O texto abaixo é do Jomar Silva, recortado-e-colado lá do Homembit, e reflete sua preocupação (que deveria ser também a de todos que participam do ecossistema Open Source) a respeito do fato de que a Oracle comprou a Sun e, desde então, os projetos e tecnologias abertas antes existentes não têm tido uma boa destinação…
Caso a alguém interesse, a versão em inglês está aqui.
Há alguns anos atrás, descobri quase sem querer que Alfred Nobel (sim, o cara do prêmio Nobel) foi na verdade o inventor da dinamite, e fiquei muito curioso com isso, pois como o homem inventou algo que matou e ainda mata milhares de pessoas no mundo todo pode dar nome ao título que reconhece as pessoas que mais batalharam em seu campo de atividade, incluindo a Paz Mundial.
A resposta é bastante intrigante: Em 1888, quando faleceu Ludvig Nobel (irmão de Alfred), os jornais da França erroneamente publicaram a informação da morte de Alfred Nobel, e colocaram em seu obituário: “O mercador da morte está morto: Dr. Alfred Nobel, que se tornou rico por encontrar maneiras de matar as pessoas mais rápido do que nunca, morreu ontem.”
Quando leu nos jornais o seu próprio obituário, Nobel percebeu que sua vida realmente tivesse acabado naquele dia, seria assim que a humanidade iria se recordar dele: um genocida. Por isso ele deixou em seu testamento o desejo de que grande parte da sua fortuna fosse destinada a criação do Prêmio Nobel, que seria entregue sem distinção de nacionalidade às pessoas, que se destacassem em algumas áreas de conhecimento, com destaque à luta pela Paz Mundial.
Não importa quem você é, o que você tem ou qual o tipo de vida que decidiu ter, cedo ou tarde todos nos vamos nos defrontar com a morte, e quando esta hora chegar, todos irão certamente pensar a mesma coisa (nem que por apenas alguns segundos): Como as pessoas irão se lembrar de mim…
Passei por uma experiência traumática dessas ainda muito cedo na vida, e lhes garanto que este é o primeiro pensamento que nos vem à cabeça quando olhamos a morte nos olhos.
Não me lembro exatamente a fonte, mas quando eu pesquisava sobre a vida do Steve Jobs para um trabalho na pós graduação, encontrei um texto escrito por um jornalista e amigo do Sr. Jobs que tinha um título parecido com “A tarde em que o Steve Jobs morreu”.
O autor do artigo contava que quando os resultados dos primeiros exames feitos quando o câncer no pâncreas do Steve Jobs foi detectado ficaram prontos, numa consulta matinal ele recebeu de seu médico uma sentença de morte: você tem apenas mais alguns meses de vida. O médico avisou ainda que faria mais uma bateria de exames naquele dia, mas que não acreditava que alguma cura pudesse ser alcançada e que por isso era melhor o Steve se preparar para a partida deste mundo.
Os exames foram realizados e no final do dia foi detectada uma chance de salvar a vida dele, o que de fato aconteceu.
Diz o autor do texto que durante as horas em que teve que conviver com sua sentença de morte, o Steve Jobs acabou sendo obrigado a repensar em toda a sua vida, decisões que havia tomado e coisas que tinha feito (e que tinha deixado de fazer). O resultado desta tarde de solidão olhando nos olhos da morte foi a estratégia que levou a Apple a chegar onde está hoje (e muito mais vem pela frente) e no campo pessoal o Steve Jobs assumiu a paternidade de uma filha que ele negava em reconhecer já há quase 20 anos.
Não sei se ouve algum evento traumático como os que citei na vida de Bill Gates, mas o trabalho que ele faz hoje na Fundação Melinda Gates é absolutamente admirável, e o que mais me surpreende nisso tudo é a quantia de dinheiro (e esforço pessoal) que ele coloca na pesquisa por uma vacina contra a Malária.
A Malária é uma doença que mata milhares de pessoas no mundo todo, principalmente crianças, e ela tem uma característica que mostra o que existe de mais nojento em nosso mundo hoje: Como a Malária mata muito apenas em países que vivem na extrema pobreza, nenhuma empresa da indústria farmacêutica se interessa pela pesquisa da vacina para a doença, pois nenhum desses países tem condição de adquirir as vacinas por um preço que dê o lucro desejado às empresas.
Já faz mais de um ano que a Oracle comprou a Sun Microsystems, e acredito que este já foi o prazo mais do que suficiente para que a empresa tomasse uma decisão em relação aos projetos e tecnologias abertas que a Sun tinha e mantinha.
Até o presente momento, tudo o que podemos ver é uma grande nuvem cinza pairando sobre todos os projetos, e uma inabilidade exemplar em lidar com comunidades, o que para mim é um indício grave de que o mundo livre como conhecemos jamais será o mesmo.
Estou cansado de ouvir perguntas sobre o futuro do Java, do OpenOffice e do MySql (para me ater a apenas três dos projetos), e mais cansado ainda em tentar conversar com as pessoas com quem tenho contato na Oracle e sempre ouvir a mesma ladainha (investir mais e fazer melhor) que não se traduz em nenhuma ação concreta. Estou cansado de viver num mundo de incertezas e de boatos seguidos nesta área.
Fiquei ainda muito irritado com o recente episódio envolvendo a Oracle e o Google, não pelo processo em si (pois não sou advogado para avaliá-lo com precisão), mas pela mensagem clara que vem dele: Vamos usar nossas patentes de forma agressiva (o oposto da utilização defensiva de patentes que a Sun fazia).
A Sun possuía milhares de patentes que todos nós, usuários ou desenvolvedores de tecnologia da informação, usamos e “violamos” diariamente. Todo esse “arsenal nuclear” está nas mãos da Oracle e pelo que podemos ver, vão utilizá-lo.
Tudo isso acontece exatamente no ano em que nosso amigo Larry Ellison ganha o prêmio de CEO mais bem remunerado do mundo, chegando a posição de número 6 no ranking das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna pessoal estimada em US$ 28 bilhões.
Por tudo que conheço da Oracle, sei que as grandes decisões são ainda tomadas pelo Sr. Ellison e portanto qualquer tentativa de sensibilização de outras pessoas na organização serão inócuas.
Por este motivo, tomo a liberdade de deixar aqui o Obituário do Larry Ellison, pois quem sabe após essa leitura ele mesmo “acorde” como os demais colegas citados neste artigo.
“Morre Larry Ellison: O Pontius Pilatus da era digital
Morre Larry Ellison, Fundador da Oracle e um dos homens mais ricos do mundo, que entre inúmeras aventuras com carros esporte e iates de luxo comprou e destruiu inúmeras empresas. Conhecido como o Pontius Pilatus da era digital por ter “lavado as mãos” inúmeras vezes após a compra da Sun Microsystems, abalando as estruturas do mundo do código aberto, destruindo empresas e sonhos no mundo todo.”
Ainda dá tempo de mudar isso, mas não sei se o Sr. Ellison está realmente interessado. Quem sabe agora ele medite sobre seu Sunset a bordo de seu Rising Sun. Como costumava cantar o Kansas: “…todo o seu dinheiro não irá te comprar mais um minuto.”