Meu Mundo Perfeito

No meu mundo perfeito eu sou casado. Sim, pois por mais que eu goste de meus momentos de solidão, por mais que aprecie poder ter a paz de espírito de me largar em devaneios e sempre reavaliar tudo que ocorre à minha volta, ainda assim eu gosto de companhia. Gosto de poder acordar – ou ser acordado – logo pela manhã e ter alguém para ver, abraçar, aninhar. Gosto de ouvir e ser ouvido. Gosto de debater sem ser julgado. Gosto de fazer pequenas surpresas e de ser gentilmente surpreendido. Gosto de cuidar. Gosto de ser cuidado.

No meu mundo perfeito eu tenho filhos. Minhas crianças, sempre, não importa que idade tenham. São bonitos, inteligentes e amorosos. Gostam de perguntar, de tentar entender como o mundo funciona e apreciam a minha opinião acerca disso. São alegres, divertidos e espirituosos. E eu os amo profundamente – não porque são meus filhos, mas porque eu os criei, cuidei, sofri e me regozijei com cada pequenino novo momento e etapa de suas tenras vidas.

No meu mundo perfeito eu trabalho naquilo que gosto. E, curiosamente, não é preciso chamar isso de “trabalho”. Vejam só: eu faço aquilo que gosto, me dão condições mínimas necessárias para fazê-lo, tenho uma equipe capacitada e dedicada e ainda me pagam por isso? Não, realmente eu não tenho um trabalho e – definitivamente – não tenho um “emprego”. Eu faço aquilo que gosto e ponto final.

No meu mundo perfeito eu ganho o suficiente. Não preciso ser rico. Nunca quis isso. É necessário, sempre, ter limites para que saibamos que eles existem. Ganho o suficiente para sustentar o modo de vida que escolhi. Às vezes pode ter algum aperto daqui, alguma dificuldade dali, mas sempre existem saídas. Sempre é possível dar a volta por cima. Sempre.

No meu mundo perfeito eu tenho amigos. Não importa a idade, o credo, a cor, o sexo, a orientação sexual, o posicionamento político ou seja lá o que for. São amigos. Não estou falando de “colegas”, mas sim de amigos. Aqueles que me são fiéis na mesma proporção em que lhes sou, que me dão apoio e a quem apoio, que me escutam e a quem oriento, que tanto me divertem quanto lhes faço rir, sem cobranças, sem trocas, sem dedos em riste. Como diria Quintana: “a amizade é um amor que nunca morre”. Meus amigos são imortais.

No meu mundo perfeito nada é perfeito. Existem crises – para que as contornemos. Existem fracassos – para que possamos vencer. Existe tristeza – para que possamos nos alegrar. Existem brigas – para que nos reconciliemos. Existe dor – para que possamos ter alívio. Existem distâncias – para que nos reaproximemos. Existe ódio – para que possamos amar. Esse meu mundo é binário (por mais nuances que possam existir entre um limite e outro), pois para cada negativo haverá sempre um positivo. Basta que prestemos atenção o suficiente que conseguiremos enxergá-lo.

E então resolvo sair da utopia e encarar a realidade. E comparando meu mundo perfeito com essa imperfeita vida que levo, na qual reclamo, me entristeço, me revolto, me deixo levar, me deprimo e sabe-se lá o que mais pode caber dentro do coração e da cabeça de um ser humano, percebo finalmente a verdade que não está lá fora, mas aqui dentro: não existe mundo perfeito. Pois todos os mundos são perfeitos. Nós é que somos imperfeitos ao encarar nosso dia-a-dia e, muitas vezes, simplesmente não ter a coragem suficiente de relaxar, sorrir e compreender que o mundo perfeito daquele que está ao seu lado não é melhor ou pior que o seu, pois é dele e a ele pertence. E sim, a vida é um caos – mas de alguma maneira, no final, tudo sempre dará certo. E, chavão dos chavões, se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no final.

E um dia de cada vez é o que temos que encarar.

Vivendo, cada qual, em seu mundo perfeito.

Imperfeitamente, é claro.

2 thoughts on “Meu Mundo Perfeito

  1. Se eu tenho alguma coisa a dizer?
    Nada a acrescentar, amigo!
    Não é à toa que te amo e admiro sem nunca ter te visto ou tocado.
    Somos farinha do mesmo saco. Aliás, acho que todos são, mas alguns alimentam mais os carunchos que nós.
    E para não parecer lá muito piegas, termino com a frase do grande “filósofo” Zé Bonitinho…

    – SOU, MAS QUEM NÃO É?

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