Resetando o procedimento

Parece que a instalação dessas setas – ou, caso prefiram sua denominação formal, “repetidores laterais de direção” – vai dar mais trabalho do que eu imaginava… Não necessariamente pelo estado de (quase) decomposição em que se encontram, pois pra tudo a gente dá um jeito. Nem que seja na cola e na fita isolante!

Até mesmo o parafuso de fixação carcomido e espanado que eu extraí foi passível de substituição por um novinho em folha…

E mesmo os para-lamas (um deles aí no fundo da foto) já vão ser fixados com presilhas também novinhas. O que eu acho que vai me dar trabalho vai ser o ajuste do conjunto todo, pois além de o Titanic ter ficado anos no estaleiro, também tenho que levar em consideração todos os serviços que já foram feitos e outras adaptações que ainda terão que ser feitas. Isso tudo só porque estava avaliando a condição das roscas do para-lama… Mais adiante eu explicarei melhor – só que, para isso, vamos ter que sair da minha garagem e fazer uma visitinha lá na oficina.

Êita japonês! Ainda tá cuidando da reconstrução do chicote e não deu início à instalação do painel ou mesmo das lanternas e setas traseiras que eu já trouxe…

Pois bem, aqui é que sinto que teremos problemas. Além das presilhas que vão por toda a parte de cima do para-lama – e mais três ali na parte de baixo – também temos estes furos que acompanham a curvatura do farol e para os quais são utilizados outro tipo de parafuso, diferente dos de rosca soberba das presilhas. Mais especificamente, conforme o Catálogo de Peças e Acessórios da Chevrolet, é um parafuso com cabeça sextavada de 6 x 15mm, com arruela.

E, também, um pouco mais para cima, já no “nariz” do para-lama, temos mais estes dois pontos de fixação.

Vejam bem de pertinho o estado que se encontra a rosca da lataria. Ela ainda está lá, mas qualquer parafuso que for colocado ali vai entrar “rasgando” tudo. Ou, pior, espanando o próprio parafuso!

Neste close do close dá pra ver que em alguns casos a rosca nem aparece mais, pois está com camadas de ferrugem, tinta e sabe-se lá mais o quê a lhe entupir os sulcos.

É.

Antes de prosseguir com a instalação das setas é necessário resolver esse problema.

Vou precisar de um macho.

Seguindo a seta

Naquele nosso ritmo de sempre, o próximo passo seria a instalação das setas dianteiras. Pra isso seria necessário buscar os para-lamas lá na casa de meu pai, já que o conjunto tem que estar montado para poder colocar cada peça no seu devido lugar.

Agora não tem jeito. O negócio é arregaçar as mangas e dar início à “operação limpeza”. É pegar o que estava deste jeito…

…para deixar deste outro jeito!

Assim como fiz com o painel, também tinha algumas setas usadas sobressalentes para que eu pudesse ter mais algumas opções quando fosse fazer a montagem. Se bem que o estado geral de conservação – tanto das originais quanto as que eu comprei usadas – está pra lá de sofrível! Vamos ver se vai dar rock’n roll…

Painel a granel

Desencaixotando o que estava encaixotado – e parte primordial nessa fase da parte elétrica – fui resgatar os painéis do Titanic.

Sim, painéis. No plural.

Isso porque o painel original, o marron, já estava pra lá de detonado.

Então que fiz eu? Já há um bom tempo consegui encontrar num desmanche um painel que não estava lá essas coisas, mas ao menos estava bem melhor que o que eu tinha. E melhor: preto. Já que mudei a cor do carro do antigo bege-café-com-leite-sem-graça para o novíssimo laranja-ói-que-fudidão, então todos aqueles detalhes da cor marron teriam que ser substituídos. A começar pelo painel.

O primeiro passo, após a completa desmontagem de ambos, seria uma bela de uma lavagem completa – pois, além da sujeira natural acumulada enquanto estavam instalados, anos de pó numa garagem fechada não ajudou em muita coisa na conservação.

De igual maneira, todos os pequeninos componentes de ambos também foram devidamente limpos…

O negócio agora seria aproveitar o melhor de cada um deles. A placa de circuito impresso original estava praticamente intacta, ao contrário daquela do painel que adquiri, que estava um lixo!

Tudo que era passível de ser desmontado, o foi. Depois de uma minuciosa limpeza e escolha do que estava em melhores condições, o trabalho de remontagem foi prosseguindo passo a passo…

Tudo bem que minha bancadinha de trabalho não é lá das maiores ou das mais bem organizadas. Mas acaba comportando todo o ferramental essencial que eu preciso para trabalhar! 🙂

Menos, é lógico, o que seria necessário para testar as lâmpadas do painel antes de instalá-las… 🙁

Na falta de uma bateria ou de um transformador, pensei no básico do básico: um carregador de celular. Como no domingo sempre tem uma feirinha (não tão “feirinha” assim…) bem perto de casa, mais conhecida como “feira do rolo” – bem como por outros nomes não tão publicáveis -, e lá sempre tem dezenas e dezenas de carregadores velhos espalhados pelo chão, resolvi dar uma passada por lá e verificar se encontrava algum na voltagem correta de 12 volts. Nos primeiros dez passos já encontrei o que precisava. Dérreal. Negócio fechado. Já em casa bastou descascar os fios e testar lâmpada por lâmpada, separando as queimadas e dando um trato nas que acendiam.

Enfim, não demorou muito e o trabalho estava concluído!

E como não consegui (ainda) um conta-giros decente (ou um painel mais decente ainda) é ali do lado mesmo que vai ficar instalado o único que tenho. Pela foto pode até não parecer, mas ficou muito, MUITO, lindo este meu novo velho painel!

Separando o joio

Agora que o nosso bom e velho Titanic está no devido lugar, basta simplesmente levar as peças da parte elétrica para a montagem, certo?

Bem, num mundo perfeito e ordeiro talvez fosse assim. Mas estamos falando de peças que estão guardadas há anos – ANOS!!! – e que por mais de uma vez foram “rearranjadas” no pequeno espaço da caverna que chamo de garagem. Desde a última limpeza elas vieram parar nesse protótipo de prateleira…

Pelo menos eu havia deixado tudo separado em caixinhas – em especial os parafusos. Cada coisa e conjunto no seu devido lugar, de modo que quando fosse necessário montar cada parte, já estivesse tudo separadinho. O plano perfeito. Mas em um mundo perfeito meu sogro japonês de 85 anos e surdo como uma porta de carvalho dupla não estaria morando comigo. E eventualmente ele gosta de fuçar nas “coisinhas” dele lá na garagem – o problema é que ele também que estende essa fuçação para as MINHAS coisas. Não sei se ele precisava de uma caixa ou de um parafuso, mas o que sei é que encontrei minhas tralhas desse jeito aí embaixo…

O TEMPORA! O MORES!

(Para os “não iniciados” na latinagem acima, essa foi uma frase dita há mais de dois mil anos por Cícero, um filósofo romano, indignado com as pessoas e seus costumes. Significa algo como “Ó Tempos! Ó Costumes”. Pois é. Desde aquela época o caboclo também já era de reclamar…)

Bem, que se há de fazer? Começar a escolher e separar o que for possível, não é mesmo? O chicote básico e algumas outras peças “óbvias” eu já havia levado pro japonês. A primeira coisa que ele me pediu foi a caixa de fusíveis – até pra ver se daria pra aproveitar ou se teríamos que arranjar uma nova. Fuça daqui, fuça dali acabei não só achando a danada como também uma bela coleção de fusíveis, tanto incompatíveis quanto quebrados…

E, ainda, com a própria tampinha original, hein?

Mas o que ainda estava faltando e não necessariamente seria uma peça da parte elétrica era a churrasqueira. Não a elétrica, na qual costumo assar minha picanhinha, mas aquela da frente do Opala, onde vão os limpadores de para-brisa. É que enquanto o carro esteve na mecânica acabei deixando guardadinhas na casa de meu pai todas as peças não essenciais (para-lamas, capô, tampa do porta-malas, etc). Não é longe, é só do outro lado da cidade, mas zuzo bem. Pelo menos ficaram bem protegidas lá numa edícula que ele tem nos fundos da casa dele.

Zarpando para um novo estaleiro

Atrasou um bocadinho, mas do final de março para mais tardar o começo de abril não foi muita coisa não… Ao menos se considerarmos que já fazia três anos e meio que o Titanic estava lá na oficina!!!

Mas isso não foi nada demais, pois foi como sempre falei para o Seo Waltair: “Nossa combinação tá perfeita, já que o senhor não tem pressa e eu não tenho dinheiro…”

E, apesar de tudo, o combinado não é caro. Ele acabou a parte dele. Então era a vez de eu honrar a minha parte. Por isso é que ainda tivemos que aguardar mais uns pares de meses… Não que ele se negasse a me deixar levar o carro! Nada disso! Foram anos de convivência e mútua confiança até chegarmos nos dias de hoje – mesmo antes do início da reforma. Eu é que sou sistemático mesmo e não me sentiria bem em retirar o Titanic de lá sem deixar, no mínimo, tudo muito bem encaminhado em termos de pagamento. E foi o que fiz!

Mas toda – TODA – história tem um começo, meio e fim…

E agora, já com o casco restaurado e a casa de máquinas em pleno funcionamento, é chegada a hora do Titanic zarpar para um novo estaleiro. Afinal de contas há que se dar início à Sexta Fase!

    
Não um “adeus”, apenas um “até logo”…

Então foi assim: cheguei cedim, proseei um bocadim com o Mestre dos Magos, ele me indicou um guincheiro BBC (Bão, Barato e de Confiança), liguei pro caboclo, combinamos o preço, demorô um cadim mas ele veio, ponhêmo o Titanic arriba do caminhão e zarpemo!

Oi? Não entenderam direito? Tãotáintão. Foi desse jeito:

Ah, só pra constar, o Seo Waltair estava ali em cima firmando o arame que segura as portas, uma vez que elas estão sem trinco e poderiam abrir no caminho…

E então, cerca de quinze quilômetros depois, da porta da mecânica até a porta da autoelétrica, o Titanic aportou bem em frente de uma praça!

“Ostentação…”

“Oi, tentação!”

E ói: enquanto eu aguardava o japonês liberar espaço na oficina (tinha um carro aberto, sem o motor de arranque, bem no caminho) foi um tal de passar gente com olho comprido que deu até orgulho!

Mas como comigo sempre tem que acontecer algum perrengue, na hora de colocar o carro pra dentro quem disse que eu lembrava como era a ré? Cutuquei, engatei, desengatei, custou mas lembrei: tinha que puxar a alavanca pra cima e trazer como se fosse engatar a segunda! Arre, afinal faz tantos anos desde que eu o dirigi pela última vez…

Em seu novo Estaleiro…

Devidamente ancorado.

Aliás, antes que eu me esqueça: também já deixei combinado com o japonês a questão do não ter pressa e não ter dinheiro… Não que o Titanic vá ficar mais alguns anos por lá – até porque o espaço dele é limitado – mas, sendo bem mais perto de casa, fica mais fácil de ir acompanhando essa nova fase…

Enfim, que se iniciem os trabalhos!

😀

Sexta-fotos

Confesso que quando comecei essa empreitada meu desejo era de comprar um Maverick. Mas quando fiquei sabendo que ele tinha sido fabricado no Brasil somente entre os anos de 73 a 79 já percebi que seria inviável, haja vista a dificuldade que teria para encontrar peças para um carro como esse. Mesmo assim nunca deixei de admirar um belo carro – e este, em particular, estava lá na mecânica do Seo Waltair.