A-ha! Rotoscopia aplicada…

Perguntam-me os incautos: “o que raios afinal de contas é rotoscopia”?

E eu, no ápice de minha qualidade de guardião da cultura inútil, explico!

Primeiramente lembremos que um filme – qualquer que seja – nada mais é que uma sobreposição de fotos estáticas. Dada a velocidade dessa sobreposição e a mínima variação de uma foto para outra (ou de um quadro para outro, ou de um frame para outro – escolha a palavra que melhor lhe aprouver!), bem, com isso temos a sensaçáo de movimento. É um pusta truque que engana nosso cérebro direitinho, mas ninguém se incomoda e todo mundo quer mesmo é ir até o cinema assistir o próximo lançamento! De preferência com um belo saco de pipoca, doce por baixo, salgada por cima e com MUITA manteiga…

Hmmmm…

Mas estou divagando.

Voltemos ao assunto.

A rotoscopia é uma técnica utilizada na animação que consiste em redesenhar cada um desses quadros de um filme, tendo como referência a filmagem de um modelo vivo. Refazendo (e substituindo) cada um desse quadros voltamos a ter a ilusão de movimento proporcionada pelos filmes.

E, mais legal: dá até pra fantasiar um pouco! Dá pra colocar o personagem em um novo ambiente, atribuir-lhe outras roupas e até mesmo interagir com outros desenhos. É, isso mesmo, é aquela técnica utilizada em boa parte dos desenhos dos Estúdios Disney… O que me vem à mente agora são algumas cenas de Mary Poppins!

Ainda que pareça uma coisa até banal neste mundo informatizado e photoshopado em que vivemos, antes do advento do computador essa técnica dava um trabalho do cão! Já viram, lá em cima, o desenho da parafernália que era utilizada para utilizar essa técnica? Então.

A história da rotoscopia teve início – até onde é possível saber – com os irmaos Max Fleischer (1884-1972) e Dave Fleischer (1894-1979), ainda na época do cinema mudo, e foram eles que criaram aquelas bolinhas animadas que acompanhavam as letras das canções na tela do cinema. Não lembram disso? Tudo bem. Eu também não. Mas já vi isso em muito desenho antigo… Lá pelos anos vinte, tendo fundado os estúdios Out of the Inkwell Films, foram eles também que criaram o personagem – com o qual eventualmente interagiam – Koko, o Palhaço (clique aqui para saber de quem estou falando), bem como sua mais famosa estrela: Betty Boop (para vê-la em ação, clique aqui).

Já nos anos trinta, Walt Disney (1901-1966) e seu irmão Roy Disney fundaram os estúdios Disney Brothers, passando a ditar quase todo os parâmetros da produção de animação desde então.

Segundo meu filhote mais velho ele não sabe como conseguiu viver até hoje sem ter esse tipo de informação.

Sarcasmo, definitivamente, é genético…

Mas não vou perder tempo falando de quase um século de trabalhos feitos com essa técnica. O que me importa – e o motivo pelo qual escrevi este post – é mostrar para vocês um exemplo mais recente (recente?) de rotoscopia: um vídeo que eu sempre gostei, feito “agora” em 1985. Como eu já disse antes, nesta nossa era de computadores poderosíssimos dentro de casa, pode parecer até pouco, mas numa época em que a microinformática simplesmente não existia, isso dava um show e tanto! Estou falando da música que alçou a banda A-ha ao sucesso, Take on Me

Confiram!

Afeto entre irmãs

( Crônica publicada no jornal O Vale, de 23/06/2012 )

Zenilda Lua
Poetisa, Assistente Social e
Pesquisadora de Literatura Regional

Ela continua compondo meu divino quadro-família.

Sou de cochilos e cachos, ela é vaidosa. Sou toda coração, ela é exata. Gosto de escrever e ela de dançar.

Continuamos parceiras como no tempo que cuidávamos da fazenda de flores.

As minhas eram brancas, amarelas e azul bem dormentinho; flor de malva, bogari, nove horas e alfazema.

As dela tinham cor perpétua e absoluta; flamboyant, carmim, girassol e açaí vivíssimo.

Eu só tinha medo de alma. Sofria contrita olhando as estrelas de claridade baixa.

Ela temia papafigo e, Zé Biró, doente mental que era filho da mulher que pegava menino.

Só bem depois viemos saber que, essa história de mulher que pegava menino era porque a mãe de Zé Biró, D. Leondina, parteira.

Minha irmã é uma orquestra de sentidos.

Corajosa moça de honestíssimas pétalas.

Corta o pé nos cacos, mas não tira o salto.

Nunca falta ao serviço, nem se aborrece quando adio o depósito das minhas promessas.

Quando espremem seu coração viro uma fera aflita.

Agachada na tocaia do sereno nem respiro, só penso em pegar minha espingardinha de soquete e, brincar de cobrir o coisa-ruim com folhas mal cheirosas e segredos de senhas.

Minha irmã é uma extensão de tudo que é favorável.

Repara minhas vestes, e joias de miçangas advindas dos tabuleiros hippies.

Tenta me ajeitar com seus xales finos, suas camisas de carestia e calças de marca que encobrem a brancura fina de minhas canelas.

Vira as costas eu a engabelo. Volto para minhas estampas florais e brincos de capim dourado.

Ela esquece que nasci no tempo de porta-pote e, que ainda sento no cepo de peroba escura que, virou cadeira na sala de casa.

Invés de abajur escolhi luminária de vela amarela com roxo nas bordas, coberta por sementes de cravos, casca de laranja cheirosa e pau de canela.

Minha irmã é uma dádiva. Meu insetinho da sorte.

Seguro no seu braço direito com as duas mãos de cuidados, como na infância irmãzinha e, na parte mais limpa da alma lhe guardo diariamente.

Temos sonhos comuns, gostamos de jardins.

Quando a mãe lhe punha para tomar sol, acomodadinha num cesto que parecia berço, eu ficava inventando que as florzinhas de pereiro que, sombreava o terreiro, falavam contigo e, você punha-se a sorrir com minha fala de raposa espavorida:

“Faz cara de feliz menina banguelinha, faz cara de feliz…” e você fazia.

Por obediência natural ao esquecimento, não te lembras mais destas passagens.

Não faz mal, eu as reinvento. Pois me falta talento para esquecer.

(Observação: Na realidade o texto publicado no jornal possui ligeiras diferenças – algumas mais sutis, outras não. Preferi o original, esse aí de cima. Mais saboroso. Roubartilhei diretamente lá do blog da autora, neste endereço aqui…)

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

( C&P daqui. )