Causos

Bão… Por enquanto nada melhor pra fazer do que contar sobre a vidinha mundana… Como diria um amigo – grande João Moreno! – é complicada essa coisa de ser doutor adEvogado de direito jurídico…

O que me lembra de um “causo” (Pantaleão, se segura…). Ocorreu numa comarca aqui do interior de São Paulo. Causa trabalhista, de peão de sítio. Audiência una, com oitiva de testemunhas no mesmo ato. Dois pela Reclamada e dois pelo Reclamante. Na verdade o cara praticamente não tinha direito a nada, mas pra resolver a pendenga lhe foi acenado com a possibilidade de pagamento de uns cento e cinquenta contos. E nada. Irredutível. Não abria mão de um centavo.

O juiz não entendia o porquê de tanta intransigência, e perguntou:

– Mas, seu fulano. Estamos aqui, tentando compor amigavelmente as partes. Isso significa que cada um cede um pouquinho. A Reclamada cedeu de modo a lhe pagar algo. O senhor também deveria ao menos ceder de modo a receber um pouco menos.

– A seu doutor, num dá. Cento e cinquenta num dá. Só das testemunhas que eu trouxe já prometi cinquentão pra cada um, aí você tira a parte do advogado e vai sobrar o que pra mim? Não, cento e cinquenta num dá!

Foi nessa hora que o advogado dele tentou se esconder debaixo da mesa, enquanto que o da Reclamada rachava de tanto rir. O escrevente segurando as gargalhadas e o juiz perplexo, com olhar atônito e o queixo literalmente caído.

– Escuta, meu senhor – disse o juiz medindo cada sílaba. Acharia muito BOM que vocês fizessem um acordo. Eu vou sair da sala pra tomar um café e quando eu voltar quero o acordo pronto. Vamos fazer de conta que não ouvi nada disso.

E saiu, ainda pasmo.

Conclusão? O acordo ficou em míseros cem reais, mais um sabão por parte do juiz… Se as testemunhas dele receberam cinquentão cada um? Sinceramente não sei, mas acho que não…

Isso me lembrou de outro causo!

Certa vez trabalhei com um advogado, vamos chamá-lo de Nêru (só a irmã dele sabe o porquê desse apelido), que foi fazer uma audiência em São Sebastião. Com todo o respeito ao pessoal da terrinha, mas lá pr’aquelas bandas só existem dois tipos de ação: investigação de paternidade e reintegração de posse (por causa do porto e da grilagem de terras).

Aguardando o início da audiência, ele começou a conversar com os advogados da outra parte. Eis que passam duas moçoilas, bronzeadíssimas, pernas de fora, bustiê, exalando hormônios…

– Êita, que abriram a porta da zona no meio da tarde! – Foi o que ele comentou com os outros advogados, que só esboçaram um sorriso. Ainda assim ele continuou sua preleção sobre as beldades que passaram.

Minutos depois, eis que adentram à sala de audiência. E ele, pálido. Deu de cara com as “meninas” de antes: juíza e escrevente, respectivamente…

Aliás, existem, também, ótimas histórias da comarca de São Sebastião, pois a “zona de meretrício” ficava bem embaixo das salas do Fórum. Mas isso talvez já seja matéria para um outro dia…

Visão Poética da triste estória do apenado José

Artigo enviado por e-mail para publicação

 
Cláudia Vieira Maciel
Acadêmica do 10º Período de Direito do
Instituto Luterano de Ensino Superior de Ji-Paraná, RO

José foi condenado.
Seu destino: a casa de detenção.
Já nos primeiros dias descobriu uma triste realidade:
Que o cárcere é uma escola,
escola para a marginalização.

José que conhecia apenas o revólver,
Descobriu que tudo pode ser uma arma,
– depende da situação;
E que no submundo carcerário,
Quem faz a lei é o ladrão.

Descobriu também que sem qualquer ato,
Pode-se “puxar” mais anos de prisão;
Pois em troca da própria vida,
Cria-se uma confissão.
E de um crime que José nem sabia,
Nem viu a consumação…

Antagônica realidade a de José.
Prejudicado na lide judicial,
(José agora é reincidente)
Mas, favorecido na sociedade artificial.
– Agora ele é da gente!
Dizem os cabeças da organização.

E José que teria iniciado sua pena,
Sob o fundamento do duplo objetivo:
Castigo e ressocialização,
descobriu que lá se aprende,
é viver mais tempo dentro da prisão.

José nunca foi homem de muitos planos;
E até mesmo dizia, que um dia abandonaria
essa vida de “roubação”;
Que tinham razão os doutores:
“O crime não compensa não.”

– A gente vive roubando, e quando nos pegam,
perdemos o respeito e a própria consolação;
O dinheiro acaba ligeiro e os sonhos são trancafiados
Junto as grades da prisão.

José sabe que vai passar mais sete anos,
Isso com os benefícios da progressão;
Mas desconhece o seu futuro,
Pois seu receio, é quando tiver que encarar de frente,
A sociedade e os reflexos da estigmatização.

José se preocupa com seu egresso
Pois desde que vem puxando cadeia
Só viu os muros e a segurança aumentarem
Como repressões à fuga e a rebelião.

E com isso vão distanciando,
A tão almejada ressocialização;
Pois esquecem que os atos devem ser primados em favor
do apenado
E não da instalação.

José soube que com a LEP,
Apresentaram uma grande inovação;
Instituíram a assistência ao egresso,
Com apoio e orientação para reintegrá-lo à liberdade
E ainda se necessário, alojamento e alimentação.

Mas como a letra é fria, é morta,
Precisa que não só o governo, mas toda a sociedade
A coloque em ação.
Pois o artigo 78 prevê o “patronato”,
Que poderá ser integrado por membros
De qualquer entidade, grupo ou religião.

Então José faz uma apelo, para toda população;
Para que todos se preocupem com os egressos
em favor da própria segurança,
Pois o Brasil está cheio
De quem voltou a ser ladrão,
Por falta de oportunidade
e excesso de discriminação.

E ainda arrisca uma dica,
que vai além dos cursos de profissionalização:
que para as empresas que admitam ex-detentos
seja oferecido um incentivo
nos tributos com o leão.

( Publicado originalmente em meu antigo domínio “HABEASDATA”, em outubro/2001 )