Transmimento de pensação off line

Lendo um post curtinho lá no efeefe (de visual novo – bem bacana) pude perceber que mesmo desconectados virtualmente ainda assim existe uma espécie de conexão entre os pensamentos neste nosso mundão off line. Lá ele falava de paradoxos.

E numa boa discussão com o copoanheiro Bicarato, coincidentemente falávamos basicamente sobre a mesma coisa. A questão de projetos de vida em comparação com os rumos para os quais a vida acaba nos projetando…

É certo que amo-de-paixão meu trabalho, minhas responsabilidades, meus perrengues do dia-a-dia. Mas, quando paro para pensar, acabo tendo um pouco de uma sensação de vazio. Vazio no sentido de que – tenho quase certeza – eu poderia fazer mais. Contribuir mais. Compartilhar mais. Mesmo assim acabo não tomando atitudes proativas (ainda não decidi se gosto ou não dessa palavra) e também acabo permanecendo no mesmo ziquizira de sempre.

Creio que meus “problemas existenciais” (ao menos os atuais) se resumem a duas coisas. Uma seria essa questão paradoxal, como acabei de explicar. Outra seria já uma questão de “pessoalidade”. Apesar de a Internet propiciar um contato com as melhores cabeças pensantes que existem, independentemente de sua localização nesse mundão véio, ainda assim esse contato é virtual. E essa coisa de pessoalidade, de proximidade, de olho no olho, de companheirismo (de preferência copoanheirismo), bem, isso está cada vez mais escasso. Falta cumplicidade para projetos, um apoio pessoal e presencial para incentivos e mesmo para puxões de orelhas e críticas – quer sejam construtivas ou não.

Mesmo os gregos já falavam em Terminus – o deus dos limites. Ora esses limites muitas vezes nos são impostos pela própria crítica pessoal de quem conosco convive. E isso é bom. Nos ajuda a pensar melhor, a rever conceitos, a crescer e partir em busca de novos limites – os quais, por sua vez, serão também oportunamente rechaçados, numa espécie de ciclo virtuoso empacotado numa espiral sem fim.

O difícil é o primeiro passo.

Há que se romper os limites.

E isso se torna cada vez mais complicado à medida em que paradoxalmente nos acomodamos com a vidinha besta que levamos…

E essa bestagem a que me refiro diz respeito à estagnação da criatividade, da vivência numa rotina pequeno burguesa, da mesmice, enfim.

A sublime anarquia combinada com uma caótica experimentação de disparidades – ainda que sob a batuta da máscara da ordem – é que acaba por nos trazer todo o colorido da vida. Pergunte a qualquer criança de quatro ou cinco anos. Elas sabem! Temos muito a aprender com sua visão simplista da vida. Basicamente preto e branco. Entretanto os diversos tons de cinza nos quais baseamos nossos atos e pensamentos são invariável e involuntariamente construídos no decorrer de toda uma existência. E isso só serve para complicar.

Mas o tema desse nosso proseio é (ou seria) outro.

Simplesmente me chamou a atenção o fato de que pessoas tão distantes estivessem levando em conta o mesmo tema. E – pior – aquelas que estão próximas usufruindo da mesma (má) sintonia, sem possibilidade de uma crítica qualquer que seja. Algo do tipo “putz, tá foda”, ao que o outro responde “é, tá mesmo”

Mas, nesse caleidoscópio de percepções visualizado nesta montanha russa gramatical no qual este texto se transformou, só consigo chegar a uma única conclusão (por mais estapafúrdia que seja): sinto saudades.

Saudades de um tempo em que as coisas pareciam mais simples. Em que eu conseguia enxergar todas as confusões em que me metia com franco otimismo e um insuportável bom humor. Sinto saudades de mim mesmo, de um caboclo mais camarada que vivia gargalhando pelos corredores. Pregador de peças. Sacana. Otimista. Gente boa.

Tenho estado num mau humor que nem eu mesmo tenho me suportado. Ando mais rabugento que o normal – o que, diga-se de passagem, pode ser assustador! Não gosto desse caboclo. Ele precisa ser sumariamente executado. Mas, dando a mão à palmatória, tenho que reconhecer que ele possui um nível de controle e eficiência em seus serviços do qual jamais fui capaz. A perspectiva de perder esse (único) lado bom que ele manifesta acaba me deixando receoso.

Taí. Mais uma vez o maldito paradoxo!

Heh… Me sinto como Harvey Dent… Estou discutindo comigo mesmo. E brigando! E perdendo a briga!

Enfim, isso já está virando um monólogo. E tomando rumos que sequer imaginei quando comecei a escrever. De fato, textos têm vida própria…

Vou à caça do caboclo bão que conheço e que está perdido lá dentro de mim em algum lugar. E nesse meio tempo preciso dar um jeito de aumentar ainda mais o círculo pessoal (pois o virtual já é bem grandinho) de indivíduos com a mesma afinidade.

Se eu obtiver sucesso nessa empreitada, com certeza aqueles projetos de vida sobre os quais falei lá no início dessa viagem poderão ser desempacotados.

Se não… Bem, terei que ver até onde consigo me suportar desse jeito…

7 thoughts on “Transmimento de pensação off line

  1. Êita! Entendo ferpeitamente issaê… Mas acho que vai muito além de uma crise existencial — é nóis mêrrrmo só querêno resgatá nosso lado *bão*, fugi dessa rotina à qual nos acomodâmo mas, graças a Deus, nos incomodâmo. Vô ali fumá um cigarrim di páia e vorto pra continuá o prosêio…

  2. Não sei se é muito animador, mas… gente grande tem dessas coisas. Saudades sentimos quando a distancia percorrida foi em vão, e creio que ao compreendermos as atitudes, entendemos suas razões. Bom seria se pudéssemos voltar no tempo, como um passe de mágica e ter o brilho nos olhos que as crianças têm. Muitas das infelicidades que sentimos, são causadas pelas regras que elaboramos e nos atribuímos, e, como diz o ditado: “procure a sabedoria das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de apoio para um novo avanço”. Um abração, querido!

  3. Isso me lembra uma crônica – acho que do Chico Anísio – na qual sugere que deveríamos todos já nascer velhos e prosseguir involuindo, involuindo, até que, como bebês, voltássemos para o útero materno…

    Acho que é algo assim – garanto que bem mais detalhado e bem humorado.

    Na relidade, caríssima, tudo são fases. E essas fases vêm e vão, com seus altos e baixos…

    Assim, como diria o sempre bem humorado Quintana, “Eles passarão, eu passarinho”!

    😀

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