Pinheirinho

São José dos Campos, fevereiro de 2004.

Teve início a invasão do terreno da massa falida da empresa Selecta S/A, de mais de um milhão de metros quadrados, o que se deu por cerca de 150 famílias que haviam sido despejadas de casas da CDHU no Campo dos Alemães.

São José dos Campos, janeiro de 2012.

Quase oito anos depois, a célere justiça finalmente determina a reintegração de posse da área. Segundo os populescos noticiosos da região, aquele milhão de metros hoje comporta 1.704 casas (casas?), 81 pontos de comércio (comércio?), 6 templos religiosos e um galpão comunitário. População estimada do local: algo entre 5.500 e 10.000 pessoas. O valor do terreno, segundo a massa falida seria de mais de 160 milhões; segundo a Prefeitura, aproximadamente oitenta. Cerca de quinze milhões de dívidas perante o fisco municipal. O Comando da Polícia Militar destacou mais de 1.800 policiais da região para a desocupação. Que poderá ocorrer “a qualquer momento”.

Passo por ali praticamente todos os dias. Entretanto, por enquanto, não mais. Prefiro deixar as coisas se acalmarem um pouco. Se é que vão se acalmar. Penso na massa falida que está “reivindicando” a posse do terreno. Nos oficiais de justiça que, sem nenhuma corporificação dos “verdadeiros proprietários”, estarão ombro a ombro com os policiais nessa ação. Penso em aproximadamente cinquenta por cento daquela população composta por menores e idosos. Penso num grande percentual que deve deixar a área pacificamente, com receio dessa ação. Mas, sobretudo, penso que – mesmo excluindo todo esse povo que acabei de citar – ainda restarão milhares (ei, eu disse MILHARES) de pessoas por ali.

E daí?

Pra onde esse povo todo vai?

Encaminhado? Encarcerado? Transportado? Reprimido?

É uma questão de lógica e de física. Esses corpos (não, não estou dando nenhuma conotação a essa palavra) simplesmente têm que ocupar algum lugar em algum espaço.

E mais: ainda que se consiga retirar toda essa população (e ainda que tenham algum lugar para ir), como ficam as construções existentes? Afinal trata-se de “propriedade particular”… A massa falida terá recursos financeiros para efetuar uma demolição de tudo isso? A corporação militar desguardará o resto da cidade para vigiar o local e impedir um retorno dos “invasores”? A Prefeitura local finalmente entrará no circuito emprestando máquinas não para solucionar um problema habitacional mas para resolver o problema de um particular?

Perguntas, perguntas e mais perguntas…

E, como diria Mino, meus humildes botões calam-se resignados.

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