Nos sites por aí pela Internet vejo muita gente referir-se ao fim de semana como “FDS”. Não sei se é muita maldade em meu coração, mas foneticamente isso pra mim soa muito mais como “FoDa-Se”, do que como “Fim De Semana”. Mas, enfim, é exatamente sobre isso que gostaria de falar, sobre o fim de semana. Se bem que, pela conjuntura da coisa, poderia ter escrito FDS mesmo…
Tinha tudo pra ser um fim de semana extremamente tranquilo. Mas, já de véspera, fui alertado pela Dona Patroa que ela precisaria acompanhar seus pais (meu estimado sogro e minha… bem, a… tá, minha sogra) até o litoral, onde eles têm uma casa que havia sido locada e agora precisariam fazer uma vistoria, pois o inquilino havia saído. Como eles já são bem velhinhos, usualmente costuma sobrar pra caçula deles (ou seja, a Dona Patroa) “programas” desse tipo.
No meio da manhã de sábado lá fui eu fazer umas compritchas. Na volta ela me liga. O filhote mais velho estava com catapora. Sim, todos tinham sido vacinados, não, os outros não pegaram, sim, pensando melhor, acho que já pegaram – mas de forma bem leve, não, é catapora mesmo.
Celulares. Maravilhas do mundo moderno. Esqueçam aquele ditado de que notícias vão a galope; hoje o máximo que elas galopam são as microondas. Dez minutos depois e ainda ao volante (que nenhum marronzinho me leia essas linhas) já tinha resolvido toda a agenda de compromissos da semana.
Como ela iria descer somente no domingo, aproveitamos o sábado em casa. Toda a família, com destaque especial para meu joelho, que – óbvio – estava doendo. Somente entrando na faca mesmo pra reconstruir os ligamentos avariados, mas isso já é outra história. À noite resolvemos assistir um filminho pra descontrair: The weather man, incrivelmente “traduzido” como O Sol de cada manhã, um filme com Nicolas Cage e Michael Cane. Que me perdoem todos aqueles que conseguiram ver mensagens de esperança e significados ocultos, esotéricos e de auto-ajuda no filme. Particularmente achei horrível. Poderia ter falado fraco, previsível, modorrento e chato. Mas prefiro ficar somente com a palavra horrível – com o que compactua a Dona Patroa. Pra não dizer que foi uma perda total, a atuação de Michael Cane sempre é cativante e aprendi algo sobre arco-e-flecha, uma paixão secreta que um dia ainda realizarei. Salvo isso, repito, horrível.
Eis que chegou o domingo e lá foi a Dona Patroa fazer a maledetta vistoria, juntamente com meus sogros e 1/3 de nossos filhos. Fiquei em casa com os 2/3 restantes: o mais velho, com sete, e o caçula, com dois e meio. Com o quintal e um dia que nem decidia se chovia ou se ensolarava, até que tivemos com que nos ocupar.
No meio do caminho rolou um strees básico por telefone com a senhora minha mãe – por que é que toda mãe (pelo menos as da geração passada) já vem treinada em trabalhar com a culpa nos filhos? Desde pequeno já era assim. Ao invés de me dizer para lavar o alpendre (alguém ainda sabe o que é isso?), ficava por perto entonando o costumeiro mantra: “Ah, preciso lavar esse alpendre! Mas estou tão cansada… Ainda tenho que fazer almoço e cuidar do quintal. Mas o alpendre está tão empoeirado que precisa ser lavado…” e seguia por aí afora. É LÓGICO que a determinada altura da coisa eu era obrigado a tomar uma atitude: ou saía pra rua de vez ou lavava a porra do alpendre. Como eu sempre tentei ser bonzinho… bem, dá-lhe alpendre!
Mas, com o tempo, meio que me imunizei a esse tipo de ataque. Porém, de vez em quando ainda sou pego com a resistência baixa e acabo perdendo a paciência. Tudo bem. Faz parte do pacote e do nosso relacionamento.
Com o filhote cada vez mais cheio de brotoejas devido à catapora (ou varicela, ou, ainda, tatapora), bastou uma dipironazinha de leve (C13H16N3NaO4S) para trazê-lo de volta aos eixos. Aliás, quem tem filho sabe que nessas horas a gente fica muito mais permissivo, com um “dózinho” do doentinho, tentando atender seus mais ínfimos desejos e levantando um escudo protetor a sua volta. Apesar da surra que levei da última vez – a cantoria de “ganhei de dez a zero do papai” ainda ecoava em meus ouvidos – fomos jogar algumas novas partidas de Play 2. E não é que o desgramado me deu uma nova surra? Mas, pelo menos, dessa vez ganhei algumas das corridas! Imagino que se um carro de verdade tivesse um joystick ao invés de um volante eu bateria em cada árvore que encontrasse pelo caminho…
Pra fechar o dia com chave de ouro, um casal de amigos resolveu fazer um churrasco de última hora e nos ligou, convocando-nos. Eles têm dois filhos cujas idades regulam com as dos nossos mais velhos – o que sempre é uma boa pedida. Expliquei a situação precária em que me encontrava, sem a Dona Patroa ter voltado e com a catapora instalada em casa. Foi então que a mãe dos pequerruchos de lá, do outro lado da linha, me disse:
– Ah, mas não tem problema! Meus meninos já estão vacinados e se pegarem vai dar bem fraquinha. É até bom, porque daí já se livram disso de vez!
Não é ótimo ainda existirem pessoas assim, total e completamente desencanadas?