Mudanças radicais (mas nem tanto)

Imaginem a seguinte situação “hipotética”: dois computadores novos chegam para serem instalados no departamento que está sob sua responsabilidade. As meninas que trabalham com você não vêem a hora de começar a utilizar os novos equipamentos. São apenas quatro os computadores antigos, de modo que você monta a seguinte estratégia: aquele com o Windows 98 que vive travando vai embora; o “pretinho” com a mais pífia distribuição do Linux já criada (Freedows) e cuja fonte está dando sinais de cansaço, também vai embora; um outro, melhorzinho, com o Windows XP, mas cujas configurações estão meio que zuretas depois de inúmeras (re)instalações, vai mudar de usuário; e o seu continua sendo o seu mesmo.

Substituições feitas, novos computadores instalados, num ímpeto teatral foi decida sua ativação exatamente no mesmo momento. Em perfeita sincronia os botões on-off são pressionados, você ouve os coolers começando a girar, os bips de praxe, em uníssono, dão sinal de vida, as telas se preenchem para inicialização e…

Nada.

“Como assim, nada?”

Nada, uai.

Simplesmente não funcionaram. Pararam na busca do sistema operacional. Ambos. E cadê o sistema? Fomos consultar o contrato. Licitação tal, pregão tal, contrato número tal. Aqui! “Equipamentos conforme memorial descritivo”. Ah, tá. E cadê o memorial descritivo? Vira, procura, fuça. Aqui! Não tem índice. Ah, tá. Vamos ver: hardware, periféricos, embalagens, manuais, software. Aqui! “Os computadores deverão ser entregues sem o sistema operacional”. Ah, tá.

Antes de qualquer coisa fomos consultar o próprio departamento de informática para saber se existia alguma orientação, alguma linha mestra a ser seguida. Não.

Ato contínuo, fomos conversar com a nossa própria chefia. Avaliando as possibilidades ($$$) disponíveis, somente restou uma opção: Linux.

Fui encarregado de “resolver” o problema. Num primeiro momento pensei no Ubuntu, o qual inclusive tenho instalado lá em casa. Mas lembrei-me que, depois da desastrada experiência imposta aos usuários com o tal do Freedows, a resistência ao Linux seria muito grande. Seria necessário algo que não implicasse em nenhuma mudança radical. Lembrei-me, também, que a máquina que haviam disponibilizado para o Bica possuía uma distro diferente, e que ele havia comentado que “era a cara do Windows”.

Resolvi arriscar.

O nome da distribuição? Famelix.

Esse projeto levado a cabo pela FAMEG – Faculdade Metropolitana de Guaramirim, de Santa Catarina (tinha que ser), com o apoio de sua mantenedora, a SEVITA – Sociedade Educacional do Vale do Itapocu, e em conjunto com o Código Livre, possui a seguinte definição (segundo eles próprios):

Famelix GNU/Linux é uma disribuição criada com a finalidade de oferecer um ambiente similar ao Windows XP (”Linux com cara de XP”), de tal maneira que facilite a migração de usuários do sistema operacional proprietário a um sistema livre, e que se possa aproveitar os conhecimentos já adquiridos pelos usuários. Esta distribuição utiliza elementos presentes em outras distribuições como Debian, Knoppix e Kurumin. Suas principais características são:

– Montagem automática de disquetes, CD-ROM’s e Pen Drives.

– Ambiente de trabalho semelhante ao Windows XP ou 98.

– Reconhecimento automático de impressoras (locais ou remotas).

– Reconhecimento automático de Grupos de Trabalho e Domínios Windows.

– Utilização de Fontes comuns ao Windows XP (Arial, Times New Roman, etc).

– Suporte de jogos para Windows com Wine.

– Utilização do sistema a partir do CD(Live CD) ou por meio de instalação no HD.

– Suporte dinâmico de câmeras digitais com conexão USB.

– Suporte para WebCam’s inclusive via porta paralela.

– Suporte Suíte MsOffice 2003 através da Suíte BrOffice.org 2.

– Suporte para o idioma Português (FAMEG) e Espanhol (UACh).

Mais detalhes sobre o projeto em si podem ser encontrados no próprio site da universidade, bem aqui.

Fiz a instalação em ambos os computadores. Fácil, prática e descomplicada. Confesso que mais simples ainda que aquela do Ubuntu, que fiz anteriormente. As configurações das máquinas nas redes (Intranet e Internet) também não demandaram nenhum esforço adicional. Uma vez que os computadores começaram a “conversar” novamente pela rede, foi fácil resgatar os arquivos dos computadores antigos – os quais tinham sido transferidos para minha máquina. Arquivos estes que aparentam ter plena compatibilidade com os programas que já vieram com essa distribuição – no caso, o Open Office.

No decorrer da semana ainda falta configurar o comunicador interno (jabber), o acesso à impressora (via rede) e as contas de e-mail das meninas (Thunderbird).

Aliás, as meninas aparentaram ter encarado essa mudança numa boa – até porque, de fato, os programas têm o mesmo jeitão de um Windows XP.

Ou isso, ou elas estão me enganando direitinho…

Conectando… foi!

Essa eu tomei conhecimento através do Link, um suplemento de informática do jornal Estadão, gentilmente cedido semanalmente pelo amigo (e chefe) Nelson – o Nelsinho. A manchete já diz tudo: “São Sebastião ganha praia conectada”.

Para quem não sabe, São Sebastião é uma das cidades que integram o litoral norte de São Paulo, possui muita mata nativa, praias lindas, um conjunto histórico-arquitetônico bem preservado e por aí vai. Tenho um grande carinho por essa cidade, pois foi o local de nossa primeira morada, tendo abrigado eu e a Dona Patroa quando dos primeiros meses de nosso casamento.

Aliás, acabo de me lembrar, a conexão na época – coisa de uns nove anos atrás – somente se dava por linha discada, sendo que o iG era a única opção existente…

Mas a questão é outra. Em apertada síntese, a notícia simplesmente informa que desde o início de setembro a prefeitura local passou a oferecer, de graça, acesso sem fio à Internet (Wi-Fi), havendo antenas espalhadas pelos 800 metros da avenida principal da cidade, bem como placas fixadas nos jardins com a informação “Wi-Fi Zone” nos locais onde há melhor qualidade de sinal – a qual, parece, ainda tem oscilado bastante.

O que me chamou a atenção foi o fato de haver a disponibilização gratuita dessa facilidade (conforme diz a notícia). Tá certo que é uma solução – em tese – reservada para poucas cidades, até porque o município de São Sebastião recebe nababescos repasses, não só pela sua característica portuária, mas também em função de abrigar boa parte dos tanques da Petrobrás. Isso sem falar de que é a ponta de acesso à Ilhabela, paraíso dos turistas endinheirados do país (particularmente não acho a ilha tão bela assim – prefiro seu lado oposto, ainda um tanto quanto selvagem, de frente para o alto mar, e bem longe de toda a “estrutura turística” criada para atender seus visitantes).

Mas a iniciativa é louvável, ainda que – estou certo disso – tenha sido criada para atendimento de uma demanda não de sua população fixa, mas de sim de sua população flutuante. De todo jeito, o sinal está lá, no ar, podendo ser utilizado por quem quer que queira. O preço dos produtos de informática têm caído vertiginosamente, de modo que, em tese, ficaria fácil ao cidadão comum montar seu aparelhinho e usufruir dessa facilidade disponibilizada pelo Poder Público local.

Que sirva de exemplo para diversos outros municípios, pois o custo final não parece ter ficado lá muito caro (se comparado a inúmeros outros gastos que costumam existir por aí), e permitiriam à população uma verdadeira integração digital.

Ainda SL

O interessante – ou divertido – nesses seminários é, principalmente, a troca de experiências que ocorre entre os participantes, eis que oriundos das mais diversas profissões e funções nos mais variados pontos do território nacional.

Num desses bate-papos conheci um distinto senhor que trabalha na área de licitações da Receita Federal. Cheguei à conclusão que as mudanças pretendidas com relação ao Software Livre, como contei outro dia, serão mais espinhosas do que eu esperava.

O discurso do distinto beirou quase que uma “teoria da conspiração”, pois, segundo sua opinião, o Linux, por ser um sistema aberto, “mas aberto mesmo”, significaria um risco muito grande para se trabalhar com os dados da população.

“O problema”, segundo ele, “é que pegam um cara da técnica, que pode até ser muito bom, um expert mesmo, mas que não entende absolutamente nada de gerência”.

Realmente. Se essa opinião refletir a dos demais funcionários da Receita, significa que o caminho será árduo (mas não impossível) até a eventual implantação do Software Livre.

E também significa que esse povo “gerencial” não entende nada, “mas nada mesmo”. Nem de Linux, nem de segurança de sistemas…

SL resiste – e avança!

Há mais de um ano eu já havia dado uma passada d’olhos sobre o assunto (o artigo está em algum lugar aqui no blog…), mas agora o enfoque é outro. A notícia com detalhes pode ser encontrada na última edição da Carta Capital, mas basicamente diz que “a Receita Federal suspendeu um leilão para a compra de 40,8 milhões de reais em licenças para programas de computador”. Bem, quero crer que por “leilão” deva ser entendido “licitação”, que é como os órgãos públicos usualmente adquirem bens e serviços.

Esses 40,8 milhões (sim, TUDO ISSO mesmo) seriam utilizados para adquirir licenças para o uso de programas do pacote Office, da Microsoft – que está presente em 99,9% dos microcomputadores espalhados por aí. E provavelmente 99,9% desses 99,9% sejam piratas. Não importa se dentro de casa, em empresas particulares ou mesmo órgãos públicos. A maioria foi instalada sem a “aquisição” da licença. O SEU próprio sistema, caro leitor, também deve estar sem licença…

E o que isso significaria? Ultrajante usurpação dos direitos da Microsoft? O escambau! Se eles realmente quisessem, praticamente ninguém conseguiria copiar ou destravar um software – qualquer que seja. Mas é muito mais cômodo oficialmente fazer cara de mau, enquanto que, em off, permite-se copiar descaradamente seu próprio programa. Se assim não o fosse, jamais teria se tornado o padrão no mercado. A mesma regra vale para o sistema operacional em si, o próprio Windows.

Pois bem. Voltando ao tema, parece que essa nova postura da Receita Federal seria influência do novo Presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO), o sr. Marcos Vinícius Mazoni. Ainda que saiba que a transição será difícil, tudo indica que continuará nessa linha.

Repito algo que já disse antes, se não aqui, com certeza nas mesas de botecos da vida. O Software Livre (que apesar de ser free, não necessariamente significa que seja gratuito) não vai resolver todos os problemas das pessoas. Em alguns casos, somente o software proprietário é que (ainda) teria as soluções para o dia-a-dia dos usuários. Mas essa diferença vem diminuindo radicalmente. Entretanto há que se ter um pouco de boa vontade, também. Não digo que se deva fazer vista grossa ao que não funciona ou ao que é ruim – pois nesses casos há que se criticar, mesmo. Mas simplesmente baixar a guarda e trabalhar focando mais em seu produto final e não no meio pelo qual vai se chegar a ele. É como dirigir. Ainda que você já tenha dirigido a vida inteira, mas repentinamente se vê obrigado a dirigir lá pelas bandas da Inglaterra (mão invertida), isso não significa que você nunca mais conseguirá dirigir. Pode até dar umas rateadas no início, mas – com certeza – não vai demorar a dirigir normalmente. E até com gosto! Software Livre também é assim, gente…

De minha parte, ainda que o sistema operacional lá do trabalho seja o Window$ (até porque veio pré-instalado na máquina), mesmo assim só tenho usado complementarmente SL – em especial o Firefox como navegador de Internet e o OpenOffice como editor de textos, planilhas, apresentações, etc. E, diga-se de passagem, sem nenhum problema de conflitos…

RSS é tudo de bom…

Dando continuidade à “novela” de meu computador caseiro (para aqueles que perderam a sequência, no último capítulo nosso herói instalou com sucesso o Linux – distro Ubuntu – em seu computador), seguindo uma dica do Bica (sempre ele) resolvi instalar um agregador de RSS.

O que é isso? Fácil. Primeiramente, vejamos o que é RSS. Significa, hoje, Really Simple Syndication. Digo “hoje” porque essa sigla já teve outros sinificados, de acordo como atual estado da técnica. O link ali do parágrafo anterior conta com detalhes essa história. Mas basta saber que RSS trata-se de um arquivo num formato padronizado mundialmente e que tem por finalidade a inclusão de informações relativas do site ao qual ele estiver agregado, tais como título, página, descrição da alteração, data, autor, etc. Esse arquivo usualmente é atualizado de poucos em poucos minutos, sendo muito utilizado para compartilhar conteúdo de sites dinâmicos, que tem alterações frequentes, como sites de notícias ou blogs (êba!).

Já um agregador de RSS nada mais é que um programa que, conforme seja determinado pelo usuário, busca essas fontes RSS (feeds) nos sites indicados, apresentando suas atualizações numa única janela, funcionando mais ou menos como um programa leitor de e-mail.

Ou seja, em vez de navegar blog por blog, site por site atrás das atualizações e notícias, são elas que vêm até você por intermédio desse programa agregador, facilitando sua leitura e otimizando seu tempo. É mais ou menos como quando, alguns anos atrás, “inventaram” a tecnologia push, que mandava (empurrava) notícias para os inscritos. A diferença, nesse caso, é que você é quem escolhe o que quer ler, podendo ignorar solenemente o restante.

Pois bem, fuçando no Ubuntu, bastou acessar a sequência “Aplicações” e “Adicionar/Remover”, o que abriu uma janela mostrando do lado esquerdo as categorias, do lado superior direito as aplicações disponíveis e do lado inferior direito uma descrição do que a aplicação selecionada faria. Escolhi a categoria Internet e logo o primeiro aplicativo da lista já era o que eu queria: um programa chamado Akregator (o “K” seria de KDE, uma das interfaces gráficas do Linux).

Selecionei, mandei instalar, conectou, baixou, instalou, funcionou. Simples assim.

Não, nada de “Você precisa reiniciar seu computador para que as alterações tenham efeito”. Estamos falando do Linux, lembram-se?

Já aproveitei e informei ao programa todas as páginas que usualmente acesso e ficou tudo MUITO bom! Mas não se preocupem, pois quando acabar de “arrumar” o jeitão aqui do site eu colocarei novamente aqui do lado aquela listagem com todos esses excelentes blogs…

Fênix

Bem, vocês já devem ter lido aqui o que aconteceu com relação ao Windows e sobre minha decisão de instalar o Linux, certo?

Então.

Só pra entrar na conversa, convém esclarecer que o Linux não é nenhum desconhecido absoluto pra mim. Já lá nos idos de 97 eu comecei a fuçar nesse sistema operacional. Primeiro com uma distribuição do Slackware, penosamente baixada via BBS através de uma velha placa de fax-modem Zoltrix de 28.8 kbps. Mais tarde através da primeira distribuição brasileira “oficial”, feita pela Conectiva: Marumbi.

Não se preocupem: de quando em quando ainda introduzirei por aqui alguns conceitos básicos sobre o Linux para que não fiquemos no mais puro (e, às vezes, ilegível) informatiquês…

“Distribuição”, por exemplo, pode ser definido como um dos “sabores” do Linux. Sim, existe uma explicação melhor, mas isso aqui não é uma sala de aula, certo? Basta saber que o sistema operacional Linux é um sistema Livre (não confundir com gratuito – apesar de, na maioria das vezes, sê-lo) e existem diversas pessoas e empresas ao redor do mundo que desenvolvem facilidades para esse sistema. Cada uma dessas versões personalizadas pode ser chamada de distribuição – ou “distro” – existindo tantas, mas tantas, que fica até difícil de escolher.

Bem, de volta ao fio da meada, de 97 pra cá tenho testado diversas distribuições. Umas boa, outras nem tanto, outras horríveis. Minha birra com essas distribuições sempre foi pelo fato de que um sistema criado para ser livre acabou se tornando por demais dependente da tecnologia. Explico. A Micro$oft sempre primou por lançar novas versões de seus sistemas, as quais exigiam computadores mais potentes, que por sua vez davam origem a novas versões, que novamente precisavam de computadores ainda mais potentes, e assim por diante.

Ora, e o que fazer com todas aquelas máquinas que, do dia pra noite, acabaram se tornando obsoletas pelo simples fato de não “aguentar” rodar uma nova versão do sistema? Lixo? Isso vai contra os ideais de metareciclagem que aprendi com o mestre Obi-Wan-Bicarato-San

Enfim, tendo se tornado tão dependente da tecnologia quanto os sistemas proprietários, o Linux acabou ficando também limitado ao atual estado da técnica. Ainda bem que meu computador de casa é “parrudo” o suficiente para suportar o sistema. Mesmo assim, não abro mão dos velhinhos. Um antigo computador do escritório (Pentium 133-MMX) ainda está na ativa aqui em casa, rodando sistemas antigos, mas plenamente funcional. Hoje ele pertence ao meu filho mais velho.

Escolhi uma distribuição chamada Ubuntu, que já havia testado recentemente e que me surpreendeu pela facilidade com que reconheceu e ativou todo meu hardware instalado.

Eu já havia baixado e gravado em CD a imagem da versão 7.04 (atual), bastando apenas providenciar a instalação – que durou cerca de 20 minutos, já contada a formatação completa do disco rígido.

Confesso que fiquei apenas preocupado com a questão do acesso à Internet, que, em casa, se dá através do Speedy. Já me imaginei horas a fio com algum atendente da Telefônica, após ter passado pelo labirinto quase intransponível de menus (“para isso, disque isso, para aquilo, disque aquilo”…).

Ledo engano.

Bastou digitar no Help do sistema recém-instalado a palavra “ADSL” (Asymetric Digital Subscriber Line), que é a tecnologia utilizada para a conexão através do Speedy, e apenas com mais dois cliques aprendi a configurar o programa pppoeconf através do Terminal (uma espécie de “prompt” do Linux). O tutorial é bem didático, no estilo passo-a-passo mesmo, não deixando dúvida nenhuma para trás.

Aliás, me surpreendeu a rapidez da conexão. Tanto para conectar quanto para navegar. Deixou o programinha de conexão do Speedy no chinelo. Ponto pro Linux.

Ainda falta bastante coisa para fazer, programas a instalar, outros hardwares específicos para configurar. Meu velho scanner TCE S430, por exemplo, nunca funcionou no XP e duvido que o consiga no Linux, mas não custa tentar.

Mas, conforme se desenrole, irei contando a história por aqui.

Aliás, só pra que saibam: este post já foi totalmente escrito “via Linux”, através da distribuição Ubuntu, conectando-me à Internet por ADSL, e utilizando o navegador Firefox…

😀

É de pequenino que…

“…se torce o pepino”. Certo? Sei não. Talvez seja melhor mudar um pouco. Atualizar. Talvez algo como: “…se lava o cerebrozinho”…

Vi primeiro lá no Remixtures e depois ainda conferi lá no site do Sérgio Amadeu (quem se lembra dele?).

Mas vamos aos fatos. Os dirigentes da AMCHAM – Câmara Americana de Comércio – desenvolveram em conjunto com a ABES – Associação Brasileira das Empresas de Softwares (sempre ela!) e a BSA – Business Software Alliance uma iniciativa que pretende “alertar os educadores a respeito dos problemas da pirataria, além de desenvolver um planejamento de atividades de conscientização para pais e alunos”.

Na prática? Significa a criação de um comitê estadual para doutrinar as crianças nas escolas estaduais paulistas a favor da “visão hollywodiana” de propriedade intelectual. E o pior: a Secretaria Estadual de Educação acabou aceitando.

Acompanhem (direto do “Jornal de Debates“):

…a AMCHAM – Câmera Americana de Comércio lançou no último dia 30 de janeiro o Projeto-Escola para combater a pirataria.

Basicamente, dito projeto tem a missão de transmitir conceitos básicos de Propriedade Intelectual às crianças entre 7 e 11 anos, valendo-se dos professores como mensageiros. Os conhecimentos obtidos pelas crianças deverão ser ‘devolvidos’ por meio de redações, peças de teatro, histórias em quadrinho e etc.

Acreditamos que contaremos com o apoio dos professores, até porque estes profissionais sempre combateram a ‘cola’, e, certamente, não ficarão inertes a outros tipos de cópias.

O notável objetivo deste projeto é construir, desde já, o conceito de propriedade intelectual na consciência das crianças, e que, sobretudo, trata-se de uma propriedade, e como qualquer outra tal como uma bicicleta, uma boneca ou uma bola, prescinde de autorização do seu dono antes de ser utilizada.

Finalmente, este projeto obterá sucesso, se conseguir demonstrar às crianças que o peso de ouro da Propriedade Intelectual pode fazer o Brasil reluzir para o desenvolvimento.

Ora, isso vai contra o movimento natural pelo qual tem se lançado as novas gerações. O caminho – cada vez mais – diz respeito ao compartilhamento da informação, quer seja na forma de textos, músicas, filmes, softwares, etc. Mas os interesses ($$$) da indústria sempre vão contra esse fluxo natural. É como a história recente já nos mostrou, pois tal qual a IBM não compreendeu aquela política de software de uma empresinha chamada Microsoft (e deu no que deu), a atual indústria cultural e de software não consegue compreender essa nova mudança de atitudes e mentalidades. Assumem a postura de “vítimas” e que sofrem “prejuízos” em função dos piratas. Já em 2001 falei sobre isso no Ctrl-C, quando tratei da suposta ilegalidade do MP3. Para quem quiser, o artigo está aqui.

Mas, voltemos a algumas das palavras do Sérgio Amadeu:

A Secretaria Estadual abrirá as escolas paulistas para que seja passado uma visão extremista sobre a propriedade intelectual. Tal como nas propagandas da MPAA e da RIAA, a cópia de arquivos serão intencionalmente confundidas com roubo de bens materiais. Além de deseducar, os doutrinadores de Hollywood omitirão das crianças a existência de uma gigantesca mobilização pela flexibilização da propriedade intelectual, contra os absurdos da proteção de uma obra por 95 anos após a morte do autor e, certamente, não tocarão na existência de movimentos como o creative commons.

(…)

De qualquer forma, quero lembrar aqui o alerta dado pelo jurista Lawrence Lessig. Ele lembrou-nos que se a visão da indústria farmacêutica, da MPAA, das gravadoras prevalecer estaremos substituindo a cultura da liberdade pela cultura da permissão. É um novo totalitarismo que querem impor para manter os fluxos de riqueza que estas indústrias construiram na época industrial. Grave. Criação exige liberdade. A inventividade depende de uma ampla base de cultura comum. O que os paladinos do exagero querem é destruir a idéia de domínio público e compartilhamento.

Percebo que falta a todos um quê de bom senso. De tentar a quase impossível arte de trilhar o caminho do meio. Ações radicais levam a reações radicais, desequilibrando a balança para um lado e para outro, sem efetivamente resolver nada…