Os óculos do Papa Francisco e o Auxílio Moradia do Poder Judiciário: Privilégios e República

Fernando Neisser

Recentemente o Papa Francisco fez algo prosaico: foi às ruas comprar um par de óculos. Ao menos para mim ou você; não para um Papa, cargo historicamente cercado de uma liturgia quase impenetrável. Faço a ele um elogio; mas antes me permito explicar porque não o faço em razão de suas posturas estritamente políticas ou teológicas.

Não sou católico, nem mesmo religioso. Assim, se digo que concordo com suas manifestações costumeiras de tolerância com os desgraçados e perseguidos de sempre, é preciso ter honestidade intelectual: não tenho como afirmar que seus posicionamentos estejam certos ou errados de acordo com o credo da religião que lidera.

Daí porque não me sinto minimamente habilitado a dizer se é um bom ou mau Papa, sob o ponto de vista da Igreja. Posso, por outro lado, avaliá-lo na condição de líder mundial e, até mesmo, de Chefe de Estado, como político que é. E nesta chave seu exemplo é brilhante.

A ida à ótica foi só mais uma mostra da simplicidade que impõe ao exercício de seu múnus. Abriu mão dos suntuosos aposentos papais em troca de viver em um dois-quartos no Domus Sanctae Marthae, ali ao lado. Seu veículo é um Ford Focus… comprado usado.

Esta humildade pública, ao menos a mim, parece sincera; mas pouco importa. Ao menos quando não está em julgamento sua crença – para o que importariam os motivos -, mas seu exemplo político – no qual apenas a ação externa interessa.

Tal forma de exercício do poder não é exclusiva do atual Papa. Há tempos sabemos que parlamentares suecos moram em pequenos apartamentos, lavam suas próprias roupas e vão trabalhar de bicicleta. Tradicionalmente o Primeiro Ministro inglês usa o metrô e, outra semana, foi fotografado em viagem oficial à Espanha na classe econômica.

Rigorosamente o oposto do que vemos no Brasil e, em geral, nos países com altos índices de corrupção e desigualdade.

Aqui, cada oportunidade de uso de um privilégio é não apenas aproveitada como estendida quase ao infinito. Carros oficiais são trocados periodicamente. Auxílios de toda sorte – alimentação, moradia, paletó, creche, etc. etc. etc. ad nauseam – são distribuídos, como se remunerações que representam vinte a trinta vezes o salário mínimo não fossem suficientes para custear tais despesas. Sempre que possível a viagem se dá em classe executiva, com acompanhante e em hotéis de primeira linha.

E a prática não se restringe ao que entendemos tradicionalmente por políticos. Juízes, membros do Ministério Público, altos servidores, ministros, secretários… Todos que podem o fazem.

Agem ilegalmente? Não. Assenhorados da feitura das normas, fazem-nas de modo a tornar lícitos seus privilégios.

Agem legitimamente, contribuindo para uma sociedade melhor? Igualmente não.

O problema não é apenas o péssimo exemplo, que torna cada vez mais odiados pela população em geral os detentores do poder.

O pior é que desde logo os cidadãos percebem que ocupar cargos públicos significa dispor de benefícios inacessíveis aos demais. Atrai-se com isso, no longo prazo, exatamente o tipo de gente que só tem como norte na vida a busca por esta forma de ascensão na escala social: desigual, quase aristocrática, nada republicana. Tem-se um círculo vicioso.

Este tipo de ambição, ínsita a boa parte das pessoas, tem lugar próprio em uma sociedade capitalista: a iniciativa privada. É lá que devem se digladiar os que almejam alugar uma Ferrari em suas férias na Costa Amalfitana, produzindo, neste meio tempo, bens e serviços para a coletividade.

Ao menos era para ser assim. Nosso Estado, vejam só, compete com o mercado e o faz em condições desiguais: a muitos dá estabilidade, aposentadoria integral e pouca cobrança de produtividade. Aí é duro desenvolver um setor privado competitivo.

Assim, qualquer mudança de longo prazo no Brasil, que tenha por objetivo construir uma República onde ainda grassa um arremedo patrimonialista, deve necessariamente superar este problema. E deve fazê-lo rapidamente, de forma sucinta e radical.

P.S. 1: Não generalizo o aproveitamento dos privilégios, falo aqui de forma genérica. Tenho muitos amigos que trabalham em governos, parlamentos, no Judiciário ou no Ministério Público e que não apenas abrem mão, como criticam tais despautérios.

P.S. 2: É preciso deixar claro que não defendo de modo algum a onda de falso moralismo que vem assolando algumas cidades pelo Brasil, clamando para que os salários de vereadores sejam zerados ou tornados irrisórios. Há que se tomar cuidado para evitar que somente os ricos possam fazer política. A remuneração deve ser digna, de modo a permitir a dedicação integral ao serviço público. Ao parlamentar, membro do Executivo ou do Judiciário. Mas nunca faustosa, exagerada, carregada de penduricalhos, como se vê.

O verdadeiro inimigo

Estamos de mal. Desde as eleições. Já brigamos pelo face, soltamos farpas uns contra os outros, deletamos os chatos online, colocamos claramente nossas posições, fomos pra rua em lados opostos, xingamos os políticos de ambos os lados, batemos panelas, tocamos corneta, assistimos o noticiário , ouvimos as rádios e continuamos nas trincheiras.

Eu fico me perguntando, a quem interessa essa situação? Quem está ganhando com isso? Os especuladores do mercado financeiro, com certeza! Cada notícia vende jornais, sites , propaganda! Cada negociação para retomar o controle, a tal governabilidade implica em mais verbas , cargos, dinheiro desperdiçado.

Temos um presidente do congresso implicado na Lava Jato com denúncia de recebimento de 5 milhões de dólares. Temos um presidente do senado já denunciado no supremo pelo esquema Mendes Júnior. Uma lista de 53 congressistas implicados na Lava Jato.

Temos a própria Lava jato, vazando informações que interessam somente a um lado.

Todos nós sabemos diferenciar o certo do errado. Nas nossas atitudes, com nossos filhos, amigos e parentes. Eu deixo um desafio aos amigos, responder a pergunta, a quem interessa tudo isso? Quem ganha com esta situação?

Devemos denunciar as ratazanas que se escondem por trás de ambições pessoais ou ressentimentos por derrotas. Devemos ter consciência de nossas próprias mazelas e não nos deixar iludir por magia, que basta eliminar o alvo que o país estará sanado. Devemos aproveitar esta oportunidade de crise para discutir de verdade as grandes questões, porem sem ódio ou preconceito.

Esta crise está sendo criada por nós, pela nossa descrença em tudo, pelo ódio, por interesses políticos, pessoais e financeiros.

A grande pergunta que temos que fazer é para quem estamos entregando este país com esta atitude. E quanto tempo isso vai levar? A cada dia de crise política, são pessoas perdendo os empregos, o país paralisado, a economia idem.

Eu vou trabalhar. Cuidar de meu emprego, da minha cidade, da minha familia e dos meus amigos. Sou um otimista e batalhador por natureza, assim como tenho certeza que o povo brasileiro é . Espero que as pessoas voltem a realidade e enxerguem que não é um governo que dirige suas atitudes (pelo menos numa democracia, que alguns querem que acabe) e sim elas mesmas. O governo é efemero, dura quatro anos ou oito. Sou engenheiro, acredito na crueza dos números e eles me dizem que os números apresentados mostram que tivemos melhoras nos últimos 24 anos, algumas mais acentuadas outras nem tanto.

As pessoas sensatas, com opinião própria, sabem que temos que avançar pelos meios legais, sem soluções mágicas ou golpistas.

O governo já admitiu os erros do passado, a justiça está fazendo o seu papel, as instituições existem, vamos trabalhar e deixar birrinhas infantis de lado e pensarmos como adultos e cuidar de nossas vidas e de nosso país!

Eleições existem a cada dois anos, para podermos nos manifestar sobre qual governo queremos , não existe ainda no país uma outra forma, perdemos a oportunidade ( e no momento histórico, ainda não estavamos preparados para ele ) de implantarmos o parlamentarismo, que talvez resolvesse esta crise.

Temos que acreditar nas boas intenções dos poucos que restaram , Que tenham força para levar este país para frente. Devemos dar um voto de confiança neste governo, já que o elegemos, mesmo não tendo votado nele.

Derrubamos uma ditadura. Derrubamos um presidente inventado pela mídia. Esta presidenta não é uma ditadora, ela foi uma guerrilheira contra a mesma. Esta presidenta não foi inventada pela mídia , ela apanha da mesma todo o santo dia, desde o início deste mandato. Esta presidenta não interfere na ação da polícia e da justiça, nunca houve tantas condenações, prisões de todas as classes sociais em nenhum governo anterior, somente nas ditaduras, onde as pessoas eram presas pelo seu pensamento, não por desvio de verbas do governo.

Eu me lembro da música Geni do Chico. O ódio é irracional. Insuflado leva aos genocídios, a guerra, a história tem milhares de exemplos. Eu não odeio ninguem. Não combina com um cristão. Não combina comigo, com o homem que eu sou.

Eu não odeio a Dilma, o Lula, O PT, o Fernando Henrique, O Serra, o Aécio, o Eduardo Cunha, O PSDB, O Renan. Acho que eles são personagens de um drama, protagonistas sobre o palco que todos nós assistimos, seguindo textos e colocando um “caco” aqui outro lá. Quem me preocupa de verdade, são os autores da peça, que nos deram 30 anos de esperança de um país melhor, e agora decidiram que é a hora de voltarmos para trás. Vamos tirar a cortina de fumaça de nossos olhos e enxergar quem é o verdadeiro inimigo. Quem não tem compaixão. Quem não tem solidariedade. Quem não tem honra. Quem não é honesto. Quem é aproveitador. Quem pensa em si e não consegue pensar nos outros. Quem é covarde. Quem é manipulador. Quem não tem escrúpulos. Quem é preconceituoso.

São eles os “Eles”.

Vamos enxergar o “Nós”.

Tomaz Santalucia

Tudo o que você sempre quis saber sobre Dengue e não tinha pra quem perguntar

Vamos a mais um serviço de utilidade pública deste blogueiro que vos tecla!

E hoje falaremos um bocadinho acerca dessa nada nova doença que atualmente nos assola – pois os primeiros casos registrados no Brasil remontam a 1846! – a dengue. Tá, os preciosistas podem até dizer que a forma correta seria “o” dengue, mas prefiro encará-la na sua versão feminina (o que, inclusive, já é aceito até mesmo pelos grandes dicionários), pois é óbvio que somente o sexo nada frágil é que pode fazer tanto estrago na vida de um ser humano.

E já sei que vou me arrepender amargamente por esse gracejo…

O que todo mundo sabe é que a dengue é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e que o cuidado básico a ser tomado é acabar com a água parada, que constitui seu principal criadouro. Mas a título de informação isso é muito pouco para mim – e também o deveria ser para vocês – e então vamos ver com detalhes como que é tudo isso, tendo por base o que foi possível campear aqui e ali na Internet!

O mosquito – quem é essa figura?

O Aedes aegypti pertence ao ramo Arthropoda (pés articulados), classe Hexapoda (três pares de patas), ordem Diptera (um par de asas anterior funcional e um par posterior transformado em halteres), família Culicidae, gênero Aedes. Em suma basta dizer que é parente do pernilongo…

Esse infeliz foi introduzido na América do Sul muito provavelmente através de barcos (navios negreiros) provenientes da África, no período colonial, junto com os escravos.

Trata-se, essencialmente, de um mosquito urbano, encontrado em maior abundância em cidades, vilas e povoados. O que não impede que também apareça nas zonas rurais!

O ciclo de vida do Aedes aegypti compreende quatro fases: ovo, larva (que passa, por sua vez, por quatro estágios larvários), pupa e adulto.

O ovo mede aproximadamente 1 milímetro de comprimento e possui contorno alongado e fusiforme (como se fossem um grão de arroz, só que mais fino nas pontas). São depositados pela fêmea (dããã), um por vez (normalmente em quantidade de 150 a 200 a cada postura), nas paredes internas dos depósitos que servem como criadouros, próximos à superfície da água. Não, não dentro da água, mas bem próximo da linha d’água. No momento da postura os ovos são brancos, mas, rapidamente, adquirem uma cor negra brilhante. A partir daí, o desenvolvimento total do embrião (ainda dentro do ovo) se completa em até 48 horas, em condições favoráveis de umidade e temperatura.

Normalmente com a chuva o nível da água sobe e atinge os ovos, que eclodem em pouco mais de 30 minutos. Independentemente disso, uma vez que completado o desenvolvimento embrionário, esses ovos são capazes de resistir a longos períodos de dessecação – que significa um estado de extrema secura (obrigado, Aurélio!) – que podem prolongar-se por mais de um ano! Mesmo depois de tanto tempo, se colocados em contato com a água, podem vir a eclodir. É justamente por isso, por essa grande capacidade de resistência dos ovos, que é tão difícil erradicar o mosquito.

A larva, que é aquele bichinho nojento que sai do ovo logo após eclodir, passa meramente por uma fase de alimentação e crescimento. Como o Aedes aegypti é um inseto holometabólico (OI? Ah, sim. Faz parte daqueles tipos de bicho que sofrem uma metamorfose completa…), nessa fase larvária ele passa a maior parte do tempo alimentando-se principalmente de material orgânico acumulado nas paredes e fundo dos depósitos.

As larvas possuem quatro estágios evolutivos até atingirem a fase de pupa. A duração da fase larvária depende da temperatura, disponibilidade de alimento e densidade das larvas no criadouro. Em condições ótimas, o período entre a eclosão e a pupação pode ser de apenas cinco dias. Mas em condições de baixa temperatura e escassez de alimento, o quarto e último estágio larvário pode prolongar-se por várias semanas, antes de sua transformação em pupa.

Na água a larva movimenta-se como uma serpente, fazendo um “S” em seu deslocamento. É sensível a movimentos bruscos na água e sob um feixe de luz é bem rápida, foge que nem o diabo da cruz, buscando refúgio no fundo do recipiente {isso, crianças, se chama fotofobia).

Já no estágio seguinte, quando se transforma em pupa, ele não se alimenta. É nessa fase que ocorre a metamorfose do estágio larval para o estágio adulto – o mosquito, propriamente dito. Nesse período elas, as pupas, se mantêm na superfície da água, flutuando, o que facilita a emergência do inseto adulto. O estado pupal dura, geralmente, de dois a três dias.

E, por fim, na última fase, o adulto de Aedes aegypti sai para o mundo para dar início a sua fase reprodutora e começar tudo de novo…

Todo esse ciclo se dá num período total que varia de sete a dez dias.

O Aedes aegypti é menor que os mosquitos comuns (vulgos pernilongos), medindo, em média, apenas meio centímetro de comprimento. Tem aparência inofensiva, de cor escura – café ou preta – e listras brancas no corpo e nas pernas. O macho se distingue essencialmente da fêmea por possuir antenas plumosas e palpos mais longos. Suas asas são translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível ao ser humano.

Logo após emergir do estágio pupal, o inseto adulto procura pousar sobre as paredes do recipiente, assim permanecendo durante várias horas, o que permite o endurecimento do exoesqueleto e das asas. Já nas 24 horas seguintes podem acasalar (rapidinhos, hein?), o que vale para ambos os sexos. O acasalamento geralmente se dá durante o vôo, mas, ocasionalmente, pode se dar sobre uma superfície, vertical ou horizontal. Uma única inseminação é suficiente para fecundar todos os ovos que a fêmea venha a produzir durante toda sua vida.

A grande diferença entre os machos e as fêmeas, no tocante à alimentação, é que estas se alimentam mais frequentemente de sangue, servindo como fonte a maior parte dos animais vertebrados, mas mostram marcada predileção pelo ser humano. Já os machos alimentam-se da seiva das plantas.

Em geral, a fêmea faz uma postura após cada repasto sanguíneo (ou seja, após sugar o sangue da picada). O intervalo entre a alimentação sanguínea e a postura é, em regra, de três dias, em condições de temperatura satisfatórias.

A oviposição (“ponhação dosôvo”) se dá mais frequentemente no fim da tarde. A fêmea grávida é atraída por recipientes escuros ou sombreados, com superfície áspera, nas quais deposita os ovos. Prefere água limpa e cristalina ao invés de água suja ou poluída por matéria orgânica. Como não é besta, distribui cada postura em vários locais. Por tais características, sua preferência sempre é o de recipientes artificiais, tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d’água descobertas, pratos sob vasos de plantas ou qualquer outro objeto que possa armazenar água de chuva. Pode também escolher alguns tipos de criadouros naturais, como bromélias, bambus e buracos em árvores.

O interessante é que, durante sua vida, o Aedes aegypti não tem grande capacidade de dispersão, pelo vôo, o que quer dizer que ele não tem o costume de se espalhar, ficando em média num raio de 100 metros do local de onde eclodiu (é, de onde “nasceu”). Entretanto uma fêmea grávida pode voar até cerca de uns 3 quilômetros em busca de local adequado para a oviposição, quando não houver recipientes apropriados nas proximidades.

Quando não estão em acasalamento, procurando fontes de alimentação ou em dispersão, os mosquitos buscam locais escuros e quietos para repousar. São usualmente encontrados nas habitações, nos quartos de dormir, nos banheiros, na cozinha e, só ocasionalmente, no lado externo das residências. As superfícies preferidas para o repouso são as paredes, mobília, peças de roupas penduradas e mosquiteiros.

Sua vida dura, em média, de 30 a 35 dias.

A transmissão – como a gente pega essa bagaça?

É importante esclarecer que não são todos os mosquitos Aedes aegypti que transmitem a doença da dengue (e, também, da febre amarela), mas somente os mosquitos que estiverem infectados com essas doenças. Como somente a fêmea é que se alimenta de sangue, também é somente ela que pode transmiti-las para o ser humano. E, além disso, uma vez infectado, transmite também o vírus para todas suas crias, tornando-se um vetor permanente da doença. Aliás, só pra constar: o mosquito apenas transmite a doença, mas não sofre seus efeitos. Sacanagem isso…

Normalmente o mosquito (ou, melhor, a “mosquita”) ataca durante o dia, nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol forte – mas, mesmo nas horas quentes, pode também atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Seu alvo preferido é a região dos pés, tornozelos e pernas – o que só ocorre porque uma de suas características é voar a uma altura máxima de meio metro do solo. Mas o pior é que a vítima não costuma sequer perceber a picada, pois não dói e nem coça no momento, uma vez que o mosquito aplica uma substância anestésica, tornando o local insensível. Desde o momento que o indivíduo é picado, demora geralmente de 3 a 15 dias para a doença se manifestar – mas o mais comum é de 5 a 6 dias.

E é justamente no verão que essa doença faz uma quantidade maior de vítimas, pois o mosquito encontra ótimas condições de reprodução. Nessa estação do ano as altas temperaturas e a grande quantidade de chuvas aumenta e melhora o chamado “habitat ideal” para a reprodução do Aedes aegypti: a água parada.

Para concluir, saibam de uma coisa importantíssima: a dengue não é transmitida de pessoa para pessoa, nem mesmo através de alimentos ou pelo uso compartilhado de objetos.

Mas, afinal de contas, o que realmente é essa tal de dengue?

A dengue é uma doença infecciosa causada por um arbovírus (abreviatura do inglês de “arthropod-bornvirus”, ou seja, “vírus oriundo dos artrópodos”), que ocorre principalmente em áreas tropicais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil. As epidemias geralmente ocorrem no verão, durante ou imediatamente após períodos chuvosos.

A palavra dengue tem origem espanhola e quer dizer “melindre”, “manha”. Esse nome faz referência ao estado de moleza e prostração em que fica a pessoa contaminada pelo arbovírus.

Existem quatro tipos do vírus da dengue: O DEN-1, o DEN-2, o DEN-3 e o DEN-4. Todos eles causam os mesmos sintomas, a diferença é que, a cada vez que se contrai um tipo do vírus, não se pode mais ser infectado por ele, adquire-se imunidade. Ou seja, uma pessoa somente pode ter dengue, no máximo, quatro vezes na vida. Quem já teve dengue causada por um tipo do vírus não registra um novo episódio da doença com o mesmo tipo, por exemplo, quem já teve dengue devido ao tipo 1 só pode ter novamente se ela for causada pelos tipos 2, 3 ou 4. Em termos de classificação estamos falando do mesmo tipo de vírus com quatro variações. Já do ponto de vista clínico são absolutamente iguais, pois vão gerar o mesmo quadro de sintomas.

Entretanto a possibilidade da reincidência da doença é preocupante. Demais. Pois, caso ocorra um segundo episódio da dengue, os sintomas se manifestam com mais violência. Essa reação exagerada do sistema imunológico é um problema. Pode causar inflamações e, por isso, aumenta o risco de lesões nos vasos sanguíneos, o que levaria ao quadro da dengue hemorrágica (o que veremos mais a frente). Um terceiro episódio poderia ser ainda mais grave, e um quarto seria mais perigoso ainda que o terceiro.

Sintomas – dói tudo…

Geralmente, os sintomas da dengue se iniciam com febre alta (de 39° a 40°C), dores de cabeça, cansaço, dor muscular e nas articulações, indisposição, enjôos, vômitos, manchas vermelhas na pele, dor abdominal (principalmente em crianças), entre outros sintomas.

Após a picada do mosquito infectado dá-se o chamado período de incubação que leva em média uns 3 dias. Somente após esse período é que os sintomas aparecem, e o tempo médio do ciclo é de 5 a 6 dias.

Mas é importante saber que temos duas situações meio que distintas: a dengue clássica e a dengue hemorrágica.

A dengue clássica se inicia de maneira súbita e pode ocorrer febre alta, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dores nas costas. Às vezes aparecem manchas vermelhas no corpo. A febre dura cerca de 5 dias com melhora progressiva dos sintomas em 10 dias. Em alguns poucos pacientes podem ocorrer hemorragias leves na boca, na urina ou no nariz. Raramente há complicações. Melhor explicando:

– febre alta com início súbito;
– forte dor de cabeça;
– dor atrás dos olhos, que piora com o movimento dos mesmos;
– perda do paladar e apetite;
– manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e membros superiores;
– náuseas e vômitos;
– tonturas;
– extremo cansaço;
– moleza e dor no corpo;
– muitas dores nos ossos e articulações.

Já a dengue hemorrágica é uma forma grave de dengue, que usualmente ocorre quando a pessoa contrai a dengue por uma segunda ou terceira vez (outra variação do vírus, lembram?). No início os sintomas são iguais à dengue clássica, mas após o 5º dia da doença alguns pacientes começam a apresentar sangramento em vários órgãos e choque circulatório. Isso se dá porque a pessoa sofre alterações na coagulação sanguínea, ocorrendo uma queda na pressão arterial. Esse tipo de dengue pode levar a pessoa à morte. A dengue hemorrágica necessita sempre de avaliação médica, de modo que uma unidade de saúde deve sempre ser procurada pelo paciente. Façam isso se, após o quinto dia, quando começa a acabar a febre, surgirem um ou mais desses sinais de alerta:

– dores abdominais fortes e contínuas;
– vômitos persistentes;
– pele pálida, fria e úmida;
– sangramento pelo nariz, boca e gengivas;
– manchas vermelhas na pele;
– sonolência, agitação e confusão mental;
– sede excessiva e boca seca;
– pulso rápido e fraco;
– dificuldade respiratória;
– perda de consciência.

E qual é o tratamento, então?

Más notícias, caríssimos: não existe tratamento específico para dengue. O que existe são apenas tratamentos que aliviam os sintomas.

Antes de mais nada, muito repouso.

E, também, deve-se ingerir muito líquido como água, sucos naturais, chás, soros caseiros, etc. Frutas e legumes diversos também ajudam.

Medicamentos antitérmicos, para combater a febre, também são bem-vindos.

O que não pode é tomar remédios à base de ácido acetilsalicílico, como, por exemplo, AAS, Aspirina, Melhoral, Doril, Sonrisal, Alka-Seltzer, Engov, Cibalena, Doloxene e Buferin. Como eles têm um efeito anticoagulante, podem causar sangramentos.

O que pode ser tomado, a título de exemplo, são medicamentos à base de dipirona ou paracetamol.

É lógico que, em qualquer caso, um médico deve ser consultado para receitar o remédio correto…

Uma dica a mais: quem estiver com dengue faça o favor de se prevenir de novas picadas do mosquito Aedes aegypti (se já foi picado por um infectado, pode ser que tenha algum não infectado por perto também). Assim vai evitar a retransmissão da doença para outro mosquito e, desse modo, é possível cortar mais uma cadeia de transmissão do vírus. Portanto tenham a consideração de usar repelentes, mosquiteiros e/ou outras formas de evitar novas picadas de algum outro mosquito.

Tem como acabar com essa doença?

Para combater a dengue a principal medida a ser adotada é eliminar os criadouros em potencial do mosquito Aedes aegypti. Vamos para uma lista de exemplos:

– não deixar a água se acumular em recipientes como, por exemplo, vasos, calhas, pneus, cacos de vidro, latas e etc;

– manter fechadas as caixas d’água, poços e cisternas;

– não cultivar plantas em vasos com água – usar terra ou areia nesses casos;

– tratar as piscinas com cloro e fazer a limpeza constante, sendo que o ideal é deixá-las cobertas ou vazias quando não for usar por um longo período;

– manter as calhas limpas e desentupidas;

– cuidar para que eventuais poças protegidas em lajes não acumulem água;

– instalar tela ou colocar sempre água sanitária em ralos com fecho hidríco (daqueles tipos que ficam com um bocadinho d’água, que é para não deixar retornar o cheiro do cano de esgoto);

– o comedouro e bebedouro de animais também precisam ser lavados semanalmente com bucha ou escova, porque a esfregação é o que elimina o ovo, caso exista.

Outra preocupação é com o armazenamento incorreto de água em baldes, tonéis e outros vasilhames. Quem pretende armazenar água para uso futuro deve cobrir o local com tela e adicionar hipoclorito ou água sanitária, na proporção de uma colher para cada litro de água. Assim, será possível utilizar a mistura para lavagem de quintal e limpeza, menos para molhar plantas ou consumo humano.

E o Poder Público? Por que não faz nada?

Vocês acham que não? Muito pelo contrário! Só que, pelas próprias limitações do Poder Público, nunca vai haver gente suficiente pra cuidar de todo mundo. E vamos combinar que essa guerra é uma responsalidade de cada um de nós? Se todos fizermos nossa parte, cuidando, no mínimo, de nossa própria casa, já teremos avançado – e muito – rumo à erradicação do mosquito e, por consequência, da própria doença.

E dentre as ações possíveis do Poder Público – além dos agentes que vão de casa em casa para verificar se nós mesmos estamos tomando as devidas precauções – existem duas ações que costumam ser feitas: a nebulização e o “fumacê”. São ações distintas e com propósitos específicos.

A nebulização se presta a conter a fase larvária do inseto. É feita dentro das casas e terrenos com um equipamento próprio que os agentes levam às costas (termonebulizador). Como não dá pra fazer isso numa cidade inteira, normalmente é feito no entorno de imóveis com casos confirmados de dengue. Lembram-se que um dos costumes do mosquito é não se espalhar, permanecendo no raio de uns cem metros do local onde eclodiu? Então. Pela lógica, se o fiudumaégua picou alguém, então seu criadouro (e, talvez, outros) deve estar por perto.

Já o fumacê visa combater o inseto adulto. Agora, pensem comigo: onde mesmo que o mosquito costuma ficar? Pode colar, veja lá em cima no texto. Isso mesmo, dentro das casas. E qual a primeira atitude que o ser humano “normal” faz quando passa o fumacê? Corre pra fechar todas as portas e janelas de modo que o “cheiro” não entre em casa! Pô, é justamente lá dentro que o bichinho fica! Desse jeito, não só o mosquito não é atingido, como quem acaba sendo vítima do fumacê são outros insetos, predadores naturais do mosquito, como, por exemplo, aranhas. Sei que não é nada confortável, mas se não colaborarmos, não tem tatu que aguente!

Outra providência do Poder Público é viabilizar os testes para confirmar – ou não – os casos de dengue. Normalmente o sangue coletado da vítima vai para um laboratório especializado e demora uma eternidade para se obter o resultado. Esse método é caro e a quantidade de amostras que podem ser analisadas é limitada. Mas é certeiro. Existem alternativas, tais como o teste do antígeno NS1, conhecido como “teste rápido”, que permite a análise de uma quantidade bem maior de amostras e cujo resultado é obtido em até duas horas. Apesar de mais barato, possui eficácia limitada: cerca de 75% a 80% de acurácia.

Considerando que a dengue mata, o eventual aumento de casos dentro de um município é preocupante. É da saúde pública que estamos falando. A caracterização de situação de iminente perigo à saude pública, nos casos de dengue, possui dois parâmetros distintos: federal e estadual (aqui de São Paulo). O critério federal estabelece que pode ser considerada a situação de epidemia quando houver a presença do mosquito em 1% ou mais de imóveis de um município. Já o critério estadual define que a situação de epidemia pode ser aplicada quando for atingido um total de 150 casos a cada 100.000 habitantes.

Enfim, temos que nos lembrar que, ao menos no tocante às nossas próprias casas, a responsabilidade é nossa. Se vocês descobrirem algum possível foco com larvas dentro de sua casa, tomem as providências necessárias vocês mesmos! A água sanitária é 100% eficaz nesse combate. Basta aplicar no mínimo 2 ml de água sanitária para cada litro de água que contiver as larvas do mosquito da dengue. Após isso, limpe e elimine o criadouro. Mas se estivermos falando de outros locais em potencial (ainda que não tenha larva nenhuma), tais como vasos sanitários e caixas de descarga que não sejam de uso diário, ralos externos, tambores de armazenamento e outras coisas do tipo, para evitar que venha a se tornar um foco então basta fazer uma aplicação semanal, preferencialmente em dia fixo, de modo a garantir que a solução continue efetiva no combate às eventuais futuras larvas.

E sempre que observarem alguma situação que vocês mesmos não possam resolver, então avisem imediatamente um agente público de saúde para que uma medida eficaz seja tomada. O Poder Público tem o chamado “Poder de Polícia”, ou seja, em caso de interesse da coletividade (no caso, a saúde pública), no limite do limite, pode até mesmo entrar em áreas particulares para tomar providências que sejam indispensáveis.

Bão, é isso. Assim concluímos mais um serviço de utilidade pública para que todos possam tomar os cuidados necessários e não venham a se tornar um sujeito dengoso…

Servimos bem para servir sempre!

😀

Cuidado!

1984.

Diferente do que previu George Orwell, o mundo (ainda) não estava dominado pelo Grande Irmão. Levaríamos, em padrões Globais, mais uns trinta anos para alcançar esse patamar…

O movimento Diretas Já! era algo que acontecia lá fora, marcando o início do fim da ditadura no país, sustentada tão somente pelo já depauperado governo do general Figueiredo, deixando a todos num ar meio que de perplexidade, sem saber exatamente para onde estávamos indo, tendo somente como realidade a última herança dessas duas décadas: um quadro de hiperinflação que ainda iria perdurar por cerca de mais dez anos. E estamos falando de números de quatro dígitos! Era uma insanidade!

Mas nós, adolescentes da época, começando nosso despertar para a vida, para os amigos, para os amores, para o trabalho, para a política, apenas orbitávamos em torno de tudo isso. Nada nos surpreendia, pois quadros como esse já faziam parte de nosso dia-a-dia. Fato processado, assimilado e consumado.

E, para mim, a simples realidade de período integral eram os estudos na ETEP, com tudo que dele fazia parte: mochila Knapsack preta de lona, régua T, outras réguas e esquadros da Desetec, compasso Kern, lapiseira 0,5 Pentel, canetas nanquim, papel vegetal, pranchetas, folhas A4, A3, etc, etc, etc. E, também, um certo cansaço. Apesar da tenra idade, a ida e volta pedalando doze quilômetros todos os dias – e com toda essa tralha nas costas – não era lá muito fácil!. Mas também tínhamos as festas, os namoricos, os trotes, as reuniões. Em especial aquelas que aconteciam no GEDOM, um salão reservado dentro da escola que sediava uma espécie de “clubinho” dos alunos que, como eu, estudavam Mecânica (daí até chegar na área de Direito tem uma longa estrada…). Eram clássicas as batalhas nas mesas de pingue-pongue, bem como as sessões de cinema que fazíamos, tendo por base fitas VHS alugadas ou simplesmente copiadas de alguém – “pirataria” era algo que simplesmente não existia no vocabulário da sociedade da época. Outras coisas eram clássicas lá também, mas este é um blog de família e deixo essa conversa para um pé d’orêia nos botecos da vida…

Enfim, volta e meia aparecia alguém com um filme “novo” para nosso deleite. O dinheiro era escasso, o cinema era caro (hiperinflação, lembram?), então virávamo-nos como podíamos.

E dessas sessões clássicas, lembro-me de uma clássica entre elas: uma tarde em que não havia aula e nos enfurnamos nesse nosso castelo para curtirmos dois filmes. Começamos com o recém-lançado filme Bete Balanço, com a – na época – deliciosa e sapeca Débora Bloch com apenas uns vinte aninhos; e, na sequência, The Wall, do Pink Floyd.

Vocês não têm noção do que foi aquilo.

A história dentro da história dentro da história. Tudo paralelo, simultâneo, ao mesmo tempo. A Segunda Guerra Mundial mesclando-se com uma infância isolada e opressora do mesmo jovem que viria a ser uma depressiva estrela do rock (conhecido como “Pink”), culminando com sua liderança de um grupo de “tudo-fóbicos”. Tudo isso temperado com a total desintegração de seu próprio ser ante o peso de todas essas experiências marcantes de sua vida. E, mais, com uma música de primeiríssima qualidade.

Mas os desenhos – ah, os desenhos!

Hoje todos estão tão acostumados com animações, efeitos especiais, desenhos de todo tipo e calibre, que até poderiam fazer com que os do filme parecessem toscos. Mas não o são. Nem nunca foram. E para aqueles adolescentes alucinados (literalmente) foi uma experiência reveladora! A harmonia do desenho perfeitamente conjugado com o filme, o impacto da música, as cenas fortes, a insinuação sexual nada sutil, enfim, não tinha como não ficar fã daquela banda ali mesmo!

Querem entender um pouco melhor do que estou falando? Aumentem o som e acompanhem…

 
Mas o porquê desse proseio? Bem, tudo sempre tem o seu “porquê”…

Toda essa viagem ao passado serviu somente para contextualizar como e quando conheci esse filme. Os tempos eram outros, as necessidades eram outras, a visão do mundo era outra. Por toda a sociedade.

Entretanto, das últimas manifestações dominicais, do tão aventado “discurso pacífico” autoproclamado por “pessoas de bem”, não me foi possível deixar de lembrar desse filme. Já quase no final, o depressivo e quase enlouquecido personagem acaba recebendo um coquetel de drogas que o leva a alucinar de vez. E segue para seu show, imaginando-se um tipo de ditador neo-nazi e o evento se transforma numa grande e apoteótica manifestação, com gigantesca pompa e circunstância, na qual manipula uma ainda mais alucinada plateia e usa o seu poder de persuasão para que o sigam e “limpem o mundo dos males da sociedade”…

Nada parecido com muita coisa que tem acontecido, não é? Ou será que não?

 
Nessa hora cabe lembrar da famosa frase daquele famoso filme: “Então, é assim que morre a liberdade. Com uma grande salva de palmas…”

Enfim, caríssimos… Cuidado com o discurso fácil e comovente, cuidado com o deixar de pensar em prol de que pensem por vocês, cuidado com as manifestações de ódio (ainda que pensem que não estão a fazendo), cuidado com as acusações infundadas, cuidado em defender um futuro sem conhecer seu próprio passado, cuidado com as notícias cuidadosamente preparadas para sua digestão, cuidado ao se acharem o centro do mundo (ou, ao menos, do Brasil), cuidado com a marcha das ideias, mas, sobretudo, cuidado com as ideias de marcha…

Às companheiras e companheiros do PT

Edinho Silva
Deputado Estadual – PT/SP

Tenho certeza que muito do que escrevi aqui está nas mentes e corações de homens e mulheres que têm doado uma parcela importante de suas vidas para construir um instrumento de lutas chamado PT. Resolvi colocar pensamentos e sentimentos no papel após muitos diálogos, quando todos os interlocutores se mostraram indignados, assustados, aflitos, também confusos, mas com uma imensa disposição e força para defender o nosso patrimônio: esse binômio PT/governo. Sim, é um binômio. Engana-se quem pensa que um superará esse momento sem o outro.

A nossa primeira formulação, nessa escuridão gerada pela tempestade de fatos, é termos certeza de quem somos. Não podemos, em momento algum, ter crise de identidade: nascemos da força dos excluídos, parimos um projeto para eles, fizemos curvas, buscamos atalhos, mas o nosso maior objetivo é a construção de um Brasil sem exclusão social, sem preconceitos, discriminação e que radicalize a democracia em seu sentido mais amplo. O PT nasceu para esse objetivo, sua existência não tem outra razão que não seja ser instrumento dessa busca.

Se temos certeza de quem somos, se “olhamos no espelho da nossa história” e nos orgulhamos da nossa existência como um legado que já inspirou tantos países e tantas lutas, é hora de continuarmos a nossa reflexão. Que ninguém, absolutamente ninguém, que represente os interesses que jogaram o povo na miséria e no abandono por séculos, que ninguém que represente os interesses privados que se apropriam do Estado, venha nos dizer quem somos tentando destruir aquilo que simbolizamos: a esperança da maioria dos brasileiros. E a esperança, meus irmãos e irmãs de caminhada, é a única coisa que sobra para milhões que nasceram alijados das benesses do Estado.

Também é hora de reconhecermos que as instituições brasileiras funcionam, inclusive, porque nós investimos muito para que isso acontecesse. Os governos Lula e Dilma fortaleceram as instituições da democracia. Hoje, elas funcionam e têm legitimidade para isso.

Se a corrupção é endêmica e povoa as instâncias governamentais, ela tem que ser combatida com muita dureza. Companheiros e companheiras, nós sempre defendemos isso. Fomos nós que adotamos como política pública o Orçamento Participativo, a prestação de contas em plenárias populares, a radicalização da transparência. Isso tudo desde as nossas primeiras prefeituras. Errado está quem desrespeitou a nossa história. Se pessoas se utilizaram do PT para enriquecimento, toda vez que isso for provado, esses têm que pagar e nós temos que ser os primeiros a defender a penalização. Repito: nós nascemos e nossa existência só se justifica por sermos o maior e mais robusto instrumento de lutas “para a libertação integral do povo brasileiro”. Não podemos e não vamos servir a outros interesses.

É hora de recuperarmos, com muito orgulho, os nossos últimos feitos. Elegemos um líder operário, um retirante nordestino, alguém que representa a quebra da lógica política da elite brasileira, o homem que sonhou os sonhos do PT e da CUT, reinventando a organização dos movimentos sociais no Brasil. Isso, o nosso projeto coletivo levou o companheiro Lula para a rampa do Palácio do Planalto. Historicamente, isso já ia muito além do que a elite pensante nacional poderia um dia ter formulado. Mas nós mostramos que podíamos mais. A força do nosso projeto coletivo quebrou, mais uma vez, paradigmas e elegemos a primeira mulher presidenta do Brasil. Não apenas uma liderança mulher, a companheira Dilma foi forjada em sessões de tortura, nos esconderijos e celas, imposições do período em que a democracia foi aprisionada; sim, “uma filha da geração dos anos que não terminaram”, fruto da nossa dedicação, recebia a faixa presidencial do operário “que nunca estudou”. Companheiras e companheiros, a nossa capacidade de leitura da realidade, de construção política, de doação aos nossos sonhos quebrou a lógica dominante da história brasileira.

Em 12 anos de um mesmo projeto transformamos as políticas públicas. Trouxemos para as relações econômicas e sociais 40 milhões de brasileiros que viviam escondidos nos calabouços da miséria, mostramos que a ascensão social é possível, a educação se tornou a mola propulsora para o futuro de uma juventude que nunca teve futuro. Os negros, mulheres e índios entraram na agenda nacional, combatemos o preconceito, falamos de igualdade entre todos os brasileiros e brasileiras, não como um sonho inatingível, mas como algo palpável ao nosso cotidiano. O Estado brasileiro passou a funcionar não como instrumento de uma minoria, mas sim para levar direitos e benefícios para cada rincão desse continental país. O Brasil se tornou um país de todos.

Iniciamos agora nosso quarto mandato de um mesmo projeto. Sim, é um mesmo projeto, fruto de inspiração e muita luta coletiva. Esse início de mais um ciclo está marcado pela ofensiva conservadora, a pior da história da República.

Qual a novidade? Achávamos que a elite brasileira, insuflada por uma retomada das mobilizações da direita no continente, iria ficar assistindo nós nos sucedermos na presidência da República, consolidando o nosso projeto? Achávamos que a responsabilidade pela estagnação do ciclo de crescimento econômico, intensificado pela crise internacional, seria imputada ao cassino financeiro do capitalismo internacional volátil e usurpador de oportunidades? Que seriam responsabilizadas as elites que lutam para manter um Estado nacional arcaico, que carrega entulhos de um país que não existe mais? Achávamos que aqueles que hoje nos acusam, que também são os mesmos que armam trincheiras contra as reformas estruturais, seriam benevolentes conosco? Repito, qual a novidade?

Não há novidade, companheiras e companheiros. Há, sim, erros no nosso campo político. Nunca na nossa história assimilamos com tanta facilidade o discurso oportunista de uma direita golpista e nunca estivemos tão paralisados.

O nosso projeto construiu um Brasil de igualdade de oportunidades e estamos no caminho para vencer definitivamente a desigualdade. Nosso projeto pôs o Brasil de pé perante o mundo, criando uma nova geografia política e econômica para a América do Sul, a África se tornou prioridade nas relações internacionais e diversificamos o nosso comércio. Definitivamente, o Brasil rompeu com a dependência do Norte. Nosso projeto enfrentou a pior crise econômica mundial permitindo que o Brasil crescesse de forma responsável.

Agora queremos mais.

Vamos ajustar a nossa economia para que possamos continuar crescendo com justiça social. Vamos executar as medidas econômicas agora para que possamos cada vez mais dar garantias aos investidores, para que possamos atrair investimentos para a nossa infraestrutura e para a produção, gerando mais empregos e oportunidades. É hora de o nosso país consolidar o seu desenvolvimento de forma homogênea, superando as desigualdades regionais. Temos muito espaço para crescer fomentando as nossas exportações e o nosso mercado interno.

Quem trouxe o Brasil de forma segura até aqui, não permitindo que a crise internacional penalizasse os nossos empresários, empreendedores e principalmente os trabalhadores, saberá levar o Brasil, de forma segura, para um futuro ainda mais promissor.

Mas o nosso projeto vai além da agenda econômica. Só nós podemos liderar a batalha de uma verdadeira reforma política e eleitoral. Só nós podemos convocar uma mobilização para uma reforma tributária e fiscal que desonere os mais pobres, só nós podemos, historicamente, estar à frente de um projeto de Brasil que cresça de forma sustentável, sem exploração dos trabalhadores e destruição dos recursos naturais, só nós podemos articular um campo político que não admita retrocessos nos direitos civis e cidadãos.

Sem o PT não existirá esquerda forte no Brasil, não existirá campo progressista e transformador. Sem o PT, os excluídos, os jovens, negros, mulheres, índios, os trabalhadores, as vítimas do preconceito, perderão seu mais robusto instrumento de luta pela verdadeira igualdade.

Companheiras e companheiros: Há momentos na história que a dúvida leva à derrota e há momentos que o recuo leva ao aniquilamento. É hora de “pegarmos a nossa história nas mãos”, e com a certeza na frente revigorarmos os nossos sonhos e irmos para a luta política.

Somos quem somos porque temos história, somos quem somos porque temos capacidade de luta, somos quem somos porque temos a inteligência e sabedoria de quem nasceu e cresceu na adversidade, somos quem somos porque nunca desistimos. Somos quem somos porque aprendemos a teimar e foi teimando que transformamos o Brasil.

Até a vitória!

São Paulo: sua história por seus rios (pobres rios)

Roubartilhado lá do blog da Cynara Menezes. Ainda que tenha sido publicado já há uns dois anos, continua sendo muito bom! Ainda mais na nossa atual “crise hidríca”… São aproximadamente 25 minutos de um vídeo que realmente vale a pena assistir. Confiram!

Para homenagear o aniversário de São Paulo, Cine Morena orgulhosamente apresenta o documentário Entre Rios, dirigido por Caio Ferraz. O filme conta a história da cidade a partir dos rios que circulam debaixo dela. Há 1500 km de rios, córregos e nascentes no território de São Paulo, não é incrível? Alguns rios ainda a céu aberto e infelizmente fétidos e poluídos, como o Tietê e o Pinheiros. Outros, encobertos pelo asfalto, como o Anhangabaú e o Tamanduateí.

O documentário mostra como tudo podia ser diferente se tivessem deixado os rios fazerem parte da cidade em vez de canalizá-los e encobri-los. Será que ainda dá para voltar atrás?