O homem que passa protetor solar nas costas da companheira faz sucesso entre as mulheres.
O homem delira com as possibilidades de um protetor solar. Sonha ser abordado por uma desconhecida na praia. Ela deitava, sozinha e indefesa, com mínimas peças, implorando com voz rouca de telessexo:
– Por favor, não alcanço minhas costas, me ajuda?
Mas o mesmo garanhão não é capaz de atender ao pedido recém-feito pela própria mulher. Não sustenta nenhuma fantasia com quem já dorme. Faz a contragosto, com desleixo e obrigação. Realmente envergonhado da tarefa diante dos amigos. Esfrega ao invés de passar. Como se o creme branco e cheiroso fosse um rosado e pegajoso caladryl.
– Calma, amor, senão me queimo.
– Queimado está meu filme.
Não serão os movimentos imaginados e circulares de esponja, mas gestos econômicos e rudes de lixa. Deseja se livrar da incômoda tarefa o quanto antes.
Macho acredita que seduz somente fora do casamento. Quando se fixa demoradamente numa jovem, quando pisca o olho a uma estranha, quando dá em cima de uma beldade, quando examina a bunda de uma gostosa. Confia que flertar e soltar indiretas são suficientes para garantir seu domínio territorial. Sua tese é parecer disponível, ainda que comprometido.
O conceito masculino é esquisito, feito de verdades parciais. Há sutilezas inacreditáveis em seu raciocínio. Não enxerga problema em pular a cerca desde que não visite a casa. Alega que não tem segundas intenções, mas troca sorrisos abobados com terceiras.
Suas desculpas mudam de acordo com o contexto.
Grande parte dos varões erra na arte da conquista. A falha é reforçar a caricatura, confundir ficha corrida com reputação, cair na cilada de provérbios populares como “fama de rico e comedor não se desmente”.
Carrego, portanto a certeza de que o maior sedutor não é o malandro, não é o esperto, mas o monogâmico. O fiel. O que tem olhos apenas para a sua patroa.
Ele não pescará decotes mais profundos na vizinhança. Deslizará protetor em sua mulher, com calma oriental, comovido, o olfato sinceramente interessado. Acompanhará as mãos com o corpo. No fim, se aproximará dos ouvidos para sussurar uma barbaridade. O arrepio feminino produzirá um maremoto de cangas nas proximidades.
Não precisa de mais nada para chamar atenção; toda a praia estará suspirando por ele. Abrirão uma comunidade no Orkut para homenageá-lo.
Nada mais ostensivo e perigoso do que um homem amando sua esposa.
Ninfetas, trintonas, lobas e septuagenárias vão se derreter por aquele barbado gentil e romântico. Vão concluir que ela é uma felizarda. Vão arrastar as pálpebras e tirar binóculos da bolsa para acompanhar detalhes de perto.
Diferente da piada, a fofoca nunca vem inteira, ocorre em capítulos:
– Meu Deus, ele puxa a cadeira.
– Repara como ele a acompanha nas caminhadas?
– Não desgruda um minuto da mão dela!
– Foi buscar água de coco. Não duvido que sirva café na cama…
A conclusão é que ele alcançou a glória, certo?
Não, ainda é uma decisão precipitada. O público feminino não se apaixona pelo homem, mas pela mulher do sujeito. Pretende estar em seu lugar. Ocupar sua posição. Desfrutar de igual admiração. O início do amor é sempre lésbico, depois é que pode ficar heterossexual.
Não custa avisar. Cuide de sua mulher antes que ela se interesse pela vida de outra esposa.
Carpinejar
Do livro “Mulher perdigueira”.