Argumentador desde pequeno

Almoço de domingo. Casa de meus pais, avós de meus filhos. Todos sentados, desfrutando do tradicional franguinho, quando – não mais que de repente – meu filhote Jean, de quatro anos, tenta disfarçar um sutil arroto.

– BUUURP!

– Filho! Tenha modos! É feio fazer isso, assim, à mesa…

– Fazer o quê, pai?

– Arrotar, ué!

– Mas eu não tava arrotando!

– Ah, não, é? E o que foi aquele barulhinho que acabei de ouvir?

– Não foi arroto, pai!

– E então o que é que foi?

– É que eu estava desenchendo

Vinil para todas as idades

E eis que neste último final de semana, embrenhado num centro de cidade já totalmente tomado pelos festejos natalinos, após abrir trilhas estreitas em cerradíssimos ambientes humanos a imaginários golpes de facão, eu e meus dois filhotes mais velhos conseguimos chegar numa clareira onde estava instalado um bom e velho sebo – suave repouso para os diletantes de antiguidades e velharias em geral.

Ali aguardaríamos o sinal celular de fumaça por parte da Dona Patroa, que, com o caçulinha, explorava outras paragens daquela selva urbana.

Fuça daqui, olha dali, esbarra nisso, segura naquilo, tropeça naqueloutro e acabamos indo parar num cantinho da loja cheio de revistas de outrora e, pendurados no teto, discos de vinil de mais outrora ainda.

E, justamente quando eu pensava que já tinha ouvido praticamente de tudo por parte de meus filhotes, o mais velho, apontando para um desses discos, me sai com essa:

– Olha, pai! Ali no teto! Um CD de tocar em vitrola!

Calvin caseiro

E eis que o anteontem o filhote do meio, do alto de seus seis anos, não acordou lá muito bem. Tosse seca, enjôo, etc. Nada parava no estômago e ele comecou a ter acessos de vômito. A Dona Patroa conversou com o pediatra de praxe e o diagnóstico foi cirúrgico e certeiro: VIROSE. Ou seja, o “mal” que acomete 99,9% das crianças na falta de algo mais preciso.

Isso me dá uma saudade de quando eu era pequeno e o antigo farmacêutico praticamente é que era o médico do bairro…

Mas voltemos aos fatos!

Verdinho e acabado do jeito que estava, sequer foi para a escola e mesmo a Dona Patroa acabou ficando em casa para tratá-lo, acudi-lo, consolá-lo, aninhá-lo, colocá-lo debaixo da asa, enfim, aquelas coisas que somente as mães conseguem fazer. Mais ou menos como já disse aqui.

No final do dia, chegando em casa fui direto até ele – que estava deitadinho no sofá vendo um desenho – e perguntei-lhe se tinha melhorado, se estava bem.

Ele arregalou aqueles dois olhos de jabuticaba para mim e com um sorriso e orgulho digno do Calvin, saboreando cada sílaba, soltou a seguinte frase:

– Paiê! Sabia que vomitei sete vezes hoje?

Urbanices

Você sabe que está ficando hiper ultra mega blaster advanced plus urbanóide demais quando, numa “sessão cinema” em casa, você deixa de fazer pipoca para suas crianças porque o único pacote de milho que encontrou no armário não é para microondas…