A legítima militância ainda existe!

Recentemente tenho falado aqui do suicídio midiático, de pesquisas eleitorais de um modo geral e de sua manipulação em particular. E, ainda, tenho reiterado a minha plena, total e convicta falta de credibilidade em charretes veículos de comunicação tais quais folha, veja, globo et caterva.

Entendam que não se trata de soberba e muito menos de puro, simples e cego posicionamento político. O negócio é que considero um desrespeito essa falta de decoro – lamento, não arranjei palavra melhor (ou pior) – na maneira de tratar a notícia. Manipulação de números, manchetes fabricadas (o Zé Luiz que o diga!) e tentativas em geral de emplacar algum escândalo só tendem a diminuir ainda mais a parca credibilidade que (talvez) ainda exista.

Na minha opinião esta talvez seja a última eleição em que ainda tentam utilizar em larga escala tais ferramentas de destruição de opinião em massa. O eleitor de hoje, de um modo geral, é MUITO mais qualificado. E a Internet em especial veio a servir de vacina contra esse onda virótica de manipulação. Ou seja, chega dessa vida de gado.

Mas não, isso não vai acabar. Nada no mundo acaba assim de uma hora para outra. Mas que esses dodôs midiáticos estão fadados à lenta extinção, não tenho dúvidas! E esse tom de fatalidade se estende também em termos políticos, pois com seu maior pilar de sustentação em São Paulo sendo severamente abalado, entendo que a tendência do PSDB é trincar e gradativamente rachar de forma irreversível. Basta olhar para a história recente, pois isso já aconteceu antes. E seu substituto deverá incorporar o que sempre deveria ter havido: uma oposição responsável e até mesmo – por que não? – saudável.

Sonho distante? Utopia? Delírio?

Talvez.

Mas, na minha opinião, é para onde parece que caminhamos…

Pois bem. Mas vamos ao que interessa. A militância era o tema. Eis o texto, recortado-e-colado direto lá do Vi o Mundo, do Luiz Carlos Azenha:

Confronto na Globo pode definir segundo turno em São Paulo

Fui ao sambódromo paulista ver o comício final da campanha de Aloízio Mercadante. Não fui propriamente para ouvir os discursos, já que poderia tê-lo feito pela rede. Eu queria dar uma olhada no público, conversar com as pessoas, sentir o clima.

Havia muita gente, que não arredou pé apesar de ter chovido canivete. Em seu discurso, Lula parece ter vacinado Dilma antecipadamente contra ataques de última hora a respeito da participação da candidata na resistência ao regime militar. Se chover bala de prata nos momentos finais da campanha presidencial, depois do debate da Globo, quando não haverá mais horário eleitoral gratuito para responder…

O presidente da República anunciou que, além do comício de encerramento da campanha de Mercadante, na noite de quinta-feira (quando Dilma estiver nos estúdios da Globo, debatendo), em São Bernardo, no sábado haverá uma caminhada silenciosa pelas ruas do ABC.

Duvido que Lula faria isso se não houvesse nenhuma possibilidade de segundo turno em São Paulo. Por tudo o que aconteceu ao longo desta campanha eleitoral e no passado, eu não confio no Datafolha, nem no Ibope. Simplesmente perdi qualquer confiança nos dois institutos. Portanto, prefiro trazer aqui os números da pesquisa mais recente do Vox Populi:

De acordo com a pesquisa do Vox Populi, Alckmin caiu de 49% para 40%. Mercadante cresceu 11 pontos percentuais, passando de 17% em agosto para 28% neste levantamento. Celso Russomano (PP) obteve a preferência de 7% do eleitorado, Paulo Skaf (PSB) de 3% e Fábio Feldmann (PV) tem 2%. Votos em branco e nulo somaram 7%, enquanto 13% dos eleitores disseram-se indecisos. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais. A pesquisa, encomendada pela Band e pelo iG, foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número 31.704/10 e ouviu 1.500 pessoas entre 18 e 21 de setembro.

Segundo o Vox, há uma clara curva descendente de Alckmin e ascendente de Mercadante. Acredito que o teto do petista deve ficar entre 30% e 35% dos votos. As chances disso levar a eleição paulista para segundo turno, portanto, são reais.

Tudo vai depender, é lógico, de uma performance superior de Mercadante no debate desta noite, na TV Globo, que costuma ter uma audiência mais alta, embora já não seja mais aquela Brastemp do passado. Ontem, depois do comício, Celso Russomano declarou apoio a Dilma Rousseff. Ou seja, tudo indica que esta noite os dois farão dobradinha contra Alckmin.

E o que constatei no comício do sambódromo? É lógico que a militância do PT já não é mais a mesma de 1989, por exemplo. Mais de vinte anos já se passaram, o partido ganhou muitas eleições, comandou o Brasil, vários estados e centenas de prefeituras. O partido se profissionalizou.

Porém, para minha surpresa, além dos cabos eleitorais contratados — especialmente dos candidatos a deputado do partido –, notei a presença de centenas de militantes que foram ao comício pelo prazer da politica. Gente de toda parte de São Paulo. Muitas bandeiras do MST, do PCdoB e das centrais sindicais. O cartaz “A Folha Mente” estava lá. E havia centenas de pessoas com as tradicionais estrelinhas e camisetas do PT, como nos velhos tempos.

Acredito que a polarização proposta por Lula na fase final da campanha parece ter dado resultado. Eu não desprezaria a militância digital, como muita gente faz. Mas ainda acredito que, na hora agá da eleição, a militância em carne e osso faz toda a diferença. Muita gente chega ao dia da eleição indeciso ou com o voto não consolidado e, em geral, os eleitores confiam muito mais na opinião de parentes e amigos do que nas manchetes dos jornais ou no que diz o comentarista no rádio.

Em 2008, na eleição para a Prefeitura de São Paulo, fui a um evento do PT e constatei a ausência da militância tradicional e a presença quase exclusiva de militantes profissionais, pagos para acenar as bandeiras e sair na propaganda da TV. Desta feita, no entanto, o que me surpreendeu foi ver e conversar com gente que atravessou a cidade para participar de um comício sob tremenda chuva. Apesar do aguaceiro, foi um bom augúrio para Mercadante.