Quincas Berro D’Água

Boa dica da amiga e copoanheira eventual Margarida Negra (digna, inclusive, lá do Copoanheiros). Trata-se de filme baseado na obra “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”, de Jorge Amado. Tentei porque tentei localizar nos Youtubes da vida o trechinho de um antigo especial da Globo – uma adaptação do original na qual Paulo Gracindo interpreta de forma fantasticamente impagável o personagem Quincas. Com todo respeito ao filme atual, não sei se conseguirão estar à altura desse monumento da dramaturgia (não acredito que escrevi isso!).

Mas tudo bem.

Independentemente do sucesso ou não do filme, por si só já possui uma peça fundamental para cair no agrado do público. Pelo menos DESTE público que vos tecla.

Tem a Mariana Ximenes!

(Ah… A Mariana…)

Segue o trailer para vosso deleite!

Tautologia aplicada

Boa dica que recebi do amigo Cláudio – atual cidadão Pelotense…

Você sabe o que é tautologia?

É o termo usado para definir um dos vícios de linguagem. Consiste na repetição de uma idéia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido. O exemplo clássico é o famoso “subir para cima” ou o “descer para baixo”. Mas há outros, como você pode ver na lista a seguir:

– elo de ligação
– acabamento final
– certeza absoluta
– quantia exata
– nos dias 8, 9 e 10, inclusive
– juntamente com
expressamente proibido
– em duas metades iguais
– sintomas indicativos
– há anos atrás
– vereador da cidade
outra alternativa
– detalhes minuciosos
– a razão é porque
– anexo junto à carta
– de sua livre escolha
– superávit positivo
todos foram unânimes
– conviver junto
– fato real
– encarar de frente
– multidão de pessoas
– amanhecer o dia
– criação nova
– retornar de novo
– empréstimo temporário
– surpresa inesperada
– escolha opcional
– planejar antecipadamente
– abertura inaugural
continua a permanecer
– a última versão definitiva
possivelmente poderá ocorrer
– comparecer em pessoa
– gritar bem alto
– propriedade característica
demasiadamente excessivo
– a seu critério pessoal
– exceder em muito

Note que todas essas repetições são dispensáveis.

ENTRETANTO sempre deverá ser avaliada a frase como um todo. É lógico que, dependendo da construção da idéia, a formulação pode – e até deve – passar pela utilização de alguma das expressões acima. O exemplo clássico é a questão do “gerundismo”. Por causa de alguns excessos (alguns?) acabou se convencionando que QUALQUER gerúndio seria um erro. E isso, por si só, já é um erro.

Martha Medeiros

Recebi quase o mesmo poema por e-mail, atribuído a Neruda. Mas depois que, recentemente,  também havia recebido um texto sobre a queda das Torres Gêmeas atribuído ao Drummond (!), nesse sentido passei a desconfiar de tudo e de todos.  Com razão. Segue a crônica/poema e, abaixo, o esclarecimento – e, no caso, puxei o original daqui.

“A MORTE DEVAGAR

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois, quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

Houve uma confusão no mundo político italiano. Um senador usou um texto da Martha Medeiros em seu discurso para derrubar o primeiro-ministro Romano Prodi.

O texto, que costuma ser creditado ao Pablo Neruda como “Morre Lentamente”, na verdade chama-se “A Morte Devagar”.

A nossa poeta virou notícia na mídia européia!!!

A imprensa já descobriu que o senador se enganou ao creditar a autoria do texto a Neruda e está reconhecendo que é de uma autora brasileira…

O fato aconteceu em 24/01/08. Clemente Mastella, líder da Udeur, leu a crônica na tribuna do Senado, emocionado, como se fosse do Pablo Neruda. Dono de poucos mas decisivos votos, Mastella ilustrou sua decisão de trair o governo com o bonito texto.

Relembro a bela crônica da nossa poderosa gaúcha , publicada em 2001 , no Zero Hora. Foi escrita na véspera do dia de Finados.

Jacareí em Copenhagen

E eis que as jornalistas Cristiane Prizibisczki*, de Jacareí, SP, e Andréa Fanzeres, do Mato Grosso, foram as grandes vencedoras do prêmio Earth Journalism Awards, entregue ontem em Copenhagen, com a série de reportagens A trajetória da fumaça (ou, melhor dizendo, The route of smoke).

Dos 15 finalistas selecionados em 10 países, coube à jacareiense e sua colega a honra de conquistarem esse prêmio.

E além do cumprimento virtual às meninas, que fique também registrado os parabéns à sua orgulhosa tia jacareiense – esse negócio de jornalismo deve estar no sangue…

* Não tentem pronunciar esse sobrenome sem o acompanhamento de uma fonoaudióloga!

Oração do Matuto

Ói Deus,
Nóis tá sempre pedindo as coisas pro Sinhô.
Nóis pede dinhero,
Nóis pede trabaio
Nóis pede pra chovê
E se chove demais
Nóis pede pra pará
Mode a coiêta num afetá.

Nóis pede amô,
Nóis pede pra casá
Pede casa pra morá
Nóis pede saúde
Nóis pede proteção
Nóis pede paiz,
Nóis pede pra dislindá os nó
Quando as coisa cumprica
Mode a vida corrê mió.

Quano a coisa aperta nóis reza
Pedindo tudo que farta
É uma pedição sem fim
E quano as coisa dá certo,
Nóis vai na igreja mais perto
E no pé de argum santo
Que seja de devoção
Nóis deixa sempre uns merréis
E lá no cofre da frente
Nóis coloca mais uns tostão.

Mais hoje Meu Sinhô
Bateu uma coisa isquisita
E eu me puis a matutá
Nóis pede, pede e pede
Mais nóis nunca pregunta
Comé que o Sinhô tá
Se tá triste ou tá contente
Se percisa darguma coisa
Que a gente possa ajudá
E por esse esquecimento
O sinhô tem que nos adiscurpá.

Ói Deus, nóis sempre pensa
Que o Sinhô num percisa de nada
Mas tarvez num seja assim
Tarvez o Sinhô percise de mim
Sim, o Sinhô percisa, sim
Percisa da minha bondade
Percisa da minha alegria
Percisa da minha caridade
No trato c’os meus irmão.

Nóis semo seu espêio
Nóis semo a Sua Criação
Nóis num pode fazê feio
Nem ficá fazendo rodeio
Nem desapontá o Sinhô
Nem amargá o seu sonho
Que foi um sonho de amô
Quando essa terra todinha criô.

Ói Deus, eu prometo
Vô rezá de ôtro jeito
Vô pará com a pedição
E trocá milagre por tostão
Tarvez eu inté peça uma graça
Mas antes vô vê direitinho
O que é que andei fazendo de bão.
E se nada de bão eu encontrá
Muito vô me envergonhá
E ainda vô pedi perdão.

A Cabana

Um bom livro esse: A Cabana.

De autoria de William P. Young, por ora basta dizer que tem uma resenha da obra perdida aqui e que agradeço profundamente à minha amada, idolatrada, salve, salve, Dona Patroa por ter compartilhado esse livro comigo.

Infelizmente não é meu e não faz parte de minha modesta biblioteca, de modo que não posso sublinhar partes do texto nem tampouco escrevinhar minhas costumeiras anotações em suas bordas. Assim, só me resta transcrever alguns trechos pinçados da estória e que achei bastante interessantes:

O ser sempre transcende a aparência. Assim que você começa a descobrir o ser que há por trás de um rosto muito bonito ou muito feio, de acordo com seus conceitos e preconceitos, as aparências superficiais somem até simplesmente não importarem mais.

Esse é um dos motivos pelos quais é tão difícil para vocês experimentar o verdadeiro relacionamento. (…) Assim que montam uma hierarquia, vocês precisam de regras para protegê-la e administrá-la, e então precisam de leis e da aplicação das leis, e acabam criando algum tipo de cadeia de comando que destrói o relacionamento em vez de promovê-lo. Raramente vocês vivem o relacionamento fora do poder. A hierarquia impõe leis e regras e vocês acabam perdendo a maravilha do relacionamento que nós pretendemos para vocês.

Muitos acreditam que é o amor que cresce, mas é o conhecimento que cresce, e o amor simplesmente se expande para contê-lo. O amor é simplesmente a pele do conhecimento. Mackenzie, você ama seus filhos que conhece tão bem com um amor maravilhoso e verdadeiro.

Mackenzie, a religião tem a ver com respostas certas e algumas dessas respostas são de fato certas. Mas eu tenho a ver com o processo que leva você à resposta viva, e só ele é capaz de mudá-lo por dentro. Há muitas pessoas inteligentes que dizem um monte de coisas certas a partir do cérebro porque aprenderam com alguém quais são as respostas certas. Mas essas pessoas não me conhecem. Assim, na verdade, como as respostas delas podem ser certas, mesmos que estejam certas? – Ela sorriu. – Ficou confuso? Mas pode ter certeza: mesmo que possam estar certas, elas estão erradas.

Cada relacionamento entre duas pessoas é absolutamente único. Por isso você não pode amar duas pessoas da mesma maneira. Simplesmente não é possível. Você ama cada pessoa de modo diferente por ela ser quem ela é e pela especificidade do que ela recebe de você. E quanto mais vocês se conhecem, mais ricas são as cores desse relacionamento.