Depois ainda falam que o louco sou eu…
Olha só esse caboclo: desmontou literalmente seu carro inteirinho. Resolveu deixar sua Caravan (75 a 79 – qualquer coisa assim) totalmente na lata.
Heh… Gostei da ideia dos barris…
Depois ainda falam que o louco sou eu…
Olha só esse caboclo: desmontou literalmente seu carro inteirinho. Resolveu deixar sua Caravan (75 a 79 – qualquer coisa assim) totalmente na lata.
Heh… Gostei da ideia dos barris…
Mas é LÓGICO que alguma coisa tinha que dar errado.
Afinal de contas, como já é do conhecimento até do Reino Mineral, Murphy é meu melhor amigo…
O diferencial estava perfeito. Com uma revisada geral, limpeza, óleo, graxa e tinta (não necessariamente nessa ordem) o bichinho foi colocado no lugar e ficou ótimo.
ENTRETANTO, o cardan não.
Para quem não conhece esse danado, já pararam para se perguntar como é que o motor de um Opala, que fica lá na frente, tem tração traseira e faz a roda girar lá atrás? Então. TEM que haver alguma coisa que ligue um no outro. E essa alguma coisa se chama cardan, ou, “tecnicamente” falando, árvore longitudinal de transmissão (bonito isso, não?). Eis um esquema do bichinho, direto daquele livro que citei outro dia:
Sua descrição técnica é a seguinte: “Árvore Longitudinal de Transmissão – A árvore longitudinal transmite o movimento da caixa de mudanças ao eixo traseiro e, no Chevrolet Opala, é do tipo tubular, descoberto e de uma só peça. Ambas as extremidades são providas de juntas universais de cruzeta e com mancais de roletes, permanentemente lubrificadas, daí não exigir nenhum cuidado de manutenção. Na ligação com a caixa de mudanças há um acoplamento com uma junta deslizante de estrias, cuja finalidade é permitir a pequena variação que se verifica no comprimento da árvore devido a oscilação do eixo traseiro.”
E foi exatamente essa “pequena variação” citada que deu todo o perrengue. Acontece que o diferencial Dana tem a ponta um pouco mais comprida que o diferencial Braseixos (que estava antes no carro). Sendo mais comprido, consequentemente o cardan tem que ser um pouco mais curto, certo?
E lá foi o marmitão rodar por desmanches de novo!
Entretanto dessa vez não consegui nada. Como costumam dizer nesses locais, isso aí seria uma mosca branca (peça muito difícil de se encontrar). Desse modo partimos para o Plano B.
Se o cardan tá bom mas é comprido, que fazer? Corta o bicho.
Mas também não é assim, de qualquer jeito. Há que se ter uma técnica específica para tal serviço. E quem teria essa técnica? O já conhecido na cidade “Zé Garrafa”, uai!
Na realidade esse caboclo já faleceu há muito. Meu pai mesmo, ao lhe contar essa história, disse-me que o conheceu e achava que já tinha morrido. Parece que quem hoje toca o negócio e faz os serviços do finado seria seu filho. E que serviços seriam esses? Colocar o cardan num torno e cortá-lo na medida correta para que se encaixe lá embaixo do carro. No meu caso específico essa medida foi de justos 4 centímetros. Pronto? Só isso? Não. E é aí que vem o verdadeiro trabalho técnico. Há que se balancear a peça, ou seja, verificar se a mesma não está empenada ou se o corte não ficou irregular de modo a evitar que ela chacoalhe em velocidades elevadas. Basicamente é como o balanceamento das rodas de um carro para que elas não trepidem em determinadas faixas de velocidade.
O curioso é que, conforme numa conversa que tive com o caboclo, esse tipo de verificação e correção (que, óbvio, tem um custo) não costuma ser feito nos cardans que vão em jipes, pois nesse caso não teria problema pois “lá já treme tudo mesmo”…
Mas para um carro de passeio a conversa já é outra…
Pois bem, feito o serviço e entregue ao mecânico. Basta aguardar a montagem.
De quebra já pedi para ele tirar aquela folga da caixa de direção que lhes falei. Na prática não significou necessariamente trocar alguma peça, mas sim recondicionar a que já estava instalada (até porque dinheiro não dá em árvores e tudo NA VIDA tem limites – inclusive o cheque especial).
Complemento final a ser executado: consertar a boia do tanque de gasolina. Sim, consertar, pois mesmo usada não foi possível encontrar. E como qualquer Opaleiro que se preze pode atestar, para um veículo do tipo do Opala, o marcador de combustível é sim item de segurança imprescindível e que deve estar funcionando perfeitamente…
Coisa mais linda esse Opala SS branco de seis canecos!
Não sei determinar exatamente seu ano (ainda), mas, com certeza, deve ser entre 75 e 79. Parece que acabou de sair da fábrica, tal é seu estado de conservação. Apesar de tudo, particularmente só não gostei das rodas…
E agora, com o escapamento em ordem, seria somente questão de regularizar a documentação, certo? Talvez um ou outro tapinha aqui e ali, mas nada demais – até porque, como já cansei de dizer, o foco é a reforma do OUTRO Opala, e não deste.
Entretanto, “a vida é uma caixinha de surpresas”…
Desde o momento em que peguei o carro estava “sentindo” algo meio estranho. Um quê de barulho de metal raspando que, na prática, não deveria existir. Se tem uma coisa que aprendi com o meu pai – com todos seus anos de experiência em oficina mecânica – é que barulho em uma máquina usualmente significa que tem alguma coisa fora do lugar, funcionando de maneira incorreta ou quebrada mesmo. Isso fora um “tec-tec” que invariavelmente eu percebia lá pros lados das rodas traseiras.
Voltei no mecânico. Diagnóstico: diferencial. O ideal seria substituir ou desmontar e tentar recuperar. Num primeiro momento fizemos uma busca via telefone pelos principais desmanches da cidade (Desmanche, sim, é lógico! Ou vocês acham que tenho dinheiro para ficar comprando peças novas a todo hora?) e não deu em nada. Ninguém, NO MUNDO, tinha um diferencial para um motor de seis cilindros. Ainda assim, enquanto ele desmontava o diferencial para ver o estado das peças, eu tentaria conseguir algo por aí.
Bom, para aqueles que não sabem, “O diferencial é um engenhoso dispositivo mecânico que permite independência de velocidade de rotação nas rodas traseiras, o que é necessário quando o carro realiza uma curva, já que, em tais circunstâncias, a velocidade de rotação da roda traseira do lado de dentro da curva é menor do que a do lado de fora, porquanto os arcos percorridos são diferentes. Se as rodas traseiras fossem montadas em um único eixo rígido, quando o carro realizasse uma curva, a roda do lado de dentro arrastar-se-ia no chão.” Gostaram da definição? Direto do Manual do Chevrolet Opala, de Jarbas Portella, livro de mais de 260 páginas devidamente guardado em formato PDF nas catacumbas de meu computador…
Eis aí o danado:
Mas, voltando à história, fui à busca de um Santo Graal diferencial, numa verdadeira via sacra, com um desmanche indicando outro, que por sua vez indicava outro, que por sua vez indicava uma loja, que por sua vez encaminhava para outro desmanche, e dali para uma oficina, e assim por diante. Nisso perdi a tarde inteira e – literalmente – atravessei a cidade de ponta a ponta mais de uma vez. Mas, no final das contas acabei conseguindo!
Numa das últimas tentativas, já praticamente tendo perdido as esperanças, encontrei uma oficina que tinha um diferencial Dana que, até onde sei, é bem melhor que o Braseixos que estava instalado (ou, como é carinhosamente chamado por outros opaleiros, Braslixo…)
Todo orgulhoso, coloquei o danado na traseira do carro (tadinha da Parati, arriou…) e voltei para o mecânico. Abri a tampa traseira e soltei:
– Um “Dana” tá bom pra você?
Ele quase não acreditou. Primeiro que eu tivesse conseguido um diferencial para motor de seis cilindros. Segundo, que fosse da marca Dana. E, terceiro, que ainda por cima estivesse em bom estado! E tudo isso veio na hora certa, pois ele já havia aberto e acabado de condenar o diferencial anterior…
Pois bem, agora é esperar a montagem.
Para aqueles que são da cidade de São José dos Campos, SP, ou das proximidades, e precisarem de fazer uma “busca e apreensão” de peças usadas, segue o caminho das pedras de alguns dos desmanches onde é possível encontrar algo:
Essa lista não exaure as oportunidades, mas, basicamente, abrange quem está no círculo e que se “comunica um com o outro”, ou seja, todo mundo sabe quem está desmanchando o quê…
Ok, ok. Só eu mesmo. Quando não acaba a gasolina de um carro, ainda assim consigo trancá-lo PRA SEMPRE…
Bem, mas “pra sempre” sempre é relativo!
Então, municiado com todas as chaves que pude arregimentar do outro Opala (inclusive as da antiga ignição, que troquei), pude buscar uma que atendesse às minhas necessidades. E deu certo!
O detalhe: só posso destrancar a porta do passageiro, pois a fechadura do lado do motorista está total e completamente detonada. Ou seja, desço normalmente do carro, vou pelo lado do passageiro, entro, travo o pino da porta do motorista, saio, e, após, travo o pino da porta do passageiro. Operação inversa para entrar no carro.
Lindo, não?
Como eu já havia dito, os bancos estão com o estofamento pra lá de detonados, mas acabou me caindo a ficha dum detalhe: o outro Opala também estava assim – mas tinha capas! Fui fuçar no covil de peças do carro e lá estavam todas elas, tanto dos bancos dianteiros, quanto traseiro. Empoeiradas, sim, mas inteiras. Pelo menos economizei alguns trocados com isso.
De quebra também peguei os tapetes de borracha do 79, pois estão mais inteiros que os do 76…
Detalhe 1: já ia me esquecendo de contar, mas ontem, pleno sabadão, troquei (ou melhor, COLOQUEI) o escapamento do carro. De ponta a ponta. Não se preocupem, pois tudo isso ainda aproveitarei mais tarde, quando da necessária transfusão de peças.
Detalhe 2: como carro velho que se preze tem que ter lá suas podreiras, com o toró que caiu no último sábado descobri uma pequena catarata sobre a caixa de fusíveis do carro. Enquanto não chover, tá bom. Mas antes do próximo pé d’água quero ver se já conserto (ou gambiarreio) isso…
Resolvi adotar uma “tradição” que existe lá no Grupo Opala.com: doravante toda sexta-feira será dia de fotos. Até porque opaleiro que é opaleiro gosta mesmo é de ver Opala!
Como as fotos do(s) meu(s) carro(s) já venho colocando aqui conforme seja a situação que o pobre coitado esteja vivenciando, vou buscar fotos “emprestadas” por aí afora e compartilhar com vocês (venho lentamente lendo TODAS as mensagens já postadas desde o início do grupo no GMail no ano passado). Desde já peço desculpas se não colocar os referidos créditos de imediato – muita coisa eu simplesmente baixei e guardei no computador para futura referência. Para quem for o dono da criança ou souber quem seja, basta me dar um puxão de orelha que eu remedio a situação, ok?
Assim, que dia melhor que 29 de fevereiro para começar uma nova empreitada dentro da velha empreitada?
Então.
As fotos a seguir (até onde sei) são da reforma de um Opala Standard 1976 bege (tar e quar o meu 79) que foi transformado num SS vermelho. Aviso aos incautos: apesar da semelhança, NÃO, NÃO É O MEU CARRO!!!
Ainda estou longe dessa fase… 🙁
Então exatamente no dia de hoje, depois de quinze longos dias, por volta da hora do almoço, o Titanic II (como “carinhosamente” a Dona Patroa resolveu chamá-lo) saiu da oficina.
O interessante é que meu passado me condena. Fui de carro até o mecânico (aquela Parati que continua à venda), acertei o que tinha que acertar ($$$), desci até em casa guardei o carro, almocei com a criançada, esperei a Dona Patroa chegar, e, aproveitando o embalo dela levar os petizes à escola, peguei uma carona até a oficina.
– Ué, mas onde a gente vai, mamãe? – perguntou o mais velho, do alto de seus oito anos de idade.
– Vamos levar o papai para buscar o carro dele.
– Ah… Acabou a gasolina de novo?
Depois do acesso de risos da Dona Patroa ela explicou que nós estávamos indo buscar o “Titanic II”…
Mas voltemos ao carro.
Não vou entrar em detalhes no que foi feito nesse Opala 76 – até porque o foco desse blog é a reforma do 79 – mas basta saber que foi dada uma geral na suspensão, freio, carburador e parte elétrica.
Lembram-se que eu disse que o escapamento estava “meio aberto”? Na realidade ele simplesmente não tem toda a parte final do escapamento! Acaba ali, logo debaixo do motorista. Apesar do barulho correspondente a um dragão trovejante, no fim de semana precisarei dar um jeito nisso.
Fui com o danado até o trabalho (coisa de uns quinze quilômetros). Uma delícia! O carro alinhado, freando corretamente, motor regulado… Até buzinar, buzina! Tudo bem que continua detonado por dentro, mas isso é outra história… Ah! Um detalhe importante: a caixa de direção tá meio que ruim, com uma folga de uns 20° na direção…
Aliás é curioso ver como opaleiros sentem o cheiro um do outro… Tendo parado no boteco’s bar de costume, descobri que o seu Adolfo, vulgo Português, dono do bar, também foi um aficionado e apaixonado por Opalas. Já teve, reformou e “construiu” vários…
Entim, com tudo praticamente resolvido no que tange à mecânica, como minha garagem já não tem mais espaço, deixei numa vaga que tenho num apartamento perto de casa. Depois de trancado, percebi que deixei as chaves de casa no console. E acabei por descobrir que chave nenhuma NO MUNDO abre aquelas fechaduras das portas…
Merda.
Amanhã verei isso.