Pércio Buys Pinto
10/01/2002
Antroponímia é o estudo do nome das pessoas. O vocábulo foi cunhado em 1887 pelo filólogo português Leite de Vasconcelos, que dedicou um capítulo de suas ‘Lições de Filosofia Portuguesa’ ao: ‘Onomástico Antigo e Moderno’. Ambos os vocábulos foram criados a partir do grego: onomatos, ‘nome’, e anthropos, ‘homem’, mais onoma. Diz o mestre: “O ‘estudo dos nomes próprios em geral’ chama-se onomatologia. O dos nomes geográficos tem em particular o nome de toponímia. Podíamos dizer paralelamente, com relação aos nomes de pessoas e seres personificados, antroponímia.”
O nome, genericamente falando e dentro do conceito de antroponímia, refere todos os vocábulos que compõem a denominação pela qual nos identificamos como pessoas, como estabelece o prof. Franz August Gernot Lippert em: ‘O Nome das Pessoas Físicas no Direito Brasileiro’. Coloquialmente chamamos nome aquele ou aqueles vocábulos que identificam o indivíduo: João ou João Antonio. Da mesma forma coloquial, chamamos sobrenome os apelidos das famílias: Silva, Santos, Oliveira, Souza, Pereira.
Os estudiosos da legislação brasileira mencionam, contudo, que esta não é uníssona nem rigorosa na conceituação dos vocábulos que compõem o nome. A expressão sobrenome, tão comum no Brasil, sequer existe na legislação; existe de fato.
Os franceses distinguem prenomes e nomes, utilizando os primeiros na identificação do indivíduo, e os segundos na identificação das famílias a que ele pertence, como ensina Albert Dauzat.
Estudiosos portugueses e brasileiros admitem apenas as designações clássicas: nomes, para os indivíduos, e apelidos, para as famílias. De um e de outro difere a alcunha, codinome que alguns indivíduos conquistam, ou sofrem.
Os apelidos de família, ou de clã, remontam a mais de cinco mil anos, como se pode ver na Bíblia, Números, 1, 20 a 50, quando o Senhor ordenou a Moisés, no Sinai, que fizesse o recenseamento dos filhos de Israel após a saída do Egito. Foram contados 603.550 homens de mais de vinte anos e toda esta gente, mais a família de cada um, foi dividida em doze tribos, mais a tribo de Levi que ficou encarregada do sacerdócio. Do nome de cada um dos patriarcas originou-se o nome da tribo ou, modernamente, seu apelido. Da tribo de Judá, a Bíblia dá minuciosa genealogia até Jesus.
Como os nomes individuais se sucediam, os judeus adotaram o apelido patronímico: Jacó filho de Abraão, que se distinguia de outros Jacós.
O patronímico foi o primeiro apelido de família; mais tarde foi usado o toponímico, que se refere ao lugar de nascimento ou vivência; e finalmente adotou-se, em certos casos, a alcunha.
O patronímico se caracteriza pelo uso da preposição, prefixos ou sufixos. Por exemplo: judaica, Bar Abas, filho de Abas; gaélica, Ab; árabe: Ibn; são preposições. MacNamara, escocês; O’Henry, irlandês; FitzGerald, inglês; são prefixos. São sufixos: o son, em Johnson, inglês; sen em Andersen, escandinavo; Álvarez, espanhol; Álvares, português. Todos estes significam: “filho de”.
São toponímicos portugueses: de Souza, da terra de Souza; de Maia, da terra de Maia; Chaves, da cidade de Chaves; Porto, da cidade do Porto, etc. Os toponímicos formam-se em geral com a preposição de, que não implica origem nobre como muitos entendem.
Finalmente os apelidos de família decorrem de alcunha: Calvo, Velho, Alegria, Negrão.
Essas introdução permitirá que o leitor possa identificar seu apelido de família com a provável origem.
O acadêmico R. Magalhães Jr. publicou em 1974 o livro ‘Como você se chama?’, dando origem a outros estudos de diferentes autores.