E então lá estava ela…
Guerreira, aguerrida, vivida, sem jamais entregar os pontos, sempre à procura daquele amor ideal que lhe preenchesse o coração mais que a dança que tanto amava, velando por seu filhote que ardia em febre.
Já não era o primeiro dia – ou melhor, a primeira noite – que mal dormia enquanto o monitorava. O dia seria longo. Como foi o anterior. Ainda mais com o chefe carrasco e exigente que tinha! Ainda bem que os demais colegas – ou melhor, amigos – eram tão mais parceiros e compreensivos!
Ouviu o petiz resmungar enquanto esperava o termômetro cumprir sua função. Com a mão espalmada em sua testa viu que a febre, teimosa, teimava em não ceder. Não precisava de nenhum instrumento para medir o que seu sempre fiel instinto materno já sabia. Por que mesmo ela ainda não havia comprado um termômetro digital? Muito mais rápido e eficaz! Mas ela mesma sabia o quanto gostava de ser feliz longe das modernices que todo mundo entendia ser indispensável…
Enquanto contava as gotas do remédio – que, como sempre, sob protestos iria empurrar goela abaixo de seu anjinho que continuava dormindo – pensava em todas as vezes anteriores que já havia passado por aquela situação… Mas, ela bem o sabia, fazia parte! Ser mãe é assim mesmo. Sua própria mãe jamais permitiu que ela aprendesse o que era esmorecer, o que era desistir, e não seria aquela simples febre que iria lhe abater o ânimo! Fechou os olhos, inspirou fundo e sentiu bons fluidos fluírem por seu corpo e por sua alma. Parou por um momento. Também já havia passado por aquela situação… Em seu íntimo fez uma oração e agradeceu a quem tinha que agradecer… Suas forças se renovaram. Já passava das quatro da manhã e ela, resoluta, dirigiu-se ao quarto do garoto para ministrar-lhe a dosagem certa do remédio certo. Sob protestos, como sempre.
Pouquíssimo tempo depois, um sorriso fugidio começou a despontar e iluminar sua face enquanto fazia um terno cafuné na cabeça de sua criança, em seu colo: a febre já estava começando a ceder… Foi quando, sem aviso, ouviu um terrível barulho! Seu coração, num solavanco, quase parou! Sentiu o sangue esvair de sua face e de seu próprio coração de mãe. Congelada, perplexa, sem que pudesse fazer absolutamente nada, apenas assistiu seu filho levantar-se e, trôpego, dirigir-se ao banheiro enquanto ao fundo o despertador ainda tocava.
Quatro e meia da manhã.
Hora de ele ir para o quartel…