Secretária eletrônica insana

Num dia tão apático quanto chuvoso me resta apenas um copy & paste básico. Essa eu recebi já há algum tempo do amigo Cláudio, lá de Santo André (mas que está de malas prontas para o Sul do país):

Obrigado por ligar para o Instituto de Saúde Mental, sua mais saudável companhia em seus momentos de maior loucura.

Se você é obsessivo e compulsivo pressione 1, repetidamente.

Se você é dependente, peça a alguém que pressione o 2 por você.

Se tem múltiplas personalidades pressione o 3, 4, 5, e o 6.

Se você é paranóico, sabemos quem é você, o que faz e o que quer. Espere na linha enquanto rastreamos sua chamada.

Se você sofre de alucinações, pressione o 7 e sua chamada será transferida para o Departamento de Elefantes Cor de Rosa.

Se você é esquizofrênico, escute cuidadosamente e uma vozinha lhe dirá que número pressionar.

Se você é depressivo, não importa que número disque. Ninguém vai responder.

Se você sofre de amnésia, pressione o 8 e diga em voz alta seu nome, endereço, número da carteira de identidade, data do nascimento, estado civil e o nome de solteira de sua mãe.

Se você sofre de stress pós-traumático, pressione lentamente a tecla # até que alguém tenha piedade de você.

Se sofre de indecisão , deixe sua mensagem logo que escute o bip… ou antes do bip… ou depois do bip… ou durante o bip… De qualquer modo, espere o bip…

Se sofre de perda de memória para fatos recentes, pressione 9.

Se sofre de perda de memória para fatos recentes, pressione 9.

Se sofre de perda de memória para fatos recentes, pressione 9.

Se sofre de perda de memória para fatos recentes, pressione 9.

Se tem baixa auto-estima, por favor desligue. Nossos operadores estão ocupados atendendo pessoas importantes.

VIGOR x vigor

E eu aqui, após um dia inteiro de trabalho no Opalovski (sim, eu sei, já passou da hora de dar uma atualizada lá no site Opala Adventure Projeto 676…), com os braços cansados, o joelho destruído, as batatas das pernas ameaçando cãibras, enfim, um caco pior que o usual.

Diga-se de passagem que sou mero ajudante de meu pai, que é quem faz o verdadeiro serviço técnico, ou seja, os moldes de chapa, as soldas – tanto elétrica quanto a oxigênio, que se enfia nas mais estapafúrdias posições para conseguir chegar naquele ponto específico que precisa de reparo.

A mim cabe as operações de desmontagem geral do veículo, preparar os locais a soldar (raspar a tinta, arrancar a massa, cavucar a ferrugem), limpar esses mesmos locais após a solda, lixar e aplicar a tinta de fundo.

Eu tenho 38 anos. Meu pai, 70.

Eu cheguei de manhã ele já estava trabalhando. Antes de encerrarmos ele ainda inventou mais algumas coisas para fazermos.

Eu tô acabado. Ele não.

Olha, desse jeito, se eu chegar até os setenta, já tô no lucro. Se chegar com o vigor dele, então – putz!

Dia de dentista

Estava cá eu pensando que já está mais ou menos na época de dar uma passada no dentista pra ver se está tudo dentro dos conformes…

A dureza da coisa é que, invariavelmente, quando me sento na cadeira já naquela posição quase deitada, via de regra o caboclo vem, coloca a lâmpada bem nos meus olhos (como se fosse uma preparação para um interrogatório), enfia um sugador na minha garganta, coloca chumaços de algodão nas gengivas, prendendo carinhosamente com durex toda aquela parafernália.

Então, já munido de seus usuais equipamentos de tortura, um milésimo de segundo antes de começar a vasculhar minha intimidade bucal, dá uma paradinha, sorri, e pergunta:

– E a família? Como vai?

Raios. Será que não dá pra perceber a impossibilidade da coisa? Então, com os olhos lacrimejando, com um sugador que não suga, e quase me asfixiando com tanta água borbulhando na garganta, o máximo que consigo fazer é grunhir um “Han, han…”

Meu amigo Evandro sugeriu que eu levasse um bloco de anotações e uma caneta para poder “conversar” – mas, particularmente, estive pensando em outras alternativas. Talvez treinar a linguagem dos sinais, ou então um notebook com um datashow, não sei ainda.

Vouverei o que farei…

Abençoado caos!

Pois bem.

Foram apenas alguns dias de sumiço, mas uma semana inteira de reflexão. Procurei afastar-me de tudo e de todos para buscar uma certa “clareza nas idéias” – aquela coisa de quemcossô, oncotô, proncovô…

Foi uma coisa meio que interessante, um negócio meio que de monge que se tranca na clausura (ainda que tenha sido apenas uma clausura d’alma). Aproveitei a deixa de alguns trabalhos que precisava colocar em dia para buscar uma certa extenuação física em prol do pleno descanso mental. Ou seja, esgotar o corpo para liberar a mente.

E mesmo assim – garanto – deparei-me com uma situação bastante difícil, pois a pretendida inspiração para tirar conclusões teimava em não aparecer.

Até o domingo último.

No decorrer de uma tarefa totalmente trivial.

Estava lá eu a recolher uma certa matéria excrementícia do gramado no quintal (tá, tá, era mesmo o cocô das cachorrinhas) e deparei-me com uma árvore que outrora estava contida num vaso, mas agora havia irrompido à terra. Achei curioso. A maneira pela qual a força da natureza simplesmente impeliu as raízes a estourarem – lenta e inexoravelmente – a matéria estéril do plástico, buscando a terra como sua fonte de vida.

Então dei uma olhada ao redor, no quintal como um todo, e percebi que na realidade, apesar da riqueza da flora, não havia lá muita ordem em tudo aquilo. Pela orla do gramado a amoreira e a figueira dividem espaço com flores ornamentais diversas, algumas em vasos, outras na terra. Uma pequena árvore com flores de cerejeira cresce teimosamente sob a sombra do muro. Uma palmeira projeta sua sombra sobre boa parte do gramado. Isolados, cada qual em seu canto, dois pés de acerola trocam olhares suspirantes entre si. Do alto do muro de arrimo acenam para o horizonte outra figueira, um pé de carambola, um de café, outro de pitanga e mais um pé de mexerica. Isso tudo e muito mais.

Tudo ali, plantado, espalhado, de modo desordenado, mas ainda assim naturalmente dispostos, formando um agradável conjunto de paz e harmonia.

E então veio o insight.

Eu simplesmente não consigo imaginar aquele quintal totalmente ordenado, com cada planta delimitada, demarcada, ornamentada e disposta na mais perfeita geometria. Seria até algo bonito de se ver (bem no estilo “Casa Cláudia”), mas não de se conviver. Um certo caos se faz necessário, pois é o que acaba dando a verdadeira beleza daquele nosso cantinho.

De igual forma, eu jamais conseguiria ser feliz num mundo, numa vida, totalmente ordenados. Um certo caos também se faz necessário. Foi do caos que surgiu a vida, e também é dele que continua a surgir constantemente a verdadeira beleza do existir.

Mas, ainda que a contrasenso, uma certa ordem também deve se fazer presente. E é justamente nesse misto de ordem/caos que vamos levando a vida. Há que se mesclar. Há que se exigir. Há que se ceder. As nossas zonas de esforço devem coexistir com nossas zonas de conforto. A linha sempre será sinuosa, com altos e baixos – nunca nada vai estar totalmente perfeito.

Mas essa é a vida.

Sei que tudo isso parece meio que neo-budista, numa explícita sugestão de “seguir o caminho do meio”. Mas particularmente prefiro que se entenda mais como uma interpretação ao estilo de Monty Python, em The meaning of life. Ou talvez algo a la Garfield.

Enfim, onde chegamos? A lugar nenhum e a todos os lugares simultaneamente. Sei que alguém já disse que “a vida é algo que nos acontece enquanto fazemos outros planos”, mas, para mim, isso seria mais uma definição de mera existência. A vida deve ser vivida, provada, saboreada a todo momento.

E quando, em algum momento de nossa existência, resolvemos que essa vida deve ser compartilhada com outrem, isso significa que deixou de existir o EU, mas criou-se a figura do NÓS. E a ordem dantes buscada na existência isolada obrigatoriamente acaba por dar lugar a um caos ordenado que advém da existência conjunta. Ou uma ordem caótica, se assim o preferirem…

E é uma via de mão dupla.

De exigências.

De concessões.

De partilhas.

De diálogos.

De carinhos.

Deixar de considerar o conjunto e buscar o ponto de vista isolado significaria migrar do NÓS para o EU. E o EU sozinho não faz um relacionamento com quem quer que seja. É esse o “preço” a se pagar, para quem estiver disposto a pagar.

Não necessariamente seria a perda da individualidade, mas a conquista de algo muito maior – não só em termos de compreensão de si mesmo, mas, talvez, da própria vida. A junção e o aperfeiçoamento do yin-yang, do côncavo e do convexo, do branco e do preto, da tampa e da panela, do feijão com arroz. Fiquem à vontade para escolher seu par predileto.

Por mais “universais” que pareçam estas linhas, são, na realidade, bastante pessoais. Isso é fato. De minha parte meu EU já teve – e continuAVA tendo – bastante oportunidade de se expressar. Mas, há muitos anos, o preço já foi acertado.

E, sinceramente, continuo plenamente disposto a pagá-lo.

O Papa é pop…

Ok. Em tese eu seria um dos chamados “católicos apostólicos romanos”. Já frequentei Cruzada Eucarística, tentei ser coroinha (eu era muito alto, não podia) e quase entrei para o seminário.

Até que eu tive um excelente professor de história…

Passei a “desconcordar” com a maior parte das coisas relacionadas com a Igreja Católica que já tinha visto e ouvido até então.

Depois disso, muita água rolou e hoje eu me consideraria um cara espiritualizado (com fortes tendências ao espiritismo). Ou seja, eu aqui embaixo, o Homem lá em cima, e a gente se entende.

O que me leva a considerar a grande tragicomédia dessa visita do Papa ao Brasil. Crianças chorando, mulheres cantando, homens se ajoelhando, o trânsito se engarrafando, o noticiário enjoando, e por aí vai.

Gente, esse caboclo é apenas um ser humano.

E, diga-se de passagem, já velhinho e com mais defeitos do que qualidades no decorrer de sua vida.

Enfim, não vou me delongar sobre esse assunto. Até porque, muitas vezes, parece que todo mundo no MUNDO já escreveu algo melhor antes. Então, seguem de cabeça algumas pérolas citadas em alguns posts que vi em outros blogs pela Net (não me lembro bem qual é qual, por isso – direitos autorais às favas – perdoem-me os escritores):

– Eu? Pra São Paulo hoje? Cê tá é louco! Quando o Bush esteve por aqui já foi aquela loucura – isso porque ninguém queria vê-lo. Imagine agora o Papa – que todo mundo quer ver…

– Que ele quisesse vir para o Brasil, tudo bem. Que ele quisesse canonizar o santo, tudo bem. Mas tinha que ser justamente no Dia das Mães? E as festinhas de meus filhos na escola, como é que ficam? Adiaram tudo!

– Senhor, agora tenho certeza que Tu és homem. Pois quando pedi para mandar um italiano famoso para minha vida não dava pra ser algo um pouquinho melhor (e mais novo) que o Papa, não?

E, até agora, a melhor que já li:

– Ele é a cara do Chuck, o boneco assassino…