Roubartilhado lá do Homo Literatus:
Tenho um amigo que é músico. Ele não é famoso. Vive de pequenas apresentações. Certa vez, em uma de nossas conversas de bar, confessou-me que não conseguia ganhar muito dinheiro com seu trabalho e que às vezes passava por sérios apertos. Revidei, perguntando qual brasileiro não passava por dificuldades financeiras. Ele sorriu, pegou o violão e ficou dedilhando qualquer coisa, mania de músico. Permaneceu daquela forma por algum tempo, uma espécie de transe.
Instantes depois, a fumaça do meu cigarro o despertou. Ele me olhou com expressão serena e disse que, apesar de tudo, não mudaria de vida, aquela era a profissão que escolhera e amava o que fazia. Contou-me ainda que cada nota emanada pelo seu instrumento soava no ar como a representação de sua própria alma. Achei o discurso muito piegas e como já estava um tanto alto, desatei a rir. Meu amigo, em estado pior do que o meu, chorou.
Hoje, recordando, pergunto a mim mesmo: se um político me falasse algo parecido a respeito do trabalho que executa, eu riria ou choraria?