Primo-de-quê?

Primeiro grau, segundo grau, terceiro grau… Afinal de contas, como é que funciona essa bagaça de parentesco?

Para aqueles que ainda não sabem, sou advogado. Minha especialidade é a área de licitações e contratos públicos, mas de quando em quando, mais por gentileza que por necessidade, costumo ajuizar outros tipos de ações para dar uma força para os amigos.

O caso em questão é que faleceu um grande amigo – não, meu melhor amigoPaulo Bicarato. Divorciado, sem filhos, pais já falecidos, restaram seus quatro irmãos. E nenhum bem. Ou quase. Acontece que quando do inventário de seu pai ele ficou sendo coproprietário de um automóvel, na realidade 1/5 do veículo.  E assim ficou registrado no documento do carro. Todos os irmãos combinaram que seria transferido para a irmã mais velha, mas o Bica faleceu antes de concretizar essa vontade e por isso me coloquei à disposição para entrar com a ação, pois, ainda que isso pudesse ser feito diretamente no cartório, o custo do registro da escritura seria alto e como cada um deles mora em uma cidade diferente em tempos de pandemia seria melhor resolver tudo pela Internet.

Para facilitar criamos um grupo no WhatsApp para trocar informações sobre a ação, juntar documentação, recolher guias, tirar dúvidas, etc. Assim, uma vez que toda a documentação foi reunida, mandei uma minuta da petição inicial para o grupo para que todos verificassem. Foi então que o Marcelo, irmão do meio, perguntou:

– Adauto, na página 2, final do 2º parágrafo do item “I-DO FALECIMENTO”, somos definidos como “irmãos de 2º grau”; é isso mesmo? Não seríamos “de 1º grau”?

Esse tipo de dúvida é mais comum do que se imagina, pois temos essa mania de chamar os primos diretos de primos de primeiro grau e quando mais afastados de primos de segundo grau. Aliás, nem sei de onde saiu isso.

Pois bem. Daí lhe expliquei:

– Pelo Código Civil você define o grau de parentesco subindo até o ascendente em comum e descendo até o indivíduo. Assim temos o Paulo, subindo até o “Seo Antonio” (pai – 1º grau), daí descemos até o indivíduo com o mesmo ascendente (irmão – 2º grau) e se fosse o caso de descer até o filho do irmão teríamos o sobrinho – 3º grau. Ou seja, fica tranquilo que é assim mesmo…

Essa regrinha tá lá no Código Civil, artigo 1594, que esclarece: “Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.”

Para esclarecer melhor: o parentesco em linha reta pode ser de  ascendentes, que são as gerações da família que antecederam a chegada no mundo do indivíduo (pais, avós, bisavós, trisavós, etc) e de descendentes, que são as gerações que vêm após o nascimento do indivíduo, diretamente ligados a ele (filhos, netos, bisnetos, trinetos, etc). Esse tipo de parentesco é ilimitado, não importando o número de gerações que separam os indivíduos.

Já o parentesco em linha colateral (ou transversal) diz respeito às pessoas que não ascendem ou descendem diretamente do indivíduo, mas fazem parte do mesmo tronco familiar, pois têm um ancestral em comum. De acordo com o Código Civil  (artigo 1592) na linha colateral somente é considerado parente aquele até o quarto grau.

E temos ainda o parentesco por afinidade, que é a ligação aos parentes do cônjuge (por casamento) ou do companheiro (por união estável), que é limitado aos ascendentes, descendentes e irmãos da outra parte. Aqui temos a figura dos sogros, enteados e do cunhados. Já o cônjuge ou o companheiro propriamente dito não é parente.

Voltando à nossa história,  o Cacá, irmão caçula, gaiato que é, me veio com essa:

– trivia: qual o grau do primo do irmão do sobrinho do pai do tio avô nesse caso, Adauto?

É óbvio que eu entendi que era uma brincadeira. Mesmo assim eu lhe disse que iria “calcular” e depois informava…

Passados alguns dias resolvidos tantos outros problemas, lembrei-me da pergunta estapafúrdia e resolvi que já era hora de respondê-la. Abri o GenoPro – um programa antigo, lá de 1999, mas que considero o melhor de todos para montar genogramas e árvores genealógicas – e fui destrinchando item a item o parentesco que ele inventou. Deu nisso aqui, ó:

E por fim, dei-lhe a seguinte resposta:

– Creio que sem que você percebesse acabou tendo uma “pegadinha” na sua pergunta… Por um lado temos que o próprio avô do indivíduo é que é o primo do irmão do sobrinho do pai do tio avô e nesse caso o grau parentesco seria em linha reta de 2º grau. Mas se o primo for outro, então o grau de parentesco seria em linha colateral de 6º grau. Por nada. Servimos bem para servir sempre…

De onde viemos – Parte I

Toda história deve ter um começo.

E a nossa começa muito, muito tempo atrás…

Embora os primeiros hominídeos tenham surgido na zona tropical do continente africano há aproximadamente 2 milhões de anos – e a partir dali lentamente se espalharam e se multiplicaram pelo restante do mundo, gradativamente começando a assumir características físicas próprias de acordo com cada região – foi somente há cerca de 60 mil anos que surgiram os primeiros sinais de um despertar da criatividade na raça humana, notadamente com o desenvolvimento da fala e de primórdios da escrita, bem como com a criação de ferramentas rudimentares para utilização na caça e no seu dia a dia.

Eram, então, pequenas tribos nômades ou seminômades que se deslocavam sistematicamente dentro de sua região em busca de recursos naturais que lhes garantisse a sobrevivência. Há aproximadamente 15 mil anos a.C. teve início um lento processo de degelo, elevando o nível do mar e fazendo com que o planeta assumisse seus atuais contornos físicos. A elevação da temperatura global ampliou as áreas habitáveis e permitiu à raça humana as condições necessárias para que começassem a se estabelecer de forma mais perene em seus territórios. Há cerca de 10 mil anos a.C. o clima se estabilizou e a humanidade passou a dominar as técnicas de cultivo de grãos e de domesticação de animais, de modo que não era mais necessário o constante deslocamento atrás de caça ou frutas, pois passaram a ter condições de produzir seu próprio alimento, o que lhes garantiu a comodidade de se fixar e construir moradias mais elaboradas.

Mas ainda que essas mudanças tenham acontecido de forma gradativa, não necessariamente ocorreu com toda a raça humana. Os povos de algumas localidades se desenvolviam mais rapidamente que o de outras – até por conta do clima e da geografia de cada região – de modo que para uns a lavoura era o foco principal de seu cotidiano enquanto que para outros a criação de animais vinha em primeiro lugar, também existindo aqueles que se mantiveram através da caça, bem como alguns que de tudo faziam um pouco, inclusive mantendo-se nômades em vez de se fixarem em determinado lugar.

Foi com a criação da escrita, ocorrida há cerca de 5 mil anos a.C., que finalmente, ainda que à sua própria maneira e segundo seu próprio sistema, cada um desses povos passou a ter a possibilidade de registrar sua história, criando assim um conceito de civilização e passando cada qual a ter uma identidade cultural única.

E nas diversas regiões do mundo muitos desses povos que não tinham mais a necessidade do nomadismo passaram a se organizar em pequenas aldeias, que com o tempo se transformaram em cidades, cidades essas que constituíam reinos e reinos esses que travavam disputas entre si pelos mais variados motivos…

Para nossa história em particular o que vai nos interessar especificamente são os povos que se fixaram em dois pontos quase opostos do planeta. Em primeiro lugar temos aqueles que habitavam o sudoeste da continente europeu, na Península Ibérica – que recebeu esse nome por se tratar de uma península, ou seja, uma porção de terra quase toda circundada por água com exceção de uma estreita faixa que a liga ao continente, e, no caso, cortada pelo maior rio da região, naquela época conhecido como Rio Iber. E vem daí o nome de seus habitantes: Íberos.

A presença humana na Península Ibérica remonta a aproximadamente 35 mil anos, mas foi a partir de cerca de 8 mil anos a.C. que esse território passou a servir de ponto de encontro para migrantes de várias origens e que nele acabavam por se estabelecer, já que o mar formava uma barreira intransponível para seguir adiante. E para lá, dentre outros povos existentes, os primeiros colonizadores vieram principalmente da Fenícia, de Cartago e da Grécia. E assim eles foram se mesclando, se confundindo, e através desse milenar processo de miscigenação de sangue e de sucessivas sobreposições culturais foram modelados em um determinado tipo humano, mas não se definiram nos moldes de uma raça específica. E ali desenvolveram uma cultura voltada à agricultura e a construções que tinham por base grandes blocos de pedra rude.

Por volta do ano 1.000 a.C., quando estávamos em plena Idade do Bronze, o continente europeu sofreu a invasão dos Celtas, vindos da região das ilhas britânicas, um povo culturalmente mais avançado, dotado de muita ciência e muita mística, que, inclusive, tinham uma enorme vantagem técnica sobre os demais povos já instalados: sabiam trabalhar o ferro, metal muito superior ao bronze em relação à dureza e abundância de jazidas, o que permitia a fabricação de armas e ferramentas melhores e mais duradouras.

Os Celtas lutaram durante um bom tempo com as populações locais, mas no decorrer dos séculos seguintes acabaram por se estabelecer e se fundir com elas, ocupando o noroeste da Península Ibérica, especificamente onde nos dias de hoje encontram-se a comunidade de Galiza (cujo nome significa “a terra dos Celtas”), na Espanha, bem como o norte de Portugal. Essa fusão entre Celtas e Íberos fez surgir os assim denominados celtíberos, antepassados dos atuais habitantes dessas regiões.

E assim a Península Ibérica, com o passar do tempo, passou a ser formada por diversas tribos e reinos, os quais se reuniam em territórios distintos segundo seus próprios costumes: a Lusitânia e a Hispânia. Mas esses costumes acabaram por ser gradualmente romanizados, o que se deu a partir de 197 a.C. em decorrência da guerra entre Cartago e Roma, sendo que esta, num movimento expansionista que viria a culminar em um novo império, acabou por anexar toda a Península Ibérica. Essa situação perdurou até o ano 418 d.C., quando houve a invasão de povos germânicos, os Visigodos, que viriam a assumir o domínio de toda a região pelos trezentos anos seguintes, trazendo novos hábitos e costumes aos habitantes locais. A seguir, em 711 d.C., se deu a invasão muçulmana, que não dominou toda a península, mas fez com que os íberos convivessem com os árabes até sua expulsão em definitivo, o que só viria a ocorrer no ano de 1492.

Foi desse modo, através da miscigenação de todos esses povos e da assimilação de novas culturas e línguas, que consolidaram-se as características daqueles povos e as nações de Portugal e da Espanha. Portugal começou a adquirir independência e identidade a partir do ano de 1139, quando, após uma série de batalhas para manter o Condado Portucalense, D. Afonso Henriques autoproclamou-se Rei de Portugal.

E foi aproximadamente nessa época que lá na região de Galiza, um reino situado ao norte de Portugal, bem na pontinha da Península Ibérica, em determinada localidade às margens do Rio Eumes, pouco antes de desaguar num braço de mar do Oceano Atlântico, veio a surgir em pleno século XII um pequeno povoado que recebeu o nome de Freguesia de Andrade.

E esta é apenas uma parte da nossa história…

Ascendentes de Bragança

Acabei aprendendo – na raça – que quando alguém se propõe a montar uma árvore genealógica vai encontrar inúmeras dificuldades, a começar da “desconfiança” dos parentes de que você está atrás de alguma herança, a complicada (e muitas vezes cara) burocracia para levantamento de documentos, certidões, inventários e outros quetais, a escassez de livros de consulta e obras de genealogia e vai por aí afora.

Porém o mais complicado é quando sua árvore remonta a um passado longínquo, praticamente impossível de ser cabalmente comprovado através de documentos, baseado principalmente em autores de séculos atrás e que mesmo à sua época já encontravam-se num tempo distante dos fatos quando ocorreram.

É esta a nossa situação.

Assim, baseado em vários livros e um tanto de estudos que já foram feitos a respeito dessa linhagem, bem como através de algumas considerações e deduções lógicas, consegui reconstruir a linha de meus ascendentes até aproximadamente o ano 1.000 em Portugal, em Bragança, uma região situada no nordeste do país, divisa com a Espanha.


Mapa de Portugal

Essa área, onde já existia uma povoação desde a época da ocupação romana, foi destruída durante as guerras entre cristãos e mouros e estava localizada num território que pertenceu ao mosteiro beneditino de Castro de Avelãs. Fazia divisa, à época com os reinos ibéricos de Leão e também de Castela (nesses tempos a Espanha ainda não existia).

E ali, na época do reinado de Afonso VI de Leão e Castela (pai de Teresa de Leão e avô de Afonso Henriques, que viria a ser o primeiro rei de Portugal), é onde começa a nossa história…

      
Afonso VI   /   Teresa de Leão   /   Afonso Henriques

1 – MENDO ALAM (*980 +1050)

Também encontrado como Mendo Alão. Nascido na Bretanha (França), dizem alguns estudiosos que se refugiou no reino de Leão para evitar um confronto com seu primo, que reivindicava o Condado da Bretanha e por isso mesmo já teria assassinado seu pai, conforme se refere José Carlos Lourinho Soares Machado em sua obra “Os Braganções”, Lisboa, 2004. Corrobora essa tese o fato de que o patronímico Alam ou Alão – derivado de Alanus – simplesmente não existia na região de Leão, nem sequer na Península Ibérica, sendo entretanto comum na região da Bretanha.

Esse Mendo foi senhor de muitas terras em Castela e também senhor da Vila de Bragança, localidade esta que teria tomado dos mouros. Muito provavelmente deve ter sido ele que fundou o Mosteiro de São Salvador de Castro de Avelãs, onde vivia.

Quando uma princesa armênia (dizem alguns autores que seu nome seria JOANA DE ROMAES ARDZROUNI-HOMAZ (*1010 + 1083), já outros que este nome seria pura invenção, posto que desconhecido), filha do último rei de Vaspuracânia, viajou com seu pai em peregrinação para Santiago de Compostela, na Galiza, para visitar o túmulo do apóstolo São Tiago, hospedou-se nesse mosteiro, Mendo tomou-a à força e a fez sua esposa, conforme conta Pedro Taques ao transcrever a obra de Arroio, de 1757. Teve aí o início da linhagem dos Braganções. Mendo Alam veio a falecer em Bragança, Portugal.

Filho(s): Fernando Mendes e Ouroana Mendes, casada com Fafes Serracin de Lanhoso (com geração).

2 – FERNANDO MENDES, “O VELHO” (*1030 +1117)

Também encontrado como Fernão Mendes de Bragança, foi ele que sucedeu seu pai no Senhorio de Bragança e de outras terras na província de Trás-os-Montes, entre Bragança e Miranda, tornando-se assim o Segundo Senhor de Bragança.

Casou-se com SANCHA DE LEÃO, filha legítima do rei Afonso VI de Leão e Castela e sua segunda esposa, Constança da Borgonha. É o que consta no “Livro Velho de Linhagens do conde D. Pedro”. Alguns autores colocam este Fernando Mendes casado com Teresa Soares, o que é um equívoco, pois ela foi na realidade casada com seu neto homônimo.

Filho(s): Mendo Fernandes.

3 – MENDO FERNANDES

Também encontrado como Mem Fernandes de Bragança e foi quem por sua vez sucedeu ao pai no Senhorio de Bragança, provavelmente tendo sido alferes-mor do rei D. Afonso I de Portugal (Afonso Henriques) por volta de 1147.

Casou-se com SANCHA VIEGAS DE BAYÃO, filha de Egas Gosendes, O Senhor de Bayão, e de sua mulher Gotina Nunes.

Filho(s): Fernando Mendes e Ruy Mendes.

4 – FERNANDO MENDES, O BRAVO (*1095 +1160)

Também encontrado como Fernão Mendes II de Bragança. Ficou conhecido como “O Bravo” tanto por ter participado com o rei D. Afonso Henriques em todas as guerras de seu tempo quanto pelo seu caráter violento (para se ter uma ideia, foi ele quem matou o próprio irmão por este ter rompido um pacto de não agressão que haviam ajustado entre si). Também foi quem sucedeu seu pai, assumindo o Senhorio de Bragança bem como um vasto território na fronteira leonesa.

Contribuiu ativamente para o povoamento de suas terras através de várias doações, permitindo assim o surgimento de diversas instituições ligadas às Ordens Templária e Hospitalária.

Foi casado com TERESA SOARES DE MAYA filha de Soeiro Mendes da Maya, O Bom. E com essa estratégia acompanhava seus antepassados, sempre unir-se cada vez mais a Portugal através de sucessivos casamentos com damas portuguesas garantindo assim uma linhagem bastante influente.

Em 1130 já era viúvo quando dizem que se deu o célebre episódio em que estavam presentes o rei D. Afonso Henriques, Gonçalo de Souza e Sancho Nunes de Celanova, o qual era casado com Sancha Henriques, legítima irmã do rei. Acontece que estes dois riram de Fernando na presença do rei por conta da nata que escorria da barba dele, D. Afonso, “em reparação”, não só confiscou e doou as terras de Gonçalo para Fernando, como também permitiu que ele tomasse para si a esposa de Sancho, irmã do rei. Na realidade – se é que foi assim – não passou de uma manobra política para garantir o apoio tanto político quanto estratégico de Fernando ao próprio rei.

Deste segundo casamento não teve filhos. Entretanto Fernando e Teresa deixaram geração.

Filho(s): Pedro Fernandes.

5 – PEDRO FERNANDES, O BRAGANÇÃO

Também encontrado como Pero Fernandes de Bragança. Foi também o Senhor de Bragança e alto oficial da corte de D. Afonso Henriques, além de, provavelmente, mordomo do infante D. Sancho, filho do rei. A essa época sua família já possuía domínio incontestável de toda região hoje conhecida como de Trás-os-Montes, nas fronteiras do reino português, bem como possuíam reputação de valentes guerreiros.

Mesmo assim, dentre outras, foi acusado de assassinatos, raptos e até mesmo de matricídio, tendo sido inclusive excomungado pelo arcebispo local por ter ocupado algumas fazendas pertencentes à Sé de Braga.

Foi casado com FROILHE SANCHES DE BARBOSA (*1140), filha de Sancho Nunes de Barbosa e de Theresa Affonso, neta pelo lado materno de D. Afonso Henriques e de Châmoa Gomes (um relacionamento que tiveram antes de o rei se casar “oficialmente”).

Filho(s): Vasco Peres, Sancha, Teresa, Nuno, Fernão e Garcia.

6 – VASCO PIRES, O BEIRÃO

Ou Vasco Pires. Seu cognome “Beirão” ou “Veirão” vem do fato de que a maior parte de seus bens situava-se ao sul do Rio Douro, ou seja, na “beira” do rio. Viveu em fins do século XII e início do século XIII. Provavelmente o Senhorio de Vimioso deve ter passado para seu irmão mais velho, Garcia Pires de Bragança.

Casou-se com URRACA ESTEVES DE ANTAS, filha de Estevão Annes de Antas, O Senhor do Paço de Antas, e de Gracia da Cunha, neta paterna de Vasco de Antas – sendo este, segundo Gayo, o primeiro de que se tem notícia como Senhor do Solar de Antas.

Para que compreendam melhor a origem desse patronímico “De Antas”, cabe esclarecer que não tem absolutamente nada a ver com os nossos paquidermes mamíferos aqui do Brasil… “Anta”, em Portugal, é uma espécie de dólmen, um monumento constituído de uma laje, geralmente bastante larga, descansando sobre outra, quase sempre duas, bastante acima do nível do solo onde estão enterradas suas bases. Em vários pontos de Portugal ainda se encontram, com essa designação, rudes altares, que serviam como marcos ou balizas, bem como para, segundo a tradição, o uso sagrado. E Paço, por sua vez, nada mais é que uma habitação suntuosa, corruptela de palácio. É daí que vem o termo “Paço de Antas”, ou seja, o lugar em que estava situado deveria ter muitas antas (dólmens) espalhados pela região.

E ainda: como veremos mais à frente a forma de sucessão dos bens em Portugal é de uma maneira tal que esses bens são sujeitos a regras estritas de indivisibilidade, primogenitura e masculinidade, de modo que os bens (“morgado”) se transmitem por sucessão a um único sucessor e não por herança (divisão), sempre visando preservar o poder econômico das Casas Nobres – evitando diluir a herança e enfraquecer a Casa – pois cabia sempre ao primogênito a posse do morgado.

E foi a partir desse Vasco, após sua união com Urraca, que seus descendentes passaram a herdar o Paço de Antas.

Filho(s): João Vasques de Antas, Estevão Vasques de Antas.

7 – JOÃO VASQUES DE ANTAS

Foi o Senhor da Vila de Vimioso, localizada nas proximidades de Bragança, tendo vivido por volta de 1242. Não se tem notícias de seu casamento – ou se sequer foi casado – entretanto é certo que teve ao menos um filho.

Filho(s) Estevão Annes de Bragança.

8 – ESTEVÃO ANNES DE BRAGANÇA

Não se tem notícias de quem teria sido sua esposa. Entretanto a sua descendência se comprova através da documentação referente a uma demanda que seu neto João Mendes de Moraes teve em face da Câmara de Vimioso, que lhe pretendia tapar uma herdade, de modo que ele teve que comprovar nos autos toda sua linhagem para garantir seus direitos.

Foi, também, Senhor da Vila de Vimioso, haja vista que foi sucedido por seu filho Gonçalo.

Filho(s): Mendo Esteves e Gonçalo Esteves.

9 – MENDO ESTEVES DE ANTAS

Casou-se com a neta de Ruy Martins de Moraes (é importante frisar: neta), chamada IGNEZ RODRIGUES DE MORAES. Voltaremos a falar deste casal e de seus filhos logo adiante. Seu irmão Gonçalo Esteves, provavelmente o mais velho, foi o Senhor da Vila de Vimioso.


7 – ESTEVÃO VASQUES DE ANTAS, O LIDADOR

Não, a numeração não está errada. Este Estevão é irmão do João Vasques de Antas já citado. Foi o Senhor do Paço de Antas e padroeiro das abadias de S. Paio de Água Longa e Romarigães. Por volta de 1243 foi cabeça de grandes brigas entre os criados da Rainha Mafalda, produzindo grandes danos na Albergaria de Monforfe. Casou-se com DORDIA MARTINS, filha de Martim Dode e de sua segunda mulher, Urraca Pires.

Filho(s): Pedro Esteves de Antas.

8 – PEDRO ESTEVES DE ANTAS

Sucedeu a seu pai como Senhor do Paço de Antas, bem como no papel de padroeiro das abadias. Casou-se com MAYOR MENDES, filha de Egas Lourenço da Cunha, Senhor do Solar dos Encourados.

Filho(s): Vasco Pires de Antas, Garcia Vasques de Antas, Gonçalo Fernandes de Antas, Rui de Antas, Maria Pires de Antas.

9 – VASCO PIRES DE ANTAS

Ou Vasco Peres de Antas. Sua descendência segue descrita por Gayo, mas equivocadamente ele o colocou como filho de Vasco de Antas (o patriarca dos Antas), o que é cronologicamente impossível haja vista a sequência de sua linhagem, colocando Balthazar (que veremos mais a frente) como seu sexto neto. O mais lógico a considerar é que houve um erro na classificação do avô, não sendo este Vasco Pires filho do patriarca, mas bisneto d’O Beirão. Corrobora essa teoria a afirmação de Gayo que seu descendente Afonso Pires viveu na época do Rei D. João I (1385-1433).

Muito bem. Seguindo nesta linha temos que ele não sucedeu seu pai como Senhor do Paço de Antas, que ficou para seu irmão mais velho Garcia Vasques de Antas.

Vasco casou-se com IGNEZ RODRIGUES DE MORAES, a filha de Ruy Martins de Moraes (é importante frisar: filha) e de sua mulher Alda Gonçalves.

E é aqui, justamente por não termos documentos a serem consultados, que utilizaremos um pouco mais de lógica dedutiva do que simplesmente seguir a linha dos autores. Acontece que Goya traz a linha da família Antas através do filho de Vasco Pires, o Beirão, com Urraca: Estevão Vasques de Antas (que foi o Senhor do Paço de Antas). Já Pedro Taques, tendo copiado Arroio, traz a linha da família Antas através de outro filho de Vasco Pires, o Beirão, com Urraca: João Vasques de Antas (que foi o Senhor da Vila de Vimioso).

Ou seja, é plenamente compatível supormos que Vasco Pires, o Beirão, teve mais de um filho – até porque somente um o sucedeu como Senhor do Paço de Antas.

E amarrando essas informações, temos que Goya afirma que Vasco Pires de Antas (descendente de Estevão Vasques de Antas) casou-se com a filha de Ruy Martins de Moraes, enquanto que Pedro Taques afirma que Mendo Esteves de Antas (descendente de João Vasques de Antas) casou-se com a neta de Ruy Martins de Moraes.

Ora, homônimos entre gerações na mesma família eram tão comuns tanto do lado masculino quanto do lado feminino! Assim podemos supor que Ignez Rodrigues de Moraes teve uma filha cujo nome era idêntico ao seu. Considerando, ainda, que Vasco Pires de Antas foi seu segundo marido e que do primeiro não teve geração, restaria justificado o casamento entre Mendo e Ignez, reatando assim os dois lados da família (de João e de Estevão).

E mais um detalhe: depois de Vasco Pires de Antas não há mais notícia de sucessão como Senhor do Paço de Antas, o que pode indicar a quebra da varonia nesse caso.

E um último detalhe: para que essa teoria se sustente teremos que “rearranjar” a posição de Afonso Pires de Moraes de Antas, que não teria como ser filho de Vasco, mas sim seu neto. Mas veremos isso a seguir.

Filho(s): Ignez Rodrigues de Moraes.

10 – IGNEZ RODRIGUES DE MORAES

Essa Ignez, filha de Vasco Pires de Antas e de outra com o mesmo nome, casou-se com MENDO ESTEVES DE ANTAS (já citado anteriormente e descendente de João Vasques de Antas), conforme fica claro na obra de Pedro Taques.

Mas em ambas as obras (a de Gayo e a de Pedro Taques) resta evidente que essa Ignez teve um filho chamado Afonso (ainda que varie o restante do nome) e que casou com uma mesma pessoa: Aldonça. Também em ambas as obras é informado que ele foi o Senhor da Vila de Vimioso. Então é por essa linha que seguiremos.

Filho(s): Afonso Pires de Moraes de Antas, João Mendes de Moraes.

11 – AFONSO PIRES DE MORAES DE ANTAS

Ou, ainda, Afonso Mendes de Antas. Esse Afonso casou-se com ALDONÇA GONÇALVES DE MORAES (ou de Moreira), filha de Luís Pires de Távora e de Alda de Moraes. Ele sucedeu seu tio, irmão de seu pai, Gonçalo Esteves (que não deixou herdeiros) como Senhor da Vila de Vimioso e de outras terras, tendo vivido à época do rei D. João I (1385-1433). Fio seu irmão João Mendes de Moraes (já citado anteriormente) que teve uma demanda em face da Câmara de Vimioso.

Filho(s): Mendo Afonso de Moraes de Antas, Estevão Mendes de Moraes de Antas, Lourenço Mendes de Moraes de Antas.

12 – MENDO AFONSO DE MORAES DE ANTAS

Filho primogênito, foi ele que sucedeu seu pai como Senhor da Vila de Vimioso. Entretanto morreu sem ter filhos varões, de modo que Vimioso passou à Coroa Portuguesa, que por sua vez a deu para D. Francisco de Portugal por carta passada pelo rei D. Manoel I (1495-1521) em 02/02/1515. Casou-se com MARGARIDA DE VASCONCELOS.

Filho(s): Izabel de Moraes de Antas, Francisca Mendes de Antas.

13 – IZABEL DE MORAES DE ANTAS

Casou-se com NUNO NAVARRO. Daqui a pouquinho voltaremos a falar de sua filha e com quem ela se casou.

Filho(s): Ignez Navarro.


12 – ESTEVÃO MENDES DE MORAES DE ANTAS

Este Estevão é irmão do Mendo Afonso Moraes de Antas já citado acima. Ele entrou com uma demanda em face de D. Francisco de Portugal para que lhe fosse devolvida Vimioso, que pertencera a seu irmão, entretanto foram tantos anos de litígio perante o corregedor da comarca que ele acabou falecendo antes que fosse decidida a causa. Casou-se com MARIA DE MADUREIRA.

Filho(s): Vasco Esteves de Moraes de Antas, Juliana Mendes, Isabel Mendes, Leonor Mendes de Moraes, Joana Mendes.

13 – VASCO ESTEVES DE MORAES DE ANTAS

Ou Vasco Rodrigues de Moraes de Antas. Casou-se com MICAELA DE ALBUQUERQUE.

Filho(s): Pedro de Moraes de Antas.

14 – PEDRO DE MORAES DE ANTAS

Consta que foi cavaleiro fidalgo dos chefes Moraes do reino de Portugal da província de Trás-os-Montes, tendo servido ao rei em vários empregos nas comarcas da Beira e de Trás-os-Montes e foi Mamposteiro-Mor dos Cativos – fazia a arrecadação de bens ou valores advindos de esmolas, penas, resíduos ou deixas testamentárias que eram destinados a recuperar a liberdade de prisioneiros de guerra.

Casou-se com sua prima IGNEZ NAVARRO (já citada anteriormente), bisneta de Afonso Pires de Moraes de Antas.

Filho(s): Balthazar de Moraes de Antas, Belchior de Moraes de Antas, Gaspar de Moraes de Antas e mais uma irmã.

15 – BALTHAZAR DE MORAES DE ANTAS (*1537 +1600)

Balthazar nasceu em Mogadouro, na região de Bragança e veio para o Brasil aproximadamente em 1556. Foi nomeado Juiz Ordinário da Vila de São Paulo, porém foi taxado de “Cristão Novo” e, orgulhoso que era por ser descendente de uma nobre Casa portuguesa, não se conformou com a acusação, de modo que voltou para Portugal e conseguiu comprovar sua nobreza através da fraternidade com Belchior, bem como ter reconhecida sua linhagem perante o juiz do Mogadouro através de Carta de Nobreza que lhe foi passada em 11/09/1579.

Casou-se em Santo André com BRITES RODRIGUES ANNES, portuguesa, filha de Joanne Annes Sobrinho e de Isabel Duarte. Estabeleceram-se em São Paulo, onde teve fazenda no Ipiranga. Através deles teve início o tronco da família Moraes em São Paulo.

Filho(s): Anna de Moraes d’Antas, Pedro de Moraes d’Antas, Balthazar de Moraes d’Antas (O Moço), Izabel de Moraes.

16 – PEDRO DE MORAES D’ANTAS

Pedro foi vereador em São Paulo em 1600, onde casou-se com LEONOR PEDROSO (+1636), filha de Estevão Ribeiro Bayão Parente e de Magdalena Fernandes Feijó de Madureira. Leonor faleceu em São Paulo.

Filho(s): Pedro de Moraes Madureira, Magdalena Fernandes Feijó casada com Diogo de Lara.

17 – PEDRO DE MORAES MADUREIRA

Casou-se com ANNA DE MORAES PEDROSO (*1604), filha de Francisco Ribeiro, primeiro marido de Maria de Moraes, e por esta neta de Pantaleão Pedroso [Bayão Parente] e de Anna de Moraes d’Antas (irmã de seu tio-avô Pedro de Moraes d’Antas, já citado).

Filho(s): Carlos de Moraes Navarro, Ignez de Moraes Navarro casada com Domingos Leme da Silva.

18 – CARLOS DE MORAES NAVARRO (*1633 +1672)

Foi casado com MARIA RAPOSO, filha do bandeirante paulista Antônio Raposo Tavares e de sua primeira esposa Beatriz Furtado de Mendonça.

Filho(s): Francisca de [Macedo e] Moraes.

19 – FRANCISCA DE [MACEDO E] MORAES

Também encontrada simplesmente como Francisco de Moraes ou ainda como Francisca de Macedo. Casou-se em São Paulo com ANTONIO VIEIRA DOURADO (*1648).

Filho(s): Tereza de Moraes, Maria de Moraes Rapozo casada com Luís Marques das Neves.

20 – TEREZA DE MORAES (+1727)

Em 1707 casou-se com ANDRÉ DO VALLE RIBEIRO (*1675 +1720), filho de Domingos Francisco e de Maria do Valle. Possuíam um sítio na estrada do caminho velho junto ao Rio das Mortes Pequeno, com casas de vivenda, senzalas e plantações. Possuíam também um outro sítio na paragem chamada Cajuru, com uma senzala de meio alqueire de planta.

Filho(s): Maria de Moraes Ribeira, Manoel do Vale Ribeiro, Antonio do Vale Ribeiro, Luzia do Vale, Ângela de Moraes, André, Quitéria.

21 – MARIA DE MORAES RIBEIRA (*1711 +1794)

Também encontrada como Maria de Moraes ou Maria Ribeira do Vale. Natural da Vila de São João del Rei, Freguesia de Nossa Senhora do Pilar, onde foi batizada. Casou-se em 1725, em Rio das Mortes Pequeno, com ANTÔNIO DE BRITO PEIXOTO (*1696 +1750), filho de Inácio de Andrade Peixoto e de Helena de Brito. Antônio era natural da Freguesia de São João de Souto, da Cidade, Concílio, Comarca, Distrito e Arcebispado de Braga, Minho. Possuíam um sítio com casas térreas, senzalas, paiol, tudo de capim, capoeira e matas virgens, encostado na Serra das Carrancas, mais terras no barranco do Rio Grande.

Filho(s): Tomás de Brito, Tereza Maria da Conceição, José de Andrade Peixoto, Jacinta Maria da Conceição, as gêmeas Ângela Maria de Jesus e Maria Vitória do Nascimento, Jerônimo de Andrade Brito, Dorotéia Maria de Jesus, Ana Antonia de Brito, Luiza Tereza de Brito e Manoel Joaquim de Andrade.


E aqui nossa história dará um basta, um até logo, faremos uma pequena despedida. Pois depois de traçarmos essa linha de mais de 20 gerações ainda estamos apenas no ano de 1750 – e agora a próxima linha que irei traçar diz respeito à minha linha paterna: os Andrade.

Uma última observação: para aqueles que quiserem entender visualmente toda essa bagunça aí de cima, basta clicar neste link aqui e baixar o arquivo PDF com o genograma dessa árvore genealógica que daí já vai dar para compreender um pouquinho melhor… 😉


FONTES:
. ALVES, Francisco Manuel. Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança. 1938. Tomo VI, pág. 35-42.
. AMATO, Marta. Artigo. A ascendência paulista de Francisca de Macedo. Revista ASBRAP nº 6, pág. 229.
. DORIA, Francisco Antonio. Estudo: Os primeiros troncos portugueses: os senhores de Bragança (Antas Moraes)
. FELGUEIRAS GAYO, Manuel José da Costa. Nobiliário de Famílias de Portugal. 1938 Tomo I. Título Aloens e Título Antas.
. GUIMARÃES, Cid. Artigo. Ribeiro do Valle, Primeira Parte. Revista ASBRAP nº 4, pág. 127.
. ORTIZ, José Bernardo. Velhos Troncos. 1996. Volume I. Título Moraes de Antas.
. PAES LEME, Pedro Taques de Almeida. Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica. 1870. Título dos Antas Moraes, da Capitânia de S. Paulo.
. PIZZARRO, José Augusto de Sotto Mayor. Dissertação: Linhagens Medievais Portuguesas. 1997. Universidade do Porto.
. SILVA LEME, Luiz Gonzaga da. Genealogia Paulistana. 1903. Volume 6, Título Bicudos. Volume 7, Título Moraes.
. Livro de batismos de Valongo 1651/1686 fls. 70v. Igreja Matriz de São Mamede.
. Inventário de André do Valle Ribeiro, arquivado no Museu Regional de São João del Rei – Caixa 324.
. Inventário de Antônio de Brito Peixoto, arquivado no Museu Regional de São João del Rei – Caixa 605.
. Inventário de Antonio Ribeiro de Moraes, SAESP – Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo, vol. 22.
. Inventário de Francisco Ribeiro, SAESP – Sistema de Arquivos do Estado de São Paulo, vol. 4.
. Inventário de Maria de Moraes Ribeira, arquivado no Museu Regional de São João del Rei – Caixa 214.
. Inventário de Tereza de Morais, arquivado no Museu Regional de São João del Rei – Caixa 464.
. Testamento de Jerônimo de Andrade Brito, arquivado no Museu Regional de São João del Rei – Caixa ?.
. Testamento de Maria de Moraes Ribeira, arquivado no Museu Regional de São JOão del Rei – Livro de Testamento 11.
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mendo_Alão
. https://ancestors.familysearch.org/en/KNHV-S8Q/mendo-alao-de-bragacon-0980-1050
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_VI_de_Leão_e_Castela
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernão_Mendes_de_Bragança_I
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mem_Fernandes_de_Bragança
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernão_Mendes_II_de_Bragança
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Fernandes_de_Bragança
. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vasco_Pires_de_Bragança
. https://geneall.net/pt/forum/14617/dos-bragancoes-aos-moraes-de-s-paulo-brasil/
. http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=189&cat=Ensaios
. https://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=255

Nossa Grande Família ( VII ) – Miura

Miura é o nome da família pelo lado paterno de minha esposa Eliana Mieko Miura. O interessante é que o Japão é o país com o maior número de sobrenomes do mundo, com mais de 100 mil registrados por todo o arquipélago. Na maior parte das vezes a partir do significado do sobrenome é possível  ter uma ideia acerca da história da família bem como das origens de seus ancestrais: onde viviam, no que trabalhavam, qual sua escala social, dentre outras coisas.

Neste caso, o kanji do nome de família “Miura” é formado pela palavra “mi”, que significa três, e pela palavra “ura”, que pode ser traduzido por baía ou enseada, o que nos leva ao significado final de “Três Baías”. Isso nos leva a conclusão de que trata-se de um sobrenome de origem toponímica, isto é, que descreve a origem geográfica de um indivíduo, como o nome de uma aldeia, vila, cidade, região, acidente geográfico, rio, etc. Talvez as origens dos antepassados dessa família estejam voltadas a um lugar ou região cuja característica seria possuir três baías junto ao mar; ou, ainda, pode estar relacionada à cidade Miura, um lugarejo à beira mar com pouco mais de 40 mil habitantes localizado na Península de Miura, e faz parte da província de Kanagawa, no Japão, relativamente próximo de Tokyo. Mas, na prática, é um tanto quanto impossível trazer algum tipo de afirmação com absoluta certeza. Bem, tirem suas próprias conclusões…

Mas antes de nos aprofundarmos nos detalhes dessa família, cabe explicar que no Japão existe uma espécie de registro familiar japonês em forma de árvore genealógica, mais conhecido como Koseki Tohon. Esse sistema de registro teve seu início formal por volta de 1870 (começo da Era Meiji) e eram registrados e gerenciados pelas prefeituras onde ficava a residência da pessoa. O problema é que, ao menos na época, se registrava TUDO, desde histórico médico, criminal passando pelas separações e divórcios e até mesmo classe social do indivíduo. Nos dias de hoje talvez pudesse até ser considerado uma espécie de “insulto” aos direitos humanos de privacidade!


Primeira página do Koseki Tohon da Família Miura.

Assim, através desse documento, o representante mais antigo que consegui localizar da família foi KINJIRO MIURA, o qual, de sua união com FUSHINO MIURA, teve pelo menos o seguinte filho:

1. KINEMON MIURA, nascido em 14/01/1875, casou-se duas vezes. A primeira vez com TSURU MIURA, nascida em 04/01/1873, com quem teve três filhos:

1.1. INOSUKE MIURA, nascido em 08/05/1878, foi casado com TEU, nascida em 11/08/1887. Tiveram ao menos o seguinte casal de filhos:

1.1. KATSUME.

1.2. KIIOMI, nascida em 06/08/1913.

1.2. HAJIME MIURA, que nasceu em 23/03/1894 na cidade de Fukushima, Japão. Casou-se com HIRO KUMAKI, nascida em 10/07/1897, filha de HIOKITI KUMAKI e MASSU KUMAKI.

     

O casal veio para o Brasil no navio Kawachi Maru acompanhado de seus quatro filhos (à época) juntamente com seu meio irmão Kisaku e sua esposa Min, numa viagem que deve ter durado meses. Desembarcaram no Porto de Santos no dia 31/08/1925 para trabalhar como agricultores em São José do Rio Pardo, SP, na região da Média Mogiana – mas acabaram mesmo por estabelecer mais ao oeste do estado, na cidade de Marília.


O navio Kawachi Maru.

Hajime faleceu cedo, em 11/03/1936, com apenas 42 anos. Já Hiro faleceu em 02/12/1992, com 95 anos de idade. Ambos estão sepultados no Cemitério da Saudade, em Marília, SP.


Foto do passaporte de Hajime.

Tiveram, ao todo, 9 filhos.

2.1. KAU, nascido em 27/01/1911. Foi casado. Há notícias de que esse filho mais velho foi adotado, o que, no Japão, significa ser considerado como filho legítimo para todos os efeitos, passando a carregar o sobrenome da família, como se dela tivesse nascido.

2.2. KATSUMI MIURA, nascido em 10/02/1916, em Fukushima, no Japão, tinha 9 anos de idade quando desembarcou com seus pais no Porto de Santos. Casou-se no Brasil, em 10/02/1943, com TOSHI HIKAGUE, nascida em 20/07/1924. Estabeleceram-se como lavradores na cidade de Marília, SP, onde vieram a falecer: ele em 19/10/2011 e ela já no ano seguinte, em 05/03/2012. Tiveram ao todo 8 filhos, sendo 6 meninas e 2 meninos. À exceção da caçula, todos casados e com geração.

2.3. KAMEJI MIURA, natural de Fukushima, Japão, nascido em 07/11/1917 e falecido em 19/04/1988. Tinha 7 anos de idade quando chegou no Brasil, onde veio a se casar com SHIZUKO MANSHO, nascida em 15/05/1925 e falecida em 08/02/2010. Foi lavrador estabelecido na década de setenta no Sítio Miura, localizado no Bairro do Pombo, em Marília, SP. Tiveram 6 filhos: 4 meninas e 2 meninos, todos casados.

2.4. NOBU MIURA, nascida no Japão em 14/11/1919, casou-se no Brasil com Nikio Hikage, quando adotou  o nome de Nobu Hikage. Tinha 6 anos quando desembarcou no Porto de Santos. Tiveram 5 filhos: 3 meninas e 2 meninos. Já é falecida.
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2.5.  ZENKITI MIURA, natural do Japão, nasceu em 20/02/1922 e faleceu em 19/06/2004, no Paraná. Ele tinha apenas 3 anos de idade ao chegar no Brasil, onde casou-se com Ito Miura, viúva na época, também natural do Japão, nascida em 1926 e falecida em 26/06/1986. Tiveram 4 filhos, sendo 3 meninos e 2 meninas.

2.6. HIDE MIURA foi a primeira da família a nascer em terras brasileiras – “nissei” – tendo nascido em 25/03/1926 e falecido em 14/02/1973. Casou-se com TAKAO YOSHIMOTO, nascido no Japão em 18/07/1917, filho de MATSUZO YOSHIMOTO e TOKUIO YOSHIMOTO. Ele era mais conhecido na família pelo carinhoso apelido de “Papai”. Tiveram 6 filhos, sendo 4 meninas e 2 meninos, todos casados e com geração.

2.7. TIYOKO MIURA nasceu na cidade de Promissão, SP, em 02/01/1928 e faleceu em Marília, SP, em 25/11/1990, onde está sepultada. Casou-se com YUKISHIGUE YOSHIMOTO, irmão de seu cunhado Takao, natural de Osaka, Japão, onde nasceu em 05/02/1929. Tiveram 5 filhas, sendo que Yukishigue, após enviuvar, de um outro relacionamento veio a ter mais um filho.

2.8. SUSSUMU MIURA, meu sogro, nasceu em Promissão, SP, em 01/01/1932, mas somente foi registrado em 21/10/1932 – e ainda com a grafia errada: “Miura Sussume”. Como é costume entre japoneses que não possuem nome brasileiro, resolveu adotar o apelido de “Carlos”.  Em 25/11/1961 casou-se, em Marília, SP, com SATIKO MIZOGUTI, nascida em Getulina, SP, em 13/09/1935, filha de NARAKITI MIZOGUTI e TEI MIZOGUTI, neta paterna de MASSAKITI e RIE. Ela adotou o nome de casada de Satiko Miura. Também adotou vários nomes brasileiros no decorrer de sua vida, sendo o último “Izaura”. Ela faleceu em São José dos Campos, SP, em 03/03/2010. E ele também faleceu nessa mesma cidade de São José dos Campos, SP, às 21h27min do dia 13/09/2019 – no dia que seria o aniversário dela!

        

Foram lavradores em Marília, feirantes em Caraguatatuba e comerciantes em São José dos Campos. Tiveram três filhos, todos nascidos em Marília, SP.

8.1. BEATRIZ, casou-se com CLÁUDIO MAEDA (falecido) e tiveram três filhas.
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1.1. ALINE.
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1.2. NATÁLIA.
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1.3. LARISSA.
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8.2. MILTON HARUO MIURA, casou-se com HELOÍSA FERREIRA BARBOSA. Já trabalhou como comerciante e caminhoneiro. Também tiveram três filhos.
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2.1. JACQUELINE TAMYE MIURA. Ela e MANOEL RAMIRO DE OLIVEIRA NETTO, têm duas filhas, minhas sobrinhas-netas.
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1.1. ANA LUIZA MIURA DE OLIVEIRA.

1.2. ISABELA MIURA DE OLIVEIRA.

2.2. EDUARDO HEIDY MIURA.

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2.3. FERNANDA HIYE MIURA.
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8.3. ELIANA MIEKO MIURA, natural de Marília, SP. Foi nas dependências da Chácara-Restaurante “Coelho e Cabrito”, em São José dos Campos, SP, que casou-se em 12/12/1998 com ADAUTO DE ANDRADE (eu!), nascido em São José dos Campos. Ambos se formaram em direito e tiveram três filhos.

3.1. KEVIN HIDEAKI MIURA ANDRADE nasceu em 1999, em São José dos Campos, SP, às 13h02min no Hospital Materno-Infantil Antoninho da Rocha Marmo, com 50cm e pesando 3.370g.
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3.2. ERIK MASAYUKHI MIURA ANDRADE nasceu em 2001, em São José dos Campos, SP, às 20h46min no Hospital Materno-Infantil Antoninho da Rocha Marmo, com 48cm e pesando 3.010g.
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3.3. JEAN YUJI MIURA ANDRADE nasceu em /2004, em São José dos Campos, SP, às 04h40min no Hospital Materno-Infantil Antoninho da Rocha Marmo, com 47cm e pesando 3.020g.
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2.9. AKIRA MIURA, o filho caçula de Hajime, nasceu em 05/05/1934 e casou-se em 11/09/1967 com SETSUKO OTA, nascida em 11/02/1942, e que adotou o nome de Setsuko Miura. Tiveram 3 filhos.
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1.3. TOMIO, nascida em 10/04/1907 é irmã de Hajime. Sem mais notícias.

Consta que KINEMON, pai de Hajime, casou-se pela segunda vez com MATSUIO, nascida em 01/03/1887, com quem teve pelo menos um filho:

1.4. KISAKU MIURA, que nasceu no Japão em abril de 1903 e faleceu no Brasil em 24/01/1966. Ainda em solo japonês casou-se com MIN KATO, também nascida no Japão em fevereiro de 1904 e que veio a falecer somente em 13/02/1989, aos 85 anos de idade. Kisaku, juntamente com seu meio irmão Hajime, e também com os demais membros da família, saíram de Fukushima, no Japão, e vieram para o Brasil no ano de 1925 para trabalhar como agricultores, ambos com pouco mais de vinte anos de idade, tendo desembarcado no Porto de Santos. Ele chegou a voltar para o Japão, mas logo em seguida retornou ao Brasil, desembarcando no mesmo porto em 11/09/1936.


Foto do passaporte de Kisaku.

No decorrer de suas vidas Kisaku e Min vieram a ter 11 filhos no total.

4.1. KIITI MIURA, nascida em 14/03/1926.

4.2. KIOKO MIURA, nascida em 15/12/1928. Foi registrada erroneamente com o nome de “KIONE”. Casou-se com SABURO YAMADA, nascido em 15/08/1926, com quem teve 4 filhas.

4.3. KIMIKO MIURA, a qual casou-se com KITIJI UEMURA e teve 4 filhos: 3 meninos e uma menina.

4.4. AIKO MIURA foi casada com SHITARO KATSUIAMA e tiveram 2 filhas.

4.5. ISSOKI MURA foi casado com TAEKO. O casal também teve 4 filhos: 3 meninas e 1 menino.

4.6. MISSAKO MIURA, nascida em 25/05/1933, casou-se com IASSUO YAMAMOTO, nascido em 05/10/1930 e falecido em 1984. Tiveram 3 filhos, sendo 2 meninos e 1 menina. Também criaram mais 5 crianças, todos filhos de sua irmã Shiniti, que faleceu.

4.7. SHINITI MIURA foi casada com TOSHIE YAMADA, tendo adotado o nome de Shiniti Yamada após o casamento. Segundo consta, Shiniti faleceu de câncer em 1984, existindo porém uma história de que o casal faleceu num acidente de carro. Tiveram 5 filhos, sendo 2 meninas e 3 meninos, que foram criados por sua irmã Missako.

4.8. MARIA YONEKO MIURA nasceu em 20/08/1941 e casou-se em 20/07/1962 com ITIRU YAMAMOTO, nascido em 27/09/1937 conforme consta em seu registro – mas na realidade nasceu antes disso… Tiveram 5 filhos: 3 meninas e 2 meninos.

4.9. ANTONIO TERUMI MIURA.

4.10. MÁRIO MITIAKI MIURA, foi casado e teve 4 filhos, sendo 3 meninos e 1 menina.

4.11. AKIRA MIURA, foi casado e teve 3 filhas.

OBSERVAÇÃO: o genograma do ramo Miura de Nossa Grande Família encontra-se disponível para download neste link.

Eras Japonesas

Sistema de contagem dos anos no Japão, baseado no período de cada um dos Imperadores.

IMPERADOR MATSUHITO
ERA MEIJI
(08/09/1868)
IMPERADOR YOSHIHITO
ERA TAISHO
(12/07/1912)
IMPERADOR HIROHITO
ERA SHOWA
(25/12/1926)
IMPERADOR AKIHITO
ERA HEISEI
(08/01/1989)
 
 
 
 
 
 
 
 
1868 – 01
1869 – 02
1870 – 03
1871 – 04
1872 – 05
1873 – 06
1874 – 07
1875 – 08
1876 – 09
1877 – 10
1878 – 11
1879 – 12
1880 – 13
1881 – 14
1882 – 15
1883 – 16
1884 – 17
1885 – 18
1886 – 19
1887 – 20
1888 – 21
1889 – 22
1890 – 23
1891 – 24
1892 – 25
1893 – 26
1894 – 27
1895 – 28
1896 – 29
1897 – 30
1898 – 31
1899 – 32
1900 – 33
1901 – 34
1902 – 35
1903 – 36
1904 – 37
1905 – 38
1906 – 39
1907 – 40
1908 – 41
1909 – 42
1910 – 43
1911 – 44
1912 – 01
1913 – 02
1914 – 03
1915 – 04
1916 – 05
1917 – 06
1918 – 07
1919 – 08
1920 – 09
1921 – 10
1922 – 11
1923 – 12
1924 – 13
1925 – 14
1926 – 15
1927 – 01
1928 – 02
1929 – 03
1930 – 04
1931 – 05
1932 – 06
1933 – 07
1934 – 08
1935 – 09
1936 – 10
1937 – 11
1938 – 12
1939 – 13
1940 – 14
1941 – 15
1942 – 16
1943 – 17
1944 – 18
1945 – 19
1946 – 20
1947 – 21
1948 – 22
1949 – 23
1950 – 24
1951 – 25
1952 – 26
1953 – 27
1954 – 28
1955 – 29
1956 – 30
1957 – 31
1958 – 32
1959 – 33
1960 – 34
1961 – 35
1962 – 36
1963 – 37
1964 – 38
1965 – 39
1966 – 40
1967 – 41
1968 – 42
1969 – 43
1970 – 44
1971 – 45
1972 – 46
1973 – 47
1974 – 48
1975 – 49
1976 – 50
1977 – 51
1978 – 52
1979 – 53
1980 – 54
1981 – 55
1982 – 56
1983 – 57
1984 – 58
1985 – 59
1986 – 60
1987 – 61
1988 – 62
1989 – 01
1990 – 02
1991 – 03
1992 – 04
1993 – 05
1994 – 06
1995 – 07
1996 – 08
1997 – 09
1998 – 10
1999 – 11
2000 – 12
2001 – 13
2002 – 14
2003 – 15
2004 – 16
2005 – 17
 


Koseki Tohon: perfeito para a genealogia

Nas minhas catanças genealógicas sempre acabei tendo acesso aos mais variados tipos de documentos que me ajudaram a construir passo a passo os diversos ramos da árvore genealógica de minha família. Dentre estes, nenhum se mostrou mais completo que o Koseki Tohon, um documento utilizado no Japão para o registro dos membros de uma família. Dei uma fuçada nos emaranhados da Rede e consegui pinçar dois artigos que explicam bem detalhadamente o que é, como funciona e de onde surgiu esse antigo costume japonês. Divirtam-se.

I – Koseki: Sistema de Registro Japonês

Silvia Kawanami
Japão em Foco

Koseki tohon

Koseki Tohon (戸籍謄本) é o nome do registro familiar japonês. Todas as famílias japonesas são obrigadas a registrar suas informações familiares neste documento na prefeitura onde moram, tais como nascimentos, casamentos, óbitos, adoções, divórcios, etc. Tais eventos devem ser registrados à medida que ocorrem pois somente serão efetivados após o registro.

Como sabemos, esse documento é muito importante para os descendentes de japoneses que desejam tirar visto de trabalho no Japão pois é uma forma de comprovar o seu parentesco com seu antepassado nipônico. Por este motivo, resolvemos trazer algumas curiosidades sobre esse sistema de registro familiar japonês, conhecido como Koseki Tohon (戸籍謄本).

1. Origem do Koseki Tohon (戸籍謄本)

O venerável koseki tem suas raízes na antiga China, onde foi usado pela primeira vez como uma espécie de censo familiar. Outros países como o Vietnã e Taiwan, ainda usam um sistema similar, no entanto a Coréia do Sul recentemente aboliu seu tradicional sistema de estilo koseki a favor de um número de identificação individual de estilo ocidental.

O Japão também está no processo de fazer um sistema individual de identificação, mas será complementar, não substituindo o koseki. Hoje em dia, quase todos os koseki adotaram um novo formato eletrônico (veja abaixo) para fácil manutenção de registros e alterações.

Apesar desse sistema ser usado desde o xogunado, foi apenas oficializado no início da Era Meiji. Os primeiros koseki eram escritos à mão usando números chineses de estilo daiji (大字) para evitar fraude e carimbados com o selo oficial da prefeitura local.

2. Por que o sistema koseki foi criado?

Após a Restauração Meiji de 1868, o governo japonês percebeu que precisava organizar os registros populacionais, uma vez que a nação era dividida em domínios feudais durante o xogunato. Dessa forma, seria possível melhorar a infra-estrutura econômica e militar para arrecadar receitas fiscais e conscritos e evitar as potências ocidentais coloniais.

Mas, para implementar políticas significativas, precisava de informações demográficas básicas sobre os japoneses. E onde eles estavam. Com a Restauração Meiji, os portos foram finalmente abertos para o comércio internacional e com isso gerou um certo transtorno social, uma vez que a circulação de pessoas estrangeiras em terras nipônicas aumentou consideravelmente.

O precursor do moderno sistema koseki foi introduzido pela primeira vez em Kyoto, com o objetivo de coletar informações demográficas. Ao contrário de hoje, o sistema originalmente estava mais relacionado à residência e complementado por um sistema de registro separado para qualquer pessoa que passasse mais de 90 dias longe da localização de seu koseki.

3. Estrangeiros podem ser registrados no Koseki?

Apenas cidadãos japoneses podem ser registrados em um koseki, porque o koseki serve como certificados de cidadania. Também garante que o cidadão obtenha seu passaporte japonês. No entanto, no caso do cônjuge ser estrangeiro, este pode ser mencionado no koseki, embora não da mesma forma que seria listado um cônjuge de nacionalidade japonesa.

No caso de uma criança de pais japoneses nascida no exterior será necessário registra-la no koseki no prazo de três meses. Caso more no Japão há mais de cinco anos e tenha menos de 20 anos também é possível naturalizar-se e assim usufruir de todos os benefícios de um cidadão japonês, embora isso implique em muitos casos, renunciar à sua cidadania atual.

4. As gerações de um Koseki

No período pré-guerra, grandes famílias extensas de três ou quatro gerações poderiam estar todas registradas em um único koseki. O Código Civil também exige que cada família tenha um koshu ou setai nushi 世帯主 (chefe de família), um status hereditário que lhe era deferido responsabilidades e direitos, incluindo a autoridade para dispor de bens familiares.

Depois de um tempo, o sistema koseki reduziu para no máximo duas gerações, que no caso seria um casal e seus filhos. Ou seja, assim que nasce o primeiro filho, o casal passa a ter seu próprio koseki, se desvinculando do seu koseki original, geralmente do pai do marido.

5. O chefe da família geralmente é o homem

O sistema koseki também exige que um agregado familiar nomeie uma pessoa como chefe da casa. Embora uma mulher também possa ser nomeada chefe de família, cerca de 98% das famílias tem um homem como cabeça. Uma vez escolhida a cabeça, outros membros da casa devem mudar seus sobrenomes para o mesmo sobrenome do chefe da família.

Isso acontece porque o Japão ainda adota uma tradição patriarcal, e por este motivo o chefe de família é quase sempre o pai. A pessoa cujo nome está no topo do koseki é conhecida como hitto-sha (筆頭者) e todos os membros da família são registrados sob seu nome, incluindo os filhos que só passarão a ter seu próprio koseki até constituírem a sua própria família.

6. Os cônjuges devem ter o mesmo sobrenome

Como vimos acima, todos os membros da família devem ter o mesmo sobrenome. Isso significa que a esposa geralmente troca seu sobrenome de solteira pelo do marido após o casamento. Embora o sobrenome escolhido também possa ser da esposa, isso raramente acontece.

Em 2015, o Supremo Tribunal Japonês confirmou a constitucionalidade da lei, observando que as mulheres poderiam usar seus nomes de solteira de forma informal e afirmando que era para a legislatura decidir se haveria uma nova legislação sobre nomes separados de cônjuges.

7. Usado como ferramenta de discriminação

Até o final da década de 1970, praticamente qualquer pessoa teria acesso aos livros de registro de koseki. Na verdade, isso poderia ser usado como uma ferramenta de discriminação pelos empregadores, pois era fácil descobrir se algum de seus futuros funcionários era descendente de um burakumin (部落民), uma classe altamente discriminada no Japão.

Além disso, filhos de mães solteiras poderiam ser discriminadas nas escolas já que essas informações eram fornecidas no koseki. Para evitar esse tipo de coisa, em 1974 o Ministério da Saúde e do Bem-Estar resolveu inibir a prática, proibindo que os empregadores obriguem seus futuros funcionários de mostrar o registro familiar durante a entrevista de emprego.

Em 1975, finalmente o nome da linhagem foi excluído e, em 1976, o acesso aos registros familiares foi restrito. A partir de abril de 2007, qualquer pessoa interessada era elegível para obter uma cópia do koseki de outra pessoa, mas em 1 de maio de 2008, foi implementada uma nova lei para limitar as pessoas elegíveis para uma cópia às pessoas.

8. Tipos de Koseki

Todos os cidadãos japoneses são obrigados a se registrar no koseki, exceto os membros da Família Imperial, cuja linhagem familiar é registrada separadamente no Registro da Família Imperial chamado de kotofu (皇統譜). Mas para a população em geral, existem dois tipos principais de koseki: koseki tohon (戸籍謄本) e koseki shohon (戸籍抄本).

O koseki tohon é essencialmente o koseki completo com todos os membros da família, datas de óbitos e nascimentos, etc. O koseki shohon é apenas a informação individual de um membro familiar. No entanto, há outro tipo de koseki especial conhecido como koseki joseki tohon (戸籍除籍謄本) que inclui quaisquer entradas excluídas, incluindo mortes e divórcios, usados ​​apenas para mudar os nomes nos títulos após a morte, assim como sucessões e tributos.

9. Koseki x Registro de Residência

Ao contrário do registro de residência, um koseki não precisa ser atualizado quando você se muda. Na verdade, isso só é possível se você fizer um novo koseki. No caso de um casamento, sua prefeitura local irá perguntar-lhe onde você quer que seja registrado. Você pode mantê-lo em sua atual área de residência ou pedir o registro seja feito em outra localidade.

Isso porque muitas pessoas gostam de manter seu registro familiar em sua cidade de nascimento, mesmo que a família não esteja mais morando lá. Por se tratar de registros diferentes, o local do koseki não interfere no registro de residência que deve ser atualizado na cidade onde reside atualmente. Caso precise de uma cópia do koseki registrado em outra cidade, basta fazer o pedido e pagar uma pequena taxa à prefeitura para o envio.

10. Registrando o casamento no koseki

No Japão, até o indivíduo se casar, ele está geralmente registrado no koseki do pai. Após o casamento, o casal deve preencher o formulário konin todoke (婚姻届) para dar entrada em um novo koseki. Geralmente, a esposa entra no registro familiar do seu marido, que em breve receberá o seu próprio shin-koseki (新戸籍) ou “novo registro familiar”.

Apesar da cultura patriarcal, não há restrições legais sobre o marido assumir o sobrenome da esposa, embora seja raro. Quando isso acontece, geralmente é quando a família da noiva tem um nome particularmente conhecido (ou seja, muito rico e poderoso). A única exceção a esta regra é quando um cidadão japonês se casa com uma mulher não japonesa.

Antigamente, muitos casais não registravam o casamento até nascer o primeiro filho. Isso evitava “manchar” o koseki com um eventual divórcio caso a esposa fosse estéril e a uma união se tornasse improdutiva. Mas um evento fez com que o Ministério da Justiça introduzisse uma campanha encorajando os recém-casados a registrar seus casamentos.

Em 1966, um voo da companhia ANA caiu no aeroporto de Matsuyama, matando todos a bordo, incluindo 12 casais que estavam em lua de mel, uma prática ocidental recém incorporada no país. No entanto, nenhum desses casamentos havia sido registrado, o que complicou as negociações entre a companhia aérea e os membros da família sobreviventes.

11. Um sistema nem tão seguro assim

idosos no Japão

Em setembro de 2010, o governo japonês descobriu que 230 mil pessoas com mais de 100 anos de idade estavam “desaparecidas”. Na verdade, os familiares não registraram seus óbitos com o intuito de continuar recebendo pensões dos parentes idosos falecidos. Por esta razão, jornalistas e especialistas da área, afirmam que o koseki é um sistema frágil e antiquado.

12. Como pedir o Koseki?

Como vimos, o Koseki tohon é um documento muito importante, onde contém dados da família no Japão. Mesmo que você more em outra província, é possível pedir para que enviem o registro familiar (koseki tohon) ou registro parcial (koseki shohon) desde que você mesmo faça uma solicitação por correio na prefeitura da municipalidade do endereço do registro.

Através desse documento, os “issei” (cidadão japonês) podem tirar ou renovar o passaporte japonês no Brasil e os descendentes “nissei” (segunda geração) ou “sansei” (terceira geração) podem tirar ou renovar o visto de trabalho japonês. No caso de pai ou avô japonês já falecido, é necessário pedir não o Koseki Tohon, mas sim o Joseki Tohon (除籍謄本).

Para solicitar o “koseki tohon” ou “Joseki Tohon”, basta solicitar o serviço a uma agência especializada em vistos para o Japão ou se preferir pedir por conta própria, acesse esse link com mais detalhes. Já se tem interesse em tirar visto de turista no Japão, confira aqui. Caso você more no Japão, também tem a opção de tirar o visto permanente.

II – O que é Koseki Tohon – 戸籍とは

Morando no Japão

Muitas vezes escutamos que precisamos de Koseki para isso, e aquilo. E em questão de Nissei e Sansei no Brasil, ter seu nome devidamente inscrito no Koseki garante a sua nacionalidade japonesa.

Mas o que é esse negócio aí?

Explicaremos:

( 日本語はウィキペディアでどうぞ )

Koseki, é basicamente um sistema de registro de família em forma de árvore genealógica.

Ter seu nome inscrito em um Koseki, é a prova vivaz da nacionalidade japonesa. (me dizeram lá no consulado japonês de São Paulo). Portanto é um direito guardado somente para quem tem nacionalidade japonesa.

No Japão não existe um sistema de monitoramento nacional, a não ser a entrada e saída de pessoas do país pelo Ministério de Relações Internacionais. Logo, não existe “registro nacional de identidade – ID”.

Serve como identidade: o passaporte e a carteira de motorista expedida pela polícia provinciana. Alguns lugares ainda aceitam o cartão de seguro de saúde, mas outras somente aceita os dois citados acima, com foto e endereço atualizados.

Como de costume, cada cidade armazena e gerencia Koseki e registro de residência. E isso não é online. Para uma comarca ou província saber de assuntos referentes a outra jurisdição, usa-se telefone, fax ou correio. Sim, estamos falando do Japão e estamos falando de século 21.

1. A origem desse costume

O Japão é um país de imperialismo constitucional. Desde o término de segunda guerra mundial.

Na antiguidade o documento comprobatório para a familiaridade era a árvore genealógica, como vemos na Europa. Escrito a mão pelo chefe da família. Apagado também se houvesse briga. Mulheres quando casassem, retiravam seus nomes do livro e entravam no do marido como cônjuge, como são a maioria dos casos até hoje, por isso que se diz: “Quando mulher casa, sai de casa”.

O sistema de registro iniciou sob lei e de maneira formal com a lei 170 de 1872, no início da era Meiji. Os Kosekis registrados nesse ano, eram registrados e gerenciados pelas prefeituras onde ficava a residência da pessoa, e servia também como registro residencial. O problema desse sistema antigo é que se registrava tudo. Tudo mesmo. Histórico medico, criminal, divórcios, e classe social. E seria um insulto aos direitos humanos de privacidade nos dias de hoje.

Toda história da dinastia familiar (nos detalhes sórdidos) inteira estavam naquelas folhas que eram organizadas em Livro.

Koseki da era Meiji era escrito até em qual templo serviam.

Koseki antes da digitalização.

Em 1948, após a Segunda Guerra Mundial e a reforma legislativa, iniciou- se um novo gerenciamento do Koseki, entrando somente em vigor em 1957. Já não seria mais registrado por dinastia familiar, mas sim em base a um casal (marido e mulher), foi revogado o sistema do “Dono da casa” e foi introduzido o novo “Primeiro autor” que normalmente seria o marido. E foi revogado também a nomeação de classes sociais no registro. E em 1952 iniciou-se o registro residencial (juuminhyou), ficando assim o Koseki, somente registrando a nacioalidade (em regra a Japonesa), nascimento, adoção, casamento, nascimento dos seus filhos e morte.

E tudo isso é gerenciado e registrado na prefeitura no setor de Koseki. E olha, poderia até se dizer que é registrado usando computador, que todos os dados ficam em HD – mas não se engane: esses dados não são compartilhados em rede ou Internet. O país não conta com esse tipo de compartilhamento de dados e não é por questão de segurança, é por falta de instrução e dinheiro. As cidades do interior ainda utilizam o sistema de livro em suas prefeituras.

Para requerer o Koseki que se diz respeito, precisa enviar cópia do Juuminhyo (comprovante de residência), cópia da identidade e formulário (disponível no site da comarca que gerencia) preenchido, com o preço requerido trocado por selos para tal fim no correio, mais um envelope com selo para devolução, e enviá-lo para a prefeitura requerida pelo correio.

OBS: Quando o requerente é estrangeiro, como no caso de brasileiros nikkeis, algumas comarcas ainda requerem a cópia do zairyu card, passaporte, cópia dos Kosekis antes já tiradas, e o Inkan registrado. E ainda ligam para ter certeza do finalidade para o qual o koseki vai ser usado.

2. Algumas curiosidades

Os mais antigos, quando dizem que são divorciados, falam que “tem um X”, e o “X” aumenta conforme o número do divórcio. Isso origina do fato de que, quando o Koseki era um Livro, escrito à mão, (ainda exitente em algumas comarcas) quando morria, ou divorciava um membro famliar e seu nome era retirado daquele livro familiar, simplesmente colocava um enorme X no nome da pessoa. Como é de costume que somente mulheres mudam de família (a não ser que seja a herdeira), quando um casal se divorciava, ao lado do seu nome, onde estaria a da esposa, ficava com um X enorme no nome e sua descrição. Por isso.

Quando um casal realiza um casamento chamado de internacional (o marido é estrangeiro), a mulher se torna o “Primeiro Autor – Hittousha” e tem 6 meses de prazo para requerer a troca de sobrenome. O nome do cônjuge estrangeiro (seja mulher ou homem) fica inscrito no Koseki, mas como uma observação só para dizer que o japonês em questão é casado(a). Isso não significa que o estrangeiro consiga a nacionalidade japonesa. O nascimento do filho será inscrito no Koseki, e caso a mãe não tenha requerido a mudança do sobrenome, deve requerer ao tribunal de família.

No Brasil um feto somente é considerado uma pessoa com direitos ao nascer (morto ou vivo). No Japão, pela lei, é considerado com direitos a partir da 12ª semana, mas para a grávida, a fim de que consiga auxílio médico. Se caso vier a sofrer quaisquer tipo de interrupção da gestação após essa contagem, deve relatar à prefeitura e entregar certidão de morte, porém não será registrado no Koseki. O aborto no Japão é permitido até a 22ª semana, após esse período é considerado crime, porém, normalmente se faz até a 10ª ou 11ª semana para evitar a obrigação de entregar o certidão de morte e requerimento para a cremação. Se a criança nasceu viva, porém veio a falecer após respirar, precisa entregar a certidão de nascimento e em seguido a certidão de morte, aí sim será cadastrado no Koseki.

Antigamente para sair de um Koseki, precisava ser mulher e se casar, ou casar como filho adotivo da família da esposa. Hoje, sendo maior de 20 anos de idade, sem histórico de casamento, pode sair do Koseki dos pais sem casamento.

Hoje, se mora longe da província onde nasceu, mora faz tempo, e vai ficar por aí, pode requerer o “tenseki” que é a mudança de gerenciamento do seu Koseki para a cidade onde mora.

Com o tsunami de 2011, os Kosekis de cidades de Minami-sanriku, Megawa, Ootsuthi e Rikuzen Takada foram perdidos e somente os dados de janeiro e fevereiro de 2010 que haviam sido enviadas ao Ministério da Justiça foram salvos e reconstruídos a partir daquele.

Sistema Onomástico

Daniel Taddone

Você sabia que a Islândia é um dos poucos países do mundo a ter um sistema onomástico puramente patronímico?

Sistema onomástico é o conjunto de regras legais ou consuetudinárias (da tradição) que um país (ou uma cultura) adota para dar nomes às pessoas e às coisas. Aqui vou abordar apenas do sistema de nomes próprios pessoais, os antropônimos.

A Islândia adota um sistema puramente patronímico (com pouquíssimas exceções). Mas, afinal, o que é um “sistema onomástico patronímico”? É quando o “sobrenome” do filho é formado a partir do prenome (“nome de batismo”) do pai:

– “Samúel Friðjónsson” significa que Samúel é filho de Friðjón.
– “Aron Gunnarsson” significa que Aron é filho de Gunnar.

Se Samúel tiver um filho chamado Gunnar, o nome completo dele será “Gunnar Samúelsson”.

Se Aron tiver um filho chamado Friðjón, o nome completo dele será “Friðjón Aronsson”.

Se for uma menina chamada Sigríður filha de Samuél, será “Sigríður Samúelsdóttir”. Se for filha de Aron, “Sigríður Aronsdóttir”.

Notem que “-son” está para “filho” e “-dóttir” está para filha, cognatos das palavras inglesas “son” e “daughter”.

E qual é a peculiaridade da Islândia? É o único país de cultura ocidental a manter esse sistema puramente patronímico, não havendo “sobrenomes” propriamente ditos, pois ele é trocado a cada geração. O filho não tem o mesmo “sobrenome” que o pai, mas sim um “sobrenome” que faz referência ao prenome do pai.

Várias outras culturas europeias adotavam esse sistema, que foi abolido em épocas distintas ao logo da História (ver os adendos no fim do texto). Em algumas partes do mundo, sobretudo em comunidades tradicionais da Ásia e África, ainda vige um sistema puramente patronímico nos nomes tradicionais, sobretudo na transmissão oral (não no registro civil).

Isso parece tão distante da nossa cultura, não é? Mas nem tanto!

Nos países ibéricos, Portugal e Espanha, a desinência patronímica é o “-es” nos sobrenomes portugueses e o “-ez” nos espanhóis.

Assim, “Rodrigo Antunes” era o Rodrigo filho do António. E o Nuno filho do Rodrigo era o “Nuno Rodrigues”. E o Marcos filho do Nuno era o “Marcos Nunes”. E o Vasco filho do Marcos era o “Vasco Marques”. E o Martim filho do Vasco era o “Martim Vasques” (ou Vaz). O Pedro filho do Martim era o “Pedro Martins”.

E assim sucessivamente até que em um determinado momento o patronímico se “congelou” e tornou-se um sobrenome fixo como hoje conhecemos, repetindo em todas as gerações subsequentes.

Na Itália, o sistema era um tanto mais complexo, mas há paralelos. A forma mais evidente é o uso da preposição “Di” (ou “De” ou “D’ “).

“Giovanni Di Luca” era filho do Luca. O Pasquale filho do Giovanni era “Pasquale Di Giovanni”.

Outra forma patronímica tipicamente italiana são os sobrenomes que terminam em “-i” (apenas uma parte deles, não todos!). Um homem chamado Pietro e que era filho de um Martino em latim seria “Petrus filius Martini” (“Pietro filho de Martino”, caso gramatical genitivo). Com o tempo perdeu-se o “filius” e sobrou apenas o “Martini”.

De uma forma bem “grossolana” (grosso modo), pode-se dizer que a forma patronímica com “Di” ou “De” é mais comum no centro-sul da península itálica, enquanto que a desinência “-i” é mais recorrente do centro (Úmbria, norte do Lácio, Toscana) até o norte.

Muitíssimos sobrenomes vênetos perderam o “-i” por influência das características fonéticas da língua vêneta, daí Martin, Pavan, Meneghel, Visentin etc. Lembrando que a desinência “-i” nem sempre era patronímica, muitas vezes originadas de outras motivações onomásticas.

Enfim, espero que minha explicação não esteja confusa demais. A dopo!

ADENDO 1: Muitas pessoas escreveram nos comentários informando que na Rússia também estaria vigente um sistema puramente patronímico, o que é incorreto. Explico: na Rússia atribui-se um “nome do meio” (Отчество, Otchestvo) que é patronímico, mas esse nome do meio NÃO é o sobrenome da família, mas apenas um nome “cerimonial”, da tradição. O presidente da Federação Russa chama-se “Vladimir Vladimirovič Putin”. O sobrenome fixo nas gerações é Putin e ele não muda. O patronímico cerimonial (Отчество) é Vladimirovič, pois o pai dele se chamava Vladimir, que por acaso é o mesmo nome dele. Portanto, suas duas filhas se chamam PRENOME + Vladimirovna + Putina. O sobrenome é Putina, pois é Putin flexionado no gênero feminino. Portanto, a diferença é que na Islândia existe um sistema onomástico patronímico puro em que os “sobrenomes” trocam a cada geração. Na Rússia o sobrenome é fixo e apenas o elemento cerimonial (Отчество) que muda.

ADENDO 2: Outras pessoas estão escrevendo nos comentários que na Grécia também existiria um sistema patronímico. Isso é absolutamente equivocado. A maioria dos sobrenomes gregos tem origem patronímica (assim como os sobrenomes portugueses Rodrigues ou Mendes), mas o sistema onomástico NÃO é patronímico, pois os sobrenomes tornaram-se fixos há pelo menos 200 anos. Os sobrenomes terminados em -ópoulos (-όπουλος) indicam que aquele sobrenome um dia foi patronímico, mas na Grécia moderna o sistema de sobrenome não é patronímico pois os sobrenomes são fixos, diferentemente do que ocorre na Islândia, em que não há sobrenome, mas um patronímico que muda de geração em geração.

ADENDO 3: Muitos também informam nos comentários que nos outros países nórdicos também vige um sistema onomástico patronímico. Isso é incorreto. O sistema onomástico da Noruega, Suécia e Dinamarca foi um dia puramente patronímico como ainda hoje é na Islândia, todavia o patronímico se “congelou” e tornou-se um sobrenome fixo e que permanece igual de geração em geração. Portanto, a origem é patronímica, mas o sistema já não é mais patronímico há cerca de dois séculos.

O ÚNICO PAÍS DE CULTURA OCIDENTAL QUE ADOTA UM SISTEMA PURAMENTE PATRONÍMICO É A ISLÂNDIA. ÚNICO.