.o = Antônio

Ant.o lopes das neves = Antônio Lopes das Neves.

Azd.o = Azevedo

C.na = Catarina

D.a = Dona

d.a V.a = dita Vila

d.o, d.a = dito, dita

D.os dias = Domingos Dias

D.os, D.as = Domingos, Domingas

D.tor = Douto

de prez.te = presentemente

delegc.as = diligências

delig.as = diligências

E. R. M.ce = espera receberá mercê

Evang.os = Evangelhos

f.o, f.a = filho, filha

feu.ro, feur.o, Feu.ro = fevereiro

Fon.ca = Fonseca

Fran.co, fran.co, Franc.o, Fr.co, fr.co; Fr.ca = Francisco, Francisca

freg.a ou fg.a = Freguesia

Frr.a, frr.a, Fer.a = Ferreira

Frz’, ou frz’ = Fernandes

Glz’ ou glz’ = Gonçalves

Im.o = Jerônimo

impedim.to– = impedimento

in facie ecctiae = in facie ecclesiae

Jan.ro, Janrr.o, Jan.r = janeiro

Jhs’., ihus’., Jhus. = Jesus

Joph. = Joseph ou José

l.o, ou legit.o, legit.a, legt.a, leg.ta, leg.ma = legítimo, legítima

M.a = Maria

M.a dias = Maria Dias

Mz = Munis ou Martins

M.el = Manuel

m.or, m.ora = morador, moradora

minha lç.a = minha licença

miz.a = Misericórdia

Mnz. = Martins

Montr.o, montr.o = Monteiro

Mrc.o = Março

N. Sr.a = Nossa Senhora

n.al = natural

n.al da V.a = natural da vila

Nascidos de hum ventre = filhos gêmeos

nessec.o = necessário

Nov.bro, 9bro = novembro

P. C. = passar carta

p.a = para

P.e = Padre

P.o = Pedro ou Pero

prez.tes = presentes

Prr.a,prr.a, Per.a = Pereira

q’ = que

q’ Ds’. guarde como des.o. = que Deus o guarde como desejo

ribr.o = Ribeiro

Roiz = Rodrigues

Ryo de Janr.o = Rio de Janeiro

S.er = Senhor

Sagr. Con. trid. e Const.oe(n)s deste Arc. = Sagrado Concílio Tridentino e Constituições deste Arcebispado

SMq’Ds’., SMDs’. = Sua Magestade que Deus guarde

Snra. = Senhora

Supp.te, supp.te = suplicante

Teix.ra, teix.ra, teixr.a = Teixeira

test.as ou t.as = testemunhas

V. Ill.ma e R.ma = Vossa Ilustríssima e Reverendíssima

V.a = Vila

VM, Vm.ce = Você, o Senhor, a Senhora

X.er = Xavier

A melhor fonte para socorro do leitor de documentos da nossa história colonial talvez seja ainda o Elucidário das Palavras e Termos e Frases que em Portugal Antigamente se Usaram e que Hoje Regularmente se Ignoram: Obra Indispensável para Entender sem Erro os Documentos Mais Raros e Preciosos que Entre Nós se Conservam. Esta obra de tão extenso título, de autoria do frade franciscano Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, veio a público em Portugal em 1798 e 1799, mas foi reeditada, sendo de 1962 a “edição crítica”, por Mário Fiuza (Livraria Civilização Porto-Lisboa) a mais facilmente encontrável. Existe um exemplar na Biblioteca Central da UnB.

– Cappeli, Adriano – Lexicon Abbreviaturarum. 1912.
– Bacellar, Bernardo de Lima e Melo – Dicionário. 1782.
– Bluteau, Raphael – Vocabulário. 1727.
– Câmara, Paulo Perestello da – Dicionário. 1850.
– Mascarenhas, Joaquim Augusto d’Oliveira- Novíssimo Dicionário Archeológico Histórico.

Procedimento para leitura de textos antigos:

Por mais difícil que seja a leitura de um texto antigo, ela não é impossível, se restam palavras legíveis o bastante para se chegar à construção de frases, e se são utilizadas certas técnicas para a leitura das interpretação das palavras pouco legíveis dos trechos danificados.

1. Transcrever as palavras facilmente reconhecíveis.

2. Desenhar as letras como o copista as escreve, observando a inclinação que ele dá, como fecha as letras redondas, como prolonga a haste das consoantes como d, t, h, etc.

3. Aplique o desenho de cada letra nas palavras parcialmente legíveis procurando completá-las.

4. O sentido que se pode dar à frase é também um recurso para desvendar um texto pouco legível, porém é traiçoeiro.

5. Busque auxílio no jargão próprio, por exemplo, jargão cartorial, lendo um documento da mesma época (outros documentos constantes do mesmo códice ou processo, ou se isto não for possível, procurando um documento do mesmo tipo, da época mais próxima que conseguir. Geralmente o jargão permanece através dos séculos. Por exemplo: E. R. M. = Espera Receberá Mercê.

6. Nunca procure completar uma palavra alterando o original, mesmo que usando grafite. Para isso faça uma cópia xerox do documento, ou fotografia, se for possível, ou simplesmente o copie a mão, de modo que possa fazer os ensaios de interpretação das letras e textos sem danificar o documento.

7. A posição da luz pode dar uma ajuda extraordinária. Por isso é bom ter uma luminária móvel pequena, que possa ser colocada em várias posições sobre o documento para iluminação direta ou oblíqua, no ângulo que for mais favorável.

8. Outro equipamento indispensável é a lente. As lentes maiores e de menor poder de ampliação ajuda na visão mais ampla de um texto a ser interpretado. Porém a lente pequena e de mais poder é não menos útil quando se deseja examinar vestígios de volteios de uma letra, para identificá-la.

Como montar uma Árvore Genealógica ( III )

A genealogia, além da história de um indivíduo e de sua família, também é a história dos locais onde vive ou viveu, é a história de como o mundo externo acabou afetando sua própria vida, levando-o a tomar decisões que  eventualmente refletiriam nas gerações futuras. E na maior parte das vezes esse tipo de história não está escrita em livros, não consta em documentos, sequer há registro de como ou porquê de ter acontecido determinado evento. E como ficamos sabendo? Através da tradição oral, das rodas de conversa com a família, dos casos e causos que vão sendo transmitidos de geração para geração e cada vez mais vão tomando forma de conto, de lenda.

Então, por mais relevante que seja fazer o registro documental de todas as anotações de sua árvore genealógica, é preciso também estar atento ao dia a dia, naquilo que faz parte da vida do indivíduo mas não necessariamente seria possível de documentar.

Pois bem. Dito isso, agora vamos trazer algumas informações que são de amplo conhecimento da família e vão nos ajudar a avançar um pouquinho mais na construção da nossa árvore, apesar de não estarem documentadas, mas que –garanto-lhes – são verdadeiras!

Geraldo (meu tio) foi solteiro a vida inteira. Nasceu e cresceu na roça, em São José dos Campos, SP, lá pros lados do Bairro do Sobrado, quase divisa com Igaratá. Desde então já era sabido que seu pai (meu avô) veio de Minas Gerais e faleceu cedo, ali mesmo naquelas paragens. Mais tarde, após terem vendido o sítio, mudou-se para a zona urbana da cidade, tendo ido morar com sua mãe. Anos depois mudou-se para Ubatuba, SP, para morar com sua irmã, a qual, também passados alguns anos, acabou voltando para São José dos Campos e por ali Geraldo viveu com ela até falecer. Ele, não ela.

E o que essa história nos traz de relevante? O pai de Geraldo faleceu em São José dos Campos. Então é por essa linha que continuaremos nossas buscas. Apesar de não sabermos a data de falecimento, por intermédio da família sabemos onde ele está sepultado: no Cemitério de Santana (antigamente  chamado de “Cemitério da Paz”, hoje é conhecido como “Cemitério Municipal Maria Peregrina”), no bairro de Santana, em São José dos Campos, SP.

E aqui voltamos ao nosso trabalho “detetivesco”… Fui até o cemitério e como não sabia a localização do jazigo busquei informações no setor administrativo (todo cemitério tem um “escritoriozinho” para atender os desinformados). Pelo atual estado da tecnologia todos os registros provavelmente devem estar digitalizados, acessíveis em uma base de dados, e provavelmente até mesmo disponíveis na Internet. Mas na época em que comecei essas pesquisas (por volta do ano 2000) esses registros estavam arquivados em alguns armários de aço, em fichas de papel escritas à mão.

Foi assim que descobri que seu “endereço atual” era a Quadra 11, Jazigo 2103. E também foi por lá, tanto na ficha de registro quanto na lápide,  que constava a informação que eu buscava: ele faleceu em 30 de setembro de 1970.

A Certidão de Óbito

Como já vimos anteriormente os cartórios de registro civil são os guardiões dos assentos de nascimento, casamento e falecimento das pessoas físicas de determinada localidade, sendo que as certidões que emitem são meras transcrições desses assentos. Uma vez que eu já tinha o nome completo do pai de Geraldo (que constava em sua certidão de nascimento) e  a data de falecimento dele (obtida nos registros do cemitério) bastou visitar os Cartórios de Registro Civil da cidade com essas informações para que pudesse obter uma transcrição da Certidão de Óbito de Antonio. São apenas quatro os cartórios na cidade de São José dos Campos, mas dei sorte: o registro estava no do Primeiro Subdistrito.

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Assim como fizemos com a Certidão de Nascimento de Geraldo, vejamos as informações possíveis de serem extraídas da Certidão de Óbito de Antonio, a começar pela identificação de cada um dos indivíduos nela constantes:

. Antonio de Andrade – o indivíduo do registro;

. Sebastiana dos Santos Andrade – esposa;

. João Agnello de Andrade – pai (observe que a grafia do nome está diferente daquela constante na Certidão de Nascimento de Geraldo; neste caso é importante “escolher” qual grafia será utilizada, mas deixar registrada a grafia alternativa para que com a vinda de outros documentos possamos confirmar qual de fato seria a correta);

. Iria Rita de Bem – mãe (mesmas considerações do comentário supra);

. José Alves de Souza – declarante do óbito junto ao cartório (provável amigo da família ou parente);

. José Fernando Leal – médico que firmou o óbito;

. José, Fé, Roberto, Esperança, Caridade, Felisberto (maiores), Jorge, Geraldo, Maria, Pedrina e Laura (menores) – filhos;

Com relação aos onze filhos que deixou, uma observação importante: apesar de não termos seus nomes completos ou idades corretas, sabemos quais deles eram maiores e quais eram menores de idade quando do falecimento, em 30/09/1970, o que poderá ajudar a situar os intervalos de datas nas buscas futuras. Mais um detalhe: o Código Civil vigente na época era decorrente da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, de modo que a maioridade estava delimitada na idade de 21 anos; somente com o advento do Novo Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é que a maioridade civil passou a ser de 18 anos.

Uma curiosidade, destas que somente pesquisando a família é que se torna possível descobrir, é que o nome das três irmãs mais velhas de Geraldo correspondem às três virtudes teologais explicitadas por Paulo  no texto bíblico do Novo Testamento, Primeira Epístola aos Coríntios, Capítulo 13, Versículo 13: , Esperança e Caridade.

Quanto ao indivíduo em si, temos que faleceu em 30/09/1970, às 10h20min, na Santa Casa de Misericórdia, em São José dos Campos, SP. Brasileiro, nascido em Santa Rita do Jacutinga, MG, residente no Bairro do Machado, em São José dos Campos, era lavrador.

Não temos a data de nascimento, mas sabemos que ele tinha 61 anos quando do falecimento, o que nos deixa o provável ano de 1909 (se o dia e mês de aniversário for após a data de falecimento, então o ano de nascimento seria 1910). Também não temos a data de casamento, mas como consta que ele já era casado há 34 anos, ficamos com o provável ano de 1936 para as bodas realizadas em Santa Rita do Jacutinga, MG.

Não deixou testamento, mas deixou bens na cidade – o que nos abre a possibilidade de uma futura pesquisa junto ao Fórum em busca de uma Ação de Inventário em seu nome. Era eleitor em Igaratá, com o título de nº 783, o que abre mais um flanco de pesquisas junto ao Cartório Eleitoral daquela cidade.

causa mortis foi: “anoxia, edema cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico”. Ou seja, ausência ou diminuição da oxigenação no cérebro, inchaço de uma região no cérebro, e derrame ou isquemia cerebral (falta de sangue em uma área do cérebro por conta da obstrução de uma artéria). Esse tipo de anotação torna-se relevante em termos genealógicos para identificar possíveis doenças recorrentes na família (diabetes, doenças do coração, etc) e que podem vir a ajudar eventuais diagnósticos para as gerações futuras.

Por fim temos que o registro do óbito foi lavrado no mesmo dia do falecimento, sendo o seguinte:

. Termo nº 37768;

. Folha 72-verso;

. Livro de Registro de Óbitos nº C-37;

. Cartório de Registro Civil do 1º Subdistrito da Comarca de São José dos Campos, SP.

Valem aqui as mesmas observações acerca da nova numeração adotada para emissão de certidões, como vimos em nosso artigo anterior.

Quanto ao registro genealógico individual de Antonio de Andrade, ficaria da seguinte maneira:

Antonio de Andrade. Nascido por volta de 1909 em Santa Rita do Jacutinga, MG, nesta mesma cidade casou-se por volta de 1936 com Sebastiana dos Santos Andrade, e faleceu em 30/09/1970, às 10h20min, na Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos, SP. Filho de João Agnello de Andrade c.c. Iria Rita de Bem. Era lavrador, residente no Bairro do Machado, em São José dos Campos, SP, e eleitor em Igaratá, com o título de nº 783. O óbito foi firmado pelo Dr. José Fernando Leal, que deu como causa mortis: anoxia, edema cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico. Foi declarante José Alves de Souza. Deixou bens para seus onze filhos.

Fonte 1: Certidão de Nascimento de Geraldo de Andrade, Termo nº 5593, fls. 49-V, Livro nº 20 de Registro de Nascimentos do Cartório de Registro Civil de Igaratá, SP, Comarca de Santa Isabel, SP.

Fonte 2: Certidão de Óbito de Antonio de Andrade, Termo nº 37768, fls. 72-V, Livro nº C-37 de Registro de Óbitos do Cartório de Registro Civil do 1º Subdistrito da Comarca de São José dos Campos, SP.

Já o genograma decorrente dessas informações ficaria assim:

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Como a tendência de qualquer árvore genealógica é sempre aumentar – e invariavelmente desordenadamente – há que se ter um critério para sua construção, portanto no próximo artigo falaremos acerca da árvore de ascendentes, da árvore de descendentes e quais os sistemas utilizados para classificação dos indivíduos.

(Parte II)                                           (Início)                                           (Parte IV)

Como montar uma Árvore Genealógica ( II )

Muito bem. Os conceitos básicos acerca do que é a genealogia você já tem. A importância das fontes, também. E acredito que a esta altura do campeonato você já deva ter escolhido a melhor maneira de fazer seus registros, quer seja através de algum site na Internet, quer seja através de algum programa que tenha baixado em seu computador.

Ah, uma dica fora de hora acerca da documentação que vai fundamentar suas pesquisas: sempre tenha uma cópia da fonte utilizada. Sempre. Neste mundo digital em que vivemos é muito fácil, ainda que a partir de um simples celular, obter imagens de alta qualidade para arquivar. É lógico que um scanner seria muito melhor, mas devemos trabalhar com o que tivermos à mão. E não se iluda, uma boa resolução faz toda a diferença – principalmente para aqueles documentos manuscritos cuja letra, num primeiro momento, parece impossível de ser lida (nesses casos aplicamos técnicas específicas de leitura para a transcrição de caligrafia antiga – saiba um pouco mais neste artigo aqui no blog sobre Paleografia Portuguesa).

Então vamos começar nossa árvore genealógica da mesma maneira como qualquer outra pessoa começaria: consigo mesmo.

A Certidão de Nascimento

No Brasil a primeira e mais óbvia fonte documental a ser explorada são os documentos expedidos pelos cartórios de Registro Civil (dentre inúmeros outros, basicamente as certidões de nascimento, de casamento e de óbito). Porém tratam-se de documentos somente de 1888 em diante, quando esse tipo de registro passou a ser obrigatório – saiba mais aqui no blog, neste artigo sobre a Cronologia do Registro Civil no Brasil.

Os cartórios são responsáveis pelo registro do assento de nascimento de um indivíduo, lavrado em um livro próprio, de modo que uma Certidão de Nascimento nada mais é que a transcrição desse assento arquivado no cartório, usualmente contendo, além do nome do próprio indivíduo, os nomes dos pais e avós, local de nascimento, local de registro do nascimento, bem como eventuais averbações e anotações.

Para ficar mais fácil a construção desta nossa árvore vou utilizar a título de exemplo a Certidão de Nascimento de meu tio Geraldo de Andrade, que faleceu solteiro há cerca de alguns anos. Eu tenho certeza de que você já deve saber tudo sobre si mesmo, mas para garantir a fidelidade de seus registros tenha paciência, busque lá sua certidão de nascimento e vamos começar a montar essa bagaça.

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Comecemos listando e identificando os nomes de cada um dos indivíduos constantes nesta certidão:

. Geraldo de Andrade – o indivíduo do registro;

. Antonio de Andrade – pai;

. Sebastiana dos Santos Andrade – mãe;

. João Aguinelo de Andrade – avô paterno (pai do pai);

. Iria Rita do Bem – avó paterna (mãe do pai);

. Alcindo de Paula Maia – avô materno (pai da mãe);

. Laura Casaes Santos – avó materna (mãe da mãe);

. Oriosle Orestes da Silva – testemunha;

. Sebastião Orestes da Silva – testemunha.

Os nomes que dizem respeito às relações familiares são obviamente relevantes, mas o porquê de anotar o nome das testemunhas? Porque muitas vezes tratam-se de parentes (que virão a integrar a árvore genealógica) ou de amigos próximos da família (que poderão servir como fonte de consulta auxiliar).

Quanto ao indivíduo em si, temos que é do sexo masculino, de cor branca, nascido aos 2 de fevereiro de 1956, às 14:00h.

Apesar da data de nascimento, o registro propriamente dito somente foi efetuado em 5 de março de 1956 (mais de um mês depois), tendo sido declarante o próprio pai. Neste caso específico, como era até mesmo comum à época, esse lapso temporal entre o nascimento e o registro diz respeito ao fato de que as crianças nasciam em casa, normalmente com o auxílio de parteiras. Essa afirmação pode ser comprovada pela própria certidão, onde consta que ele nasceu “neste município, bairro do Sobrado”. Ora, se tivesse nascido em algum hospital ou maternidade, isso faria parte do registro – porém ao simplesmente especificar que nasceu em determinado bairro, obviamente não o foi por intermédio do serviço de saúde local.

Cabe aqui um pequeno adendo: em genealogia muitas vezes é preciso analisar a fundo todas as informações contidas em um documento, pois muitas vezes é necessário fazer algum tipo de construção lógica para  poder deduzir o que deveria ser óbvio. Portanto em genealogia além de se basear em fontes documentadas é igualmente importante seguir sua própria intuição…

Voltando ao local de nascimento, neste caso temos uma curiosidade: ele nasceu no Estado de São Paulo, no Município de Igaratá, que faz parte da Comarca de Santa Isabel. Mas o que difere uma coisa da outra? Vejamos por partes (tendo por base este artigo publicado no canal de notícias Migalhas).

Cidade pode ser conceituada como uma aglomeração humana localizada em uma área geográfica circunscrita, com casas próximas entre si, destinadas à moradia e/ou a atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras e a outras não relacionadas com a exploração direta do solo, de modo que refere-se à zona urbana e não à zona rural.

Município é um espaço territorial político dentro de um estado ou unidade federativa que detém personalidade jurídica própria e abrange tanto a zona urbana quanto a zona rural.

Comarca é a extensão territorial em que um juiz de direito de primeira instância exerce sua jurisdição.

Com base nessas premissas podemos afirmar que: a) cidade diz respeito à natureza urbanística, enquanto que no município a relevância está no aspecto político e administrativo e já na comarca reside o ponto de vista judiciário; b) a cidade tem zona urbana, o município apresenta zona urbana e zona rural e a comarca não se preocupa com esse critério de consideração; c) um município detém personalidade jurídica, mas não a cidade e nem a comarca; d) a cidade é a sede do município e pode ser a sede de uma comarca; e) uma comarca pode abranger mais de uma cidade e mais de um município; f) um município pode abranger mais de uma cidade, mas não mais de uma comarca; g) uma cidade não abrange mais de um município nem mais de uma comarca; h) uma cidade pode não ser limítrofe de outra, mas todos os municípios fazem fronteira uns com os outros; i) todas as comarcas fazem fronteira umas com as outras, muito embora seus limites não coincidam com os dos municípios.

Sei que num primeiro momento esses conceitos podem parecer meio confusos, mas ter noção dessas definições é importante para se determinar qual seria o local onde estão arquivados os registros de determinado indivíduo.

E neste nosso caso em particular temos que a genealogia se mistura com a geografia e até mesmo com um pouco da história. É certo que Geraldo nasceu no Bairro do Sobrado no ano de 1956. Esse “bairro” era uma extensão da zona rural que fazia parte tanto do município de São José dos Campos quanto de Igaratá (tanto é que até hoje ainda existe a chamada “Estrada do Sobrado”). Assim, quem nascia ali “na roça” tanto poderia ir para a cidade (Centro) de São José dos Campos ou para a cidade de Igaratá para registrar seu rebento, dependendo unicamente da distância e da facilidade do meio de transporte – lembre-se que estamos falando da década de cinquenta, lá no meiudumatu…

Então temos que Antonio, pai de Geraldo, optou por registrá-lo na cidade de Igaratá, eis que mais próxima da localidade onde morava, sendo que esse município fazia parte integrante da Comarca de Santa Isabel. Entretanto, e agora diretamente entrelaçando nossa pesquisa com a história,  o curioso é que essa cidade não existe mais!

Ao menos não a “original”

Conforme consta lá no site da Prefeitura de Igaratá,  no início dos anos sessenta surgiu o projeto de construção de uma represa no Rio Jaguari de modo que pudesse ser produzida energia para satisfazer as necessidades de desenvolvimento do Vale do Paraíba. Porém a construção dessa barragem teria como consequência que toda a cidade de Igaratá ficaria submersa, pelo que, por volta de 1969, teve início a construção de um novo núcleo urbano – que por um bom tempo seria chamada de “Nova Igaratá” – distante cerca de três quilômetros da “Igaratá Velha”.

Mas voltemos à análise de nossa certidão.

Aparentemente já extraímos todos os dados necessários dessa certidão, certo? Errado. Ainda faltou o principal: o registro propriamente dito.  Como já disse anteriormente, o assento de nascimento de um indivíduo é lavrado em livro próprio no Cartório de Registro Civil. Uma vez que a Certidão de Nascimento nada mais é que uma transcrição desse assento, então deve conter a informação necessária para facilmente localizar onde estaria arquivado esse registro, pelo que podemos obter as seguintes informações:

. Termo nº 5593;

. Folha 49-verso;

. Livro de Registro de Nascimentos nº 20;

. Cartório de Registro Civil de Igaratá, SP, Comarca de Santa Isabel, SP.

Um detalhe importante: a partir do ano de 2010, por força do Decreto nº 7.231, de 14 de julho de 2010, foi introduzido um novo e obrigatório modelo de certidão (para nascimento, casamento e óbito) com numeração única no formato “999999.99.99.9999.9.99999.999.9999999.99”, onde:

1. 999999: os 6 primeiros dígitos identificam o cartório de registro;
2. 99: composto por 2 dígitos, identifica o acervo;
3. 99: composto por mais 2 dígitos, identifica o número do serviço de registro civil;
4. 9999: com 4 dígitos, refere-se ao ano;
5. 9: traz apenas 1 dígito, indicando o tipo de certidão;
6. 99999: com 5 dígitos, refere-se ao número do livro;
7. 999: são 3 dígitos, refere-se ao número da folha;
8. 9999999: composto de 7 dígitos, este é o número do termo;
9. 99: por fim, com 2 números, este é o dígito verificador.

Mas, independentemente do modelo e da data de emissão da certidão, uma vez que você tenha alguma das informações acima, poderá facilmente solicitar uma segunda via dessa documento, sendo que, particularmente, costumo utilizar os serviços do Portal Oficial do Registro Civil, o qual propicia a emissão de certidões de qualquer lugar do país.

Agora que extraímos todas as informações possíveis dessa Certidão de Nascimento, vejamos como ficaria nosso registro genealógico:

Geraldo de Andrade. Nascido em 02/02/1956, às 14:00h, em casa, no Bairro do Sobrado, Igaratá, SP. Filho de Antonio de Andrade c.c. (casado com) Sebastiana dos Santos Andrade; n.p. (neto paterno) de João Aguinelo de Andrade c.c. Iria Rita do Bem; n.m. (neto materno) de Alcindo de Paula Maia c.c. Laura Casaes Santos. Testemunhas: Oriosle Orestes da Silva e Sebastião Orestes da Silva. Por ter nascido em casa, seu pai somente efetuou o registro  cerca de um mês depois, em 05/03/1956, junto ao Cartório de Registro Civil da chamada “Igaratá Velha”, Comarca de Santa Isabel, cidade hoje submersa nas águas da Represa do Jaguari.

Fonte 1: Certidão de Nascimento de Geraldo de Andrade, Termo nº 5593, fls. 49-V, Livro nº 20 de Registro de Nascimentos do Cartório de Registro Civil de Igaratá, SP, Comarca de Santa Isabel, SP.

Fonte 2: Site da Prefeitura Municipal de Igaratá. Disponível em: <http://igarata.sp.gov.br/pagina/historia-do-municipio>.

Agora vejamos esse mesmo registro lançado no programa GenoPro:

Já o genograma decorrente dessas informações ficaria assim:

Clique na imagem para ampliar!

Uma última curiosidade: caso você não tenha os dados acerca de uma certidão de nascimento mas tenha o RG do indivíduo, basta checar no verso, pois lá estarão lançados o termo, a folha e o livro – mas ainda assim você terá que dar um jeito de descobrir qual foi o cartório do registro


No próximo artigo teremos algumas dicas sobre como avançar nas pesquisas – e não só baseado em fontes documentais – bem como vamos incrementar um bocadinho mais nossa árvore com as informações que serão extraídas da Certidão de Óbito do pai de Geraldo.

(Parte I)                                           (Início)                                           (Parte III)

Como montar uma Árvore Genealógica ( I )

Se você já é um pesquisador, quer seja profissional ou amador, sinto muito, mas este texto não é para você. Resolvi escrever uma série de posts com esclarecimentos e dicas para aqueles que pretendem montar sua própria árvore genealógica mas não têm nem ideia por onde começar. Sempre costumo dizer que é mais fácil aprender com os erros dos outros, pois não teremos tempo suficiente para cometê-los todos. Portanto, eu, que já errei – e bastante – desde os primeiros esboços de minha genealogia, apresento-lhes estas orientações para que possam dar seus primeiros passos de uma maneira correta e eficiente, evitando “armadilhas” e eventuais erros que possam vir a comprometer a fidelidade das informações de sua árvore genealógica – principalmente quanto ela estiver mais robusta.

Genealogia

Afinal de contas, o que é genealogia? Mais do que uma palavra que vive a dar lugar a trocadilhos infames, genealogia é, sobretudo, uma devoção… Ainda assim, é lógico que há que se ter uma definição formal – mas primeiramente vamos procurar entender um pouquinho a cabeça desses maravilhosos lunáticos que têm a genealogia tanto por hobbie quanto por missão.

O estudo genealógico, a meu ver, nasce como uma curiosidade, transforma-se em um hábito, vira uma mania, e transfigura-se numa verdadeira obsessão!

Muitos começam esse estudo para obtenção de outra cidadania, outros procuram vínculos com a nobreza, e existem mesmo aqueles que estão atrás de alguma herança pendente. Mas, a grande maioria, creio eu, o faz pelo simples prazer de pesquisar.

Não há como definir esse tipo de atitude. Como se explica a compulsão que leva os colecionadores a procurar e guardar os objetos mais extraordinários? Coleções e colecionadores de figurinhas, bonecas, discos, livros, revistas e tantas outras, são encontradas aos montes por aí. Isso sem falar no que eu chamo de “colecionadores disfarçados”, mas tão obstinados quanto aqueles que assumem formalmente o título. Nesse grupo temos pessoas que em seu íntimo são, sim, colecionadores, mas não admitem, pois o objeto de sua satisfação é outro, que consideram comum, tal como sapatos, gravatas, ferramentas, esmaltes, e sabe-se mais lá o quê…

O genealogista, nesse sentido, nada mais é que um “colecionador”.

Estamos falando de pessoas cuja “mania” é obter toda e qualquer informação acerca dos membros de uma mesma família, numa incansável busca de detalhes que, na maioria das vezes, não importa quase que a mais ninguém. Assim, traz brilho aos olhos a descoberta do nome de seu enésimo avô; fotografias antigas, amareladas, rasgadas e até mesmo apagadas, são descobertas que fazem valer todo o cansaço da busca; é de fazer ficar febril encontrar um documento escrito de próprio punho por seu antepassado de séculos atrás (ainda que mal lhe seja possível traduzir a caligrafia). É o resgate de uma história que, por vezes, diz respeito tão-somente ao autor, arduamente reconstruída, beirando o delicado limiar que separa um gênio de um louco…

É apaixonante.

É viciante.

É extraordinário.

É Genealogia.

Portanto, agora sim, com essa compreensão em mente, creio que já possamos verificar qual seria sua definição formal.

A palavra “genealogia” é composta pelas raízes gregas genea (origem, nascimento) e logos (estudo), sendo uma disciplina auxiliar da História que estuda a origem, evolução e dispersão das famílias, assim como seus respectivos nomes, sobrenomes ou apelidos e as suas estirpes (linhagens), de modo que, com base na própria construção da palavra, poderíamos afirmar que genealogia seria o “estudo das gerações”. Mas que gerações seriam essas? Nada mais óbvio: as diversas gerações existentes nas famílias observadas através da linha do tempo – o que, em última análise, pode nos levar à afirmação de que genealogia é o Estudo das Famílias.

Se observarmos com atenção veremos que uma das primeiras obras genealógicas existentes foi a própria Bíblia. Em diversos dos livros que a compõe, temos um verdadeiro estudo genealógico, começando no próprio Gênesis, e se estendendo por diversos outros.

Mas a preocupação da Igreja Católica com a genealogia não ficou adstrita apenas às suas antigas obras. O estudo das famílias, no decorrer dos séculos, passou a fazer parte até mesmo das exigências para que uma pessoa pudesse se ordenar padre.

Como exemplo temos que, antigamente, para que pudesse completar sua própria ordenação, o candidato deveria provar que seus ascendentes não tinham sido condenados a pena vil ou infame, que não haviam praticado crimes de lesa majestade divina ou humana, e que nunca tinham sido hereges ou apóstatas da fé católica. E qual a maneira de se provar isso? Através da elaboração da árvore genealógica, feita com base nas informações prestadas pelas paróquias onde residia o candidato, bem como sua família e ancestrais. Esses burocráticos processos que visavam obter essas informações eram denominados De Genere et De Moribus.

Graças a essa necessidade, e ante o fato de a genealogia ser uma matéria envolvente e apaixonante, muitos dos padres, mesmo após sua ordenação, continuaram esses estudos, imortalizando-os na forma de obras que chegaram até nossos dias. Como exemplo, segundo o estudo efetuado por Wilson Carrano Albuquerque, em seu texto Considerações sobre a Genealogia, temos, dentre outros: Cônego Raimundo Otávio da Trindade, Padre Pedro Maciel Vidigal, Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, Monsenhor José do Patrocínio Lefort, Padre Francisco Sadoc de Araújo, Cônego Roque Luís de Macedo Paes Leme da Câmara, Frei Adelar Primo Rigo, Padre Reynato Frazão de Sousa Breves Filho, Frei Gentil Costella, Padre José da Frota Gentil e Monsenhor Antônio Paes Cintra. Todos estes em algum momento de suas vidas deixaram escritos que vieram a até se tornar famosos no meio e que chegaram até nossos dias, facilitando sobremaneira as pesquisas daqueles que se decidem por tal empreitada.

Não podemos, também, nos esquecer dos mórmons, que possuem a mais organizada rede de pesquisa genealógica de todo o mundo. São os membros da religião fundada em 1830 por John Smith, em Salt Lake City, nos Estados Unidos, que ficou conhecida pelo nome de Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A justificativa para promover essa infindável pesquisa diz respeito aos próprios fundamentos dogmáticos dessa religião, pelo qual há necessidade de se levantar as árvores genealógicas visando a realização de ordenanças de salvação dos que morreram, com vistas à redenção de suas almas.

É importante ressaltar que a genealogia anda de braços dados com a história. São matérias afins e que se complementam. Os costumes de nossos antepassados, que muitas vezes chegaram até nós através de tradições familiares ou mesmo locais, bem como os lugares onde viveram, as migrações que efetuaram, as fortunas conquistadas e perdidas, tudo isso faz parte da própria história, refletindo a época em que viviam. É, sobretudo, uma maneira de manter viva em nossa memória uma nítida lembrança de nossos antepassados, não deixando que simplesmente desapareçam através do tempo, dando assim significado e propósito às suas vidas.

E, muitas vezes, é através dos documentos de época que se torna possível rastrear dados e informações sobre a família. Os livros, revistas, diários, testamentos, inventários, registros eclesiásticos, aliados ao próprio Registro Civil, são fontes primárias de busca genealógica.

Aliás, sobre o próprio Registro Civil, é importante esclarecer que seu alcance é limitado. Na prática a obrigatoriedade de se registrar os nascimentos, casamentos, óbitos e outras situações da vida civil dos cidadãos somente se deu após a Proclamação da República (olha a História aí novamente…). Assim, com relativa facilidade, é possível rastrear, através dos cartórios, os antepassados até o final do século XIX, sendo que, daí pra trás, a dificuldade se acentua.

Por vezes os próprios registros eclesiásticos são inacessíveis, seja pela sua simples inexistência (porque perderam-se no tempo), pela visão obtusa de alguns párocos que não permitem consultas a esses registros, ou por quaisquer outros motivos que dificultam ou impossibilitam o acesso de pesquisadores.

Assim, como já dito no início, a genealogia é uma devoção, muitas vezes inglória e com poucos resultados, mas que ainda assim persiste. Dentre o muito que já li, em diversos textos e obras, me identifiquei – e muito – com o posicionamento do Padre Reynato Breves, no artigo Novas Revelações da Genealogia, publicado no Jornal da Cidade, de Barra do Piraí, em sua edição de 12 de setembro de 1998. Dizia o seguinte:

“Há pessoas que não apreciam ‘Genealogia’, não se interessam por saber quem é seu avô, bisavô ou trisavô; não querem saber de onde vêm, quais são os seus ascendentes. Ora, a Genealogia é a Ciência da nossa racionalidade, da marca indelével das nossas origens; diz de onde viemos, diz quem somos, diz quais são as nossas raízes, mostra-nos a nossa importância. A Genealogia exige paciência, perseverança e intercâmbio, mostra a necessidade da comunicação com outros Genealogistas e causa grandes surpresas e grandes emoções. Enfrenta grandes obstáculos, terríveis barreiras, surpreendentes interrogações. A Genealogia é uma paixão e quem nela entra dela não sai mais. A Genealogia é amor; amor aos antepassados. A Genealogia é gratidão; gratidão aos que nos antecederam nesta vida. A Genealogia é memória imperecível. A Genealogia quase se confunde com a Heráldica. A Genealogia atesta a importância de uma Família. A Genealogia é como o Livro; conserva a memória das gerações passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens, que ainda é a maior tirania, e enaltece as gerações hodiernas. A Genealogia move os ânimos e causa grandes efeitos.”

Fontes Genealógicas

Foram inúmeras as vezes que já me perguntaram: “mas como é que eu faço para começar a montar minha árvore genealógica?”… Ora, seguramente posso lhes afirmar que o segredo para montar uma árvore genealógica é simplesmente o fato de que não existe segredo! Mas há que se ter precisão.

Explico.

Eu mesmo já perdi as contas de quantas vezes reescrevi a árvore genealógica de minha própria família. Comecei, parei, reiniciei, comecei de novo, e outra vez e mais uma vez e assim por diante. Toda a questão se resume na confiabilidade das informações.

Quando do início, num primeiro afã, ficamos meio que embriagados e começamos a anotar tudo de qualquer jeito, de qualquer maneira, sem nos preocuparmos de onde veio determinada informação e quão confiável ela seria.

Mas na medida em que vamos ampliando nossos estudos e eventualmente temos que recorrer às anotações mais antigas, de quando em quando falta-nos a certeza acerca de determinada anotação pelo simples fato de não termos documentado corretamente a fonte genealógica de onde extraímos determinada informação.

E o que é uma fonte genealógica? Na prática é tudo aquilo que possa fornecer informações relevantes para construção de uma genealogia – quer seja documental ou não. Nessa seara incluem-se registros oficiais, documentos históricos, registros em órgãos públicos e particulares, livros, jornais, revistas, notícias de época, blogs, sites de genealogia, fotografias e até mesmo conversas ou entrevistas com membros da família. Vários outros exemplos de fontes podem ser encontrados neste blog, no artigo Genealogia: um guia para iniciantes.

relevância de uma fonte está  intimamente ligada ao grau de confiabilidade dessa fonte. Então é tão importante quanto necessário deixar registrado de onde foi extraída a informação que permitiu inserir determinado indivíduo na árvore genealógica. E mais: mesmo já tendo uma fonte para esse indivíduo, caso existam outras que confirmem a informação original, estas também devem fazer parte da ficha individual de cada integrante. Até porque muitas vezes existem fontes contraditórias, de modo que se faz necessário aprofundar as pesquisas até se obter a confirmação de qual delas corresponde à realidade.

Ou seja, é uma verdadeira investigação detetivesca, na qual é extremamente saudável abordar as fontes com uma certa dose de ceticismo, pois é melhor comparar duas ou mais fontes discrepantes do que aceitar a primeira que lhe vem à mão como efetivamente genuína.

Não existe uma regra específica acerca de “como citar uma fonte”, o que verdadeiramente importa é garantir que qualquer pessoa (inclusive você mesmo) saiba exatamente onde encontrar essa fonte. Basicamente existem dois tipos de fonte, qualquer que seja o suporte em que ela esteja contida:

Fonte Primária é aquela que você conseguiu pelos seus próprios esforços, que pode aferir com seus próprios olhos. Entrevistas com familiares, documentos oficiais, enfim, quaisquer tipos de registros a que você mesmo tenha conseguido acesso em primeira mão – ainda que já tenham sido consultados e utilizados por terceiros.

Fonte Secundária é resultante da pesquisa de terceiros e que você utilizou para incrementar suas  anotações. Livros, reportagens, genealogias publicadas na Internet, enfim, quaisquer tipos de registros resultante da pesquisa de terceiros (e daí a inserção desses registros em sua própria árvore genealógica vai depender do grau de confiabilidade que você tiver nas fontes pesquisadas por outrem).

Aliás o acesso a outras genealogias já construídas é extremamente enriquecedor, pois existe muita história por trás da história e quanto mais você retroagir no tempo em suas pesquisas, mais difíceis são as fontes de se consultar. Desse modo ligar  algum antepassado seu a um antepassado relacionado em outra árvore genealógica – desde que de maneira confiável – é essencial para reconstrução desse passado em comum.

O Registro Genealógico

Montar uma árvore genealógica requer paciência e disciplina. Ou melhor: MUITA PACIÊNCIA e RIGOROSA DISCIPLINA! Às vezes são necessários anos até que surja uma migalha de informação para que se consiga progredir em algum “beco sem saída” que sempre acaba surgindo quanto mais avançamos nas gerações de nossos antepassados. Então esqueça os fichários, as folhinhas de papel e mesmo planilhas no computador. O que você precisa é de um programa que lhe ajude a montar as árvores genealógicas, exportar arquivos e gerar relatórios.

Existem vários programas desse tipo no mercado – tanto pagos quanto gratuitos – e mesmo a possibilidade de montar sua árvore online. Não vou elencá-los aqui, basta fazer uma pesquisa básica na Internet que poderá encontrar diversos sites com programas para download ou para inserir as informações de sua família na nuvem.

Neste último caso alerto apenas para tomar cuidado com os sites que permitem a elaboração de uma árvore genealógica de forma “colaborativa”, pois muitas vezes as alterações propostas não são submetidas à sua concordância e daí todas aquelas informações que você tem como certas podem vir a ser substituídas por outras totalmente equivocadas, contaminando suas pesquisas e afetando até mesmo a confiabilidade de suas anotações perante terceiros.

Outra situação que também pode ser encontrada são sites que permitem a construção de forma “gratuita”, porém em determinado momento informam que você extrapolou a quantidade máxima de indivíduos permitida e para ampliar sua árvore precisaria assinar algum tipo de plano pago.

Particularmente já testei vários deles e prefiro os programas que ficam remotamente instalados em meu próprio computador a que somente eu tenho acesso (sim, sou egoísta e ciumento com minhas pesquisas, fazer o quê?). Daqueles a que tive acesso somente me apeguei mesmo a dois, ambos gratuitos: o GenoPro e o Personal Ancestral File (PAF).

Utilizo o GenoPro 1.60 – a mesma versão do programa desde a época do Windows 98. Ele te dá uma flexibilidade gigantesca para montar sua árvore e desenhar links impossíveis de conexão entre os parentes. Mas o que gosto mesmo é que ele permite visualizar a árvore como um todo, o que ajuda bastante para compreender os laços familiares. E os arquivos resultantes, mesmo com milhares de indivíduos, são ridiculamente pequenos. O único “senão” é que quando da instalação no meu sistema atual – Windows 10, de 64 bits – tive que ativar o modo de compatibilidade e sempre executá-lo como administrador. Roda normalmente.

E quando preciso de algum relatório – como o que fiz no meu livro aí do lado para gerar um texto com minha árvore de ascendentes (falaremos disso mais tarde) seguramente até a 20ª geração – basta utilizar o GenoPro para exportar o arquivo no formato .GED e depois importá-lo com o PAF 4.0 (em português), o qual permite gerar os mais diversos tipos de relatório. Esse programa era disponibilizado pela Igreja Mormon, mas foi descontinuado em sua versão 5.0 (em inglês) – que ainda pode ser encontrado aí pelos cantões da Internet. O único motivo de utilizar a versão 4.0 é porque possibilita a instalação em português. Não que eu tenha (muitos) problemas com a língua inglesa, mas simplesmente porque daí não preciso ficar editando e traduzindo os relatórios gerados.


Muito bem, agora você já está munido com as informações básicas para dar início às suas próprias pesquisas e anotações. No próximo post vamos começar, do zero, uma árvore genealógica.

(Início)                                                 (Parte II)

Cronologia do Registro Civil no Brasil

Edmar A. Calaça

09/08/1814 – Expedido o primeiro Alvará pelo Príncipe Regente, encarregando a Junta de Saúde pública da formação dos mapas necrológicos dos óbitos acontecidos durante o mês na cidade, com o objetivo de se ter uma estatística do número de mortes e principalmente das causas das enfermidades mais frequentes entre os moradores a capital do país.

11/09/1861 – Decreto 1144 – Efeitos civis dos casamentos religiosos.

17/04/1863 – Decreto 3069 – Pastores de religiões não-católicas têm autorização para efeitos civis dos casamentos.

09/09/1870 – Lei 1829 – Criação da Diretoria Geral de Estatísticas.

24/05/1872 – Decreto 4968 – Os cônsules brasileiros tiveram atribuições de fazer os registros de nascimentos, casamentos e óbitos fora do território nacional.

25/04/1874 – Decreto 5604 – Regulamentou os registros civis de nascimentos, casamentos e óbitos.

11/06/1887 – Decreto 3316 – Aprovação do regulamento do Decreto 5604 na parte que dizia respeito à alteração no pagamento das multas.

07/03/1888 – Decreto 9886 – Fez cessar os efeitos civis dos registros eclesiásticos, surgindo agora o Registro Civil, que antes então existia simplesmente como Registro.

22/09/1888 – Decreto 10044 – Designou o dia inicial para execução dos Atos do Registro Civil propriamente dito.

14/06/1890 – Decreto 181 – Regulamentou a solenidade do casamento civil.

06/09/1890 – Decreto 722 – Tornou obrigatório o envio dos mapas estatísticos de nascimento, casamento e óbito à Diretoria do Serviço de Estatísticas.

25/01/1914 – Lei 2887 – Permitiu o registro de nascimento sem multa e com simples requerimento.

17/11/1915 – Lei 3024 – Prorrogou o prazo da Lei 2887, referente ao registro de nascimento sem pagamento de multa.

10/09/1919 – Lei 3764 – Regulamentou o registro de nascimento mediante despachos do juiz togado e de duas testemunhas assinando o requerimento.

06/11/1926 – Decreto 5053 – Aprovou os serviços de Registros Públicos.

24/12/1928 – Decreto 18542 – Regulamentou os Registros Públicos em geral: pessoas naturais, pessoas jurídicas, títulos e documentos, imóveis, propriedades literárias, científicas e artísticas.

24/11/1930 – Decreto 19425 – Ampliou o prazo para quatro meses dos registros de nascimentos ocorridos a mais de 30 quilômetros, sem comunicação ferroviária.

18/02/1931 – Decreto 19710 – Obrigou o registro de nascimento (sem multas e sem justificação para registro tardio).

24/02/1939 – Decreto 1116 – Anistiou o povo para registro de nascimento tardio.

09/11/1939 – Decreto 4857 – Regulamentados os registros públicos e revogado o Decreto 18542 de 29/12/1928.

29/12/1939 – Lei 1929 – Prorrogou o prazo do Decreto 1116, para que o povo ainda pudesse registrar os nascimentos tardios.

31/12/1973 – Lei 6015 – Revogou o Decreto 4857 de 09/11/1939, sendo a lei atualmente em vigor.

A Ascendência Paulista de Francisca de Macedo

Aditamento à Genealogia Paulistana – Título Moraes

Marta Amato
Revista da ASBRAP n° 6 -1999 (p. 229 – 238)
[Notas entre colchetes de Adauto de Andrade]

Resumo: A ascendência de Francisca de Macedo, legatária do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes em 1686 em São Paulo, era desconhecida. O presente artigo fornece dados de documentos que evidenciam ser Francisca de Macedo filha de Carlos de Moraes Navarro e de Maria Raposo, esta filha do Mestre de Campo Antônio Raposo Tavares.

* * *

Do casal Antônio Vieira Dourado e Francisca de Macedo, também citada como Francisca de Moraes em alguns documentos, descendem muitas personalidades que tiveram destaque na História brasileira, e que se espalharam por São Paulo e Rio de Janeiro. São tantos os descendentes que para se trazer todos numa só publicação seriam necessários muitos anos de pesquisas e uma coleção de muitos volumes.

Lendo o resumo do inventário do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes, e o artigo publicado por Cid Guimarães (Revista da ASBRAP nº 4, pág. 127-164) chamou-me a atenção o mistério genealógico sobre a ascendência de Francisca de Macedo.

Os nomes que aparecem no termo de amigável composição entre as partes em 18 de novembro de 1686 no inventário de dito capitão mor, publicado pela DAESP (Divisão do Arquivo do Estado de São Paulo) – vol. XXII, página 466, são os seguintes:

– Luís Porrate Penedo por sua mulher Serafina de Moraes (sobrinha do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes) e como procurador de Domingos Leme da Silva e sua mulher Inês de Barros (sic) d’Antas (filha de Ana Pedroso de Moraes, irmã do falecido capitão mor);

– Capitão Francisco Correia de Lemos e sua mulher Maria de Moraes (filha de Sebastiana Ribeiro de Moraes, esta irmã do dito capitão mor);

– Domingos de Sousa como herdeiro de sua mãe Mariana Pedroso de Moraes (filha de Ana Pedroso de Moraes, irmã do capitão mor);

– Cristóvão da Cunha representando sua mulher Maria Pedroso de Moraes (filha de Mariana Pedroso de Moraes, retro);

– Gaspar de Godoy Colaço por sua mulher Sebastiana Ribeiro (neta de Sebastiana Ribeiro de Moraes, irmã do falecido capitão mor) e como procurador de Pedro de Moraes (creio, filho do Coronel Carlos de Moraes Navarro, este filho de Ana Pedroso de Moraes);

– Luís Porrate Penedo representando o Reverendo Padre Manuel Pedroso (irmão do capitão mor);

– Antônio Vieira por sua mulher Francisca de Macedo;

– Manuel de Madureira por sua mulher Ana Pedroso e representando Maria Raposo (nora de Ana Pedroso de Moraes), por seus filhos menores Carlos de Moraes e Maria de Moraes (a quem o capitão mor deixou um legado);

– Manuel Alves Murzelo por si e como curador de seus filhos órfãos José Alves, Ana Pedroso, Catarina Gomes, Antônio Pedroso;

– Manuel Alves de Moraes por si e por sua irmã Helena Gomes de Moraes;

– o Capitão Cristóvão da Cunha representando Ana Pedroso mulher de Antônio Velho Cabral e Salvador Bicudo (de Mendonça), administrador instituído pelo falecido Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes.

Segundo Silva Leme, no vol. 7º Título Moraes, só duas irmãs do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes deixaram geração: Sebastiana Ribeiro de Moraes e Ana Pedroso de Moraes.

No processo de banhos para o casamento de Antônio Vieira de Moraes, morador nas Minas do Rio das Mortes (filho de Francisca de Macedo), com Ana Pires, iniciado em 3 de novembro de 1720 em São Paulo, uma das testemunhas, Antônio de Moraes de Aguiar diz “ser parente do justificante no quarto grau por consanguinidade” (ACMSP – Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo).

A ascendência da testemunha é conhecida (vol. 7º pág. 136, 5-7), mas quanto ao orador só temos a mãe, faltando duas gerações para se chegar ao quarto grau de parentesco entre os dois, isto é, até os trisavós do casal comum a eles.

Montei o gráfico para identificar essa ligação:

4º) Antônio de Moraes de Aguiar (testemunha), filho de:
3º) Sebastiana Barbosa de Aguiar, filha de:
2º) Serafina de Moraes, filha de:
1º) Sebastiana Ribeiro de Moraes, filha de:

Maria de Moraes C.c. Francisco Ribeiro, que são pais de:
1º) (?)
2º) (?)
3º) Francisca de Macedo, mãe de:
4º) Antônio Vieira de Moraes (justificante).

Em minhas pesquisas em Minas Gerais sempre me interessei por famílias que apareciam com frequência numa vila. Entre elas uma em especial me chamou a atenção, os Gomes Salgados, em razão de um de seus membros ser o doador do patrimônio para a cidade de Lavras, e entre eles existirem vários padres.

Olhando os processos de genere et moribus na Cúria Metropolitana de São Paulo, encontrei em 1750 o do Padre João Gomes Salgado, ordenado em Mariana com requisitória na vila de São Paulo (ACMSP – Est. 3, Gav. 19, nº 1866), e para minha surpresa nesse processo consta a informação de ser ele bisneto de Francisca de Macedo, ali citada como Francisca de Moraes, por sua filha Maria de Moraes Raposo, natural da Sé de São Paulo, casada com o português Luís Marques das Neves.

Outro documento que me chamou a atenção tempos depois, foi o casamento de Ana Quitéria, em 1761 na Capela da Piedade, filial de São João del Rei com José Bernardes Xavier; a noiva era filha de Nicolau Martins Saldanha e de Francisca de Moraes Raposo, esta filha de Jácome Fernandes das Neves e de Helena de Moraes, que por sua vez era filha de Francisca de Macedo.

Entre os sobrinhos e sobrinhos-netos do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes que se habilitaram a sua herança, encontramos Maria Raposo que foi a mulher de Carlos de Moraes Navarro, este filho de Ana Pedroso de Moraes – irmã do citado capitão mor.

Com base nos dados encontrados nesses documentos e montando a linhagem direta de ascendentes de Antônio Vieira de Moraes e de Antônio de Moraes Aguiar, chega-se ao quarto grau de parentesco por consanguinidade, como segue:

4º) Antônio de Moraes de Aguiar (testemunha), filho de:
3º) Sebastiana Barbosa de Aguiar, filha de:
2º) Serafina de Moraes, filha de:
1º) Sebastiana Ribeiro de Moraes, filha de:

Maria de Moraes C.c. Francisco Ribeiro, que são pais de:
1º) Ana de Moraes Pedroso, mãe de:
2º) Carlos de Moraes Navarro C.c. Maria Raposo, pais de:
3º) Francisca de Macedo, mãe de:
4º) Antônio Vieira de Moraes (justificante).

Confirmando essa dedução, entre as famílias abordadas por Pedro Taques em sua Nobiliarchia Paulistana (Título Bicudos, Carneiros, Mendonças, Vol. III – Cap. III, § 8º, 3-2), cita ele D. Maria Raposo que foi C.c. Carlos de Moraes Navarro, falecido em 1672 em Santana de Parnaíba (juiz ordinário nessa vila em 1667), onde foi inventariado, não constando nesse inventário os nomes dos seis filhos do casal, sendo “três homens e três mulheres, pois as dívidas eram tantas que os filhos ficaram sem herança”. Continuando, Pedro Taques se refere ao inventário da seguinte forma: “houve o indesculpável descuido de se não declarar os nomes dos ditos herdeiros”.

Desses seis filhos, Silva Leme descobriu quatro, dois homens e duas mulheres. A pesquisadora Maria Celina Exner Godoy Isoldi encontrou o batismo de um filho do casal por nome Antônio. Ainda falta uma filha, que identifico como Francisca de Macedo, ou Francisca de Moraes, como está na requisitória do processo de genere do Padre João Gomes Salgado, em São Paulo.

O “Macedo” que aparece em seu nome em inúmeros documentos poderá provir de algum ancestral desconhecido; por exemplo, do seu provável avô, o Mestre de Campo Antônio Raposo Tavares, conhece-se unicamente o nome de seu pai, Fernão Vieira Tavares.

Soma-se a isso que Francisca de Macedo já se encontrava em São João del Rei em 9 de maio de 1707 (quando sua filha Teresa de Moraes se casou com André do Valle Ribeiro), e onde também estava o Capitão Mor Pedro de Moraes Raposo (filho de Carlos de Moraes Navarro e de Maria Raposo), nomeado por provisão de 6 de junho de 1706 para a função de coronel das Ordenanças dessa vila, e que aparece como testemunha desse casamento.

Segundo Diogo de Vasconcelos (1974: 2º vol., páginas 28-29), Pedro de Moraes Raposo foi para o Rio das Mortes no princípio de seu povoamento junto com outros familiares que fundaram o arraial de Raposos em 1690.

Nota-se que em 1686 na composição amigável do inventário do capitão mor, Gaspar de Godoy Colaço aparece representando Pedro de Moraes que nesse ano já devia se encontrar nas Minas Gerais.

Infelizmente os livros que correspondem ao período onde estaria o termo do casamento de Francisca de Macedo com Antônio Vieira Dourado, tanto os da Sé de São Paulo quanto os de Santana do Parnaíba, na suposição que ela tenha se casado nessa vila paulista, desapareceram. O inventário de Carlos de Moraes Navarro, consultado por Pedro Taques não foi localizado na DAESP e não sabemos onde faleceu Maria Raposo. Sabemos apenas que ela já era falecida em 1699 por ocasião do casamento de seu filho Carlos de Moraes Navarro, em Itu.

Por conclusão, o parágrafo 2º do Título Moraes, do Vol. 7º, pág. 5 de Silva Leme fica como segue:

§ 2º

II – CAPITÃO PEDRO DE MORAES MADUREIRA, fº de Pedro de Moraes d’Antas e de Leonor Pedroso, n.p. de Baltazar de Moraes de Antas e de Brites Rodrigues Annes, n.m. de Estevão Ribeiro Baião Parente e de Madalena Fernandes Feijó de Madureira, foi C.c. sua parente ANA DE MORAES PEDROSO, n. cerca de 1610 e fal. em 1647 com testamento em São Paulo, fª de Francisco Ribeiro e de Maria de Moraes, esta fª de Pantaleão Pedroso e de Ana de Moraes d’Antas, n.m. de Baltazar de Moraes de Antas e de Brites Rodrigues Annes, n.p. de Estevão Ribeiro Baião Parente e de Madalena Fernandes Feijó de Madureira, já citados [no original os avós maternos e paternos estão invertidos]. Teve 6 filhos (Cartório de Órfãos de S. Paulo):

1 (III) – CORONEL CARLOS DE MORAES NAVARRO, que segue.

2 (III) – MARIA DE MORAES, foi C.c. SALVADOR BICUDO DE MENDONÇA, fº do Capitão Manuel Pires e de Maria Bicudo.

3 (III) – MARIANA PEDROSO DE MORAES, com 10 anos em 1647, foi C.c. o CAPITÃO PEDRO DE SOUSA BARROS.

4 (III) – DAVID.

5 (III) – INÊS PEDROSO NAVARRO, ou INÊS NAVARRO D’ANTAS, fal. em 1712 em Itu, foi C.c. DOMINGOS LEME DA SILVA, fº de Francisco Leme da Silva e de Isabel de Góes.

6 (III) – ANA MARIA, tinha 6 anos em 1647.

III – CORONEL CARLOS DE MORAES NAVARRO, com 14 anos em 1647, C. mais tarde c. MARIA RAPOSO, fal. antes de 1699, fª do Mestre de Campo Antônio Raposo Tavares, n. em Beja, Alentejo (donde veio em companhia de seu pai Fernão Vieira Tavares), e de sua 1ª mulher Beatriz Furtado de Mendonça, esta fª do Capitão Manuel Pires e de Maria Bicudo.

O Coronel Carlos de Moraes Navarro, foi juiz de órfãos em Santana do Parnaíba em 1667, onde fal. em 1672, constando em seu inventário, segundo Pedro Taques, ter seis filhos, sendo três homens e três mulheres, mas “como eram tantas as dívidas os filhos ficaram sem herança”, e são eles:

1 (IV) – ANTÔNIO, bat. na Sé de São Paulo em 30 de outubro de 1654, sendo padrinhos Antônio Bueno de Moraes e Francisca Raposa (pesq. Maria Celina Exner Godoy Isoldi).

2 (IV) – CAPITÃO MOR PEDRO DE MORAES RAPOSO, n. em São Paulo, passou a Minas Gerais no tempo de D. Arthur de Sá, antes de 15 de julho de 1702 (data que este deu posse a seu sucessor) e segundo Diogo de Vasconcelos, “… ajudou a socavar o Rio das Velhas, onde com seus parentes haviam fundado o arraial de Raposos…” (fundado em 1690).

O Governador de São Paulo, D. Fernando Martins Mascarenhas de Alencastro, por provisão de 6 de junho de 1706, nomeou-o Regente do Distrito com poderes discricionários, cujo regimento era o seguinte: “1º Fará tudo quanto se lhe ordenar; 2º Alistará brancos e escravos para defenderem o Rio de Janeiro; 3º Cobrará os quintos e tomará contas dos Guardas-mores e Administradores das datas reais; 4º Administrará no Cível e no Criminal; 5º prenderá os assassinos e criminosos; 6º Levantará um corpo de milícias com o privilégio de ordenança”.

Foi ele a primeira autoridade que se estabeleceu no Rio das Mortes e em razão de seu zelo e capacidade, por provisão de 8 de fevereiro de 1708 foi elevado a Superintendente do Distrito do Rio das Mortes, a mais alta hierarquia judiciária daqueles tempos e o único efetivamente a exercer sua função.

Foi também eleito juiz na eleição da 1ª Câmara da Vila de São João del Rei criada por ato e termo de 8 de dezembro de 1713 (Conforme Diogo de Vasconcelos). Em 1707 serviu de testemunha no casamento de André do Valle Ribeiro com Teresa de Moraes, esta filha de Francisca de Macedo. Foi C.c. ANA MOREIRA DE GODOY, fª de Gaspar de Godoy Moreira e de Custódia Moreira. Com geração.

3 (IV) – ANA PEDROSO, C.c. MANUEL DE MADUREIRA, como se vê no inventário do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes.

4 (IV) – FRANCISCA DE MACEDO ou FRANCISCA DE MORAES, que segue.

5 (IV) – CARLOS DE MORAES NAVARRO, C. em 1699 em Itu c. MARIA CORRÊA DE ARZÃO, fª do Capitão Cornélio Rodrigues de Arzão e de Catarina Gomes Corrêa, a contraente viúva de Manuel Ortiz de Camargo.

6 (IV) – MARIA DE MORAES, n. em Santana do Parnaíba (conforme os originais de Silva Leme), C. 1ª vez em 1694 em Itu com FRANCISCO CORRÊA RIBEIRO, fº de Lourenço Corrêa Ribeiro e de Maria Pereira de Azevedo; 2ª vez C. em 1706 na mesma vila c. MANUEL DA ROSA ARZÃO, fº de Manuel da Rosa Guedes e de Maria Rodrigues de Arzão. Tít. Arzão.

IV – FRANCISCA DE MACEDO ou FRANCISCA DE MORAES (como aparece no processo de genere de seu neto o Padre João Gomes Salgado ACMSP), antes de 18 de novembro de 1686 C.c. ANTÔNIO VIEIRA DOURADO, n. em Oliveira, Portugal (informação de Cid Guimarães, conforme tábua de ascendência do Barão de Vassouras, por Affonso de E. Taunay, em 1932).

O casal morou em São Paulo onde Antônio Vieira aparece assinando por sua mulher no inventário do Capitão Mor Antônio Ribeiro de Moraes e sua mulher Catarina Ribeiro, processado nessa vila a partir de 1686. Passaram depois para Minas Gerais, fixando residência na vila de São João del Rei, antes da Guerra dos Emboabas.

Francisca de Macedo teve pelo menos os filhos:

1 (IV) – TERESA DE MORAES, bat. na Sé de São Paulo. A 9 de maio de 1707 na vila de São João del Rei, MG, tendo como testemunha Pedro de Moraes, C.c. ANDRÉ DO VALLE RIBEIRO, n. em 24 e bat. aos 27 de maio de 1675 na freguesia de São Mamede de Valongo, concelho de Valongo, Porto, Portugal, fº de Domingos Francisco e de Maria do Valle (Ribeiro do Valle, Cid Guimarães, in: Revista da ASBRAP nº 4, 1997). Com grande geração, parte já publicada na obra citada e em “Crescei e multiplicai-vos”, por José Ribeiro do Valle.

2 (IV) – HELENA DE MORAES (ou DE OLIVEIRA), creio que natural de São Paulo, como os irmãos, C.c. JÁCOME FERNANDES DAS NEVES, fal. em 2 de maio de 1764 no lugar denominado Cachoeirinha, na freguesia de Nossa Senhora das Lavras do Funil e Carrancas, inventariado a partir de 4 de maio do mesmo ano. Com geração em Minas Gerais e São Paulo.

3 (IV) – ANTÔNIO VIEIRA DE MORAES, n. em São Paulo, de onde saiu na infância, conforme declara no processo de habilitação requerido para C.c. ANA PIRES, fª de Matias de Oliveira Lobo e de Ana de Moraes Madureira (Tit. Oliveiras). Em 3 de novembro de 1720 em São Paulo pagou vinte mil réis para aguardar a Certidão de Banhos corridos em Minas Gerais. Com grande geração, entre eles vários titulares do Império como o Barão de Vassouras, o Barão de Aiuruoca e o Visconde de Araxá.

4 (IV) – MARIA DE MORAES RAPOSO, n. e bat. na Sé de São Paulo, onde C.c. LUÍS MARQUES DAS NEVES, n. na freguesia de São Mamede do lugar de Valongo, Bispado do Porto, e que foi morador em São Paulo até cerca de 1720, onde tinha loja de mercadorias, indo depois para Minas Gerais (processo de genere do Padre João Gomes Salgado – ACMSP – Est. 3, Gav. 19, nº 1866). Com geração em Minas Gerais e São Paulo.

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Agradecimentos:

Ao Dr. Cid Guimarães pelo incentivo, por ceder informações de seu arquivo particular e pelas horas que me dedicou na discussão sobre os dados encontrados; a Maria Celina Exner Godoy Isoldi por fornecer dados sobre essa família.

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Fontes manuscritas:

Arquivo Eclesiástico de Carrancas – MG, processos de dispensas matrimoniais.

Arquivo particular do Dr. Cid Guimarães: Inventário de Antônio Ribeiro de Moraes e Catarina Ribeiro; tábua de ascendentes do Barão e Baronesa de Vassouras, de A. E. de Taunay; processo de dispensa matrimonial de Antônio Vieira de Moraes.

Museu Regional de São João del Rei – Inventário de João Gomes Salgado (pai) – 1740.

SILVA LEME, Luís Gonzaga da. Genealogia Paulistana. Ms.

Sociedade Genealógica de Utah – Centro de História da Família – Setor de microfilmes – Livro de casamentos de São João del Rei; Processo de genere et moribus do Padre João Gomes Salgado.

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Referências bibliográficas:

GUIMARÃES, Cid. Ribeiro do Vale. Revista da ASBRAP nº 4, 1997, p. 127-164.

SILVA LEME, Luís Gonzaga da. Genealogia Paulistana. São Paulo: s. ed., 1905, v. 7, 550 p.

LEME, Pedro Taques de Almeida Paes, 1980. Nobiliarquia paulistana histórica e genealógica. 5ª ed., Belo Horizonte: Itatiaia/ São Paulo: EDUSP, 1980, Tomo III, 282 p.

VASCONCELOS, Diogo de. História antiga de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, v. 2, 286 p. (Biblioteca de Estudos Brasileiros 3 e 4).

Abreviaturas:
bat.  - batizado(a)
C.    - casado(a)
C.c.  - casado(a) com
cap.  - capítulo
ed.   - edição
est.  - estante
fª    - filha
fº    - filho
fal.  - falecido(a)
gav.  - gaveta
nº    - número
n.    - nascido(a)
n.m.  - neto(a) materno(a)
n.p.  - neto(a) paterno(a)
pág.  - página
pesq. - pesquisa de
tit.  - título
vol.  - volume
ACMSP  - Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo 
ASBRAP - Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia
DAESP  - Divisão do Arquivo do Estado de São Paulo
A. E. de Taunay - Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay