Pequenas surpresas

“A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória.”

Esse é um “ditado” que sempre ouvi por aí – e do qual também sempre gostei. É a materialização, duma forma mais poética, de outro: “aqui a gente planta, aqui a gente colhe”. Uma bela filosofia. É, na minha opinião, uma espécie de lei universal. Faça o bem, colha o bem. Faça o mal, colha o mal. Simples assim.

Mas o que eu não sabia – e que sinceramente me surpreendeu – é que a provável fonte de tais palavras seria um tantinho quanto mais antiga…

Basta uma pequena consulta àquele livro que provavelmente todos têm, mas que certamente pouquíssimos leram. Não, não. Esqueçam o missal. Estou falando de LER mesmo, como leriam um romance, uma aventura, ou, até mesmo, um livro de poesias. É fato que raros são aqueles que realmente o fazem – ou fizeram…

Hm? Qual livro? A Bíblia, é lógico!

E o trecho ao qual me refiro está lá em Galátas, capítulo VI, versículo 7:

“Tudo o que o homem semear, ele há de ceifar.”

Bonito, não é mesmo?

Aliás, só pra contextualizar: Paulo, em suas pregações, enviou epístolas (cartas) a uma boa parte do mundo antigo – que se encontram reproduzidads na forma de diversos dos livros do Novo Testamento. No caso da Galácia, esta era uma província romana da Ásia Menor e as epístolas às igrejas de lá foram escritas provavelmente entre os anos de 55 e 57 – quanto Paulo encontrava-se em Corinto.

O curioso é que naqueles primórdios nem sempre havia uma distinção clara entre judaísmo e cristianismo. Ou seja, entre os costumes daqueles voltados às tradições do Velho Testamento e daqueles que abraçavam os ensinamentos que viriam a constituir o Novo Testamento. No caso dos Gálatas, tratavam-se de judeus convertidos, que continuavam a observar a Lei Antiga e, por isso mesmo, encontravam-se numa espécie de “crise de identidade cristã”. Paulo lhes escreveu num momento em que o cristianismo corria o risco de perder a força e tornar-se meramente uma seita judaica…

Questão de equilíbrio

– Querida!

– Querida!

– Há quanto tempo! Como você está?

– Ah, sei lá… Estou bem, sabe? Numa correria danada, mas faz parte, né?

– É, eu sei. A gente só acaba encontrando quem a gente gosta assim, meio de sopetão!

– E não é que é? E você, menina? Também continua na correria, sempre cuidando dos outros, né? Falando nisso, e aquele seu tio que eu gosto tanto? Como ele está?

– Ah, daquele mesmo jeitinho. Um pé na cova e o outro na casca de banana!

– ?

– Mas agora preciso ir, já me chamaram para a próxima audiência! Um beijo!

– Beijo! Tchau!

E fiquei eu lá, cuidando das minhas coisas, da minha papelada, das minhas audiências. Mas aquela frase ficou na minha cabeça! Como assim “um pé na cova e outro na casa de banana”? O complicado de frases como essa é que a gente fica imaginando a situação… E na minha mente o pobre tio de minha amiga, meio que moribundo, meio que melhorando, bailava sobre sua própria cova, ora indo para um lado, ora indo para outro…

Mas a vida não nos dá tempo para devaneios! E a correria do dia a dia se sobrepõe a tudo! Dali para as compras, das compras pra casa, e em casa os gêmeos que me dão tanta felicidade quanto trabalho… Não tanto trabalho quanto o maridão, mas essa é uma outra história! Mas, pouco antes de dormir, mais uma vez lembrei-me de minha amiga, seu tio e a inusitada frase que usou para descrever a situação…

E naquela noite sonhei com ele, com covas, com paisagens deslumbrantes que conheço e jamais vi, e – lógico – com cascas de banana!

Dia novo, vida nova, afazeres de sempre, audiências de sempre.

Entretanto, mais certo que em eventos sociais, é no balcão do fórum que a gente sempre se encontra. E dali a duas semanas lá estávamos nós, novamente.

– Querida!

– Querida!

– Vai consultar algum processo?

– Não, não! Já fiz carga. Inclusive já estou até indo!

– Então tá bom. Mas, escuta: e seu tio? Como está?

– Ah, daquele mesmo jeitinho, né? Um pé na cova e o outro na casca de banana!

Pronto. Lá veio ela com aquela bendita frase de novo! Levei dias para esquecê-la e agora eis que ela volta pra me assombrar…

E não demorou muito, eu, já no mercado, durante as compras semanais de sempre – que talvez seja um dos únicos lugares fora o salão de beleza em que conseguimos pensar com calma – voltei a pensar naquela frase. E só pude concluir que normalmente ficamos tão absortas na correria que deixamos a vida passar. Deixamos de viver, de passear, de nos divertir, de conhecer gente nova, lugares novos, até mesmo de simplesmente comer todos os chocolates que pudermos, só para tentar dar conta desse carceireiro chamado tempo que teima em nos roubar o que de mais precioso temos. E quando menos esperamos podemos ficar numa situação como a desse tio de minha amiga. Nem bem, nem mal, mais pra lá que pra cá. E esse tempo que nos foi levado? Pra onde foi? Como pegá-lo de volta?

Semanas se passaram até que a vi de novo. Lógico, nos corredores do fórum. Lá vinha ela com aquele seu tradicional passinho lépido e já antevi o nosso usual encontro de segundos. E de antemão aquela frase também já me veio à cabeça: “um pé na cova e outro na casa de banana”

– Querida!

– Querida!

– E seu tio, como está?

– Então, menina. Escorregou!

Fabricando tijolos – orgânicos!

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Roubartilhado lá da Revista Galileu:

Dupla cria composto para usar resíduos orgânicos como matéria-prima de tijolos

Imagine viver em um lar feito de lixo. Pode parecer estranho, mas uma técnica desenvolvida em Araraquara, interior de São Paulo, permite fabricar tijolos com resíduos orgânicos — sem cheiro ruim. Com o ingrediente inusitado e um composto químico misterioso, é possível usar menos areia e concreto do que o normal e baratear a produção do tijolo.

A ideia surgiu há dois anos, da cabeça do metalúrgico e sociólogo José Antônio Masoti, preocupado com o meio ambiente e o destino do lixo. “Todo mundo fala sobre a produção de adubo com resíduo orgânico. Pensei em usá-lo para algo mais útil.” A solução que encontrou, com o apoio do químico Marcelo Santos, foi misturar a lixarada com concreto. “Pode ser que mais coisas possam ser feitas a partir do pó do lixo, como asfalto, por exemplo.”

O projeto só é viável graças a um produto químico patenteado por Santos, batizado de JMX. Ele tem várias funções, como dar liga à mistura — sem isso, o “tijolo orgânico” fica quebradiço. Além disso, ela tem propriedades ecológicas, como impedir a proliferação de bactérias e tratar poluentes. “O composto permite que o metal presente no agrotóxico usado em uma folha de alface, por exemplo, seja tratado, sem deixar resquícios no tijolo”, diz o inventor.

Os tijolos estão em fase de testes e, de acordo com os inventores, os blocos aguentaram uma pressão superior à exigida pelo Inmetro no caso dos convencionais. Para o Instituto testá-los e aprovar sua comercialização, é necessário fabricar um lote de ao menos mil unidades e submeter 30 delas como amostra — até agora, eles só produzem cerca de 300 peças por “fornada”, numa usina caseira. Algumas prefeituras, no entanto, já estão de olho na invenção. As de Suzano e de Osasco, na grande São Paulo, já procuraram os inventores, interessadas na economia que a nova tecnologia pode gerar para a construção de casas populares.