E então aqueles dois resolveram passear em Sampa.
Passeio revigorante para o casal, ver coisas novas e – por que não? – fazer suas comprinhas de praxe!
Num local cheio de novidades, cheio de lojas com fantásticas bugigangas, com traquitanas tecnológicas de última geração, ainda assim acabaram indo no trivial…
Entram, conferem, se interessam, se separam.
Cada um para um lado para conferir o que havia por ali.
Ele, dando voltas e revoltas, se interessando ou não por este ou aquele produto, vai, volta, anda caminha, passeia e se perde.
Ela, concentrada, vendo o que realmente lhe interessava (afinal elas são elas, não é mesmo?), de repente percebe sua solidão. Mas com isso não se preocupa. Afinal ele deveria estar por ali, por perto e tudo bem.
Então ela vê.
De costas.
Entretido com algo – sabe-se lá o quê.
Dentro de seu gosto, de sua preferência, da altura perfeita, com o físico ideal. Não tem como não olhar. Não tem como não cobiçar.
Sente – mais que momentaneamente – um quê de vergonha (afinal seu marido ainda estava por ali, ainda que não às vistas). Mas inevitavelmente aquele sujeito lhe chamou a atenção. Uma ligeira pontada de desejo lhe estremeceu o corpo…
Afinal, apenas olhar e admirar não seria errado, certo?
Mas não poderíamos ficar apenas nisso.
Pois, vagarosamente, aquela figura de seu inesperado desejo, volta-se e a olha nos olhos.
Fixamente.
E lhe sorri.
E ela se assusta.
E se confunde.
Pois aquele pequeno flerte jamais consubstanciado, que sequer veio à tona, tinha por objeto algo ainda mais inesperado.
O sujeito, afinal de contas, ao voltar-se para ela, revelou-se como sendo seu próprio marido!
E agora?
Em que situação ele fica?
Traído consigo mesmo?…
Ou orgulhoso de ser o que é?…
Alguém se habilita a opinar?…