É.
Isso mesmo, furtado.
Não, não “assaltado” ou “roubado” – furtado (preciosismo de advogado).
Mas não levaram o Titanic II, não.
Explico.
Estávamos, ainda hoje, eu, Dona Patroa e a Tropinha de Elite (meus três filhos) na casa do amigo e copoanheiro Paulo, nesse belo, carnavalesco e abafado dia de chuva. Enquanto a criançada detonava algum jogo no Playstation, estávamos todos, ambos os casais, sentados na varanda, tomando uma boa Sagatiba e os cigarros já estavam acabando. Lembrei-me que tinha outro maço sob o banco no carro – que estava estacionado em frente à casa do vizinho – e fui buscar.
Primeira emoção: o pino da porta do motorista estava destravado. “Estranho, tenho certeza absoluta que tranquei”, foi o que pensei quando só então percebi o vidro abaixado pela metade.
Já entrando em “modo defensivo”, a primeira atitude foi parar e dar uma checada nos arredores, ver se tinha alguém entocado por ali ou coisa que o valha. Tudo tranquilo. Respirei fundo. “Vamos ver o tamanho do estrago”, a conclusão que cheguei em seguida.
Pelo que pude perceber, nada foi quebrado ou estourado: o vidro – que já é velho e não está lá muito bem ajustado – deve ter sido forçado por fora, pouco a pouco, até que desse para destrancar a porta. Como o carro está “seco”, ou seja, sem absolutamente nada, não tiveram muita opção. Sem rádio, sistema de som ou outras tecnologices, limitaram-se a fuçar sob os tapetes – que estavam todos fora do lugar -, e acabaram levando o extintor e uma garrafinha d’água (“glut-glut”) de meus filhos. Ah, sim, e levaram meu ÚLTIMO maço de cigarros. Fiadasputa…
Abri o capô e dei uma checada no motor. Tudo OK. Ali, pelo menos, não mexeram.
Liguei o carro, manobrei e deixei embicado, bem em frente à garagem da casa de meus amigos. Ante a cara de interrogação de todos, quando voltei, expliquei-lhes o acontecido. A esposa dele ficou extremamente abalada, preocupada com essa quase invasão de privacidade a que fomos acometidos. Tranquilizei-a e disse que estava tudo bem, ainda que tivessem levado o carro inteiro, pelo menos ninguém mexeu conosco. Ou seja, “vão-se os anéis e fiquem os dedos”…
“Mas e se tivessem levado o carro inteiro?”, foi a pergunta do Paulo. Respondi-lhe que achava muito difícil, por dois motivos: o primeiro é o fato de existir no carro aquele bendito parafuso “corta-corrente” (será que isso era um item padrão à época?), e como não me contento em simplesmente desrosqueá-lo, faço questão de retirá-lo inteiro – já coloquei até uma argolinha para prendê-lo no chaveiro; já o segundo motivo diz respeito a uma trava de ferro que sempre prendo no pedal de freio e volante, pois é fato comprovado que se alguém deseja “puxar” um carro vai escolher aquele que estiver mais fácil.
Esse segundo ponto vai ao encontro de uma reportagem que li há alguns anos, onde o entrevistado era um famoso (no meio dele) puxador de carros. Já àquela época ele deixou bem claro que alarmes, travas elétricas, eletrônicas e outras firulas do mesmo tipo são facilmente contornáveis pelo “especialista”. Normalmente aquele negócio dispara e os proprietários muitas vezes sequer vão checar se é de seu carro ou de outra pessoa qualquer – o que dá tempo de sobra para o desarme. Entretanto, continuando a entrevista, explicou que travas mecânicas, ou seja, barras de ferro, correntes, etc, ainda mais quando bem visíveis, meio que desanimam o puxador, pois ele já tem uma previsão de que aquilo talvez dê mais trabalho e sempre vai ter outro otário desprevenido outra inocente vítima por perto.
É lógico que isso não é regra. Se o caboclo tem o “dom” e está a fim de levar o seu carro, não tenha dúvidas: ele vai levar.
Enfim, graças a Deus o estrago não foi grande, garrafinhas d’água temos aos montes em casa e, no tocante ao extintor, bem, provavelmente será mais um ato de antropofagia perante o 79, já que o Titanic II está entrando em fase de venda.
O único prejuízo mesmo foi meu maço de cigarros.
E eu lá, aproveitando uma saborosíssima cachaça e morrendo de vontade de fumar.
Fiadasputa…
…
Solda Complementar: como teve gente que não conhecia o tal do parafuso (que eu achava até ser uma espécie de “equipamento padrão”), eis uma foto do danado. Normalmente fica por ali, sob o porta-luvas, em direção à bateria. Desrosqueando-o um pouco ele já corta a corrente; tirando-o por completo, inviabiliza ligar o carro – por isso é que furei-o na lateral e coloquei um argolinha ali, justamente para facilitar carregá-lo depois que o tirava…