Tem caroço nesse angu…

Antes de mais nada, permitam-me explicar uma coisa: o angu, aquele anguzão crássico messs, é simprão de tudo. Água, fubá, cozinha, tá pronto. Pode até mudar o ponto, pra mais cremoso ou pra mais firminho, mas angu é só isso aí. Sem tirar nem por. Nem mesmo uma manteiguinha ou um salzinho pra dar tempero.

Não confundam com polenta, que, na minha opinião, nada mais é que o “angu chique”. Pois essa prima rica do angu pode ser feita com fubá, com farinha de milho mais grossa, flocão, farinha de aveia e até mesmo farinha de trigo. Invariavelmente cremosa, costuma ainda vir com um molho por cima à base de carne moída, tomate refogado, o escambau. Os cozinheiros de plantão poderão lhes indicar as mais distintas variedades de molhos e temperos para o deleite de seus paladares.

Angu e Polenta: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Certo?

Então.

Meu pai, como bom e legítimo mineiro, nunca abriu mão – ao menos em casa – de um prato de angu para acompanhar as refeições. Sim, tínhamos feijão, arroz, a mistura e, sempre, o angu. Minha mãe cozinhava o suficiente para virar aquela massa pura de água e fubá num prato, esperar um bocadinho para esfriar e ganhar a consistência mais ou menos de uma pamonha, para cortar com colher e se servir, deixando o resto intacto. Ele podia comer aos pedaços ou amassar com o garfo junto com feijão ou, ainda, ir misturando aos pouquinhos. Diferente de meu irmão do meio, que sempre se servia e, uma vez o prato feito, só faltava bater no liquidificador, de tanto que misturava tudo, amassava, remexia e mexia de novo, para que a comida toda ficasse com uma só aparência.

De minha parte nunca gostei desse coiso assim não. Nem o angu, nem de misturar tudo numa só levada. Afinal de contas, cada qual com seu cada seu.

Isso tudo só pra contar dois causos procês.

Esse mesmo irmão, tempos depois de separado e já se engraçando com uma nova moçoila – que mais tarde viria a trocar seu Castelo Branco pelo Solar dos Andrade –, foi jantar com ela. Comidinha caseira, ela mesma iria fazer, perguntou o que ele gostaria de ter à mesa.

– Ah, amor, sabe de uma coisa? O que eu gosto bastante e faz tempo que não como, pois nunca encontro isso em restaurante, é angu. Pode ser?

Ela não teve dúvidas. Disse que claro que sim, pode ficar aí sentadinho, que vou preparar tudo e já, já a gente vai comer uma comidinha bem gostosa. Dito isso, foi pra cozinha e com esmero e carinho preparou o almoço e mais aquela iguaria que meu irmão tanto queria.

Pratos prontos, serviu a mesa, com satisfação e encanto, apenas aguardando uma já esperada aprovação.

Mesa servida, ele dá aquela fiscalizada e, de rompante solta: “Quié isso?”

– Ué, amor, o que você pediu. Seu angu. Fiz bem cremosinho e temperadinho e com um molho que ficou simplesmente divino!

Resignado, engolindo um longo suspiro, se serviu. Na primeira bocada já soltou.

– O que minha mãe faz é diferente…

Deixo para a fértil imaginação de vocês como deve ter se dado o proseio a seguir. Mas já lhes adianto que o relacionamento miraculosamente sobreviveu a esse entrevero e até hoje os dois vão muito bem, obrigado. Eu acho. Ao menos, desde que não se tenha angu à mesa…

Esse foi um, mas, pasmem, teve outro!

Situação parecida, este velho causídico que vos tecla, tempos depois de separado e já se engraçando com uma nova moçoila – que mais tarde viria a compartilhar seu clássico Miura com um não tão clássico Andrade –, levou-a para almoçar em casa. Na realidade, na casa de minha mãe, pois recém separado e durango à toda prova, eu mesmo não tinha muito lá o que oferecer…

E eis que essa preciosa japinha se põe a ajudá-la a arrumar a mesa para servir o almoço. Se desvencilha da cachorrinha – a saudosa Brisa, sempre a nossos pés – e, enquanto conversa, coloca as esteirinhas, põe os pratos, os talheres e vai ajudando no que pode. De repente dá de cara com aquele prato de angu esfriando sobre a pia e não tem dúvidas: coloca-o no chão, perto da porta. Minha mãe:

– Menina! O que é que você está fazendo?

– Ué? Pondo no chão. Ou a senhora quer que ponha lá fora?

– Não, não, não!!! Isso é o angu do Bento!

– Sério? Lá na roça isso sempre foi comida pros cachorros…

Minha mãe, sem disfarçar um longo suspiro, resgata a “iguaria canina” e a devolve à mesa, antes que meu pai tivesse sequer percebido o que aconteceu.

Para quem me conhece, não é preciso nenhuma fértil imaginação para já saber que tive que sair da cozinha às gargalhadas enquanto deixava as duas pra trás para que se entendessem. Mas, passada a saia justa, não levou nem duas semanas para que ela voltasse a falar comigo…

Conclusão?

Vocês, moçoilas – pêlamôr! – tratem de conhecer melhor seus novos namorados para evitarem situações constrangedoras como essas. Pois, no fundo, no fundo, nós só temos a perder. E quando me refiro a “nós”, estou falando dessa ignara casta masculina que acha que todo mundo NO MUNDO já deve de antemão saber de cor e salteado o que se passa nestas nossas frágeis cabecinhas apaixonadas…

Enfim, só sei que foi assim !

😁

Bodas de Opala

Bem, mais uma vez vou esclarecer: o termo “bodas” vem do latim. Significa promessa – no caso, os votos matrimoniais, feitos no dia do casamento. Assim, a cada ano que passa, comemoramos o aniversário de bodas, o aniversário daquela promessa feita um para o outro. Em sua origem comemorava-se apenas a de Prata (25 anos) e a de Ouro (50 anos), mas com o tempo foram surgindo outras simbologias para os demais anos.

E cá chegamos nós aos 24 anos de casado – e sem gracinhas, aí no fundo, que eu tô ouvindo… O vigésimo quarto ano de casado é simbolizado pela pedra preciosa Opala. Não há uma cor definida para essas bodas, pois essa pedra possui uma grande variação de cores, parecendo um verdadeiro arco-íris. Ela é constituída de um material muito resistente, que para chegar até essa condição passa por diversas fases, da mesma forma que acontece em um casamento que dura tantos anos. Afinal, não é nada fácil permanecer por mais de duas décadas com alguém do seu lado, mantendo o sentimento forte o bastante para continuarem na caminhada juntos!

Mas, particularmente, ainda prefiro a definição de Ailin Aleixo, na orelha do livro Balde de Gelo, de Daniela Macedo & Marco Aurélio: “A vida a dois não é complicada. Complicado é sambar em descida. A vida a dois é um milagre, isso sim. Só vivendo pra entender o que é aguentar maus humores, parentes, cachorro pentelho, ciúmes, amigos intrometidos. Mas também é só vivendo que se compreende a delícia de chegar em casa depois de um dia corno e encontrar quem se ama, receber cafuné assistindo filme, soltar pum sem precisar pedir desculpa. E (…) todos esses ingredientes misturados com graça, leveza e humor – atributos indispensáveis para a sobrevivência de qualquer relação. E de qualquer um.”

Já contei a minha história com a nossa querida, amada, idolatrada, salve, salve Dona Patroa (com direito a muitas fotos) por mais de uma vez aqui neste nosso cantinho virtual, em especial nos textos “Bodas de Marfim”, “Bodas de Louça” e “Bodas de Palha” – é só dar uma fuçada básica no blog e pronto!

Mas sempre me divirto ao recordar da seguinte passagem, lá dos idos do dia 12/12/1998, nas dependências do restaurante rural Coelho e Cabrito, quando formalizamos nossa união perante os homens e perante Deus. Aliás, logo após a cerimônia civil e sem que tivesse chegado o pastor que faria um culto ecumênico (pois ele se perdeu no caminho lá no meidumatu…), chamamos todos os convidados para que se sentassem e começassem a se servir. Então, quando todos já estavam acomodados, eis que o pastor chegou. Pediu desculpas aos presentes e falou suas palavras. O que rendeu o inesquecível comentário do Luisinho, nosso padrinho:

“O melhor casamento que eu já fui foi o da Mieko e do Adauto. Enquanto o padre falava a gente estava lá, sentadão, com o copo de cerveja na mão!”

E para não perder a oportunidade, pois sei que quem me conhece já deve estar esperando a “piada pronta”, NÃO, as Bodas de Opala do nosso casamento não tem nada a ver com o MEU Opala, mais conhecido como Titanic – a Lenda. Até porque, entre nós, estamos apenas nas Bodas de Cristal… 😉

Bodas de Palha

Vinte e três anos de casado: Bodas de Palha!

 

 

Mas por que “palha”? Ora, a palha, através dos séculos, em suas mais diversas acepções, sempre teve inúmeras utilidades. Já serviu de forragem nos estábulos para manter os animais aquecidos, se misturada no barro serve para construção de tijolos e paredes bem como para a cobertura de ranchos – principalmente na roça (as casinhas de sapê), é sempre útil para a confecção dos mais variados tipos de artesanato e até mesmo pode ser utilizada como combustível, já que é facilmente inflamável.

Ou seja, é um material tão versátil quanto resistente – que, para chegar na condição ideal de utilização, passa por várias fases, assim como acontece com um casamento que permanece por tantos anos. Por isso serve para representar o amadurecimento de um casal, pois mesmo após vinte e três anos juntos continuam unidos na caminhada.

E com todas nossas idas e vindas (já contei um pouco de nossa história no ano passado, quando de nossas Bodas de Louça), apesar de todos os percalços que já encontramos pelo caminho – e não foram poucos – ainda estamos aqui!

E que venham as próximas bodas se a Dona Patroa conseguir continuar me aturando – quiçá ainda muitas!

Plantinhas

Como eu já havia comentado antes, A Dona Patroa se tornou uma viciada em suculentas! E não, não é nada dessa besteira que você pensou aí, não! É que no ano passado ela resolveu que iria presentear a cada uma das mães lá da Igreja Holiness com um vasinho de suculenta e então, desde dezembro, começou a cultivá-las. Apenas algumas dezenas já seriam o suficiente. Mas veio a pandemia, o isolamento, o Dia das Mães chegou e passou e as suculentas continuaram aqui em casa. Inclusive se multiplicando. E ela se encantou com sua variedade. E ela arranjou mais suculentas – “Ah, desse tipo eu ainda não tenho!” – e o negócio foi se aumentando cada vez mais. E eis que na última contagem que fiz ali na varanda (já há alguns meses) tínhamos nada menos que 166 vasinhos de suculentas! É ou não é um vício?

E eis que descobri que o Fábio Coala, um excelente cartunista/chargista/desenhista/artista (ou seja lá como queira ser chamado) tem o mesmo tipo de “problema” em casa, pois a Senhora Coala também é uma amante de plantinhas, mudinhas e outros quetais, o que rendeu – até o momento – uma série bem divertida do que é o dia a dia com essas adoráveis criaturas que têm o “dedo verde”…

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Twitescas

Sabe? Eu demorei pra entender. Mas nós, meninos, somos assim mesmo: devagar. Esse seu jeitinho de olhar com o rabo dos olhos, essa sua risada escancarada, essa compreensão quando das minhas bobagens, esse seu jeito de ser É VOCÊ! Te amo Mieko. Foi difícil entender o tão óbvio….

Bodas de Louça

Bodas de Louça. Vigésimo segundo ano de comemoração matrimonial. 22 anos de casados. E qual é o porquê da louça? É que com a louça, apesar de sua fragilidade, é possível fabricar vasilhames que tanto podem acomodar líquidos como sólidos, recebendo e amoldando as situações da vida em conformidade com o formato do próprio casal, demonstrando que já suportou e suporta muitas coisas juntos, mas com a ciência da necessidade de continuar cuidando da integridade da relação.

Nos conhecemos quando estudávamos na Faculdade de Direito. Ela já havia começado o curso, trancou a matrícula, foi para o Japão – onde trabalhou por quatro anos – e voltou no ponto onde havia parado, no terceiro ano, em 1994. E eu já estava por lá, seguindo normalmente os estudos…

Primeiro contato…

Apesar de nosso primeiro contato não ter sido promissor (pois ela me deu uma reprimenda porque eu nunca sabia se chamava ela de Elaine, Eliane ou Eliana…), e mesmo ela estando noiva e eu sendo casado, acabamos nos tornando bons amigos e como é comum em todo e qualquer curso de Direito volta e meia saíamos em turma para aproveitar os barzinhos da cidade.

Se não me falha a memória, lá no saudoso “O Caipira”…

Nessa época, para me sustentar, eu montava e vendia microcomputadores (bons tempos dos 386 DX 40 e o começo dos 486!) e acabei lhe vendendo e instalando seu primeiro computador. No último ano de faculdade, em 1996, ela já fazia estágio no departamento jurídico da Prefeitura e graças aos meus “conhecimentos técnicos” ela me indicou para uma entrevista e eu também passei fazer estágio na área jurídica enquanto, paralelamente, ajudava todo aquele pessoal a desvendar os segredos daquele novo ambiente gráfico que eles não tinham nem ideia de como funcionava: o Windows 3.11.

E também foi nesse ano que cada qual encerrou de vez com sua vida conjugal. Eu saí de um casamento de cerca de dez anos e ela saiu de um noivado de cerca de quatro anos. E naquele final de anos, ainda que sozinhos mas meio que juntos, esse fato veio a dar um novo sabor às últimas festas de formatura…

Acho que esse foi o último churrasco que fizemos – e olha o bonitão (o único sem camisa) sentadinho bem ali no meio!

Aliás, já que estávamos naquela “situação”, por que não nos acompanharmos um ao outro na própria formatura? Foi o que fizemos!

Eu, todo na estica e com pelo menos uma arroba a menos do que nos dias de hoje.
Já ela não mudou nadinha!

E foi dessa maneira, naturalmente, em decorrência de uma convergência de inúmeros fatores inesperados, que começamos nosso relacionamento. Que ainda assim ela tentou encerrar – mas quem me conhece sabe como eu posso ser persuasivo. Ou melhor, teimoso e turrão!

Bem que ela tentou…

E uma vez formados atravessamos o ano de 1997 trabalhando juntos no escritório de advocacia de nossos amigos, sendo que passávamos praticamente o tempo todo um com o outro, volta e meia visitávamos a irmã dela no litoral e normalmente eu também estava lá pelas bandas da casa dela…

Eu, na minha versão “Renato Russo”.

Abre o olho, Japonesa!
Fecha o olho, Gaijin!

Mieko sendo bonitinha como só ela sabe ser…

Mas não teve jeito. Estávamos fadados ao sucesso! E foi assim que no dia 12/12/1998, nas dependências do restaurante rural Coelho e Cabrito, que formalizamos nossa união perante os homens e perante Deus. Aliás, logo após a cerimônia civil e sem que tivesse chegado o pastor que faria um culto ecumênico (pois ele se perdeu no caminho), chamamos todos os convidados para que se sentassem e começassem a se servir. Então, quando todos já estavam acomodados, eis que o pastor chegou. Pediu desculpas aos presentes e falou suas palavras. O que rendeu o inesquecível comentário do Luisinho, nosso padrinho:

“O melhor casamento que eu já fui foi o da Mieko e do Adauto. Enquanto o padre falava a gente estava lá, sentadão, com o copo de cerveja na mão!”

Atrasado, mas em tempo!

Segundo uma senhorinha, mãe de um amigo meu, ao ver essa foto:
“A perfeita união da Máfia Italiana com a Yakuza Japonesa!”

E, dali, partimos para nossa Lua de Mel em Porto Seguro, uma viagem que foi o presente dos nossos amigos do escritório – apesar de a Mieko já conhecer o lugar, ainda assim fomos curtir e aprontar a dois naquelas distantes plagas da Bahia…

Mieko pedindo informação.

Adauto discordando.

E desde então a gente vem levando nossa vidinha… Ambos cometendo erros e acertos, alguns maiores e outros menores (fora os gigantescos), mas ainda assim vamos levando. Apesar de sempre lembrarmos da data de nosso aniversário de casamento, na realidade raramente “comemoramos”, então as fotos a seguir representam apenas um pequeno apanhado acerca do que estava acontecendo conosco no dia ou num dia bem próximo dessa data.

1999: eu e Kevin no apartamento do Jardim América.

2002: eu, Kevin e Erik na comemoração de final de ano da escolinha.

2003: churrasco na Prefeitura de Jacareí, Erik no colo, Kevin brincando com a Mieko e Jean na barriga.

2004: Erik e eu limpando a massa de bolo crua da tigela – que, segundo a Mieko, “faz mal”…

2005: Jean “seguindo meus passos”…

2007: sim, nesse ano comemoramos “formalmente” nosso aniversário de casamento.

2012: sim, nesse ano também.

2013: foi no mesmo dia da formatura do Kevin.

2016: bem próximo da formatura do Erik.

2017: em casa com Hideki, Júlio, Júlia, Elaine, Mieko e eu.

2018: também foi próximo do dia da formatura do Jean…

… mas foi no exato dia que o Titanic voltou às ruas!

E é isso. Bodas de Louça. Continuamos sempre procurando nos adequar às novas situações que a vida nos brinda – ainda mais nessa época maluca de pandemia e desvario presidencial – mas também não descuidando da fragilidade que é a manutenção de um casamento já tão longevo. O tempo vai passando, as crianças vão crescendo e, enquanto casal, temos nos descoberto cada vez mais parceiros no nosso dia a dia – apesar dos eventuais dedos em riste de ambos os lados, mas isso faz parte… O que importa é manter a família unida!