Na realidade este post deveria ter saído já há alguns dias, mas acabei não pesquisando e coletando material e já estava meio que deixando pra lá. Mas eis que o pessoal da HQROCK – Quadrinhos, músicas e afins fez o serviço completo! Então não tive dúvidas, roubartilhei de lá e trouxe pra cá. Mas o original está aqui.
Em 21 de agosto de 1989, o Brasil ouviu a notícia da morte do cantor e compositor Raul Seixas. Artista polêmico, de comportamento errante, entretanto, era um dos mais populares do país e sua partida causou bastante comoção, mesmo que não fosse de todo uma surpresa, tendo em vista sua saúde nos últimos anos. Naquele momento, era um artista “fora de seu tempo”, um pioneiro do rock brasileiro que via uma nova geração – a geração do chamado BRock, com Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii e Titãs – tomou seu espaço e o deixou em segundo plano. Contudo, estava em meio a um “retorno triunfal”, na qual seu legado era resgatado e reconhecido.
E foi.
Até hoje, Raul Seixas é um dos maiores ídolos do rock brasileiro e da música nacional como um todo. Sua obra é imortal e, assim como Renato Russo, goza de um verdadeiro culto em torno de seu nome.
Para celebrar os 24 anos de sua morte, o HQRock traz um post especial com o que mais interessa: a discografia comentada de Raul Seixas!
Mas antes, uma minibiografia para contextualizar tudo.
A Mosca na Sopa
Raul Santos Seixas nasceu em Salvador, na Bahia, em 1945, filho de Raul e Maria Eugênia Seixas, um engenheiro da estrada de ferro e uma dona de casa, portanto, em um ambiente de classe média. Era tido como uma criança inteligente, contudo, ia muito mal na escola e começou a apresentar um comportamento rebelde. Com a explosão mundial do rock and roll em 1956, Raul tornou-se um roqueiro de corpo inteiro, o que lhe valeu repetir a 2ª série do Ginásio três vezes. Mesmo matriculado em um colégio interno, o Marista, o desempenho do menino não melhorou, ao mesmo tempo em que o jovem descobriu a extensa biblioteca do pai e se tornou um leitor voraz.
Nos primeiros anos da década de 1960, Raul formou a banda Os Ralâmpagos do Rock, uma das primeiras de Salvador no gênero, que mais tarde mudaria de nome para Raulzito e os Panteras, com ele mesmo na voz e guitarra mais Carlos Eládio na guitarra, Mariano Lanat no baixo e Carleba na bateria. Apesar da resistência inicial por parte do público, a partir de 1963, o conjunto se torna a maior sensação da cidade. Com a explosão nacional da Jovem Guarda, em 1964 e 1965, Os Panteras aumentam mais ainda seu sucesso regional, servindo inclusive de banda de apoio para os grandes astros do movimento que faziam shows na cidade, como Roberto Carlos e Jerry Adriani. Com este último, Raul trava uma grande amizade.
Ao mesmo tempo, Raul se apaixona por Edith Wisner, filha de um pastor norte americano. Apesar de impressionar o pai da moça por saber inglês, pesa contra Raul o fato de ser roqueiro, músico profissional e não ter terminado o 2º Grau. Aparentemente apenas para mostrar que era capaz, Raul faz um supletivo e termina o Ensino Médio em seis meses, para depois prestar o Vestibular para Direito na UFBA e passar. Apesar de matriculado, logo abandonou os estudos e continuou dedicando-se integralmente à música. Mas casou com Edith.
Ao mesmo tempo, Jerry Adriani usa sua influência e consegue um contrato para Os Panteras na gravadora EMI-Odeon, uma das maiores do país. O grupo se muda para o Rio de Janeiro, em 1967, e lança seu primeiro álbum no ano seguinte. O LP, entretanto, não faz sucesso, mesmo que as composições originais de Raul Seixas impressionem vários artistas da Jovem Guarda, que passam a gravá-lo. A banda tenta se manter ativa, voltando a se apresentar como apoio a artistas como o próprio Adriani e a dupla Leno e Lilian, mas a volta à Salvador é inevitável, em 1969. O fracasso representa o fim do grupo.
Raul ficou um tempo recluso em Salvador até que conheceu um produtor da gravadora CBS e terminou contratado como produtor, voltando ao Rio de Janeiro em 1970.
Tente Outra Vez
Começa uma segunda fase na vida de Raul Seixas. Pelos próximos três anos, o artista trabalharia como produtor da CBS, produzindo nomes como Leno (da dupla Leno e Lilian), Diana e Eddy Star, além de ter suas composições gravadas por vários nomes da Jovem Guarda em sua derradeira fase, como Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani e Odair José. Embora de menor valor artístico, essa fase permitiu a Raul conhecer o mercado musical por dentro e desenvolver silenciosamente suas habilidades como compositor.
O cargo de produtor também lhe permitiu algumas experimentações importantes. Com Leno, gravou o disco conceitual A Vida e Obra de Johnny McCartney, um tipo de ópera-rock baseada no Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band dos Beatles. O disco foi censurado pela Ditadura Militar e só seria lançado décadas depois. Melhor sucedido foi Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, um álbum coletivo inspirado no som anárquico de Frank Zappa, gravado com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Eddy Star e vários outros, que ao menos foi lançado, em 1971, embora não tenha feito (claro) sucesso algum.
A grande virada se deu em 1972, quando Raul Seixas inscreveu duas de suas composições no Festival Internacional da Canção: Let me sing, let me sing, que foi defendida por ele mesmo; e Eu sou eu, Nicuri é o diabo, defendida por Lena Rios e Os Lobos. Ambas as canções foram relativamente bem nas seleções e seguiram à etapa final, o que lhe garantiu uma maior notoriedade.
Com isso, começou a ser visto também como cantor e compositor, abrindo espaço para a gravação de seu primeiro álbum solo pela Phillips, na época, a maior gravadora do Brasil.
Ao mesmo tempo, conheceu o escritor alternativo Paulo Coelho, como ele, fascinado por temas como extraterrestres, ocultismo e misticismo, iniciando a mais famosa de suas parcerias musicais.
Sociedade Alternativa
O álbum Krig-Ha, Bandolo!, lançado em junho de 1973, e foi um grande sucesso, puxado pelo hit Ouro de tolo, que narra de maneira debochada suas desventuras no Rio de Janeiro até ser famoso. Além disso, o álbum trazia sucessos como Metamorfose ambulante, Mosca na Sopa e Al Capone. A fama conseguida terminou chamando a atenção para a singularidade de Raul dentro do panorama musical da época.
Logo, via-se que Raul fundara juntamente com Paulo Coelho a Sociedade Alternativa, um tipo de seita baseada nos princípios do mago e ocultista inglês Aleister Crowley, cuja a máxima era: “faça o que tu querer, há de ser tudo da lei”. Raul lia manifestos e defendia a Sociedade Alternativa em seus shows e compôs até um hino para ela. Como resultado, em 1974, ele e Paulo Coelho foram presos e torturados pela Ditadura Militar e, em seguida, exilados.
Raul foi para os Estados Unidos e viveu um tempo lá. Porém, nesse intermédio, o álbum Gita foi lançado, em 1974, e fez um sucesso estrondoso, vendendo 600 mil cópias e ganhando um Disco de Ouro, Com isso, Raul conseguiu voltar ao Brasil e retomar sua carreira.
Ouro de Tolo
Vive seu primeiro apogeu artístico, mas termina interrompido novamente quando o álbum Novo Aeon termina não repetindo o sucesso, em 1975. Mas foi apenas um susto, já que Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, de 1976, é novamente um grande sucesso.
Apesar disso, Raul é dispensado da gravadora Phillips, por causa de seu comportamento errante. Abrigado na WEA, lança O Dia em Que a Terra Parou, em 1977, outro grande sucesso, que trouxe seu maior êxito radiofônico: Maluco beleza, canção que virou uma espécie de assinatura do artista, composta com a ajuda do novo parceiro Cláudio Roberto.
Maluco Beleza
Depois disso, os excessos de álcool e drogas começaram a pagar seu preço e Raul entrou em uma espécie de declínio artístico. O fim do contrato com a WEA lhe deixou em um grande período em que não conseguia uma gravadora fixa. A parceria (e a amizade) com Paulo Coelho também mingou. Este permaneceu compondo para artistas da MPB (como Rita Lee) e virou executivo de gravadora, antes de resgatar sua carreira de escritor.
O início dos anos 1980 é marcado por altos e baixos, enquanto sua figura é eclipsada pela emergente nova geração do rock brasileiro, que toma as paradas de sucesso do país. Assim, enquanto realiza um show para 150 mil pessoas na Praia do Gonzaga, em Santos, em 1982; no ano seguinte, é quase linchado pelo público em um show em Caieiras, também em São Paulo, por estar bêbado ao ponto do público pensar se tratar de um impostor e não do verdadeiro Raul, neste que foi um dos mais surreais e famosos episódios de sua vida. O cantor chegou a ser preso até poder provar que era ele mesmo.
Metamorfose Ambulante
Uma pequena virada no destino ocorreu em 1983, quando conseguiu participar do especial de TV infantil Plunct-Plact-Zuuum, cantando a canção Carimbador Maluco, que fez grande sucesso. Vários outros artistas participaram do programa, inclusive, o Barão Vermelho, ainda liderado por Cazuza. Por causa desse êxito, o disco Raul Seixas ganhou outro Disco de Ouro. No entanto, o declínio de sua vida pessoal afeta seu trabalho. Bebendo muito e pulando entre as gravadoras CBS, Eldourado e Som Livre, não consegue fazer um trabalho consistente e o sucesso não se mantém.
Por isso, parou de fazer shows em 1985, entrando praticamente no ostracismo, muito embora tenha continuado a (tentar) gravar discos.
Cowboy Fora da Lei
Sua (última) volta por cima se deu quando Raul foi “apadrinhado” pela banda conterrânea Camisa de Vênus, liderada pelo cantor Marcelo Nova, que conseguira um grande sucesso nacional com a canção Eu não matei Joana D’Arc. Depois de participar do álbum Duplo Sentido da banda, em 1987, Raul termina reativando sua carreira e conseguindo chamar um pouco a atenção da mídia com seu álbum A Pedra do Gênesis, de 1988.
Então, retorna aos palcos, amparado por Marcelo Nova e começa uma longa sequências de shows pelo Brasil, naquela que seria sua última turnê. Bastante debilitado e com Marcelo Nova comandando o espetáculo, a dupla ainda grava um álbum, A Panela do Diabo, mas o compositor não chega a ver o trabalho lançado.
Raul Seixas faleceu vítima de uma parada cardíaca, em 21 de agosto de 1989, fruto de uma combinação letal de álcool e diabetes, resultando em uma pancreatite aguda.
Gita
O impacto de sua morte gerou uma grande comoção e o álbum A Panela do Diabo foi um grande sucesso, vendendo 150 mil cópias. Com o passar dos anos, o culto a Raul Seixas aumentou cada vez mais, com o artista adquirindo ares míticos.
Curiosamente, seu ex-parceiro Paulo Coelho também teve uma carreira vertiginosa após a morte do amigo, se transformando no escritor brasileiro de maior sucesso internacional, em livros como Diário de um Mago.
Discografia Completa
Vejamos agora os álbuns lançados por Raul Seixas em sua carreira.
RAULZITO E OS PANTERAS – 1968
Primeiro álbum do cantor, ainda acompanhado por sua banda original, é um disco típico da Jovem Guarda, com clima romântico, toques psicodélicos e uma grande influência dos Beatles, inclusive na capa, que parodia o With the Beatles, de 1963. Como não podia deixar de ser, traz um cover do quarteto de Liverpool: Você ainda pode sonhar (versão de Lucy in the Sky with Diamonds), que termina sendo a melhor faixa do disco.
SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA APRESENTA SESSÃO DAS DEZ – 1971
Álbum experimental e coletivo fruto de um grupo formado por Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Eddy Star. Misturando Frank Zappa com Beatles e Tropicalismo, é uma obra incomum não somente no repertório de Raul, mas na própria música brasileira. Por sua natureza, o disco foi ignorado por público e crítica.
KRIG-HA, BANDOLO! – 1973
Primeiro álbum “de verdade” de Raul Seixas, é um grande clássico do rock nacional. Raul mistura o rock and roll dos EUA com batuque e capoeira para produzir um som muito próprio, além de letras muito fortes, tanto as dele sozinho quanto aquelas em parceria com Paulo Coelho. Estão aqui canções impressionantes de Raul, como Mosca na sopa, Ouro de Tolo e Metamorfose ambulante, além do início da colaboração com Paulo Coelho que tem destaque em Al Capone. Foi um grande sucesso. Um curiosidade: o título do álbum era o grito de guerra do personagem Tarzan, que na época, fazia grande sucesso nos quadrinhos no Brasil. Sua tradução era: “Cuidado, aí vem o inimigo!”. Em época de Ditadura Militar, que tal?
OS 24 MAIORES SUCESSOS DA ERA DO ROCK – 1973
Concebido antes do álbum anterior, este era um velho projeto de Raul Seixas para homenagear os seus grandes ídolos, numa época em que ainda não tinha se firmado como cantor e compositor. Lançado após Krig-Ha, Bandolo!, a gravadora Phillips decidiu omitir o nome do artista, receosa de que o LP de covers atrapalhasse o sucesso do anterior. Por isso, o álbum é creditado à banda Rock Generation e Raul ganha o crédito de Direção Artística. Nesse sentido, o disco se inseria dentro do costume nacional de reeditar material estrangeiro com intérpretes locais, como nos célebres discos Década Explosiva Romântica. Apesar disso, Raul gostava muito desse disco, que não fez sucesso algum na época, mas foi reeditado em 1975 (com acréscimo de palmas e assobios). Ganhou uma versão definitiva em 2001, depois de ter sido relançado outras vezes com os títulos 20 Anos de Rock e 30 Anos de Rock.
GITA – 1974
O segundo “disco de verdade” de Raul Seixas se tornou um de seus maiores êxitos na carreira. Foi um sucesso tão grande que interrompeu o exílio do artista enviado aos EUA depois de preso e torturado pela Ditadura Militar. O disco traz grandes parcerias com Paulo Coelho, como Gita, Sociedade Alternativa e Medo da Chuva, além de composições-solo como SOS e Trem das 7. É talvez o melhor álbum da carreira de Raul e um grande clássico do rock nacional, com seu som forte, bem gravado e tocado, e letras muito inspiradas. Ganhou um Disco de Ouro.
NOVO AEON – 1975
Este disco não vendeu tão bem quanto o anterior na época, talvez porque o público tenha ficado assustado pela mensagem libertária da faixa-título. Ainda assim, apesar de considerado um “fracasso”, mantém a força dos álbuns anteriores (Krig-Ha, Bandolo! e Gita) tanto em som quanto em letras. Visto à distância é outro dos melhores discos do artista e bastante querido pelos fãs. Raul assina sozinho Para Nóia, mas além de Paulo Coelho (Rock do Diabo e Tu és o MDC da minha vida), aparecem novos parceiros nas letras. Marcelo Motta assina com Raul e Coelho Tente outra vez e A maçã; enquanto Cláudio Roberto assina com Raul e Motta a faixa-título.
HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS – 1976
Após o decréscimo do anterior, Raul Seixas recupera seu grande sucesso neste disco, que é quase todo assinado em parceria com Paulo Coelho, embora haja a colaboração de Jay Vaquer em duas faixas. A faixa-título foi o grande hit do disco, que trouxe ainda os sucessos Meu amigo Pedro, Eu também vou reclamar e O Homem. A sonoridade também mantém a excelência dos quatro anteriores, fazendo-o mais um clássico do rock Brasil. Infelizmente, este disco marca também um corte na carreira de Raul, já que é o último feito na gravadora Phillips e o último realizado em parceria com Paulo Coelho.
RAUL ROCK SEIXAS – 1977
Aproveitando-se do fim do contrato com Raul Seixas, a gravadora Phillips lançou este disco quase apócrifo, seguindo o mesmo estilo de Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock, trazendo apenas covers de rock dos anos 1950. A produção ficou a cargo do guitarrista Jay Vaquer.
O DIA EM QUE A TERRA PAROU – 1977
Tirando seu título de um clássico filme de ficção científica dos anos 1950, a canção-título fala de um futuro apocalíptico em tom de deboche que, embora repita a fórmula de Há dez mil anos atrás, ainda assim funciona. Este álbum marcou a entrada de uma nova fase de Raul Seixas, agora na gravadora WEA, e trabalhando com um novo parceiro: Cláudio Roberto, que coassina todas as faixas do disco junto com Raul. Além da faixa-título, Maluco beleza fez um grande sucesso, se tornando, na verdade, no maior êxito comercial do artista e sua canção-assinatura. Sapato 36 também fez sucesso, mas não se pode esquecer o destaque da participação da banda funk Black Rio em De cabeça para baixo e Tapanacara.
MATA VIRGEM – 1978
A partir daqui, o trabalho de Raul Seixas vai se tornando cada vez mais obscuro e apenas ocasionalmente vindo à luz da popularidade e do sucesso. Com a saúde abalada, parece que isso interferiu na qualidade de seu trabalho. O disco se afasta um pouco do rock, tendo uma sonoridade mais branda, o que talvez tenha contribuído para seu insucesso. A parceria com Paulo Coelho é momentaneamente retomada em três canções (destaque para Judas) e nas outras há vários parceiros, como Cláudio Roberto e até a nova esposa Tânia Menna. Um destaque é a guitarra de Pepeu Gomes (dos Novos Baianos) em Pagando brabo.
POR QUEM OS SINOS DOBRAM – 1979
Outro álbum ligeiramente obscuro, guarda algum destaque na faixa-título e em O segredo do universo. Todas as faixas são assinadas por Raul Seixas e Oscar Rasmussen.
ABRA-TE, SÉSAMO – 1980
Raul Seixas estreia na CBS como cantor (já havia sido produtor) e lança esse álbum que causou bastante controvérsia na época em que foi lançado, porque teve duas canções censuradas pela Ditadura Militar: a crítica Aluga-se e a sexualmente explícita Rock das aranhas, ambas escritas com Cláudio Roberto. Apesar de ter alguns outros estilos musicais – inclusive a balada Baby (também com Cláudio Roberto) – o som rock predomina no espírito do disco, inclusive com a participação dos guitarristas Celso Blues Boy e Rick Ferreira. Aluga-se faria algum sucesso nas rádios – o que rendeu até uma apresentação na TV no Cassino do Chacrinha – e seria décadas mais tarde gravada pelos Titãs, fazendo sucesso também.
RAUL SEIXAS – 1983
Após um pequeno hiato, Raul Seixas retorna, agora na gravadora Eldorado, e sem querer faz um grande sucesso: a canção Carimbador Maluco, exibida no especial de TV da Rede Globo Plunct, Plact, Zuuuum. Além dela, o disco é irregular e sem graça, trazendo algumas versões de rock dos anos 1950 para português e parcerias com a esposa Kika Seixas e nomes como Cláudio Roberto e Wilson Aragão.
METRÔ LINHA 743 – 1984
Agora na Som Livre, Raul Seixas se esforça para compor um disco diferente, mais calcado no violão. Mas o resultado não é bom. A faixa-título remete a Bob Dylan e Mamãe, eu não queria é um plágio de I don’t wanna be a soldier mama de John Lennon. Para piorar, o disco ainda traz uma regravação de O trem das 7.
UAH-BAP-LU-BAP-LAB-BÉIN-BUM – 1987
Lançado pela gravadora Copacabana. Como os dois anteriores, tem um ar de colcha de retalhos. Ainda conseguiu sucesso mediano com as faixas Cowboy fora da lei e Quando acabar o maluco sou eu, ambas em parceria com Cláudio Roberto. Em contrapartida, há uma canção chamada Paranoia II, uma versão em inglês de Gita (I am) e uma versão em português do bolero Cambalache.
A PEDRA DO GÊNESIS – 1988
Novamente pela Copacabana, este seria o último álbum solo de Raul Seixas. De novo soa como uma colcha de retalhos, atrapalhada pela péssima saúde do compositor. Talvez por isso, a morte é um tema consciente na maioria das faixas. E talvez como piada, Raul incluiu um hino à abstinência numa versão em português de No no song, que virou Não quero mais andar na contramão, canção mais famosa por ter sido gravada pelo ex-Beatle Ringo Starr (!).
A PANELA DO DIABO – 1989
Último disco de Raul Seixas, gravado em parceria com Marcelo Nova e lançado pela gravadora WEA. O álbum ganha mais fôlego do que os anteriores, talvez por causa da parceria, tendo destaque em faixas como Carpinteiro do universo e Pastor João e a Igreja Invisível. Raul e Nova chegaram a promover uma turnê antecipando o lançamento do disco, aparecendo inclusive na TV, mas Raul morreu apenas dois dias depois do lançamento do LP.
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Como se vê, Raul Seixas deixa um legado imenso à música brasileira e ao rock. E é um artista ainda muito interessante nos dias de hoje, com suas letras místicas e críticas; e a mistura do rock com sonoridades brasileiras. A ironia e bom humor das letras ensinam importantes lições aos compositores dos dias de hoje.
Talvez por isso, até hoje, Raul Seixas ainda é um artista tão cultuado. E qualquer mortal que já tenha frequentado um show de rock no Brasil já deve ter ouvido o clamor do público: “Toca Raul!”, um pedido quase obrigatório.
Aliás, quando o ex-Beatles Paul McCartney exibiu um show ao vivo no YouTube há alguns anos atrás, o mundo inteiro pôde ouvir ao fim de uma das canções um engraçadinho (com certeza, brasileiro) gritando lá no fundo (mas ainda totalmente audível): “Toca Raul!”.