Software Livre: tá no sangue!

E ontem à noite o filhote mais velho, do alto de seus oito anos, tinha como missão fazer uma busca na Internet para buscar a definição de determinada palavra passada pela psôra: “preconceito”.

Liga computador, escolhe perfil de usuário, muda cabo de conexão (casa de ferreiro, espeto de pau), reativa o modem, conecta, entra no Google. Tudo sozinho. Faz a busca. Uma das primeiras de cinco quintilhões de opções: Wikipedia.

– Ah, pai, legal! Desse aqui eu gosto! Tem bastante coisa e na maior parte das vezes eu consigo entender tudinho!

Orgulho do pai…

Senhas…

E lá estava eu checando meus e-mails. Vem o caçulinha, do alto de seus quatro anos, e pede colo.

– Paiê? Que é esse monte de xizinho que você tá colocando?

– Não é “xizinho” filho. É que o papai tá digitando a senha, e nessa hora aparece esse simbolozinho, que se chama “asterisco”.

– Ah… Intindi… Ashterips… Legal!

E lá se foi ele, saltitando, feliz por não ter que saber nada disso…

Matemágica

E eis que meu primogênito, logo cedo, do alto de seus oito anos, estava sentadinho ali do meu lado a fazer suas tarefas de matemática.

– Paiê?

– Oi filho.

– Sabia que, na tabuada do cinco, se eu dividir o primeiro número por dois, basta acrescentar o zero que daí eu tenho o resultado?

– CUMÉQUIÉ?

– Por exemplo: se eu tiver seis vezes o cinco, basta eu dividir o seis por dois e colocar o zero na frente – daí dá trinta.
Pensei um pouco na lógica da coisa, e não é que ele tinha razão? Ao dividir o primeiro por dois, implicitamente estou dobrando o segundo, entrando assim na tabuada do dez…

– É filho. Muito bem. Mas essa regra não funciona sempre não. E se fosse sete vezes o cinco, por exemplo?

– Fácil, pai. Daí, na hora de dividir por dois eu tiro o restinho e ponho cinco no final!

Pensei de novo nessa lógica. Ainda que torta, fazia sentido. Afinal, todo múltiplo ímpar de cinco termina em cinco mesmo.

De fato. Entre decorar a tabuada e criar uma regrinha divertida para as respostas, fique com a segunda opção. Afinal, como dizia um antigo amigo meu – o Braz da Viola – todo preguiçoso é um inventor nato, pois precisa pensar num jeito de ter menos trabalho…

Head pain

E lá estava eu, pleno sabadão de carnaval, em casa, no meio pro final da tarde, com uma dor de cabeça do TAMANHO DE UMA SEMANA

(Heh… Mais uma que aprendi com o amigo Bellini…)

Daquelas de doer o avesso do olho. De se irritar ao ouvir o tilintar de uma agulha caindo no chão. De conseguir me deixar (muito) mais mau humorado do que já sou naturalmente. E nem era de ressaca! Aliás, até agora ainda não sei o porquê desse perrengue. Mas doía num limite tal de dar até mesmo ânsia de vômito. Pois é. Acho que agora comecei a ter uma leve noção do que seriam as agudíssimas enxaquecas de minha amiga Sheila.

E – lembrem-se – tenho três pequenos pimpolhos em casa. Oito, seis e três anos. Alguém já viu qualquer criança dessas idades participar de alguma brincadeira abaixo dos cento e cinquenta decibéis? Então. Nem eu.

Chamei o mais próximo de onde eu estava. Era o número três (vulgo Jean, o Caçulinha). Apontei o dedo indicador para minha própria testa e supliquei-lhe:

– Filho, pelamordedeus, o papai tá com MUITA dor de cabeça. Tá dodói aqui. Fala mais baixinho, tá?

– Papai tá dodói no chérberu?

– Cuméquié?

– Tá doendo o chérberu do papai?

– Ah, sim. É. Tá doendo o cérebro do papai…

– Então tá. Vou falar baixinho, então.

E lá se foi ele, sussurrando suas brincadeiras para os irmãos em alto e bom tom.

Eu juro que teria rido, se não doesse tanto…

Um Feliz Natal

Minha ausência nos últimos dias foi necessária. Para colocar as ideias em ordem. Para colocar as perspectivas em ordem. Para colocar as finanças em ordem. Enfim, para colocar a casa em ordem.

Então, quando menos espero, eis que o Natal já está quase aí. Veio chegando, chegando, e – sem nenhum aviso – praticamente chegou.

Tentando não cair naquele discurso ortodoxo, convém que não nos esqueçamos o porquê dessa data, afinal de contas…

Pensei em escrever sobre muitas coisas nesta véspera de Natal. Mesmo. Entretanto nada parecia bom o suficiente.

Nada realmente chegou a evocar o que seria o “espírito natalino” em mim. Até hoje pela manhã.

Em casa, já há algumas semanas, a Dona Patroa criou um “sistema de pontos” para os três filhotes. Funciona mais ou menos assim: a cada atitude extraordinária, que ultrapassasse as obrigações normais de cada um, cada filhote ganharia um ponto. Entretanto, qualquer atitude negativa, independentemente do que quer que a tenha gerado, implicaria na perda de um ponto. Ao alcançar cinquenta pontos eles fariam jus aos seus presentes de Natal. Caso contrário, ficariam sem.

Sei, sei, parece muito o sistema de pontuação de Hogwarts, mas garanto que foi original por parte dela…

Enfim, considerando os três aninhos do caçula, ele seria café-com-leite (alguém ainda se lembra do que isso significa?), mas os mais velhos, com seis e oito, estavam dentro do jogo. O mais velho até hoje de manhã já havia acumulado mais de sessenta pontos; porém para o do meio ainda faltavam seis pontos.

É LÓGICO que eu não o iria deixar “sem Natal” e, por isso mesmo, estava arranjando as tarefas mais estapafúrdias para que ele me ajudasse e conseguisse ganhar os pontinhos que faltavam. Mesmo assim, a determinada altura o mais velho chegou e perguntou:

– Paiê, eu estou com um monte de pontinhos sobrando. Você não pode passar pra ele pra que ele possa ter Natal também?

Não preciso nem dizer que quase fui às lágrimas. Abracei-o com todo amor que poderia passar e expliquei-lhe que aquela atitude era muito bonita, mas que não seria possível, pois cada um deles teria que fazer por merecer seus pontinhos.

Mas isso calou fundo na minh’alma. Vai ao encontro de tudo aquilo que mais acredito e que procuro sempre professar.

O puro e simples compartilhar. Sincero. Desinteressado. Ou melhor, há interesse sim – o de beneficiar alguém.

E é isso que eu desejo a todos. Mais do que os presentes. Mais do que as festas. Mais do que as congratulações. Que uma atitude simples como essa também consiga os afetar, fazendo nascer o verdadeiro espírito natalino, o espírito de compartilhar.

Com alegria.

Com sinceridade.

Com desinteresse.

FELIZ NATAL !!!

P.S.: A quem interessar possa, é LÓGICO que o filhote do meio conseguiu os pontinhos que faltavam…