Qual parte… você não entendeu?

E eis que nosso anti-herói de plantão, mestre em desventuras como ele só, estava em sua lambreta Honda Biz, levando seu filhote de tenros 7 anos na parte da frente e carregando nos braços algumas famosas sacolinhas de compras.

O menino ali, feliz da vida, com uma mão em cada manopla junto com o papai.

E eis que as sacolinhas começaram a escorregar…

Vira daqui, pára dali, conseguiu arranjar um cantinho para estacionar.

Para melhor entender o que veio a seguir é importante explicar que essa lambreta moto possui somente acelerador, com mudanças de marcha automática – ou seja, sem embreagem. Algo como as antigas Mobylettes: basta acelerar que anda. E essa foi a frase dita ao filhote:

– Filho, o papai vai arrumar as sacolinhas aqui, tá bom? Não é para acelerar, tá bom?

– Tá.

E – é tanto lógico quanto óbvio – o que é que o pequeno petiz fez?

Isso mesmo.

Acelerou!

Rabeia daqui, rabeia dali, equilibra, desequilibra, freia de um jeito ou de outro e parou.

FILHO! Pôxa! O papai não falou que não era para fazer isso? Qual foi a parte do “não é para acelerar” que você não entendeu?

E ele, lambeta:

– O não

Trabalhando

Depois de um feriado prolongado, uma volta ao trabalho intercalada com um dia de molho por causa da garganta, eis que hoje – após as tão cobradas visitas ao médico – por volta da hora do almoço estava eu me preparando para sair.

De repente ouço uma bela duma algazarra no fundo de casa.

E não é que estava toda a criançada lá, sem aula, de sunga, brincando de guerra d’água no gramado com a mangueira?

Bateu uma baita duma vontade de ficar em casa…

What?

Esse negócio de “mundo globalizado” já tá começando a ficar meio que complicado…

Como se não bastasse a criançada agora, desde a mais tenra idade, já começar a aprender inglês na escola – pô, eu fui ter meus primeiros passos de inglês lá pela quinta série, com o malfadado Book One, bem no estilo “what is this? / this is a pencil / what is that? / that is a book / the book is on the table” e por aí afora.

E, além disso, onde outrora reinava o francês (ainda no tempo de meus irmãos mais velhos), temos também o espanhol, que cada vez mais foi ganhando seu espaço e garantindo sua presença nas salas de aula. O mais próximo que chego dessa língua é o famoso “uno pão com mortaduela e una cueca-cuela”

Ou seja, NADA.

Pois bem, agora a Dona Patroa entendeu que a criançada de casa, a famosíssima Tropinha de Elite, deve ter seu nível elevado a Pequenos Ninjas ou Mini Samurais ou Changeboys ou seja lá o raio que for.

Começou a ensinar japonês para eles.

Tudo bem que eu concordo em gênero, número e grau com essa decisão – afinal é uma herança cultural que eles têm todo o direito de possuir e quanto antes puderem aprender, melhor.

Mas nessa brincadeira quem ficou solitário perante os filhotes foi este velho lobo que vos escreve.

É um tal de onegaishimassu daqui, tadaimá dali, shirimassen numa geral, que, não demora muito, creio que não vou conseguir prosear nem mesmo com o caçulinha de cinco anos, ou seja, vou acabar ficando totalmente como um kitigai nessa história (ha!)…

Definitivamente.

O termo ultrapassado obsoleto acabou de ser elevado a um novo patamar…

High low tech?

Curioso como a criançada se acostuma tanto com determinadas “facilidades” que já acham que aquilo faz parte do dia-a-dia…

É que, transantontem, eu e toda a tropinha fomos até o shopping para uma merecida sessão cinema. Tá, na verdade eles foram junto com a Dona Patroa assistir o filme Uma noite no museu II (acho que é esse o nome) – o qual minha criançada adorou não só pelo filme em si mas como também em função de algumas referências ao Star Wars (bando de nerdzinhos…).

E eu?

Bem, eu fui para outra sala assistir Star Trek! 😀

E só não levei a patotinha junto para já ir doutrinando porque na única sala em exibição o filme era legendado…

Mas não é esse o ponto.

O ponto é que, pouco antes de adentrarmos nos recintos, fui com a tropinha para o banheiro (ter que sair no meio do filme – e sem pause – é um horror!). E então meu caçulinha, do alto de seus cinco anos, queria lavar as mãos. Parou em frente da torneira e esticou as mãozinhas. Nada. Agitou as mãos em frente da torneira. Nada. Apertou, de cima pra baixo, a dita torneira. Nada. Daí, finalmente, ele girou a torneira. Ah… Então veio a água!…

Ou seja, sem sensores, sem molas de controle, nem nada nesse sentido. Apenas uma boa e velha torneira tradicional.

Não pude deixar de lembrar uma cena em De volta para o futuro II, onde dois garotos menosprezam uma máquina de jogos porque só funcionava com as mãos. E, ainda, em Star Trek IV, quando, tendo voltado ao passado, o chefe de engenharia Scott tenta falar com um computador usando o mouse como microfone – ao descobrir que deveria utilizar o teclado disse algo como “Oh! Que original!”

Dúvida cruel

Sim, eu sei que o pó está acumulando pelos cantos aqui do blog e o pergaminho aí do fundo está até amarelando. Mas tô trabalhando paca, fazer o quê?…

Mas para que não passemos mais de uma semana totalmente em branco, convém contar um pequeno causo desta semana.

É que meu caçula, o Jean, com quase cinco anos, agora também passou a ter “tarefinhas” da escola. Na realidade algumas atividades lúdicas somente para contextualizar o caboclinho que também existem deveres na vida. Coisas como pintar uma casa, desenhar um gato, fazer as letrinhas do nome, etc.

Devidamente de banho tomado, a Dona Patroa disse-lhe:

– Muito bem. Agora vai lá pra sala com o seu irmão e faça sua tarefinha, tá bom?

– Tá.

Detalhe: quem já estava na sala era o segundo-dos-três, Erik, de sete anos, também cuidando de seus deveres.

E eis que, de longe, foi possível ouvir o seguinte diálogo:

– Oi, Jean. Arruma suas coisinhas aí, tá?

– Tá bom.

– Ah, e se você tiver alguma dúvida me avisa que eu ajudo, tá bom?

– Tá bom. Brigádu.

(Pequena pausa…)

– Erik?

– Oi, Jean?

– Quiquié “dúvida”?…

Filosofia aplicada

Eu não sei o porquê de eu ainda insistir…

Estou fadado a perder toda e qualquer discussão filosófica que vier a ter com meu filhote caçula, o Jean, de apenas quatro anos de idade.

Na prática já nem me lembro direito o que foi que deu origem à “conversa”. Creio que foi algo como eu e a Dona Patroa cogitarmos uma saída para nos divertir. Contudo, orbitando por ali e levado a colocar seu peculiar ponto de vista sobre a questão, eis com o que o petiz me saiu:

– Mas vocês não podem fazer isso! Adultostrabalham e ficam conversando e falam com os filhos. Já as crianças podem fazer o que quiserem. E eu tenho razão.

Alguém poderia, por favor, contestar essa teoria?

Eu não consegui.