Paternidade

Paternidade é uma coisa maravilhosa. É ser agraciado com uma dádiva divina. É entrar num eterno ciclo de aprendizado. É ficar à mercê de pequeninos seres iluminados. É ficar em consonância com o Universo. É ficar vinte minutos procurando a porra do outro pé do sapato que você quer calçar e que os diabinhos esconderam enquanto brincavam…

Ah! A paternidade…

Segunda-feira

– Paiê, sabia que você parece com o Senhor Incrível?

Ainda era de manhãzinha, eu me preparando pra sair, a criançada assistindo um filme na televisão e meu filhote de sete anos me vem com essa.

Todo orgulhoso – afinal de contas MEU PRÓPRIO FILHO estava me comparando a um super-herói – caí na besteira de lhe perguntar por quê.

– Por três motivos. É que você amassou todinho o carro da mamãe e ele também amassou o carro naquela hora que chegou na casa dele. E também porque você vive levando bronca da mamãe, que nem quando ele chega em casa à noite, escondidinho…

Mesmo vendo minhas expectativas de super-pai se esvaírem pelo ralo, ainda fui idiota o suficiente pra fazer uma derradeira pergunta:

– Tá filho. Tá. Mas e o terceiro motivo?

– Ah! É mesmo. É quando ele desce na ilha e se espreguiça e aparece o barrigão…

DEFINITIVAMENTE.

Vai ser uma looooonga semana…

Questão de meio ambiente

E então meu filhote mais velho tem que fazer uma tarefa para escola referente aos animais em extinção. É lógico que este pai sempre zeloso – após um ligeiro trabalho de convencimento por parte da Dona Patroa (tudo bem, devo parar de mancar em poucos dias) – se pôs à disposição do petiz.

Com uma idéia na cabeça, uma vontade no coração e o Google à mão, rapidamente localizei a página do Ministério do Meio Ambiente, a qual traz um pequenino texto (!) sobre o tema, bem como uma lista enoooooorme dos animais ameaçados de extinção, lista essa dividida em diversas categorias, tais como vulnerável, em perigo, criticamente em perigo, etc.

Não se preocupem. Eu tenho noção de que a tarefa é DELE e tem que ser feito com as palavras DELE. Sentamo-nos ontem à noite e, seguindo mais ou menos o roteiro do texto, expliquei seu teor com palavras inteligíveis a uma criança de sete anos; ou seja, falei sobre como funciona um ecossistema, sobre a extinção das espécies – com uma pincelada acerca dos dinossauros (essa parte ele adorou), sobre os atos do ser humano que podem causar extinção dos animais, quer seja por destruir os bichinhos ou seu habitat – isso eu não precisei explicar, ele já sabia – quer seja por introduzir novas espécies num local estranho. Enfim, ressaltei a importância de se manter um ecossistema equilibrado. Tudo isso pra que ele recontasse com suas próprias palavras as impressões que guardou da “aula”.

O porquê deste post? Sinceramente não sei. Acho que nunca dei real importância a essa coisa de meio ambiente. Mas ali, ao explicar ao filhote todos os detalhes dessas coisas que são até óbvias, e dando exemplos compatíveis com sua cabecinha, pintou um quê de preocupação. Acho que deve ter sido pelo fato de que alguns dos exemplos que dei dizem respeito a situações próximas, as quais presenciei ou vivenciei. Isso acaba por tornar o enfoque meio que diferente. Acho que não vou conseguir mais ver essa questão ambiental com aquele distanciamento seguro e confortável que até então eu ostentava.

Pois é. Como já dizia o filósofo: “normalmente ensinamos melhor aquilo que mais precisamos aprender”

Ainda o do meio…

Hoje de manhã, só pra contrariar o último post, ele foi o primeiro dos três a acordar. Acabei de preparar o café da manhã, tudo na mesa – inclusive ele – e também preparei seu Toddy (apesar da tentação de não falar de marcas de produtos, não adianta: Toddy é Toddy, Nescau é Nescau e assim por diante; esse negócio de “achocolatado em pó” é muito esquisito pra mim). Perguntei-lhe:

– E aí filho, como é que tá o Toddy?

– Cumassim? (e olha que ele nunca leu o blog da Ju…)

– Tá muito quente? Tá muito frio? Como é que tá?

– Ah… Tá muito morno.

E eu venço esse povinho?

Insolência legal

E então? Lembram-se que outro dia estava justamente comentando acerca de meu filho do meio? Pois é. Dos três filhotes o que sempre dorme melhor é ele. Normalmente, à noite, é o primeiro que capota e, de manhã, o último que chega à mesa para o café. E não tem tempo ruim, não! Se o sono chegar, onde ele estiver, foi! Não importa a situação ou a posição. Nem que seja de ponta-cabeça, desafiando até mesmo a Lei da Gravidade!

Segue a prova…

Fim De Semana

Nos sites por aí pela Internet vejo muita gente referir-se ao fim de semana como “FDS”. Não sei se é muita maldade em meu coração, mas foneticamente isso pra mim soa muito mais como “FoDa-Se”, do que como “Fim De Semana”. Mas, enfim, é exatamente sobre isso que gostaria de falar, sobre o fim de semana. Se bem que, pela conjuntura da coisa, poderia ter escrito FDS mesmo…

Tinha tudo pra ser um fim de semana extremamente tranquilo. Mas, já de véspera, fui alertado pela Dona Patroa que ela precisaria acompanhar seus pais (meu estimado sogro e minha… bem, a… tá, minha sogra) até o litoral, onde eles têm uma casa que havia sido locada e agora precisariam fazer uma vistoria, pois o inquilino havia saído. Como eles já são bem velhinhos, usualmente costuma sobrar pra caçula deles (ou seja, a Dona Patroa) “programas” desse tipo.

No meio da manhã de sábado lá fui eu fazer umas compritchas. Na volta ela me liga. O filhote mais velho estava com catapora. Sim, todos tinham sido vacinados, não, os outros não pegaram, sim, pensando melhor, acho que já pegaram – mas de forma bem leve, não, é catapora mesmo.

Celulares. Maravilhas do mundo moderno. Esqueçam aquele ditado de que notícias vão a galope; hoje o máximo que elas galopam são as microondas. Dez minutos depois e ainda ao volante (que nenhum marronzinho me leia essas linhas) já tinha resolvido toda a agenda de compromissos da semana.

Como ela iria descer somente no domingo, aproveitamos o sábado em casa. Toda a família, com destaque especial para meu joelho, que – óbvio – estava doendo. Somente entrando na faca mesmo pra reconstruir os ligamentos avariados, mas isso já é outra história. À noite resolvemos assistir um filminho pra descontrair: The weather man, incrivelmente “traduzido” como O Sol de cada manhã, um filme com Nicolas Cage e Michael Cane. Que me perdoem todos aqueles que conseguiram ver mensagens de esperança e significados ocultos, esotéricos e de auto-ajuda no filme. Particularmente achei horrível. Poderia ter falado fraco, previsível, modorrento e chato. Mas prefiro ficar somente com a palavra horrível – com o que compactua a Dona Patroa. Pra não dizer que foi uma perda total, a atuação de Michael Cane sempre é cativante e aprendi algo sobre arco-e-flecha, uma paixão secreta que um dia ainda realizarei. Salvo isso, repito, horrível.

Eis que chegou o domingo e lá foi a Dona Patroa fazer a maledetta vistoria, juntamente com meus sogros e 1/3 de nossos filhos. Fiquei em casa com os 2/3 restantes: o mais velho, com sete, e o caçula, com dois e meio. Com o quintal e um dia que nem decidia se chovia ou se ensolarava, até que tivemos com que nos ocupar.

No meio do caminho rolou um strees básico por telefone com a senhora minha mãe – por que é que toda mãe (pelo menos as da geração passada) já vem treinada em trabalhar com a culpa nos filhos? Desde pequeno já era assim. Ao invés de me dizer para lavar o alpendre (alguém ainda sabe o que é isso?), ficava por perto entonando o costumeiro mantra: “Ah, preciso lavar esse alpendre! Mas estou tão cansada… Ainda tenho que fazer almoço e cuidar do quintal. Mas o alpendre está tão empoeirado que precisa ser lavado…” e seguia por aí afora. É LÓGICO que a determinada altura da coisa eu era obrigado a tomar uma atitude: ou saía pra rua de vez ou lavava a porra do alpendre. Como eu sempre tentei ser bonzinho… bem, dá-lhe alpendre!

Mas, com o tempo, meio que me imunizei a esse tipo de ataque. Porém, de vez em quando ainda sou pego com a resistência baixa e acabo perdendo a paciência. Tudo bem. Faz parte do pacote e do nosso relacionamento.

Com o filhote cada vez mais cheio de brotoejas devido à catapora (ou varicela, ou, ainda, tatapora), bastou uma dipironazinha de leve (C13H16N3NaO4S) para trazê-lo de volta aos eixos. Aliás, quem tem filho sabe que nessas horas a gente fica muito mais permissivo, com um “dózinho” do doentinho, tentando atender seus mais ínfimos desejos e levantando um escudo protetor a sua volta. Apesar da surra que levei da última vez – a cantoria de “ganhei de dez a zero do papai” ainda ecoava em meus ouvidos – fomos jogar algumas novas partidas de Play 2. E não é que o desgramado me deu uma nova surra? Mas, pelo menos, dessa vez ganhei algumas das corridas! Imagino que se um carro de verdade tivesse um joystick ao invés de um volante eu bateria em cada árvore que encontrasse pelo caminho…

Pra fechar o dia com chave de ouro, um casal de amigos resolveu fazer um churrasco de última hora e nos ligou, convocando-nos. Eles têm dois filhos cujas idades regulam com as dos nossos mais velhos – o que sempre é uma boa pedida. Expliquei a situação precária em que me encontrava, sem a Dona Patroa ter voltado e com a catapora instalada em casa. Foi então que a mãe dos pequerruchos de lá, do outro lado da linha, me disse:

– Ah, mas não tem problema! Meus meninos já estão vacinados e se pegarem vai dar bem fraquinha. É até bom, porque daí já se livram disso de vez!

Não é ótimo ainda existirem pessoas assim, total e completamente desencanadas?

Pra começar

Aí você acorda na manhãzinha de segunda-feira já desanimado. Aí você pensa em todas as encrencas que vai ter que administrar nessa semana mais curta. Aí você vai para o quarto onde fica o computador pra já adiantar alguma coisa do seu trabalho. Aí, passado algum tempo, seu filho do meio, o de quatro anos, acorda num bom humor insuportável. Aí você, ainda ranzinza, lhe diz: “bom dia, né?”. Aí seu filho, imitando o Flash, passa seis vezes correndo em frente da sua porta – cada vez mais rápido – dizendo “bom dia, pai”.

Aí você manda tudo isso à merda, corre, dá um abraço de ponta cabeça no seu filho, e sai pra buscar um pão quentinho pra todo mundo.

Pois é.

Boa semana procês também!