Peça pelo número!

O primeiro a se manifestar foi o Número Dois. Logo pela manhã, após acordar e concluir que estava quase afônico de rouquidão, fui até a sala e ele já havia se levantado.

– Papai, vem ver meus desenhos!

– Deixa eu ver, então…

– Olha, tem esse aqui e depois esse, e mais esse…

(Suspiro).

– Filho, o papai está rouco, por isso é que está falando assim baixinho. VOCÊ não precisa falar desse jeito também…

…—…

Ao chegar em casa, à noitinha, foi a vez do Número Três. A Dona Patroa me falou:

– Amor, hoje ele estava olhando as fotos ali, comigo, e falou direitinho quem era cada um, inclusive, “papai”.

– Legal! Filhão, vem aqui no colo do papai. Isso. Quem é essa aqui na foto?

– Mamãe!

– E esse aqui?

– Mamãe!

(…)

– Tá, vamos tentar de novo. Quem é essa outra aqui?

– Vovó!

– Isso. E esse aqui?

– Vovô!

– Muito bom. Essa aqui?

– Mamãe!

– Bom. E agora, quem é ESSE AQUI?

– Mamãe!

Foi mais ou menos isso que aconteceu. Coloquei meu pequeno rebento no chão e fui esmurrar algo em outro cômodo da casa.

…—…

E pra fechar com chave de ouro, só faltava o Número Um. Estava a fazer meu prato junto ao fogão quando ele chegou.

– Oi, pai.

– Oi, filho.

– Você ainda tá rouco, pai?

– É. Ainda tô um bocadinho rouco, sim.

Virou-se para o outro lado, e disse:

– Mãe, por que a gente não arranja um microfone para o papai? Assim, mesmo que ele fale baixinho a gente vai conseguir ouvir!

A Dona Patroa foi rir desesperadamente em outro cômodo da casa…

…—…

Enfim, parece que estou total e completamente cercado por uma família de comediantes e não sabia…

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