Vejam o e-mail que recebi:
“Olá Boa noite… td bem ? (…) encontrei seu site pelo “google” estou já há umas 2 horas lendo ele… e queria algum tipo de ajuda/orientação sua… tenho 29 anos… e uma paixão antiga por carros tbém antigos… Adoro opalas… e dei umas risadas com seus “causos” qdo saiu a faísca… do seu susto… mas enfim vou começar minha história… Conheço um cara que tem um opala 74… e me interessei pelo carro… o carro está numa garagem… encostado… com uma lona ruim em cima… com os 4 pneus no chão… estou pensando em comprá-lo mesmo sem ser $$$… (se não fizermos asssim não temos nada)… bom o cara me pediu $ 2.000 mas o carro está sem motor e câmbio… sem o capô dianteiro… e sem os bancos dianteiros… iluminação dianteira falta tudo…(farol/pisca) falta o cardan… porém tem os forros das portas dianteiras… e dos bancos atrás… akeles pekeninos… tem os bancos traseiros… volante painel… vidros todos está lindão de lata… com funilaria feita a pouco tempo… pintado na cor vermelha sólida… bom… conversando com o dono… baixei esse preço para $ 1.400… mas os docs estão “enrolados”… ele é placa amarela ainda… não está mais cadastrado no detran/sp… encontrei pela internet… o último dono de 17 anos atrás… e está precisando cadastrar o carro no detran (despachante cobrou $200)… minha dúvida é a seguinte… vale a pena eu comprar esse carro? já encontrei um motor + câmbio 4 cc por $ 700… e estou ansioso por fechar negócio mas antes queria uma opinião de alguém que entende do assunto… o carro esta lindão… caixas de ar zeras… sem podres… liso e lindo… e a cor é linda… já imaginou ele… andando comigo… eu fuçando nele aki em casa nos fds…“
Bem, pra começar só posso agradecer essa confiança – e responsabilidade – depositada na opinião deste modesto escriba…
Mas antes de mais nada deixa eu lhe contar uma pequena história: pouco tempo depois que comprei o Opala 79, um colega do trabalho me viu rodando com ele e disse que tinha um à venda. Me interessei pela possibilidade de, de repente, escamotear peças entre um e outro e ainda “sobrar um carro” depois. Fui ver o bichinho, que estava meio que largado no tempo, em frente à sua casa, bem no alto de um morro na cidade vizinha. Olha, o carro estava judiado. BEEEEM judiado. Mas ainda não estava além do limite de recuperação. Apesar dos podres, da pintura queimada, das peças faltando, ainda assim ele estava rodando. Capenga, mas rodando. O preço? R$900,00. Isso mesmo, com TUDO, apenas novecentos contos. Não, não o comprei – simplesmente porque era um modelo 1972 e eu não poderia “aproveitá-lo” na reforma do 79. Apesar de ter me sentido bastante tentado pela compra, eu tinha absoluta certeza de que iria gastar muito mais colocando-o pra rodar (inclusive por causa também da documentação) do que conseguiria numa venda futura. Uma das possibilidades que aventei foi a de comprá-lo daquele jeitão mesmo para desmantelá-lo, revendendo as peças para outros opaleiros que estivessem reformando carros do mesmo modelo. Mas, pensando na possível reação da Dona Patroa a mais um entupimento de nossa modesta garagem acabei abandonando também essa idéia…
Mas voltemos à sua questão.
Alguns palpites sobre como aquilatar a compra de um carro eu já dei ao falar sobre o tema aqui.
Mas ainda assim o seu caso difere – e MUITO – de uma, digamos, “compra normal”…
Talvez o primeiro e maior problema a ser enfrentado é que, ao comprar um carro, a gente quer andar com o carro. Ainda que esteja detonado ou meio que arrebentado, a gente releva tudo isso para poder dar umas voltas com o bichão. E tenho certeza absoluta que você também vai querer fazer isso.
Ou seja, mal o carro estiver com o motor e se locomovendo sozinho, já vai querer dar umas voltas por aí, certo?
Mas, principalmente em função da documentação, acho arriscado, muito arriscado… Se, por exemplo, apreenderem o carro nessa situação, esqueça! Vai ficar mais caro tirar ele do pátio que qualquer outra coisa!
Desse modo, pra rodar com o carro, devemos pensar nos documentos do mesmo, certo? Apesar de já ter uma prévia de um despachante (particularmente acredito que deva ficar mais caro, por isso sugiro uma segunda opinião), para que possa passar os documentos do carro para seu nome – ou, ao menos, atualizá-los – será necessário deixar o carro rodando e pronto para uma vistoria.
Daí a gente já começa a pensar em todos aqueles perrengues que estão faltando, como capô, bancos, iluminação dianteira e – lógico – parte elétrica.
E o motor? Ao preço dele você terá que agregar mão de obra para instalação e todas aquelas pequeninas peças avulsas necessárias para deixá-lo perfeitamente instalado. Isso se ele não tiver nenhum problema, junta queimada, vazamentos, etc. Como está faltando o cardan não há como se saber se o diferencial também estaria bom. Caso esteja bom, ainda assim temos toda uma outra parte de instalação, mão de obra, peças avulsas, etc.
E, lembrando de mais um detalhe: estamos falando de um modelo 1974, onde as peças de acabamento costumam ser ainda mais difíceis de achar que as dos modelos de 75 em diante!
Ou seja, no frigir dos ovos deve ir muito mais dinheiro nessa investida do que você possa mensurar num primeiro momento.
Bom, meu amigo, enfim, sem querer jogar um balde d’água fria nas suas pretensões, o que eu tenho a dizer é o seguinte: se você está curto de grana e pretende comprar o carro para sair andando com ele a curto ou médio prazo, esqueça!
Você terá um “trambolho” dentro de casa que poderá virar uma fonte de frustrações por não conseguir realizar seu tão acalentado sonho.
Entretanto, se você não tiver pressa nenhuma de colocar esse carro para andar, se você conseguir se esquematizar para guardar uma graninha todo mês, se você tiver um cantinho para ir mexendo com ele sem pressa até que esteja no ponto de efetivamente acertar a documentação e sair andando, e se a lataria realmente estiver essa maravilha que você falou… bem, o que é que você está esperando que não pegou essa mosca branca ainda?!!!
Mas, brincadeiras à parte, garanto-lhe uma coisa: uma reforma é, em primeiro lugar, um exercício de paciência e em segundo lugar uma fonte de satisfação (quando não se tem a mínima pressa de realizá-la). É uma delícia ver aquele quebra-cabeças ser, aos poucos, montado e tomar forma.
E, em termos de grana, ainda que seja um pouquinho por mês, não pense em termos de investimento, mas sim de investida. Pois, com certeza absoluta (e por experiência própria), você acabará gastando bem mais do que o carro vale no mercado. Mas, na minha opinião, vale a pena. Ou seja, uma reforma dessas é pra ficar com o carro mesmo.
Acho que são esses os palpites que eu tinha na manga. Analise com frieza e sabedoria, deixando a emoção de lado, pensando no que é que você realmente pretende e creio que conseguirá tomar uma boa decisão.
Boa sorte, e não deixe de avisar se vier a comprar a barca, hein?
Abração!