Mas é LÓGICO que alguma coisa tinha que dar errado.
Afinal de contas, como já é do conhecimento até do Reino Mineral, Murphy é meu melhor amigo…
O diferencial estava perfeito. Com uma revisada geral, limpeza, óleo, graxa e tinta (não necessariamente nessa ordem) o bichinho foi colocado no lugar e ficou ótimo.
ENTRETANTO, o cardan não.
Para quem não conhece esse danado, já pararam para se perguntar como é que o motor de um Opala, que fica lá na frente, tem tração traseira e faz a roda girar lá atrás? Então. TEM que haver alguma coisa que ligue um no outro. E essa alguma coisa se chama cardan, ou, “tecnicamente” falando, árvore longitudinal de transmissão (bonito isso, não?). Eis um esquema do bichinho, direto daquele livro que citei outro dia:
Sua descrição técnica é a seguinte: “Árvore Longitudinal de Transmissão – A árvore longitudinal transmite o movimento da caixa de mudanças ao eixo traseiro e, no Chevrolet Opala, é do tipo tubular, descoberto e de uma só peça. Ambas as extremidades são providas de juntas universais de cruzeta e com mancais de roletes, permanentemente lubrificadas, daí não exigir nenhum cuidado de manutenção. Na ligação com a caixa de mudanças há um acoplamento com uma junta deslizante de estrias, cuja finalidade é permitir a pequena variação que se verifica no comprimento da árvore devido a oscilação do eixo traseiro.”
E foi exatamente essa “pequena variação” citada que deu todo o perrengue. Acontece que o diferencial Dana tem a ponta um pouco mais comprida que o diferencial Braseixos (que estava antes no carro). Sendo mais comprido, consequentemente o cardan tem que ser um pouco mais curto, certo?
E lá foi o marmitão rodar por desmanches de novo!
Entretanto dessa vez não consegui nada. Como costumam dizer nesses locais, isso aí seria uma mosca branca (peça muito difícil de se encontrar). Desse modo partimos para o Plano B.
Se o cardan tá bom mas é comprido, que fazer? Corta o bicho.
Mas também não é assim, de qualquer jeito. Há que se ter uma técnica específica para tal serviço. E quem teria essa técnica? O já conhecido na cidade “Zé Garrafa”, uai!
Na realidade esse caboclo já faleceu há muito. Meu pai mesmo, ao lhe contar essa história, disse-me que o conheceu e achava que já tinha morrido. Parece que quem hoje toca o negócio e faz os serviços do finado seria seu filho. E que serviços seriam esses? Colocar o cardan num torno e cortá-lo na medida correta para que se encaixe lá embaixo do carro. No meu caso específico essa medida foi de justos 4 centímetros. Pronto? Só isso? Não. E é aí que vem o verdadeiro trabalho técnico. Há que se balancear a peça, ou seja, verificar se a mesma não está empenada ou se o corte não ficou irregular de modo a evitar que ela chacoalhe em velocidades elevadas. Basicamente é como o balanceamento das rodas de um carro para que elas não trepidem em determinadas faixas de velocidade.
O curioso é que, conforme numa conversa que tive com o caboclo, esse tipo de verificação e correção (que, óbvio, tem um custo) não costuma ser feito nos cardans que vão em jipes, pois nesse caso não teria problema pois “lá já treme tudo mesmo”…
Mas para um carro de passeio a conversa já é outra…
Pois bem, feito o serviço e entregue ao mecânico. Basta aguardar a montagem.
De quebra já pedi para ele tirar aquela folga da caixa de direção que lhes falei. Na prática não significou necessariamente trocar alguma peça, mas sim recondicionar a que já estava instalada (até porque dinheiro não dá em árvores e tudo NA VIDA tem limites – inclusive o cheque especial).
Complemento final a ser executado: consertar a boia do tanque de gasolina. Sim, consertar, pois mesmo usada não foi possível encontrar. E como qualquer Opaleiro que se preze pode atestar, para um veículo do tipo do Opala, o marcador de combustível é sim item de segurança imprescindível e que deve estar funcionando perfeitamente…