Quem me conhece pessoalmente sabe que costumo me considerar um alfarrábio de cultura inútil. Porém tem gente pior: um advogado amigo meu (Sylvio) certamente me suplanta – e muito – nesse título…
E, como genealogista amador e amante de história que sou, dentro dessa seara sempre me vêm inúmeras informações interessantes (pelo menos a meu ver). Inúteis. Mas, ainda assim, interessantes.
Há alguns dias aprendi uma nova lição em uma das listas de genealogia das quais participo, através de uma mensagem enviada pelo Haríolo, referindo-se a uma carta publicada no jornal de Belo Horizonte “O Tempo” em 09/05/04. Trata-se do lema inscrito na bandeira do Estado de Minas Gerais. Para aqueles que não se lembram, é o seguinte: “Libertas quae sera tamem”. Ou seja, “Liberdade ainda que tardia”.
Ocorre que um ex-seminarista, Tobias Isaac Neto, já possuía uma dúvida antiga sobre esse lema, desde sua época de colégio. Ele não conseguia enxergar com clareza a tradução do latim para o português, pois achava que as palavras não se encaixavam. Porém, dentro de sua condição de ginasiano, tinha receio de colocar em xeque uma citação histórica já consagrada.
Foi somente depois de muitos anos, que lhe veio às mãos a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João Del Rey, que em seu volume V continha um capítulo chamado “Os inconfidentes”, escrito por Antônio Gaio Sobrinho. Nessa obra ele conseguiu a informação que lhe faltava, confirmando que realmente existe uma palavra a mais no lema da bandeira de Minas Gerais.
Quando da criação daquele estandarte, o inconfidente Alvarenga colheu uma frase de um diálogo entre os pastores Títiro e Melibeu, protagonistas das Bucólicas Vergilianas, onde um pastor canta seu amor por Marília (o que, segundo Roberto Cardoso, outro participante dos grupos de discussão aos quais me referi, supõe que a semelhança com a Marília de Dirceu do Tomás Antonio Gonzaga seria bem mais do que uma simples coincidência). Nesse poema Melibeu pergunta:
“Et quae tanta fuit Romam tibi causa videndi?” – “E qual foi teu grande motivo para ver Roma?”
E Títiro responde:
“Libertas quae sera tamem respexit inertem (…)” – “A liberdade, ainda que tardia, contudo encontrou-me inativo (…)”
Portanto, para expressar o espírito inconfidente, bastaria apenas a frase “Libertas quae sera”. O “tamem” (contudo) seria tão somente uma conjunção para dar continuidade à frase original.
Não sei se oculto nas catacumbas de meu computador ou perdido em minha modesta biblioteca caseira, existe também uma história acerca do “Ordem e Progresso” de nossa bandeira nacional… Assim que encontrá-la, eu aviso!
LIBERTAS QUAE SERA TAMEM:
LIBERTAS, QUE SERÁS TAMBÉM., Essa é a traduçao literal do latim.
liberta, que serás também.
Essa traduçao que eu citei acima é de um texto do Vinícius de Moraes.
José, respeito PROFUNDAMENTE tanto a opinião do Vinícius quanto a sua própria. Entretanto, como já demonstrei no texto acima, a construção latina da frase não permite essa interpretação…
liberda, que seras liberto ou liberdade ainda que tardia não importa, o que verdadeiramente importa é que muitas pessoas morreram ao longo dos tempos para que pudessemos existir, será que hoje ainda existe pessoas que querem fazer o mesmo sacrificio por um ideal? não se esqueçam do maior sacrificio que alguem fez pela humanidade (JESUS CRISTO) por AMOR, faça voce tambem alguma coisa pela humanidade e por voce mesmo.
Tá bão, Helio. Foge ao tópico do artigo, mas não deixa de ser um ponto de vista. Taí seu recado.
Prezado Adauto,
Com apreço, envio uma outra dose de mineiridade.
O berço da expressão popular dos mineiros UAI.
Segundo o odontólogo Sílvio Carneiro e a professora Dorália Galesso, foi o presidente Juscelino Kubitschek que os incentivou a lhe pesquisar a origem. Depois de exaustiva busca nos anais da Arquidiocese de Diamantina e em antigos arquivos do Estado de Minas Gerais, Dorália encontrou explicação provavelmente confiável.
Os Inconfidentes Mineiros, patriotas mas considerados subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se por meio de senhas, para se protegerem da polícia lusitana . Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos . Lá de dentro, perguntavam: quem é?, e os de fora respondiam : UAI – as iniciais de União, Amor e Independência. Só mediante o uso dessa senha a porta seria aberta aos visitantes.
Conjurada a revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, incorporaram-na ao vocabulário quotidiano, quase tão indispensável como
tutu e trem. Uai, sô … TREM BÃO..
A materia acima saiu no Jornal Correio Brasiliense
T:.F:.A:.
O trem não tava tão certo mesmo. Foi o calor do momento. Pegaram a frase, com uma palavra a mais ou a menos, tanto faz. No dia fez sentido e soou bem, as pessoas sorriram e gostaram. Quem iria ligar pra tradução corretíssima do latim? Eramos poucos, tínhamos nossas falas… e daí se nossos trinetos não entenderiam direito?
“O fogo e a picareta” “Daqui não sai meu Ouro” “Libertas quae sera tamen” … qualquer uma que escolhêssemos teria o mesmo valor e sentido hoje!
Tobias, já havia lido sobre isso mas, sinceramente, ainda tenho lá minhas dúvidas…
Éden, ótima conclusão! E, no final das contas, vamo que vamo!
😀
a conta…:
rsrs. depende de quem faz as contas…rsrsr!! Mas fiquemos nos 10!
Obrigada. Dúvida esclarecida Adauto.
Talvez eu possa ajudar. Recomendo lerem o último capítulo do meu livro: “Viscondes, Mazombos e Coimbrãos” – Editora Quintal dos poetas: http://www.quintaldospoetas.com.br.