E então chegou a hora de dormir. Pelo menos, a da criançada. Todos no mesmo quarto, cada qual na sua cama.
Cubro o filho nº 1 e lhe dou um beijo de boa noite.
“Boa noite, pai.”
Cubro o filho nº 2 e lhe dou um beijo de boa noite.
“Bá noite pai!”
Cubro o filho nº 3 e lhe dou um beijo de boa noite.
“B’noiti…”
Apago a luz do quarto e no milésimo de segundo seguinte, o filho nº 3, coincidentemente de 3 anos, decreta:
– Paiêêê! Tá luuuz!
– Hein? Mas o papai já apagou a luz, filho.
– Tá luuuz!
– Ah! A do corredor? É pra apagar?
– É.
(Um detalhe: esse “É” dele é um negócio engraçado, posto que definitivo – vem lá do fundo do estômago e se manifesta como num sopro bem curto, encerrando qualquer questão de uma vez por todas. Ou quase.)
Então, apaguei a distante luz do corredor e já estava voltando para meu quarto, quando:
– Paiêêê! Tá luuuz!
– Como assim, filho? Papai acabou de apagar! Não tem mais luz nenhuma, não…
– Cártu…
– Quê? A do quarto do papai? Mas a mamãe tá no banho e daqui a pouquinho vem pra cá e vai precisar da luz, filho. Vamos fazer o seguinte: papai vai ler só um pouquinho e já, já apaga a luz. Combinado?
– Binádu…
Foi o tempo de me deitar, puxar o edredom, abrir o livro, e…
– Paiêêê! Tá luuuz!
Dali mesmo já soltei: “Filho, DÁ UM TEMPO! Nós já não combinamos que daqui a pouquinho o papai vai apagar a luz? Vai dormindo aí, que já já apago, tá bom?”
Silêncio.
Dez segundos depois:
– Paiêêê! Tá luuuz!
Nesse meio tempo a Dona Patroa chegou, contei-lhe (em tom de súplica) toda a desventura, e ela, pacientemente foi lá conversar com o pequerrucho. Ufa! Finalmente eu conseguiria voltar à minha leitura…
Alguns minutos depois ela voltou e se aconchegou ao meu lado, com frio. Foi o tempo exato de ela se aninhar:
– Paiêêê! Tá luuuz!
– SERÁ POSSÍVEL? TÁ BOM, TÁ BOM! JÁ VI QUE PERDI MESMO! EU APAGO A BENDITA DA LUZ E TODO MUNDO DORME FELIZ, TÁ BOM? TÁ BOM?
Apaguei a malfadada luz (pra não dizer outra coisa), me enfiei debaixo do edredom (confesso que ainda bufando) e mal tive tempo de fechar os olhos, quando ouvimos a vozinha dele no quarto ao lado:
– Paiêêê! Tá escuuuro!…