Game world (The Revenge)

Alguém aí se lembra que outro dia, jogando xadrez com meu filho, lhe dei um fulminante xeque-mate?

Boisé.

Somente ontem tivemos a revanche. O território: Playstation II. As armas: o jogo Need for Speed Underground. O placar: dez a zero. Pra ele.

Desde então ele não se cansa de ficar me lembrando esse resultado. Em qualquer oportunidade. Falando, brincando, na maior parte das vezes cantarolando.

Quem será que fui que ensinei sarcasmo pra esse moleque?…

Game world

Meu filhote mais velho, do alto de seus sete anos, já é um enxadrista melhor do que muitos adultos que conheço. O que não impediu que ontem, após cerca de uns vinte lances, eu lhe desse um fulminante xeque-mate.

Ficou acertado uma revanche para hoje à noite, mas agora em outro território: jogaremos Need for Speed Underground no Playstation II.

Sinto que levarei uma memorável surra…

Obsolescência (de novo)

E então fui ajudar meu filho de sete anos em seu dever de casa. A missão: escrever o nome de alguém que gosta e, a partir de cada letra desse nome, escrever uma palavra ou frase que lhe dê sentido. Ficou mais ou menos assim:

Enrolada
Legal
Inteligente
Amiga
Nervosa
Amorosa

A esse tipo de construção dá-se o nome de acróstico. Segundo disse o Nário, “composição poética na qual o conjunto das letras iniciais (e por vezes as mediais ou finais) dos versos compõe verticalmente uma palavra ou frase”.

Continuo aprendendo com ele.

Sempre.

Parque da Mônica – a epopéia (V)

V – Home Sweet Home!

(Recapitulando: nossos heróis haviam acabado de voltar ao ponto de encontro outrora combinado, entretanto, consternados, acabam por descobrir que a caravana partiu e, agora, estariam sozinhos naquele labirinto…)

– E agora?

– Elas só podem ter ido até os carros!

– Juuuura? E onde estão os carros messs?…

– No estacionamento?…

– Eu só me lembro que entramos por uma das laterais.

– O jeito é procurar.

Estávamos voltando para as escadas rolantes, mas resolvemos subir de elevador. Já estava ali mesmo, parado, dando sopa, sem fazer nada… Sem saber em qual andar ficava o piso de estacionamentos onde estavam os carros, resolvemos simplesmente subir. Aperta botão. Fecha porta. Sobe lentamente. Pára no andar seguinte. (Que tédio!) Abre porta. E um sujeito do lado de fora, parado, de costas, olhando para os lados, como quem procura algo. Pareceu que uma faísca percorreu o interior do elevador.

– É o Paulo!

– PAULÔÔÔ!!!!

E veio o terceiro mosqueteiro para o elevador. Ficamos MUITO felizes ao vê-lo; aliviados e esperançosos de que agora sim conseguiríamos chegar até os carros. Mas ele só tinha uma certeza: que estávamos estacionados em “G2G”. Em qual andar ficava isso mesmo? Nem idéia. Decidimos que deveria ser o segundo andar, e lá fomos nós.

Descemos do elevador sem ter a mínima idéia de onde ficava a entrada para o estacionamento naquele andar. E então fomos os três, Moe, Larry e Curly, andando, a meio passo, olhando para todos os lados, e conjecturando em voz alta:

– Será que fica lá no fundo?

– Será que tem que virar?

– Será que tem que descer?

– Será que tem que subir?

– Será que alguém lembra?

– Será que alguém saberia informar?

– SERÁ QUE ALGUÉM TEM UMA BÚSSOLA???

(Nota: visando respeitar os direitos autorais nesta minissérie, cumpre esclarecer que a última frase foi um grit…, isto é, um questionamento efetuado pelo Evandro).

Com algum custo, conseguimos encontrar a saída. Ou a entrada. Ou… bem, chegamos lá. Estávamos em “G4”.

Tudo bem. Calma. Bastaria descer dois “Gs”. Tinha um elevador ali do lado, o que afastava a hipótese de nos perdermos novamente. Aperta botão. Espera. Espera. Espera. Espera. Quer saber de uma coisa? Vamos de escada, mesmo! Fomos descendo (ainda bem que era uma escada com legenda), e ao chegarmos em “G2” ainda restou um quê de ansiedade, pois não sabíamos se sairíamos exatamente próximos aos carros.

Saímos! Olhamos à esquerda… e gritamos de emoção e felicidade! Lá estavam elas! Bem atrás dos carros! O porta-malas aberto! Com as crianças! Fazendo… FAROFA?????

Pois é.

Farofa.

Havia guaraná, bolachas, sauduichinhos, pedacinhos de frango e de linguiça empanados, e muitos oniguiris. Pra quem não sabe, oniguiri é uma iguaria japonesa, que nada mais é que arroz na forma de bolinhos. Muito prático para eventos do gênero.

Bem, o que não tem remédio, remediado está. Vamos comer. Num lampejo de humor (e crueldade), o Paulo virou para Dona Patroa e perguntou:

– E aí? Que tal aproveitar que amanhã é domingo? Vamos pra Cidade da Criança?

Ela riu sonoramente. Até agora não sei se foi por diversão ou por nervosismo…

Nesse meio tempo passou um segurança do shopping, com um olhar incrédulo. Acho que ele nunca viu ninguém fazendo um piquenique de porta-mala num estacionamento de shopping. Bom, a bem da verdade, nem eu. Tentei oferecer-lhe algo, mas ele rapidamente olhou em frente, procurando nos ignorar. Melhor assim.

Nesse meio tempo, Dona Patroa resolveu ir até o banheiro. Como ela estava demorando muito, começamos a confabular se ela teria se perdido novamente.

– Que isso, gente! Com certeza ela deve ter levado um oniguiri, foi tirando umas migalhas e deixando pelo caminho para saber como voltar!

– Ah, é? E se tiver passado aquela dona da limpeza com um vassourão de dois metros varrendo tudo?

– Xiii. Aí complica…

Mas – ainda bem – não foi o caso. Logo em seguida ela voltou e todos nos aprontamos para sair. O carro do Paulo na frente, é lógico, pois não conhecíamos o caminho de volta (e só porque não havíamos pensado nas migalhas de oniguiri antes).

É lógico que essa aventura não acabaria assim, de maneira tão simples. O cartão do estacionamento. O maldito cartão do estacionamento. Enquanto estávamos piqueniqueando VENCEU O PRAZO DE VALIDADE DA PORRA DO CARTÃO! E volta o marmitão aqui, dois andares acima, pra pagar mais um real…

Enfim, aproximadamente doze horas depois de nossa saída, chegamos em casa.

Na verdade parecia que dias já haviam se passado!

Falando sério. Apesar de todas as minhas reclamações e de minha tradicional rabugice, as crianças se divertiram – e eu também! Ainda haveremos de marcar um novo passeio – desta vez para a Cidade da Criança. Desde que eu tenha alguns MESES pra descansar deste último…

E assim, concluímos esta minissérie de cinco capítulos de padrão não-tão-global-assim. Agradeço aos que me aturaram, tenham ou não comentado nossas desventuras!

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Em tempo: vocês puderam perceber que no fatídico sábado ficamos praticamente o dia inteiro sem fumar. No domingo houve um churrasco na chácara de minha tia (a mãe da Pimenta e da Pipoca) para comemorar o aniversário da filha de uma outra prima. Resolvi chamar o Evandro para participar.

Só que o pessoal que estava lá era quase todo evangélico.

Não rolou NEM UMA cerveja.

Merda.

Parque da Mônica – a epopéia (IV)

IV – Luz no fim do túnel

Um pouco após nossa saída resolvemos dar algum alimento para os dois pequerruchos que estavam conosco. Como todo Inferno que se preze, o Parque ficava no térreo (ou melhor, abaixo do nível do térreo), enquanto que a praça de alimentação ficava no último piso. E dá-lhe escada rolante.

Aliás, se o Jean falasse e alguém lhe perguntasse o que ele mais gostou no passeio, tenho certeza que diria: “escada”. Bastava ver um degrauzinho subindo ou descendo que lá ia ele, lépido e faceiro, em direção à escada rolante.

Após um chá gelado e uns pãezinhos de queijo, resolvi participar ao nobre colega o fato de que eu simplesmente NÃO estava com a chave do carro.

– O QUÊ???? Mas é um Jamanta, mesmo!

O pior de tudo é ter que ouvir isso calado. Mas mostrei-lhe o lado bom: ao menos poderíamos fumar um cigarro do lado de fora enquanto esperávamos. Não, eu não tinha arranjado fogo, fósforo, um par de pedras, nem nada que pudesse acendê-lo. Mas havia uma banca de jornais ali perto.

– Por gentileza, quanto é esse isqueirinho?

– Dois e noventa. Senhor.

Dois e noventa. DOIS E NOVENTA! Um mísero isqueiro que mal custaria um real num boteco’s bar qualquer e talvez nem chegasse a cinquenta centavos nos camelôs de alguma calçada. E o caboclo tinha o despropósito de querer cobrar dois e noventa, quase trêrreal por aquela coisinha fajuta. Ora, tenha a santa paciência!

– E aí, arranjou fogo?

– NÃO.

– Mas, mas, mas, mas…

– Mas nada. Quando der eu dou um jeito de acender esses cigarros nem que tenha que esfregar dois pauzinhos! JEAN, SAI DA ESCADA!!!

E corre a pegar o tranqueirinha.

Bem, usando de toda nossa capacidade sherlockiana pudemos deduzir que estávamos num shopping. E, certamente, todo shopping daquele porte deveria ter uma charutaria, um hipermercado, ou algo do gênero. O jeito era procurar.

Andar após andar, volta após volta, caminhada após caminhada – inclusive tendo a certeza absoluta de que já havia passado por aquela mesma samambaia umas duas vezes antes – eis que meu pequenino cochilou em meu ombro. O jeito agora era parar um pouco pra descansar. Sentamo-nos num banco de madeira, bem em frente a uma loja com a “última” moda feminina. Não demorou muito, o filhote do Evandro também dormiu.

Com a convivência diária (diuturna, eu diria), Evandro e eu desenvolvemos um sistema de conversa um tanto quanto peculiar. Mais ou menos como os três sobrinhos do Pato Donald, ou os dois sobrinhos do Mickey (por que nessas estórias todos são sobrinhos?), onde um completa a idéia do outro. De vez em quando começamos uma conversa, que quase poderia ser um monólogo por expressar um único raciocínio, se não fosse o fato de que ambos contribuímos para o desenvolvimento das idéias. Num resumo bem apertado, o papo foi mais ou menos esse:

– I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL!

– Pois é.

– Quem diria?

– Nós dois.

– Aqui.

– Sentados num banco de um shopping.

– Que não tem nada a ver com a gente.

– Que se frise: NADA.

– Cansados.

– Exaustos.

– Com nossos filhos.

– No colo.

– Dormindo.

– De frente para uma loja de moda feminina.

– Que nem roupas bonitas tem.

– No meio de uma tarde de sábado.

– Sem ter fumado um cigarro sequer.

– Nenhunzinho.

– ZERO de nicotina no organismo.

– Nem álccol.

– Totalmente sóbrios.

– Ninguém vai acreditar.

– Ninguém.

Apesar disso, nossa amiga Milena costuma dizer que nossa personalidade, quando juntos, estaria mais para os irmãos gambás da Era do Gelo 2…

Não demorou muito e as crianças acordaram. Como eu já havia dito, o tempo corre de uma maneira diferente quando se visita outras dimensões, ou seja, mal eram seis da tarde. Passamos a visitar uma ou outra loja, paramos um pouco mais numa livraria, mas continuamos a malfadada procura. De repente, não mais que de repente, passa um sujeito com um carrinho de um hipermercado!

Encaramo-nos com um sorriso e um brilho no olhar! Nem que fosse pra comprar um pacote inteiro de fósforos, desta vez conseguiríamos algo! Afinal, a falta de nicotina já estava atingindo níveis alarmantes em nosso organismo… Pergunta daqui, pergunta dali, fica no térreo. E lá fomos nós. Pela escada rolante, é lógico.

– Ali, ali, ali! – gritava um pululante Evandro, com seu filho no colo. Beleza. Pelo sim, pelo não, resolvi dar uma volta pelo outro lado pra ver se havia alguma charutaria. Combinamos de nos encontrar em cinco minutos, na porta do hipermercado.

Mal havia dado dez passos e quem encontrei? Todo o resto da caravana! Bem, quase. Dona Patroa, Andréa e as crianças estavam bem ali, à minha frente. Mas faltava o Paulo. Ao que parece ela até já havia validado o cartão de estacionamento, mas o Paulo não encontrou o próprio cartão e foi fazer uma busca e apreensão nas dependências do carro.

Deixei o Jean com elas e voltei correndo ao hipermercado, à procura do penúltimo membro desgarrado da caravana.

– Jota! Você não vai acreditar, estão dando um vinhozinho muito bom aqui de amostra grátis! Vamos…

– Não vamos nada! Encontrei o resto do povo!

– O quê? Não acredito!

– Sério. Vem comigo. Elas estão ali, bem próximo da porta.

Com um misto de alegria e satisfação, nos reunimos. Foi quando percebemos o quão próximo da porta do shopping estávamos, defronte a um imenso ponto de táxi. Deixamos as crianças com elas e combinamos que iríamos apenas fumar um cigarro e já voltávamos. Tudo bem. Saímos, emprestamos o fogo de um transeunte, e – finalmente – pudemos dar algumas tragadas.

A fumaça descia em suaves espirais por uma garganta ávida por sua presença. Finalmente relaxamos um pouco das desventuras do dia…

– E o Paulo?

– Parece que não encontrou o cartão de estacionamento. Foi procurar no carro. Aliás, segundo a Andréa, foi procurar o carro também!

Rimos um pouco. Falamos de amenidades. Mas de repente o Evandro leu um cartaz sobre meu ombro e ficou pálido.

– Adauto!

– Digue.

– Você sabe quantas vagas tem no estacionamento desse shopping?

– Não tenho nem idéia afastada…

– No-ve-cen-tos e oi-ten-ta.

– Tá. Quase mil vagas. Aproximadamente umas cinco mil pessoas, numa conta de carro de paulista. Fora quem tenha vindo de moto, ônibus, metrô, trem e a pé. E garanto que TODOS eles estavam lá no Parque hoje!

– Você não está entendendo a gravidade da situação!

– Cumassim?

– O Paulo. Você disse que ele não sabe onde está o carro! E ainda foi procurar!

– Puta-que-o-pariu! Você tem razão! Meia-noite vai ser cedo, assim. Vamos encontrar com o resto do povo!

E voltamos ao interior do shopping, no mesmo local onde havíamos deixado as meninas nos esperando juntamente com as crianças.

Mas elas já não estavam mais lá.

Continua…

Parque da Mônica – a epopéia (III)

III – O Parque

Então. Como todo pai que se preza tem que tirar fotos dos pimpolhos, parei no meio da rampa (que, na descida, circundava o escorregador) para tirar alguns instantâneos. Fotografei em plena atividade escorregadícia as crianças do Paulo e da Andréa, da Andréa, do guri do Evandro (e do próprio…), da Dona Patroa e, por fim, de minha prole também.

Foi aí que o caldo começou a entornar.

O humor de meu filhote mais velho vive no limiar da balança. Não sei por que cargas d’água ele desistiu do escorregador logo que começou a descer: deu um jeito de parar e começou a voltar. O funcionário do Parque não teve dúvidas, foi até ele, abraçou-o, e desceram juntos, sob protestos do bacuri.

Aí que vinagrou de vez…

Mesmo assim fomos todos com as crianças num brinquedo logo próximo à entrada, uma espécie de super hiper ultra mega blaster plus trepa-trepa. Enquanto foram entrando na fila, Adauto, o coxo (lembram-se do joelho?), ficou aguardando do lado de fora. Segurando a bolsa da Dona Patroa. E a mochila das crianças. E a máquina fotográfica. E um saquinho com o que sobrou do almoço. E os calçados de todos eles. Pra ficar com as mãos livres, dei um jeito de amarrar, transpassar e vestir tudo isso. Num espelho próximo vi que fiquei bem no estilo dos antigos exploradores paulistas, um verdadeiro Bandeirandante

Enquanto estavam na fila, dei uma sacada nos arredores. Inúmeros outros pais carregados de mochilas, bolsas e sapatos. Alguns sorrindo para os filhos distantes, outros com aquela característica cara de tédio de quem espera, e, ainda, mais alguns em estado catatônico.

E as crianças, então? Corriam, pulavam, atropelavam, saindo e entrando de todos os lados possíveis e imagináveis. Isso fora as que choravam. Choravam pelos brinquedos, porque queriam ir, porque não queriam ir, porque já foram, porque queriam ir de novo, enfim: choravam.

Quando voltei desse ligeiro estado de letargia, percebi que o filhote, o vinagrado, queria sair da fila. Fui até lá e retirei-o.

– Vou dar uma volta com ele e depois a gente se encontra!

No decorrer da meia hora seguinte (se bem que acho que deva ter sido mais, pois o tempo corre de uma maneira própria quando se está em outra dimensão), fomos caminhando por todo o parque, vendo os brinquedos e eu ainda tentando insistir se ele queria brincar num ou noutro. Mas as negociações foram infrutíferas. Só começou a voltar a seu temperamento normal (?) após um belo, grande e saboroso sorvete escolhido por ele próprio (nunca falha!).

Nessa volta que demos, o único lugar em que me senti um pouco mais à vontade foi a Casa do Louco. Aquilo tudo era assaz compreensível para mim, desde as cortinas de linguiça até a vitrola das antigas, na qual virava, toda modorrenta, uma pizza, tocando uma música de fundo…

Encontrei com a Dona Patroa e o caçulinha, bem como o Evandro e seu filhote, os quais também já haviam se distanciado dos demais, brincando sossegados com tijolinhos de construção de tamanho real. Feitos de espuma, é lógico.

Nesse meio tempo, a proposta: “café, doctor?”, ao que respondi “póssassê”. E foi o Evandro pra fila. E ficou. E ficou. E ficou. Quando já não havia mais esperança, eis que ele foi atendido. Mesmo assim, quando fomos servidos ainda tivemos que pedir pra mocinha dar uma completada, pois o café veio abaixo da metade da xícara! Após DESgustar o café, eis que bate novamente aquela vontade de dar uma pitada…

Depois de tudo isso, de toda a fila, de toda a espera, o Kevin vem e me pergunta:

– Paiê, tô com sede. Pode comprar um suquinho?

Com a xícara ainda nas mãos, dou uma esticada de pescoço e vejo a fila de uns 15 metros. Parada.

– Filhô, não serve água, não? Papai achou um bebedouro bem legal, ali atrás…

Não funcionou.

Aliás, deve ter sido mais ou menos por esse momento que percebi a perna meio molhada. Amarrado à mochila estava o saquinho com o que sobrou do almoço, inclusive com o refrigerante, QUE COMEÇOU A DERRAMAR. Nem sei quanto tempo levei pra conseguir limpar o que precisava ser limpo e salvar o que dava pra ser salvo.

Foi então que trocamos, Dona Patroa e eu: ela foi brincar com o Kevin em outros brinquedos e deixou o Jean comigo, o que foi um ótimo negócio – pra ela – pois, por ser pequenina (1,53m), ela ficava de igual pra igual com o resto da criançada.

Como o Jean é da paz (quando não está aprontando) foi mais fácil toureá-lo. Após umas duas birras por brinquedos, uma fralda cheia (com um fraldário ainda MUITO mais cheio) e no limite da exaustão, chegamos à conclusão que o ideal seria ir para o carro colocar as crianças para dormir um pouco. Evandro concordou. Pelo celular (que, GRAÇAS A DEUS, estava com bateria), consegui falar com a Dona Patroa, expondo-lhe o plano. Tudo bem, só pediu pra devolver-lhe a bolsa. Tãotáintão.

Encontrei-a, devolvi-lhe a bolsa e prossegui com os demais apetrechos. Passar por aquela criançada, agora com o Jean no colo, me dava a impressão de avançar numa tempestade de areia pelo deserto…

– Bom, pelo menos vamos poder fumar um cigarrinho!

– Pois é! E sair dessa barulheira e colocar os meninos pra dormir um pouco no carro.

– É mesmo!

Mas eu ainda estava com aquela maldita sensação de que havia esquecido algo. Fogo eu já sabia que não tinha. O que seria? Assim que passamos pelas catracas, sem possibilidade de volta, me lembrei: A CHAVE DO CARRO! Ficou na bolsa da Dona Patroa!!!

Olhei para o lado, para o companheiro de jornada, acabado, cansado, suado, mas feliz por ter saído dali, com seu filho virando cambalhota no colo.

“É. Depois eu conto.”

Continua…