Como montar uma Árvore Genealógica ( III )

A genealogia, além da história de um indivíduo e de sua família, também é a história dos locais onde vive ou viveu, é a história de como o mundo externo acabou afetando sua própria vida, levando-o a tomar decisões que  eventualmente refletiriam nas gerações futuras. E na maior parte das vezes esse tipo de história não está escrita em livros, não consta em documentos, sequer há registro de como ou porquê de ter acontecido determinado evento. E como ficamos sabendo? Através da tradição oral, das rodas de conversa com a família, dos casos e causos que vão sendo transmitidos de geração para geração e cada vez mais vão tomando forma de conto, de lenda.

Então, por mais relevante que seja fazer o registro documental de todas as anotações de sua árvore genealógica, é preciso também estar atento ao dia a dia, naquilo que faz parte da vida do indivíduo mas não necessariamente seria possível de documentar.

Pois bem. Dito isso, agora vamos trazer algumas informações que são de amplo conhecimento da família e vão nos ajudar a avançar um pouquinho mais na construção da nossa árvore, apesar de não estarem documentadas, mas que –garanto-lhes – são verdadeiras!

Geraldo (meu tio) foi solteiro a vida inteira. Nasceu e cresceu na roça, em São José dos Campos, SP, lá pros lados do Bairro do Sobrado, quase divisa com Igaratá. Desde então já era sabido que seu pai (meu avô) veio de Minas Gerais e faleceu cedo, ali mesmo naquelas paragens. Mais tarde, após terem vendido o sítio, mudou-se para a zona urbana da cidade, tendo ido morar com sua mãe. Anos depois mudou-se para Ubatuba, SP, para morar com sua irmã, a qual, também passados alguns anos, acabou voltando para São José dos Campos e por ali Geraldo viveu com ela até falecer. Ele, não ela.

E o que essa história nos traz de relevante? O pai de Geraldo faleceu em São José dos Campos. Então é por essa linha que continuaremos nossas buscas. Apesar de não sabermos a data de falecimento, por intermédio da família sabemos onde ele está sepultado: no Cemitério de Santana (antigamente  chamado de “Cemitério da Paz”, hoje é conhecido como “Cemitério Municipal Maria Peregrina”), no bairro de Santana, em São José dos Campos, SP.

E aqui voltamos ao nosso trabalho “detetivesco”… Fui até o cemitério e como não sabia a localização do jazigo busquei informações no setor administrativo (todo cemitério tem um “escritoriozinho” para atender os desinformados). Pelo atual estado da tecnologia todos os registros provavelmente devem estar digitalizados, acessíveis em uma base de dados, e provavelmente até mesmo disponíveis na Internet. Mas na época em que comecei essas pesquisas (por volta do ano 2000) esses registros estavam arquivados em alguns armários de aço, em fichas de papel escritas à mão.

Foi assim que descobri que seu “endereço atual” era a Quadra 11, Jazigo 2103. E também foi por lá, tanto na ficha de registro quanto na lápide,  que constava a informação que eu buscava: ele faleceu em 30 de setembro de 1970.

A Certidão de Óbito

Como já vimos anteriormente os cartórios de registro civil são os guardiões dos assentos de nascimento, casamento e falecimento das pessoas físicas de determinada localidade, sendo que as certidões que emitem são meras transcrições desses assentos. Uma vez que eu já tinha o nome completo do pai de Geraldo (que constava em sua certidão de nascimento) e  a data de falecimento dele (obtida nos registros do cemitério) bastou visitar os Cartórios de Registro Civil da cidade com essas informações para que pudesse obter uma transcrição da Certidão de Óbito de Antonio. São apenas quatro os cartórios na cidade de São José dos Campos, mas dei sorte: o registro estava no do Primeiro Subdistrito.

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Assim como fizemos com a Certidão de Nascimento de Geraldo, vejamos as informações possíveis de serem extraídas da Certidão de Óbito de Antonio, a começar pela identificação de cada um dos indivíduos nela constantes:

. Antonio de Andrade – o indivíduo do registro;

. Sebastiana dos Santos Andrade – esposa;

. João Agnello de Andrade – pai (observe que a grafia do nome está diferente daquela constante na Certidão de Nascimento de Geraldo; neste caso é importante “escolher” qual grafia será utilizada, mas deixar registrada a grafia alternativa para que com a vinda de outros documentos possamos confirmar qual de fato seria a correta);

. Iria Rita de Bem – mãe (mesmas considerações do comentário supra);

. José Alves de Souza – declarante do óbito junto ao cartório (provável amigo da família ou parente);

. José Fernando Leal – médico que firmou o óbito;

. José, Fé, Roberto, Esperança, Caridade, Felisberto (maiores), Jorge, Geraldo, Maria, Pedrina e Laura (menores) – filhos;

Com relação aos onze filhos que deixou, uma observação importante: apesar de não termos seus nomes completos ou idades corretas, sabemos quais deles eram maiores e quais eram menores de idade quando do falecimento, em 30/09/1970, o que poderá ajudar a situar os intervalos de datas nas buscas futuras. Mais um detalhe: o Código Civil vigente na época era decorrente da Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, de modo que a maioridade estava delimitada na idade de 21 anos; somente com o advento do Novo Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é que a maioridade civil passou a ser de 18 anos.

Uma curiosidade, destas que somente pesquisando a família é que se torna possível descobrir, é que o nome das três irmãs mais velhas de Geraldo correspondem às três virtudes teologais explicitadas por Paulo  no texto bíblico do Novo Testamento, Primeira Epístola aos Coríntios, Capítulo 13, Versículo 13: , Esperança e Caridade.

Quanto ao indivíduo em si, temos que faleceu em 30/09/1970, às 10h20min, na Santa Casa de Misericórdia, em São José dos Campos, SP. Brasileiro, nascido em Santa Rita do Jacutinga, MG, residente no Bairro do Machado, em São José dos Campos, era lavrador.

Não temos a data de nascimento, mas sabemos que ele tinha 61 anos quando do falecimento, o que nos deixa o provável ano de 1909 (se o dia e mês de aniversário for após a data de falecimento, então o ano de nascimento seria 1910). Também não temos a data de casamento, mas como consta que ele já era casado há 34 anos, ficamos com o provável ano de 1936 para as bodas realizadas em Santa Rita do Jacutinga, MG.

Não deixou testamento, mas deixou bens na cidade – o que nos abre a possibilidade de uma futura pesquisa junto ao Fórum em busca de uma Ação de Inventário em seu nome. Era eleitor em Igaratá, com o título de nº 783, o que abre mais um flanco de pesquisas junto ao Cartório Eleitoral daquela cidade.

causa mortis foi: “anoxia, edema cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico”. Ou seja, ausência ou diminuição da oxigenação no cérebro, inchaço de uma região no cérebro, e derrame ou isquemia cerebral (falta de sangue em uma área do cérebro por conta da obstrução de uma artéria). Esse tipo de anotação torna-se relevante em termos genealógicos para identificar possíveis doenças recorrentes na família (diabetes, doenças do coração, etc) e que podem vir a ajudar eventuais diagnósticos para as gerações futuras.

Por fim temos que o registro do óbito foi lavrado no mesmo dia do falecimento, sendo o seguinte:

. Termo nº 37768;

. Folha 72-verso;

. Livro de Registro de Óbitos nº C-37;

. Cartório de Registro Civil do 1º Subdistrito da Comarca de São José dos Campos, SP.

Valem aqui as mesmas observações acerca da nova numeração adotada para emissão de certidões, como vimos em nosso artigo anterior.

Quanto ao registro genealógico individual de Antonio de Andrade, ficaria da seguinte maneira:

Antonio de Andrade. Nascido por volta de 1909 em Santa Rita do Jacutinga, MG, nesta mesma cidade casou-se por volta de 1936 com Sebastiana dos Santos Andrade, e faleceu em 30/09/1970, às 10h20min, na Santa Casa de Misericórdia de São José dos Campos, SP. Filho de João Agnello de Andrade c.c. Iria Rita de Bem. Era lavrador, residente no Bairro do Machado, em São José dos Campos, SP, e eleitor em Igaratá, com o título de nº 783. O óbito foi firmado pelo Dr. José Fernando Leal, que deu como causa mortis: anoxia, edema cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico. Foi declarante José Alves de Souza. Deixou bens para seus onze filhos.

Fonte 1: Certidão de Nascimento de Geraldo de Andrade, Termo nº 5593, fls. 49-V, Livro nº 20 de Registro de Nascimentos do Cartório de Registro Civil de Igaratá, SP, Comarca de Santa Isabel, SP.

Fonte 2: Certidão de Óbito de Antonio de Andrade, Termo nº 37768, fls. 72-V, Livro nº C-37 de Registro de Óbitos do Cartório de Registro Civil do 1º Subdistrito da Comarca de São José dos Campos, SP.

Já o genograma decorrente dessas informações ficaria assim:

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Como a tendência de qualquer árvore genealógica é sempre aumentar – e invariavelmente desordenadamente – há que se ter um critério para sua construção, portanto no próximo artigo falaremos acerca da árvore de ascendentes, da árvore de descendentes e quais os sistemas utilizados para classificação dos indivíduos.

(Parte II)                                           (Início)                                           (Parte IV)

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