Cada macaco no seu galho

Eu já estava esquecendo: quando levei o carro no mecânico, anteontem, uma das coisas que pedi foi para que verificassem o fato de o radiador estar baixando de um a dois litros d’água por semana. Minha preocupação é que eu não tinha constatado nenhum vazamento aparente e estava com receio de que essa água estivesse indo para onde não devia no motor…

O caboclo simplesmente falou que sim, o radiador estava com vazamento, mas que eles não “mexiam” com isso não.

Bem, o jeito seria levar em alguma oficina especializada só nessa área.

É que, na prática, não que eu tenha perdido a no meu mecânico de praxe, mas é que desde que ele mudou sua oficina para novas e amplas instalações cada vez mais ele foi se tornando um “clínico geral”. E isso não é lá muito bom para carros com mecânicas ainda que simples, mas de regulagem específica, como os Opalas.

Antes mesmo de levar o carro para um profissional específico da área, ainda ontem resolvi dar uma visitada nos desmanches de plantão para saber o custo de um novo radiador velho. Vai que sai mais barato que o conserto? Dei azar. Nenhum deles tinha nada da mecânica do seis cilindros. Paciência.

Já hoje de manhã parei na estrada, a caminho do trabalho, e entrei numa oficina que só trabalha com radiadores. Deu trabalho pra encontrar o tiozinho lá no fundo, mas, enfim, ele veio dar uma olhada no carro. Num curtíssimo espaço de tempo levantou tantas hipóteses e suposições, juntamente com um mecânico que estava ali por perto, que não foi difícil que eu me convencesse que o caboclo estava exercendo a mais pura arte da chutologia. Levantei vôo.

Nisso acabei lembrando de que um amigo, o Evandro, há bem pouco tempo tinha mandado consertar o radiador de seu Gol. Liguei e peguei o endereço. Sob veementes protestos, pois ele estava no banho, atrasado, numa correria e eu o estaria atrapalhando.

Ê mundo bão… 😉

Enfim, levei o carro logo pela manhã (bem perto de meu trabalho) e fiquei de pegá-lo no final da tarde. Ali pelo meio-dia já me ligaram dizendo que estava pronto. No meio da tarde consegui dar uma escapada (antes que chovesse) e fui buscar o Titanic II.

Resultado: havia uma camada de sujeira que ora entupia ora não a emenda lateral do radiador. Por isso é que nem sempre o vazamento era detectado. O sujeito tirou fora o radiador, remartelou-o inteirinho, refez as soldas onde deveriam ser refeitas, limpou-o, deu banho químico (seja lá isso o que for), desamassou as abas do bocal e pôs tudo de volta no lugar. Até segunda ordem, parece que tudo está ok.

Daí, mais do que nunca, chego a seguinte conclusão: cada macaco no seu galho. Essa coisa de clínica geral no carro é complicada, pois a gente pode acabar gastando mais do que devia em componentes que não necessariamente seriam os geradores dos problemas. Numa oficina especializada o caboclo só mexe com aquilo, de modo que a probabilidade de cometer uma gafe seria beeeeeem menor. Eu já devia ter aprendido isso após aquela saga com o motor de arranque – mas sou teimoso, que fazer?

Pois bem. A única recomendação que deixou é que a tampa do radiador, por não ser original, ainda apresentava um pouco de vazamento. Recomendou que eu conseguisse uma original. Apesar de na hora eu ter pensado em mais um ato de antropofagia no 79 ele já me deu o endereço de uma loja onde talvez tenha o que procuro.

Vouverei isso…

Motorizando – parte IV

Desde então, com o segundo casamento, sendo distintas as minhas necessidades e as da Dona Patroa, na maior parte do tempo passamos a ter mais de um veículo para transporte. Nessa época de recém-casados, enquanto eu ficava num escritório de advocacia no centro da cidade ela tinha se mudado para o litoral, pois passara num concurso. Praticamente nos víamos nos finais de semana. À época nosso primeiro carro foi um Escort XR3 1.8 branco com teto solar (e uma bandeirinha do Brasil no pára-choques). O carrinho era um capeta para andar! Não ficamos com ele por muito tempo, pois seus documentos estavam enrolados e acabou sendo devolvido ao comerciante. Sem fotos dele, resta apenas uma comparação com a foto a seguir – que achei na Internet.

Nessa mesma época – acho que um pouco antes, talvez – foi que comprei uma NX 150. Na realidade essa moto passou por uma reforma completa, inclusive com alinhamento do quadro. Ela pertencera ao cunhado da Dona Patroa, que, com ela, faleceu num acidente. Basicamente um carro fez um contorno muito rápido numa avenida na praia (quase que um “cavalo-de-pau”) e o dono da moto abalroou o veículo bem no meio. Faleceu algumas semanas depois, no Benificência Portuguesa, em São Paulo. Comprei a moto da viúva, que viria a ser minha cunhada, e reformei-a inteirinha. Na sequência eis uma foto dela com meu filhote mais velho, com uns seis meses.

Depois da malfadada experiência com o Escort, compramos um Verona. Ficamos até que um bom tempo com ele. Tinha uns perrengues ou outros, mas, no geral, até que não deu tanta dor de cabeça. Na época em que meu primeiro filho nasceu foi com ele que voltamos da maternidade.

Esse carro ficou conosco, se não me engano, até pouco antes do nascimento de meu segundo filho.

Se comparado aos outros carros “da moda” na época, poderia até ser considerado um carro grande. Não tanto uma barca quanto os Opalas da vida, mas, mesmo assim, seu porta-malas era significativamente espaçoso.

Depois disso, graças a uma indenização que recebi em função de uma ação trabalhista contra o Banco Nacional, onde trabalhei por cerca de quatro anos, compramos um Corsa 97. Sem dúvida foi quem ficou na família por mais tempo. E, curiosamente, quase não temos fotos dele (senão de seu amargo fim). Fuçando bastante nos álbuns da era fotográfica pré-digital, consegui encontrar apenas algumas, onde ele somente aparece como personagem de fundo.

Aqui, o mesmo Corsa, aguardando nossa volta para casa quando do nascimento do terceiro filho.

Mas, dando um pequeno passo para trás, logo depois que vendi a NX 150, comprei novamente uma CB. Sim, além de “Opaleiro” acho que posso ser chamado de “CeBezeiro”…

Mas o grande mal das motos é a malfadada chuva. Foi mais ou menos nessa época que comecei a trabalhar numa Prefeitura, na cidade vizinha. De saco cheio de tanto pegar chuva na estrada, resolvi “investir” num Fusca 72 – que tinha o chassi torto, como dá pra se notar pelo ângulo do pára-choques.

Mesmo assim, com algumas outras avarias na fuselagem, era um carrinho bastante confortável. Ganhou o simpático apelido de Brioso, graças a uma observação de um amigo, o San-Sebastianense Sylvio…

Como a Dona Patroa, do alto de seus 1,53m de altura, se recusava terminantemente a dirigir o bólido amarelinho – pois, segundo ela, ficava afundada no banco e não enxergava nada – resolvi comprar um carro bem “família” e que fosse fácil e maleável o suficiente para que ela pudesse dirigir. Lembrei-me da época do Chevette Hatch e resolvi comprar algo na mesma linha. Assim tornei-me o feliz proprietário de uma Marajó 82 – da qual não tenho fotos (essa, a seguir, encontrei na Internet – mas era igualzinha). O carro estava bem detonado e passou por uma reforma completa, de lataria, pintura e estofamento. Somente motor e documentos é que estavam em dia. Esse, por sua vez, foi apelidado de Rabecão

Mas, passado algum tempo, e continuando a trabalhar na cidade vizinha, ao fechar as contas no final de cada mês passei a perceber que estava gastando uma soma considerável em combustível. Um pouco sobre essa história do combustível eu já contei antes, como dá pra ver bem aqui. Numa bela manhã de sol parei numa revenda de motos e decidi comprar uma financiada. “Que dívida é boa?”, eu pergunto. Respondo: “aquela que cabe no seu bolso”. Assim, mesmo sabendo que ao final talvez pagaria mais de uma moto e meia, parcelei a danada de modo que cada prestação, mais o combustível do mês, não ultrapassasse o que eu gastava mensalmente em combustível com a Marajó. Desse modo adquiri uma Honda Strada 2001 (essa aí embaixo). Confesso que no dia em que fui fechar negócio havia uma CB na revendedora e fiquei bem balançado. Mas, como o mote da vez era economizar, resolvi que tinha que pegar uma moto semi-nova, que não desse dor de cabeça ou que precisasse de reforma.

Bem, lembram do Corsa, não é? Pois é. No final de 2005 consegui o impensável: dei perda total no coitado. Acho que foi a única vez que realmente posou para algumas fotos. Mais imagens (e um pouco da história) do finado bem aqui.

Acho que já sobrecarreguei um pouco demais por hoje. A reta final dessa história fica para a semana que vem.

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Hoje não, obrigado

Apesar de ser a emenda de um feriado “parcial” (Dia do Funcionário Público), ainda assim hoje tive que comparecer à repartição para colocar em dia parte do serviço.

Aproveitei e deixei o carro num mecânico especializado em Opalas, em Jacareí, recomendado por nada menos que um ex-opaleiro (será que isso existe?), sócio em algumas causas e amigo pessoal Dr. Lelis.

Gostei do caboclo. Um senhorzinho de cabelos brancos, com cara de bonachão que parece inspirar confiança…

Enfim, voltei à oficina no final do dia e o diagnóstico que eu havia feito se confirmou: de fato um dos cilindros estava falhando. Contudo a pergunta que não queria calar: por quê?

Segundo averiguado estava “subindo” óleo do motor na câmara de compressão – especificamente no sexto cilindro. Isso fazia com que a vela ficasse encharcada, compromentendo sua centelha. Limpou-se como pôde e trocou-se a vela por uma dos outros cilindros. Nesse momento ficou tudo ok.

– Mas e pra consertar isso de vez?

– Bão, se o óleo tá subindo é porque tá passando pelo anel. Então teria que trocar o anel. Pra trocar o anel tem que tirar a camisa. Então teria que trocar o kit de todos os outros cinco pistões também. Às vezes, quando a gente abre o motor, acaba descobrindo outras coisinhas e por aí vai.

– Tá. Mas e quanto sairia essa brincadeira?

– Ah, essa “brincadeira”, completinha, completinha, iria sair por pelo menos uns dois contos…

Não foi necessário mais do que alguns centésimos de segundos (ou menos) para eu concluir que daquele jeito estava bom – por enquanto – e que, provavelmente em janeiro, mais tardar fevereiro, eu acabaria tendo que fazer “algo” com relação ao motor. Provavelmente eu o tirarei e encostarei enquanto durar a reforma do 79 e daí já passaria o motor de quatro cilindros para o 76 (vulgo Titanic II). Daí eu arrumaria a documentação com o motor novo, venderia o carro e teria dinheiro suficiente não só para dar uma geral no motor de seis cilindros como avançar bem na reforma do 79. Tudo isso passou pela minha cabeça, como eu disse, em menos de um segundo – tempo mais que suficiente para engatar uma resposta até apressada depois do orçamento passado:

– Hoje não, obrigado!

FlatOut

Enquanto penso no que fazer com a falha no motor do Titanic II, o jeito é me distrair um pouco com algum carro que ande de verdade.

Não, não é o Corsa da Dona Patroa!

(Até porque, depois dessa, ela anda regulando o novo carro…)

Trata-se de um jogo que vi rodando numa loja de, digamos, “softwares alternativos”…

– Ei! Guri! Que jogo é esse?

– FlatOut 2, tio.

– Quanto é?

– Vinte reais, tio.

Primeiro: tio é a véia. Segundo: pra quem não sabe, vinte contos na “linha alternativa” é MUITO caro.

Ao chegar em casa não tive dúvidas: consultei o oráculo formado pela tríade LimeWire, eMule e Ares, verifiquei a melhor conexão e botei pra baixar o jogo. A primeira versão mesmo, não só pra ter, mas também pra ver como é que é (coisas de colecionador).

Minha opinião?

MUITO BOM!

Fazia tempo – anos, pra dizer a verdade – que eu não me empolgava com um jogo desses. Mesmo tendo o PS2 das crianças em casa, nunca me encantei muito com os simuladores – exceção se faça ao Heroes of the Pacific, que gosto muito. Mas a interação que esse tal de FlatOut proporciona é fora de série! Um jogo muito bem escrito, com pitadas de inteligência artificial, e “danos reais” no carro. Bastante divertido, mesmo! Isso sem falar que alguns deles são carrões do estilo Opalesco da vida!

De minha parte, já estou a caça do FlatOut 2…

Cansado

É isso.

Cansado.

Hoje, no caminho para o trabalho, o Titanic II passou a dar umas falhadas. Se meu ouvido não estiver ruim (e não está) nitidamente um dos cilindros parece que parou de funcionar.

Tirei cabo por cabo e testei faísca por faísca.

Detalhe: velas, cabos, etc – tudo novo.

Parece que tá tudo em ordem.

Mas o motor ainda aparenta estar falhando.

Tô ficando cansado…

Motorizando – Parte III

Continuando nossa “saga”, então chegamos ao final do ano de 1991 e eu fui saído do Banco Nacional (facão que rodava solto a torto e a direito na época). Incapaz de manter um carro que consumia o tanto quanto um jipe consumia, fui obrigado a me desfazer do meu amigo – mas com muito dó no coração…

Foi daí, após ter passado pela mecânica da Volkswagen e da Ford, que tive a minha primeira experiência com a linha Chevrolet. Comprei um Chevette Hatch.

Em comparação a outros, um carro por demais confortável. Sua leveza e capacidade de estorcer impressionava. A característica dessa linha hatch era a “falta de bunda” do carro…

Ainda assim não me lembro muito bem dele. Foi um período meio complicado na vida: depois de quatro anos sair de um banco com status de quase gerente e ter que voltar para o mercado de trabalho com uma qualificação que não lhe ajudava em absolutamente nada – até porque bancos não contratavam ex-bancários. Tive que “reiniciar” minha carreira, indo trabalhar num escritório de contabilidade, ganhando salário mínimo e dando os primeiros passos para me entrosar naquele mundo mágico que começava a despontar no Brasil: o da informática. Estávamos então na era do MS-DOS 3.30, Wordstar, dBase III Plus e Lotus 1-2-3.

Ainda assim, não sei como, consegui manter ainda por algum tempo uma CB 400 ano 1984 que adquiri na época. Tempos conturbados, memória conturbada. Dessa moto praticamente só lembro da constante preocupação para que não arriasse a bateria, pois ela simplesmente não tinha pedal de partida. Isso era característico daquela linha.

Pouco tempo depois (já nem me lembro exatamente quando), mais ou menos à época em que devia estar lá pelo meio do curso de Direito na faculdade, voltei a ter um carro. Se é que poderíamos chamar aquilo de carro. Era um Fiat 147 de 1978. Até então acho que foi o carro mais detonado que já tive. Sua lataria estava meio podre, levou semanas (meses?) até eu conseguir regular o ponto exato do motor, as fechaduras da porta não funcionavam direito (tinha que abrir a tampa do porta-malas para destravar as portas) e, sobretudo, não podia completar o tanque. Acima de determinada altura ele estava furado e vazava gasolina…

Depois de uma boa temporada com essa maravilha, sempre pingue-pongueando entre o mundo dos carros e das motos, voltei a andar em duas rodas. Dessa vez com uma DT 180 ano 1988. Acho que o veículo mais novo que eu já havia tido até então (o vira-latas com a bolinha encardida era o Toby).

Estamos na segunda metade da década de noventa. Aproximava-se o fim da faculdade bem como de meu primeiro casamento. Não, um não foi em decorrência do outro. O carro da vez foi o primeiro graúdo que já tive, um Del Rey ano 1983. Abaixo, numa foto não tão boa, que não faz jus ao perfil de seus fotografados, o único registro que tenho desse veículo. Lembro-me que o sistema elétrico dele era um caos, pois a lógica da Ford fugia da lógica comum de fiação e que eu estava acostumado. Cada vez que havia algum mau contato na lanterna eu dançava miudinho para consertar…

E então me separei.

Faltavam poucos meses (semanas?) para me formar e demos um basta num relacionamento de praticamente dez anos. Como eu não tinha vontade nenhuma de brigar pelas metades de uma separação (meia casa, meios móveis, meio carro), resolvi deixar tudo para trás. Levei apenas minhas roupas, muitas fotos, um computador e minha coleção de gibis. Voltei a ter no ônibus a principal forma de locomoção e, somente mais tarde, quando de meu segundo casamento, é que retornei ao mundo dos carros e motos.

Este foi o fim de um dos ciclos de minha vida. E também deste post. Semana que vem continuamos.

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