Com muita honra e orgulho participei hoje do lançamento do segundo Almanaque Rui Dória, numa cerimônia emocionante e repleta de carinho…
Dia: 25 de novembro de 2013
Quer namorar comigo?
Outro dia, por conta de alguns conversê meio que sem pé nem cabeça, veio ao mote o seguinte assunto: “como foi que pedi minha esposa em casamento”.
Com o sorriso enviesado e a orelha direita em pé, intimamente me diverti com o tema. Levou-me de volta à adolescência – afinal de contas, ainda que muitos digam o contrário, EU também já fui adolescente… E não pude deixar de lembrar o que é gostar de uma menina e ficar ensaiando e planejando, querendo “pedi-la em namoro”…
Com os pés firmemente plantados no chão viajei para um outro tempo e lugar onde eu mesmo gostaria que houvesse alguém para me responder essa pergunta. Dos gracejos e namoricos de criança-adolescente, quando as amigas passam a ser mais que amigas; quando, sem saber explicar o porquê, queremos ficar cada momento do dia curtindo uma conversa ou mesmo um silêncio ao lado daquela menina que tanto nos faz feliz; quando a ausência é pontuada pela constante lembrança daquela que não está presente – e que gostaríamos que estivesse; quando não temos a coragem necessária para querer ir além, simplesmente pelo medo de estragar tudo que está tão bom. Platônico, sim, eu sei, mas qual adolescente já não passou por isso?
Voltando devagar ao futuro – e presente – rememoro cada uma das minhas próprias paixões adolescentes e, não sem um quê de vergonha ou frustração, lembro-me da primeira vez que gostei tanto, mas tanto, de uma menina que criei coragem suficiente e a pedi em namoro. “Não”, foi sua resposta. Naquele momento uma gigantesca bigorna gelada afundou em meu estômago e, com o solavanco, senti que meu coração simplesmente parou de bater. Sorri e, senhor de minhas emoções, disse-lhe que tudo bem (lógico, depois de insistir mais um bocadinho) e que não queria que aquilo comprometesse nossa amizade e a maneira tão gostosa com a qual nos relacionávamos, etc, etc, etc. Para meu alívio, ela concordou! Para meu desespero, ela concordou… Acho que chorei uns três dias seguidos, escondido de tudo e de todos, tendo ficado frustrado para o resto da vida. O que durou mais ou menos umas duas semanas.
Anos depois eu tive a cavalar estupidez de repetir a dose. E, pior, totalmente fora de mim, embevecido que estava. Desta vez o “não” foi veemente e a possibilidade de se manter uma amizade escorreu para o meio-fio, junto com o resto derretido de mim.
Talvez tenha sido aí que percebi.
Essa construção Hollywoodiana daquele momento esperado em que, no ápice do filme, o mocinho pede a mão da mocinha e ela, tenra e docemente diz “sim”, bem, isso praticamente não existe. Digo “praticamente” porque, ainda assim conheço uma ou outra exceção… Mas nós, meros mortais, assalariados que somos e preocupados quando muito com o dia de amanhã – pois o depois de amanhã ainda está muito longe – não me parece que tenhamos essa nota romântica ressonando de forma tão clara em nosso dia a dia, a não ser no próprio contexto do cinema e da literatura.
Não que não exista romantismo – longe disso!
Eu mesmo tendo a me considerar um romântico… Sei que parece uma afirmação até um tanto quanto pretensiosa, mas é verdade!
Entretanto aprendi que a vida não necessariamente é romântica, como nas grandes estórias de amor. Explico. Se você está com a pessoa amada, ainda que nunca tenha se declarado, e a situação é propícia, e as estrelas estão alinhadas, e os deuses os favorecem, e seu olhar diz que sim, e seus lábios sorriem, convidativos, então o momento É esse e a hora É agora. Meras palavras e pedidos não serão capazes de expressar a ebulição de dois corpos que se desejam e que querem e precisam se tocar, se conhecer e se completar.
O coração vai acelerar, uma tontura vai se apoderar de ambos e, com sofreguidão, se conhecerão milímetro por milímetro, rosto com rosto, boca com boca, sorriso dentro de sorriso… E, ao se separarem, irão se encarar olhos nos olhos, sorrisos nos lábios, com um ou dois rápidos beijos como que para se certificar que tudo aquilo realmente está acontecendo. E vão se abraçar, terna e carinhosamente, sentindo o calor e a pulsação um do outro. E então terão a mais absoluta certeza: os filmes mentem, pois na vida real palavras são desnecessárias. É certo que o cavalheirismo ainda é necessário e indispensável, mas é humanamente impossível tentar buscar a formalidade para com aquilo que foi criado para ser informal.
Ou seja, sempre haverão situações propícias, surgidas ou planejadas, mas momentos – ah, os momentos! – estes são únicos!
E torço sinceramente para que você, que lê este texto, não seja nem ao menos a metade do romântico que já fui. Pois, francamente, apaixonar-se não é fácil e muito menos indolor. Mas, por outro lado, ser assim e ser correspondido é de um êxtase tal que se torna completamente impossível de descrever!
Pura felicidade em estado sólido.
E assim, com essa breve digressão, finalmente voltamos ao mote principal, que ensejou este texto…