A cor do Titanic

Pela foto aí do lado, todo mundo já sabe que a cor original do Titanic era bege. A minha querida, amada, idolatrada, salve, salve Dona Patroa refere-se a esse tom específico de cor como “cor de calcinha”. Já de minha parte costumo dizer que essa cor de um tom de “cocô de passarinho com diarreia líquida”. Enfim, não importa – e que me perdoem os opaleiros que têm um bólido dessa cor – pois particularmente acho ela feio bagaráy.

Assim, desde os primeiros momentos já havia decidido que iria trocar a cor do carro. Sim, confesso que já num primeiro momento pensei no General Lee, o Dodge Charger 1969 da série The Dukes of Hazzard – aqui “traduzida” como Os Gatões

Fuçando aqui e ali, cá e acolá, obtive a informação de que a cor do General Lee seria uma tal de Hugger Orange. É lógico que fui buscar a “história” dessa cor específica.

Então, caríssimos, como costumo dizer lá no Legal, “senta, que lá vem história!”

Nascido em 1969, o Hugger Orange foi a resposta da Chevrolet às cores vibrantes e impactantes da era dos muscle cars. Nessa era, a sutileza era um ponto fraco. De motores potentes a cores ousadas, tudo era projetado para se destacar e marcar presença nas ruas ou nas pistas. Cada marca tinha sua tonalidade característica, do Sublime Green da Mopar ao Grabber Blue da Ford, e para a Chevrolet, essa cor seria o Hugger Orange. Introduzido no Camaro de 1969 (mostrado acima), esse tom vívido e cheio de energia tornou-se sinônimo da identidade de desempenho da Chevrolet na era de ouro dos muscle cars americanos.

Além do Camaro, a Chevrolet também usou o Hugger Orange no Chevelle, El Camino, Nova e Corvette a partir de 1969. Mais tarde foi usada nas caminhonetes Chevy C/K e no K5 Blazer, e para comemorar o 30º aniversário do Camaro, um número limitado de Camaros de 1999 foi pintado nessa cor.

Trata-se de uma cor muito distinta devido à ausência de manchas metálicas. A seguir temos alguns dos muscle cars que ostentaram essa cor icônica.

Chevrolet Camaro SS 632 Restomod 1969

Oldsmobile 442 1970Chevrolet Nova SS 1967 Restomod

Chevrolet Camaro Yenko/SC 1969

Chevrolet El Camino 1968

Chevrolet Chevelle SS 1969

Só que, em verdade, em verdade, vos digo: Hugger Horange não era a cor do General Lee!

No começo muita gente achava que a cor era Hemi Orange, porém no filme ela parecia como sendo marrom, de modo que foi descartada.

A mais indicada – e que muitos acreditam ser, de fato, a cor do veículo – é a Hugger Orange. Porém essa cor era tão brilhante e reluzente que captava reflexos da câmera durante as filmagens, de modo que também não foi utilizada.

Por isso durante anos acreditou-se que o General Lee era pintado de Vermelho Chama, uma cor do Corvette de 1975 a 1978. De fato é bem parecida, mas ainda não é a cor real.

Isso até que, por volta de 2020, um sujeito chamado Travis Bell, o principal “especialista” em General Lee, conseguiu desvendar o “segredo”. Ele conseguiu escanear a tampa do porta-malas do General Lee original (centenas de Dodges foram usados – e destruídos – durante as filmagens da série) e foi aí que descobriu a verdadeira cor do carro. Que, por incrível que pareça, veio daqui:

O resultado obtido por Travis Bell é uma combinação exata de uma cor chamada TNT Express – que nunca foi uma cor de fábrica para carros, mas é usada por essa transportadora em seus veículos de entrega.

Então, que também me perdoem outros “especialistas”, mas ao que parece finalmente se chegou a um consenso a respeito da “verdadeira” cor do General Lee.

Mesmo assim, olhando mais de perto, por mais “famosa” que fosse, não era bem essa a cor que eu queria. Então fiz um verdadeiro catálogo de cores laranja para escolher a que mais me agradava, como contei lá no post O tom da cor, e junto com o “Seo Zé”, o funileiro, chegamos a um veredicto: Laranja Boreal, da Chevrolet. É bem como expliquei neste outro post: Agora vai!!!

Porém, ainda assim, acabei cometendo uma gafe, conforme o mea culpa que fiz lá no post A cor certa. Na realidade acabamos fazendo confusão com a palheta de cores e a que, de fato, foi utilizada para pintar o Titanic nem foi da Chevrolet, mas sim da Volkswagen: o Laranja Nepal.

Enfim, a diferença com todas essas cores anteriores é simples: ela é um pouquinho mais clara. E só. Mas é o suficiente para ter ainda mais destaque naquilo que todo Opala já costuma ser: “uma máquina de entortar pescoços”

😁

Descomutando a seta

Estou muito – MAS MUITO MESMO – longe da verve de alguém como Guimarães Rosa, mas é certo que volta e meia me meto a inventar e desinventar palavras e palavrórios para ilustrar os “causos” que destilo neste cantinho virtual para meus quase quatro e meio leitores que – sei lá, anualmente? – resolvem passar por aqui para saber se ainda existe alguma novidade sobre o Titanic.

Bom, pra começo de conversa, vamos deixar uma coisa bem clara: apesar da pandemia, não morri, nem mesmo – o que seria ainda pior – interrompi o Projeto 676. É certo que o Titanic ainda não está pronto, pois somente agora estou emergindo de um longo período que mesclava muito trabalho, um tanto de vagabundagem e outro tanto de cachaçada.

Mas (mais uma vez) estou de volta.

Tentando me programar para ao menos uma vez por dia ir atualizando o blog, principalmente com a parte “retroativa”, pois a última postagem digna de nota acerca da reforma foi ainda quando eu ainda havia acabado de montar o capô, em 2018, e sequer os vidros laterais estavam no lugar. Só que atualmente o veículo está montado, regulado, documentado e rodando. Ainda que não esteja terminado.

Mas vamos ao que interessa pra hoje.

Como vocês devem saber (ou, ao menos, deveriam) a seta – ou “pisca-pisca” – do Opala nada mais é que um conjunto de lâmpadas simples, acionadas por uma alavanca na direção, porém no meio do caminho há um relê, há um relê no meio do caminho. E é graças a esse relê (um dispositivo elétrico que tem como função produzir modificações súbitas, porém predeterminadas, em um ou mais circuitos elétricos de saída) que essas lâmpadas da seta não ficam simplesmente acesas ao se acionar a alavanca, e sim ficam piscando, com aquele característico “tec-tec, tec-tec, tec-tec”.

(O que me fez lembrar de uma das célebres frases de Mário Quintana: “Mera ilusão auditiva graças à qual a gente ouve sempre “tic-tac” e nunca “tac-tic”… Depois disso, como acreditar nos relógios? Ou na gente?”)

Mas tergiverso.

Enfim, o problema é que, muito de vez em quando, em vez de seu barulho e reação característicos, a seta em vez de piscar simplesmente travava num longo “pééééééééééé”. E não setava. De quando em quando voltava ao normal no meio do defeito, ou então não voltava. Às vezes, ainda, sequer dava defeito. E o defeito intermitente é péssimo, pois não tem como o especialista avaliar qual seria se ele não surge.

E o especialista, nesse caso, era o nosso já conhecido Japonês da Autoelétrica.

Num primeiro momento desconfiou do relê e trocou-o. Na sequência deu uma checada nos fusíveis (que ainda são daqueles de vidro) e numa outra desconfiança também trocou um deles. Voltou a funcionar perfeitamente.

Até hoje.

E o problema é aquilo que eu acabei de comentar: como avaliar o defeito se estiver funcionando normalmente? A coincidência das coincidências é que eu estava por ali e fui com ele para fazer um socorro (entenda-se: atender um cliente cujo carro não está funcionando e você tem que ir até o local onde o veículo desmilinguiu) e na volta surgiu o malfadado defeito! Parei em frente da oficina e nem desliguei o Titanic.

E eis que ele me entra, e volta com sua chave de testes caseira (feito com um raio de bicicleta e mais certeira que muitas das digitais que se pode encontrar no mercado), fuça daqui, fuça dali, acelera, desconecta isso, reconecta aquilo e então dá o veredicto: “É algum mau contato no comutador, cilindro de ignição ou nos dois.” Dito isso ligou a seta e aproveitou aquela ligeira folga que existe em todo cilindro de ignição para mostrar que quando o defeito aparecia bastava dar uma mexidinha na borboleta e já voltava a piscar normalmente.

E qual a solução para hoje? Pegou um desengripante (tipo um WD-40, só que outro), deu uma limpada em todos os contatos e montou tudo de volta com firmeza. Aparentemente deu certo.

Agora só mesmo rodando e setando pra tudo quanto é lado pra ver se acabou o defeito mesmo…

Dando a luz (de ré)

ÔPA, ÔPA, ÔPA!!!

Não é nada disso não, ô cambada de hereges!

Só pensam em bobagens, né? Que feiura…

Estamos falando da LUZ DE RÉ do nosso querido, amado, idolatrado – salve, salve! – Titanic.

Desde que eu levei a viatura para a revisão dos 1.000 km (sim, eu sei, vocês não sabem nada sobre isso porque este vagabundo que vos tecla deixou acumular poeira, ferrugem e até mesmo zinabre aqui nos cantos do blog e agora precisa criar coragem e subir com DOIS ANOS de atualizações do nosso Projeto 676) – e sem que eu percebesse – a luz de ré parou de funcionar. A bem da verdade foi meu amigo (amigo?) Osvaldo, o Japonês da Autoelétrica, que me avisou que não estava acendendo: “Você sabia que a luz de ré tá apagada?”.

Um pequenino detalhe: já faz mais de um ano que eu estou rodando com o Opala desse jeito!!!

E desde o início ele já sabia!

Fiadaputa…

Enfim, testa daqui, testa dali, a constatação foi que o interruptor da luz de ré pifou. E ainda era original! UM ABSURDO! As peças hoje em dia realmente não duram nada: pouco mais de quarenta anos e já deixou de funcionar! Desse jeito onde é que esse mundo vai parar?

No final da contas, estamos falando deste camaradinha aqui:

A dureza é que essa peça simplesmente não existe mais no mercado. Ao menos não no “mercado normal” de autopeças… Por isso, caríssimos, vamos atacar de Mercado Livre!

Fucei um tanto e acabei encontrando a bendita peça. E me custou somente trezentos e sessenta e um dinheiros! Não, não achei barato; sim, estou sendo sarcástico. Mas, como dizem por aí, já que está no inferno, abraça o capeta… E dá-lhe seis vezes no cartão!

Não levou nem uma semana e chegou a danada. Confesso que quando abri o pacote fiquei com imenso sifonáptero na parte posterior do pavilhão auricular (ou seja, uma enorme pulga atrás da orelha) dado o estado de (des)conservação da caixa em que a peça veio. Confiram:

Bão, se considerarmos que levou quarenta anos pra peça estragar, nada mais lógico que essa peça também esteja lá na prateleira também há uns quarenta anos (isso se chama autoengano ou a arte de torcer para não ter me ferrado nessa).

De volta ao Japonês, ele instalou a peça no devido lugar (não sem antes reclamar bagarái) e fomos conferir: beleza! Voltou a funcionar!

Caso estejam se perguntando o porquê de a alavanca de câmbio estar sem a coifa, já lhes respondo: é que dia desses o câmbio abriu no meio. Oi? Ainda não contei essa desventura? Tá bom, em breve (mesmo) lhes atualizarei sobre mais essa.

No final das contas devo desculpa aos meus quase quatro e meio leitores por ter deixado o blog largado e sem dar notícias do que estava acontecendo. O Titanic já está rodando há um bom tempo, até mesmo a documentação já está em dia e muita coisa foi feita desde a última postagem sobre a montagem (Carái, véi! Isso foi de outubro de 2018!)– de modo que vou tentar trabalhar “no retroativo”, ou seja, preenchendo as lacunas que deixei pra trás. Mas sem deixar de lado o que anda rolando hoje em dia, ok?

E meu agradecimento especial vai para o nosso amigo opaleiro Anderson de Souza e Silva, pois foi somente por conta de seu comentário no post da CB 400 que me caiu a ficha do quanto tempo eu estava sem escrever por aqui.

Valeu, cara!

O Projeto

Seja bem-vindo você que chegou aqui pela primeira vez. E também seja bem-vindo você que, após longo e tenebroso inverno, talvez mais por fé do que por esperança, ainda voltou para dar uma olhada nas garatujas deste ancião que vos tecla…

Este é o blog do Projeto 676: a fronteira final. Estas são as viagens e desventuras da reforma de um Opala 1979, numa missão que já dura doze anos para exploração de novas peças, para pesquisar novas formas de montagem, novas comunidades, audaciosamente indo onde nenhum opaleiro jamais esteve!

Pois bem. A última “postagem séria” que fiz remonta a outubro. DO ANO PASSADO! De lá pra cá muita coisa já se alterou, muito trabalho já foi feito no nosso amado, idolatrado, salve, salve Titanic – que, inclusive já se aventura para umas voltinhas no bairro. Mas ainda há muito trabalho para ser feito e dinheiro de menos para conseguir fazer esses trabalhos…

Mas quem sou eu pra reclamar? Um cinquentão taurino, teimoso e turrão que depois que enfia uma coisa na cachola não desiste nunca. E a “coisa”, neste caso, é ver esse carro pronto. E lembrando que não se trata de uma restauração, mas sim de uma reforma – só que do meu jeito, ou seja, de baixo pra cima, de dentro pra fora, deixando-o original na aparência externa, mas buscando conforto e comodidade na parte interna.

Mas, enfim, isso tudo é só para me (re)apresentar para vocês. O antigo endereço deste blog (www.projeto676.com.br) foi desativado, apesar de o domínio ainda me pertencer. Questão de contenção de despesas neste ano que, definitivamente, foi ímpar. E por isso fiz um “puxadinho” aqui no meu blog oficial (www.legal.adv.br), no qual já escrevo há mais de vinte anos e transportei tudo que estava no endereço antigo para este novo endereço.

Todos os 469 posts.

Todos os 1.646 comentários.

E tudo foi revisado, um a um, de modo que não há nenhum link quebrado, nenhuma foto faltando, nenhum vídeo que não execute, nenhum arquivo que não baixe. Dei uma acertada no visual como um todo e aí do lado distribui mais alguns links interessantes. E mais: criei um Canal no Youtube! Também está aí do lado, mas é este aqui. Inclusive já coloquei um vídeo com uma montagem das principais fotos do que já aconteceu nessa reforma nestes últimos doze anos – aumentem o som e aproveitem! Na verdade ainda não sei bem o que vou fazer por lá (e fiquem à vontade para ajudar e palpitar!), mas é uma rede a mais para espalhar a palavra, juntamente com as que tenho no Facebook e no Instagram

Enfim, este blog voltará a ser atualizado e poderei compartilhar com vocês as alegrias e dificuldades que passei no último ano com o Titanic, vou mostrar as montagens em detalhes (daquele meu jeito que muitos já conhecem) e tentar reativar as antigas sessões de fotos e causos que tínhamos por aqui. A data será atual, mas a cronologia vai continuar de onde parei, quando ainda estávamos lá na autoelétrica do japonês.

E vamo que vamo!!!

O Quebra-Vento ( II )

Bom, caríssimos, agora que já aprendemos um pouco sobre a utilidade, história e outras elucubrações sobre o quebra-vento, voltemos à nossa programação normal. Até porque essa parte elétrica já está demorando BEM MAIS do que eu esperava e comigo quase que diariamente na oficina do japonês montando as outras partes do carro fica fácil dar uma “acelerada” nele…

Pra começar vamos dar uma olhada no estado deplorável em que se encontravam os quebra-ventos do Titanic quando eu os tirei: estavam sujos, enferrujados e com aquela porcaria de insulfilm “padrão meia-noite” colado nos vidros.

É lógico que na mão deste taurino, teimoso e turrão que vos tecla, depois de algum tempo até que consegui recuperar “um pouquinho” da aparência original deles…

E, a seguir, temos o parzinho, lados direito e esquerdo, prontos para serem instalados.

Cabe aqui destacar dois detalhes importantes. Antes de mais nada, quando comprei este Opala eu sabia do estado lastimável em que ele se encontrava, com tudo podre, meio que quebrado, o escambau. Mas o que me chamou a atenção é que ele tinha praticamente TODAS as peças originais, os vidros, os acessórios, os emblemas, etc. E eu digo “praticamente” porque sempre falta alguma coisa… No caso dos quebra-ventos tenho um probleminha de cada lado. No lado direito, do passageiro, está faltando a ponteira, uma pecinha de plástico que vai na parte superior do quebra-vento e que tem por função bloquear, impor um limite, no curso do vidro da porta. Já do lado esquerdo, do motorista, está faltando o trinco para manter fechado o quebra-vento. Paciência. Essas peças não são fundamentais para a montagem, então deixarei para procurá-las (no mercado) e instalá-las mais tarde.

A montagem do quebra-vento não requer prática nem tampouco habilidade. Basta encaixá-lo no lugar, apertar alguns parafusos e pronto. Mas para não dizer que não lhes ajudei, eis um diagrama com o bichinho com o desenho naquele formato “explodido”…

Visto o visto, é isto.

O nosso querido, amado, idolatrado, salve, salve, Titanic já está começando a ficar com cara de carro novamente… O próximo passo será a colocação dos demais vidros e máquinas, tanto dianteiros quanto traseiros. Me aguardem!

O Quebra-Vento ( I )

Muito bem, caríssimos, esta parte da reforma resolvi dividir em dois tópicos, pois como tenho bastante o que prosear iria ficar muito grande para um texto só – se bem que nos dias de hoje, quando qualquer coisa maior que três parágrafos nas redes sociais já é entendida como um “textão”, então não sei não…

O nosso assunto de hoje (e de depois) é um só: quebra-vento, também conhecido por alguns como ventarola. Vocês aí, jovenzinhos, que ainda não tem o excesso necessário de ferrugem correndo nas veias, sabem o que é isso?

Então.

Nos carros d’outrora, quando ar condicionado era um luxo que somente existia nos carros de luxo (propriamente ditos), o quebra-vento, aquela janelinha triangular que ficava na parte dianteira do vidro das portas dianteiras (e em alguns raros casos, em automóveis bem mais antigos, também das traseiras), era a garantia da ventilação interna do veículo sem a necessidade de expor motorista e passageiros às janelas completamente abertas.

Entretanto, no início da década de noventa esse detalhe foi tornando-se ausente nos lançamentos das montadoras. A “justificativa” que acabou sendo apresentada é que o quebra-vento seria um item que fragilizava a segurança do veículo, que atrapalhava na aerodinâmica do automóvel (somente quando aberto), aumentando o consumo de combustível, e, pasmem, por questão de segurança, pois numa batida lateral aquela haste de sustentação do vidro poderia ferir o motorista.

Sinceramente?

Tudo bobagem.

Numa linha de produção quanto menos peças você tiver para encaixar quando da montagem do veículo, muito mais fácil, rápido e econômico ficaria para as empresas. Ora, um vidro inteiriço dá muito menos trabalho do que um quebra-vento com todos seus encaixes e ajustes, portanto não precisa ser nenhum expert na área para entender o porquê da extinção dessa peça vital da indústria automobilística brasileira…

Mas não fiquemos somente com a opinião deste Velho Causídico que vos tecla, pois alguém com muito mais propriedade do que eu já escreveu sobre isso anteriormente. Com vocês a crônica O Quebra-Vento, do sempre oportuno Mário Prata:

‘ Pequena janela móvel situada logo após o para-brisa dianteiro de veículos automóveis e que dirige o vento para a direção desejada’.

Lembra dele? O velho e bom quebra-vento? E já percebeu que não existe mais quebra-vento? A definição ali de cima é do Aurélio, o que vem constatar a importância do mesmo. Virou verbete. Nas próximas edições, deverão colocar ‘que dirigia o vento para a posição desejada’.

Tudo no mundo vai acontecendo tão rapidamente que a gente vai perdendo os ganhos sem perceber. O quebra-vento, na minha opinião, é uma perda irreparável. Duvido que ele volte, um dia. Ou uma noite.

O quebra-vento era genial. Tal qual o Carlinhos Moreno (o Washington Olivetto fez um livro lindo sobre o garoto) ele tinha 1001 utilidades. Ou mais.

Neste fim de semana vim da praia para casa pensando nele. Melhor ainda, na falta dele. Cheguei a algumas conclusões definitiva e sociologicamente importantíssimas. Uma delas: o desaparecimento dele se deve – também – à campanha antitabagista. Com o quebra-vento você podia fumar dentro do carro tranquilamente com a ponta do cigarro para fora, através dele. Não entrava a fumaça para dentro, protegendo até caronas asmáticos. E mais, batia a cinza lá para fora. Ecologicamente correto.

Claro que, naquele tempo, quase nenhum carro tinha ar condicionado. Ele – e apenas ele – era o ar condicionado, o refrigério daqueles tempos difíceis. E como era bom você direcionar o quebra-vento no seu próprio peito. Tá certo que todos os detritos dos escapamentos alheios vinham junto. Mas era uma viagem e, numa viagem, o que importa é o prazer. Aquele vento no peito, no queixo, curava até ressaca. Sim, se você estava de porre, aquele vento te confortava até chegar em casa são e salvo. Era mesmo uma proteção antietílica.

Só que, quando chovia e você abria o quebra-vento, ficava pintando umas gotas no joelho esquerdo. Lembra, encharcava a calça Lee. Mas até isso era reconfortante. Em alguns carros – o fusca, por exemplo – inventaram uma espécie de canaleta para proteger dessa aguinha. Em vão. A canaletinha enchia e enchia o saco.

E quando você trancava a porta com a chave dentro? Bastava enfiar um arame por ele – sempre ele – e levantar a alavanquinha. Para os mais aflitos, ia no pontapé mesmo.

Eu acho que o quebra-vento também começou a sumir quando surgiu aquela travinha para evitar maus olhados alheios. Lembra? Você enfiava aquilo no meio dele e achava que estava protegido. Qualquer chave de fenda arrebentava aquilo. Mas todo mundo – como a gente era ingênuo! – tinha a travinha. Mas a travinha dava um certo trabalho porque, para abrir o quebra-vento, toda vez você tinha que abaixar o vidro todo, ali, na maçaneta, manualmente, fazendo a chuva entrar impavidamente. Depois levantar de novo com o quebra-vento devidamente direcionado.

Era o ar condicionado da época. E tinha lá suas vantagens: o motor não ficava mais fraco, não. E a alegria maior era quando você abria os dois das duas janelas, jogando o ar para dentro. Era uma ventania danada. Aquele furacão dava um certo prazer.

Um dia, algum engenheiro (americano, com certeza) resolveu acabar com a nossa alegria. E não avisou ninguém, não chamou a imprensa. Fez a coisa sorrateiramente, provavelmente na calada da noite. Inventou o vidro inteiro tirando o ar do nosso peito varonil. E, como ninguém percebeu, não foi nem julgado e nem condenado, o assassino dos nossos ventos.

Comecei a olhar os poucos fuscas que ainda rodam por aí. Todos eles com os devidos quebra-ventos. Aqueles motoristas são felizes e não sabem. Os que usam as amarelas Brasílias também. Invejo esses caras.

O que nós todos estamos precisando é isso: um arzinho na nossa cara. Não um ar condicionado, mas um vento incondicional para nos deixar alerta até mesmo contra os ladrões que entravam por ali, pelo quebra-ventos, e hoje entram com carros importados e toda a impunidade que os ventos de Brasília sopram em seus peitos.

E amanhã eu voltarei com o histórico da montagem dessa distinta peça no nosso amado, idolatrado, salve, salve Titanic!

A hora do capuz

Ou, se preferirem, “do capô”…

Pois bem.

Como minhas “atividades opalísticas” limitam-se aos momentos em que consigo ter um tempo livre para ir lá na oficina do japonês então já deu para facilmente perceberem que as coisas vão meio que devagar, certo?

Em julho foi quando coloquei a fechadura do tampão traseiro, em agosto foi a vez deixar o painel pronto para ser instalado e em setembro foi quando eu instalei os interruptores da luz de cortesia e de quebra ainda aproveitei para dar uma boa arrumada lá na garagem de casa, pois a bagunça parece ter uma capacidade de se auto-proliferar ilimitadamente ainda que num espaço limitado…

E assim chegamos ao mês de outubro de 2018 e agora é hora de fazer a catança das partes perdidas da trava do capô para também já deixá-la instalada (ainda que o capô propriamente dito eu somente vá colocar mais tarde). Na realidade neste momento o que nos basta é a fechadura que vai na lataria e o cabo acionador que vai lá dentro, embaixo do painel. Pra variar a peça estava uma beleza, vejam só:

Mas nada que não possa ser resolvido com um tanto de gasolina, uma faquinha para limpar os cantinhos e mais um bocado de paciência!

Uma vez que feita a devida limpeza, ainda tive que emprestar de novo do Seo Bento (vulgo Meu Pai) o macho para dar uma limpada na rosca e daí bastou pegar alguns daqueles parafusos novos de 10mm que comprei quando da instalação dos para-lamas.

E quanto ao cabo, depois de devidamente encaixado no seu lugar bastou fixá-lo no trinco. Ou seja, tirando a parte da limpeza, foi tudo um mamãozinho com açúcar. Fácil, fácil.

E ainda neste mês de outubro serão colocados os quebra-ventos e as máquinas dos vidros traseiro e dianteiro…

Assim que der eu volto!