O Tiago Dória tratou o assunto com perfeição neste post. Leiam. Vale a pena. Eis uma palhinha:
Na hora em que o McDonald`s contrata um chef especializado em slow-food e as suas lojas passam a vender água de coco e saladas, e no Japão começa a aparecer a geração fureeta, que acredita que não é preciso trabalhar até se matar, é de se perguntar se o “slow movement” não está aos poucos ganhando espaço, de forma quase imperceptível.
Em seu livro Devagar (352 páginas/Editora Record), o jornalista canadense Carl Honoré diz que o “slow movement” não é panfletário. Pelo contrário, é algo que acontece aos poucos, de forma discreta. De minuto em minuto, as pessoas vão questionar o porquê de fazer tudo rápido. Rapidez sempre quer dizer eficiência? Produtividade? Quantidade é igual a qualidade e relevância?
Honoré escreveu o seu livro em 2004 e começou a pesquisa para produzi-lo um pouco antes. De lá para cá, bastante coisa aconteceu.
(…)
Honoré mostra que, ao contrário, o fascínio pela velocidade existe em razão de motivos bem mais complexos.
Vem da própria maneira como pensamos sobre o tempo. Nas tradições filosóficas chinesas, por exemplo, o tempo é visto de forma cíclica. Na tradição ocidental, ao contrário, o tempo é visto de forma linear, como algo que vai de A a B. É finito.
(…)
O que, às vezes, deixa de cabelo em pé os setores de Recursos Humanos (RH). Pessoas largam “grandes empregos” para ganhar menos, mas ter mais tempo para lazer ou trabalhar com o que gosta. Ou ainda ter o seu próprio negócio, ser o patrão de si mesmo e assim potencialmente conseguir controlar melhor o… tempo.
Honoré é bem cético em relação a tecnologias que prometem economizar tempo. Na verdade, são as pessoas e a nossa noção de tempo que devem mudar antes de tudo.
Salve, narigudo-inchado.
Já falamos sobre o Nadismo, por exemplo, aqui:
http://www.alfarrabio.org/index.php?query=nadismo&amount=0&blogid=1
E copio, a seguir, e-mail do Clube de Nadismo:
bão, em partes e devagar: quanto ao movimento, *algo que acontece aos poucos, de forma discreta*, não podia ser de outra maneira, certo? 🙂
agora sobre tempo, interessante lembrar que há alguns nem tantos anos, para nos comunicarmos mais detidamente com alguém, escrevíamos uma carta, colocávamos num envelope, levávamos até o correio… hoje há o email, o sms, os instant messengers, imediatos. ora, onde foi parar então aquele tempo todo descrito acima? quem ou o que o levou embora? e para onde? (ou para quando?)
só um pequeno exemplo entre tantos outros de como o avanço das tecnologias, em vez de nos dar mais tempo, nos sobrecarregou com a *obrigação* de fazer tudo ao mesmo tempo agora.
se o tempo é linear — como ocidental que sou –, então a terra deve estar passando muito próxima de algum buraco negro e entortando espaço, tempo e o escambau, fazendo de tudo uma grande sanfona (estaríamos agora no movimento de *encolha* decerto).
se é cíclico — como oriental que estou (a terra deu uma girada rápida e me deixou no japão) –, então foi a frequência que aumentou.
mas independente de filosofia, movimentos, buracos negros, nada me tira da cabeça que o tempo vai mais rápido mesmo é depois que se completa 18 anos, como eu estou reparando desde o ano passado. 🙂
Hmmm… Sei lá, Bica. Creio que o nadismo seja radical demais perto do “slow movement” – talvez este estaria para aquele como um corredor dos cem metros perto de um fundista…
Marcelo, o chamado “correio social” – cartas até 20g – ainda permite que possamos nos dar a esse “luxo” a um custo irrisório. Volta e meia ainda escrevo cartas para um(a) ou outra(o) amigo(a) utilizando desse recurso e é interessante perceber como os pensamentos fluem muito mais conexos que o simples pingueponguear de um e-mail.
Ok. Temos a comunicação instantânea. Mas a pergunta é: precisávamos da comunicação instantânea?
Enfim, passada a fase em que tínhamos certeza da imortalidade (que, no meu ponto de vista, coincide com a qual você “acabou de sair”), penso que somente com a fuga da rotina é que podemos realmente perceber o passar do tempo. Ou seja, não contabilizando-o linearmente nas medidas de um relógio mas sim subjetivamente através da percepção dos eventos que nos cercam…
Adauto:
Sendo eu pessoa que já superou a fase da imortalidade, concordo com você, realmente, não precisávamos da comunicação instantânea. Aliás, ainda me incomoda o celular, eis que sou a pessoa mais previsível do mundo: ou estou em casa, ou estou no trabalho, e quando não estou em nenhum dos dois lugares devo estar no trânsito, onde não devo ser interrompida por nenhuma ligação (a lei existe não é sem motivo); ou devo estar fazendo compras no supermercado, de onde só posso sair após finalizar a compra e se alguém me ligar nada poderei fazer até acabar; ou estou em algum lugar me divertindo (v.g. no cinema), e se não avisei onde estava para alguém, é porque este alguém não está incluído nos meus planos. A lista não é exaustiva, mas serve para ilustrar: a comunicação instantânea é quase um bullying…
Ah! Já ia me esquecendo: parabéns pelo blog!
“A comunicação instantânea é quase um bullying”… Adorei isso! Some-se a essa frase os inúmeros “spams vocais” que invariavelmente recebemos e tá fechado o quadro da violência psicológica!
Antigamente eu costumava dizer que celular era apenas uma ferramenta para ser encontrado, mas hoje vejo que estava errado. Em função dos compromissos profissionais e, vá lá, sociais, acabei sendo microchipado externamente através de uma operadora de telefonia.
Ah, que saudades do tempo que bastava ter no bolso uma mera ficha telefônica – sim, daquelas de moeda – para que a comunicação se desse quando e como eu quisesse…
É. Acho que você também já deve ter percebido que a minha fase de imortalidade (física) também ficou pra trás faz tempo…
Um grande abraço, Denise – e volte sempre!