Pois bem, criançada, senta que lá vem história!
Ainda que a verdadeira origem do “Dia da Mentira” esteja envolta em mistério, a teoria mais aceita nos dias de hoje refere-se a essa pequena história que vou lhes contar…
Assim, para começar a entender o que é e o porquê dessa data é necessário primeiro compreender que o calendário tal qual nós o conhecemos não foi sempre assim. Com um pouco mais de propriedade esta crônica aqui pode explicar com mais detalhes como se deu toda a transformação até os dias de hoje. Mas para este nosso conto basta saber que o calendário anterior ao atual foi o Calendário Juliano, criado no ano 45 a.C. (para os hereges que não se lembrarem: “antes de Cristo”…) e por ninguém menos que o próprio general e estadista romano Caio Júlio César – sim, aquele mesmo.
Nesse calendário (que, de tão bem feito, durou aproximadamente 1.600 anos) havia sido estabelecido que o início do ano coincidia com o Equinócio de Primavera, entre 20 e 21 de março. Assim, numa tradicionalíssima Europa medieval, onde nem mesmo o Calendário Juliano era seguido por todos, as aldeias e paróquias celebravam o Ano Novo na Festa da Anunciação, em 25 de março, com festas que incluíam trocas de presentes e animados bailes noite adentro, que duravam uma semana, terminando com a comemoração do Réveillon em 1º de abril. Ou seja, era nessa data que se dava a “virada do ano”, quando as pessoas festejavam o novo período que se iniciava.
Entretanto não era de “bom tom” à Igreja (sempre ela) que o povo continuasse vinculando alguma data comemorativa a festas pagãs. Assim, em 1582, o papa Gregório XIII instituiu através de um decreto papal um novo calendário para todo o mundo cristão – o chamado Calendário Gregoriano – no qual o Ano Novo passou a cair em 1º de janeiro. É lógico que uma mudança dessa magnitude não foi aceita de pronto por todas as nações da época. Na França, por exemplo, somente foi adotada no reinado de Carlos IX após uns dois anos, lá por 1584.
Acontece que os franceses simplesmente resistiram à mudança. Ou se confundiram. Ou ignoraram. Ou esqueceram. Ou sei lá o quê. Mas o que importa é que, à parte da obediência ao decreto papal, a população manteve a comemoração na antiga data – o que, através dos tempos, logicamente começou a causar confusão. Afinal acabavam comemorando o ano novo duas vezes – na data oficial, em primeiro de janeiro, e na data costumeira, em primeiro de abril.
Sendo um “falso” ano novo não demorou muito para que os mais gozadores começassem a levar aquilo na brincadeira, ridicularizando os tolos conservadores adeptos à comemoração na data antiga, dando-lhes também “falsos” presentes. Apelidados de “tolos de abril”, recebiam presentes estranhos, convites para festas inexistentes, para casamentos falsos e até mesmo afixavam cartazes com supostos éditos reais de conteúdo jocoso… E, simples assim, surgiu o costume de passar trotes e pregar peças nessa data. Com o passar do tempo essa galhofa espalhou-se por toda a França, de onde, após cerca de dois séculos, migrou também para a Inglaterra e dali para o resto do mundo.
Fica fácil perceber que de “Dia dos Tolos” para “Dia da Mentira” o passo foi bem pequeno…