Gente nova, gente velha

E eis que no findar do dia de ontem, dezesseis de janeiro do ano de dois mil e dez (por que será que essa data me traz lembranças?…), nasceu a filha de minha sobrinha.

Bem, na realidade, filha da sobrinha de minha esposa – que não deixa de também ser minha sobrinha…

Enfim, a pequenina nasceu ontem à noite, filha da Jacqueline, nossa sobrinha de apenas vinte anos.

Não, não tenho (ainda) fotos, peso, tamanho, nem detalhe nenhum. Nem mesmo o nome. Mas é só uma questão de tempo!

Definitivamente estou ficando velho.

Afinal de contas, agora já sou tio-avô!

Na terça, uma foto

Este é meu avô pelo lado materno, Bernardo Claudino Nunes (*24/03/1907 | +31/01/1979). De seu casamento com Maria Dionísia de Jesus (em 31/10/1931), teve apenas duas filhas: minha tia Dionísia Nunes, nascida em 1939 (a que está em pé a seu lado), e minha mãe, Bernardete Nunes, nascida em 1943 (a que está em seu colo). Infelizmente minha avó faleceu em 1945, com apenas 33 anos, deixando ao encargo de meu avô a criação daquelas crianças.

Com o passar do tempo acabou casando-se por mais duas vezes. Seu segundo relacionamento, com uma senhora chamada Benedita, não durou muito. Mas seu terceiro casamento, com Geny de Souza Nunes, durou até o cumprimento da promessa feita no altar, quando, então, foram separados. Desta feita teve mais nove filhos, entre 1956 e 1969 – aliás, curiosamente, por coisa de pouco mais de um mês eu sou mais velho que minha tia mais nova…

Árvore Genealógica da Família Andrade – I

Bem, até agora vínhamos fazendo uma “catança” com toda essa coleção de inventários, testamentos, batizados, etc, etc, etc.

E – convenhamos – para que isso tudo?

Ora, são todas as informações que serviram para dar subsídio à construção da árvore genealógica da família.

Ainda que haja muita coisa para ser inserida, já se tornou possível construir toda a relação de parentescos desde meu avô, Antonio de Andrade (*1909 +1970), até seu antepassado direto mais antigo (por enquanto) Antonio de Brito Peixoto (+1750) – oito gerações acima!

Para os interessados seguem os arquivos referentes ao que já foi colocado nesta página até agora, 05/12/2009 (mas saibam que ainda existem muitos outros documentos, inventários e testamentos para analisar e ajudar a completar o quadro):

andrade_01.pdf – para visualizar estas informações será necessário um programa que leia arquivos PDF;

genopro.zip – é o arquivo compactado contendo o programa (para instalação) GenoPro, o qual permitiu a construção do genograma da família no formato visto no arquivo PDF;

andrade_01.gno – é o genograma com todos os dados obtidos que permitiram a construção da árvore genealógica até o momento, o qual só é possível de abrir com a instalação do programa GenoPro;

andrade_01.txt – é um arquivo de texto contendo a relação, até o momento, das fontes de dados utilizadas para construção do genograma (todas elas disponibilizadas aqui neste site).

Por enquanto é isso. O trabalho não acabou – muito pelo contrário – mas preciso me organizar um pouco melhor com minhas anotações por aqui.

Divirtam-se!

João da Costa Guimarães

E já este, com quatro filhos, foi o segundo marido de Isabel Pedrosa.


 INVENTÁRIO de JOÃO DA COSTA GUIMARÃES

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 | Arquivado no Museu Regional de São João del Rei - Caixa 358        |
 | Transcrito por: Ângela Márcia Chaves                               |
 | Transcrito em :                                                    |
 | Solicitante   : Bartyra Sette                                      |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Inventariado  : JOÃO DA COSTA GUIMARÃES                            |
 | Inventariante : ISABEL PEDROSA                                     |
 | Local         : São João del Rei em 1811                           |
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 - FL.001 -

 Data: 10-12-1811

 Local: Fazenda denominada o Ribeirão de São João da Aplicação de Nossa
 Senhora do Porto do Rio Grande, Freguesia de Santa Ana das  Lavras  do
 Funil, Termo da Vila de São João

 - FL.001/VERSO -

 (...) e logo declarou haver falecido o  dito  seu  segundo  marido  há
 vinte e um anos pouco mais ou menos, sem testamento.

 - FL.002 E 002/VERSO -

 Herdeiros - Filhos:

 01- João da Costa, casado;

 02- Manoel da Costa, casado;

 03- Antonio da Costa, casado;

 04- D. Ana Ignacia, casada que foi com  o  Capitão  Thomas  de  Aquino
 Pereira.

 Netos, filhos da dita:

 01- D. Francisca, casada com Carlos José Álvares;

 02- Luís, solteiro, 22 anos;

 03- Lucianno,

 04- D. Clara, casada com João Roiz;

 05- José, solteiro, 18 anos

 06- Manoel, solteiro, 17 anos;

 07- D. Maria, casada com Joaquim José dos Santos;

 08- Silvério, solteiro, 16 anos.

 09- D. Ana, solteira, 15 anos

 10- D. Theresa, solteira, 11 anos;

 11- D. Rita, 9 anos;

 12- D. Felicidade, 8 anos;

 13- Francisco, 6 anos.

 - FL.005 -

 Bens

 - uma parte de terras que tem unidas nesta fazenda do Ribeirão de  São
 João e que não entrou no  primeiro  inventário  do  marido  dela  José
 Rodrigues Gularte que fica para a parte do Nascente 200$000

 - uma morada de casas cobertas de telha, com paiol coberto  da  mesma,
 com cozinha e vários ranchos e terreiro cercado com  muros  de  pedra,
 laranjal e mais pertences, nesta mesma fazenda  200$000

 - FL.006 - 

 Procuração

 Data: 11-12-1811

 Local: Fazenda denominada o Ribeirão de São João da  Aplicação  de  N.
 Sra. do Porto do Rio Grande, Freguesia das Lavras do Funil,  Terno  da
 Vila de são João.

 Que Faz: Dona Izabel Pedroza

 Procuradores: o Capitão Faustino José de Carvalho,  Capitão  Francisco
 Xavier Pereira da Silva e o Capitão Luis Antonio da Silva Rodarte.

 - FL.005/VERSO - 

 Declarou mais  ela,  viúva  inventariante,  que  deu  a  descrever  no
 Inventário de seu primeiro marido José Rodrigues Gularte  uma  fazenda
 de cultura e campos de criar denominada o Ribeirão  de  São  João  por
 pertencer ao casal do dito seu primeiro marido por serem os  bens  que
 possuía por mortes deste (...). 

José Rodrigues Goulart

Foi este o primeiro marido de Isabel Pedrosa, com quem teve cinco filhos.


 INVENTÁRIO de JOSÉ RODRIGUES GOULART

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 | Arquivado no Museu Regional de São João del Rei - Caixa 364        |
 | Transcrito por: Edriana Aparecida Nolasco                          |
 | Transcrito em :                                                    |
 | Solicitante   : Regina Junqueira                                   |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Inventariado  : JOSÉ RODRIGUES GOULART                             |
 | Inventariante : ISABEL PEDROSA                                     |
 | Local         : São João del Rei em 1811 - Data do óbito  há  mais |
 | de 50 anos                                                         |
 | Número de folhas originais: 34                                     |
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- FL.001 -

 O Inventário dos bens que ficaram por falecimento  de  Jose  Rodrigues
 Goulart de quem é viuva inventariante sua mulher Isabel Pedrosa.

 Data: 10 de Dezembro de 1811

 Local: Fazenda denominada do Ribeirão de  São  João  da  Aplicação  de
 Nossa Senhora do Porto do Rio  Grande,  Freguesia  de  Santa  Ana  das
 Lavras do Funil, Termo da Vila de São João del Rei, Minas e Comarca do
 Rio das Mortes, em casas de  morada  de  Dona  Isabel  Pedrosa,  viúva
 (...).

 - FL.001 -

 Declaração.

 (...) e logo declarou haver falecido o dito  seu  marido  há  mais  de
 cinquenta anos sem testamento (...).

 - FL.002 -

 Diz Isabel Pedrosa viúva que ficou em  primeiro  matrimonio  com  Jose
 Rodrigues Goulart que por falecimento deste não fez inventário de seus
 bens por ignorância e porque só tinha uma pequena Fazenda que pouco ou
 nada valia (...).

 FILHOS:

 01- Januária. falecida depois da morte de seu pai e por isso é sua mãe
 herdeira.

 02- Domingos Rodrigues Goulart, falecido, de quem ficaram filhos.

 03 - Ana, viúva de Francisco da Silva

 04- Maria de Nazaré, viúva de José Garcia.

 05- Isabel Rodrigues da Silva, viúva de José L. de Andrade.

 NETOS, filhos do herdeiro Domingos:

 01- Jose Rodrigues, casado

 02- Ana Hipolita casada com Jose Ferreira Martins

 03 Capitão Antonio Rodrigues Silvério, falecido, de quem ficou o filho
 abaixo:

 BISNETO: 01- Domingos, de idade de quatro anos.

 - FL.002/VERSO - 

 BENS DE RAIZ

 - uma fazenda de cultura e campos de criar situada  nesta  Paragem  do
 Ribeirão de São João que parte  com  Miguel  Lopes,  José  Pereira  de
 Carvalho, com a falecida Dona Ana Maria do Nascimento (...) a qual não
 tinha benfeitorias algumas, porque as que hoje tem foram  feitas  pelo
 seu segundo marido João da Costa Guimarães. 1:800$000

 - nesta mesma Fazenda há um pedaço que seu segundo  marido  que  houve
 por compra ao Capitão Manoel Pereira do Amaral (...).

 MONTE: 1:800$000

Isabel Pedrosa

E aqui, na sequência, seu inventário.


 INVENTÁRIO de ISABEL PEDROSA

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 | Arquivado no Museu Regional de São João del Rei - Caixa 189        |
 | Transcrito por: Edriana Aparecida Nolasco                          |
 | Transcrito em :                                                    |
 | Solicitante   : Regina Junqueira                                   |
 | Objetivo      : Dados Genealógicos                                 |
 | Inventariada  : ISABEL PEDROSA                                     |
 | Inventariante : MANOEL DA COSTA SILVA                              |
 | Inventário em São João del Rei em 1813                             |
 | Número de folhas originais: 110                                    |
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 - FL.001 -

 Inventário dos bens que ficaram por falecimento de Dona Isabel Pedrosa
 de quem é Inventariante e Testamenteiro  seu  filho  Manoel  da  Costa
 Silva.

 Data: 20-10-1813

 local: Fazenda do Ribeirão de São João, Aplicação de Nossa Senhora  do
 Porto, Freguesia de Lavras do Funil Termo da Vila de São João del Rei,
 Minas e Comarca do Rio das Mortes.

 - FL.001/VERSO -

 Declaração

 (...) logo declarou que sua mãe havia falecido aos sete dias do mês de
 Abril deste mesmo ano  de  mil  oitocentos  e  treze  com  seu  solene
 testamento (...).

 - FL.002 -

 Filhos

 01- Maria de Nazaré, viúva.

 02- Ana Rodrigues, viúva

 03- Isabel Rodrigues da Silva, vi[uva

 04- João da Costa, casado

 05- Manoel da Costa Silva, casado

 06- Antonio da Costa, casado

 07- Ana Inácia,. casada com o Capitão Thomas de Aquino, já falecida, e
 tem filhos.

 08- Domingos Rodrigues Goulart, casado, já falecido, tem filhos.

 Netos, filhos da herdeira falecida Ana Inácia:

 01- Luis, solteiro, de idade de vinte e quatro anos.

 02- Francisca, casada com Carlos José.

 03- Luciano, viúvo.

 04- José, solteiro, de idade de dezoito anos

 05- Clara, viúva

 06- Manoel, solteiro, de idade de dezesseis anos.

 07- Maria, casada com Joaquim José.

 08- Silvério, solteiro, de idade de quatorze anos.

 09- Ana, solteira, de idade de treze anos.

 10- Theresa, solteira, de doze anos.

 11- Rita, solteira de dez anos.

 12- Felicidade, de nove anos.

 13- Francisco, de idade de oito anos.

 Netos, filhos do herdeiro Domingos, já falecido:

 01- José Rodrigues, casado

 02- Antonio Rodrigues, casado e já falecido e tem filhos.

 03- Ana Hipólita, casada com José Ferreira Martins.

 Bisnetos, filhos do neto Antonio Rodrigues, falecido.

 01- Domingos, de idade de cinco anos.

 - FL.004 -

 Bens de Raiz

 - uma parte das casas de vivenda, terreiro, quintal e  mais  pertences
 100$000

 - em parte da fazenda de culturas e campos de criar e  mais  pertences
  40$000

 - um oratório com todos os seus pertences  12$000

 - FL.021 -

 Diz Manoel da Costa Silva testamenteiro e  inventariante  de  sua  mãe
 Dona Isabel Pedrosa (...) declarar no mesmo Inventário  os  dotes  que
 seu pai João da Costa Guimarães  deu  aos  filhos  de  José  Rodrigues
 Goulart, primeiro marido da mãe do Suplicante, cujos dotes são:  Maria
 de Nazaré, casada com José Garcia; Ana Rodrigues, casada com Francisco
 da Silva; Isabel Rodrigues, casada com José Lemes de Andrade (...).

 - FL.030/VERSO -

 Adição - Divida Ativa

 - Leandro Homem    80$000

 - herdeiro Capitão Thomas de Aquino  36$969

 - FL.035 -

 Adição - Bens de Raiz

 - parte do valor da fazenda de cultura cita  no  Ribeirão  de  S. João
 891$839

 Monte Mor  2:019$754

 - FL.048 -

 Diz José Rodrigues Goulart neto e herdeiro  da  falecida  Dona  Isabel 
 Pedrosa (...) se deu quinhão ao Suplicante e  a  seus  irmãos  Antonio
 Rodrigues,  já  falecido;  Ana  Hipólita,  casada  com  José  Martins;
 sucedendo ao dito Antonio Rodrigues seu filho Domingos que  terá  hoje
 nove anos de idade (...).

São Thomé das Letras – A Viagem (I)

“Caminhante: não há caminho – o caminho se faz caminhando.”
Ataualpa

I – Preparativos

Não lembro ao certo como o convite surgiu. Só tenho certeza que deve ter sido numa mesa de bar.

– E aí? Vamos pra São Tomé?

– Das Letras?

– De onde mais?

Dei uma longa tragada em meu cigarro e pensei um pouco sobre o assunto. Um feriadão se aproximando, uma oportunidade de fazer algo diferente com a criançada, levar a Dona Patroa a um lugar que ela ainda não conhecia e – por que não? – tentar resgatar um pouco de mim mesmo que parece ter ficado naquele lugar quando estive lá, já tem quase uns vinte anos.

– Legal. Só vou ver com a Dona Patroa e depois a gente se fala.

Tenho certeza absoluta que já era essa a resposta esperada pelo Evandro, autor do convite, copoanheiro eventual e parceiro em desventuras no geral. Sabem, é algo como aquele caboclo que está na mesa do bar – normalmente no mais divertido da festa -, levanta-se e diz algo como “vou até tal lugar e, qualquer coisa, eu volto”. Não adianta protestar ou argumentar. Esse não volta mais. E a resposta que eu dei soou exatamente nesse tom. E eu tinha consciência disso.

Mesmo assim, no final de semana seguinte, conversei com minha amada, idolatrada, salve, salve, Dona Patroa. E ela topou.

Na mesma hora liguei e avisei que iríamos.

E a comoção geral tomou conta da platéia naquele momento…

Os dias seguintes foram, digamos, interessantes. Um meio que preparativo – mas sem preparativos. Tá, na prática a semana se resumiu num feriado maluco – o Dia do Servidor Público – que, em alguns lugares foi adiantado para segunda-feira, em outros foi comemorado no dia mesmo, na quarta-feira, e, em ainda outros, ficou para sexta-feira. E como Murphy é um velho sacana, é lógico que eu e a Dona Patroa tivemos nossos feriados escalados para dias diferentes: ela na quarta e eu na sexta.

Mesmo assim, zuzo bem.

Ela aproveitou a quarta para fazer as compras do que fosse necessário para viagem. Ou seja, zilhares de lanchinhos, frutas, água, refri, etc. O mínimo indispensável para manter calmos os três filhotes – de cinco, sete e dez anos – pelas horas a fio que passariam dentro do carro.

Mas, e na prática, como fazer?

Bem, sendo ela funcionária pública estadual, com direito à chamada licença abonada – uma vez a cada mês, ou bimestre ou a cada seis meses, sei lá – e considerando que em mais de dez anos de serviços prestados nunca utilizou essa prerrogativa, não foi sem surpresa de sua chefe que ela pleiteou esse direito para a sexta seguinte.

E por que na sexta? Bem, como o feriado não seria geral para todos na sexta, mas sim na segunda seguinte (Finados), então seria o melhor dia de pegar a estrada para ir, com um movimento, no máximo, médio, e deixar para voltar no domingo, praticamente sem movimento, enquanto que todo o resto do mundo deixaria para voltar na segunda.

Parecia o plano perfeito.

Já na véspera, quinta-feira, ao combinar com o Evandro o caminho pelo qual iríamos, propus o circuito das águas, pois passei por aquela estrada há uns cinco anos e me pareceu confortável o suficiente para prosseguir até São Tomé. Ele iria propor a SP-50 (também conhecida como estrada para Monteiro Lobato), mas concordou comigo. Avisou que sua irmã e mãe também iriam, em carro próprio. Combinamos um ponto qualquer na Dutra para nos encontrarmos.

Masssss…

Conversando com a Dona Patroa chegamos à conclusão que o “divertido” não seria a viagem propriamente dita, mas sim o “viajar” em si. Daí que um caminho, digamos, mais bucólico, deveria ser bem mais interessante.

Falei com o Evandro novamente e recombinamos o ponto de encontro. Já aí não tive como não vislumbrar alguns acordes do Raul: “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Bons auspícios, em se tratando de São Tomé das Letras…

Como eu havia deixado a viatura para alguns ajustes mechânicos, fui gentilmente levado para o serviço pela Dona Patroa. Aliás chegaram inclusive a me perguntar se eu não iria para lá com o Opalão.

– Não. Por mais que eu queira – e eu quero – ainda não confio nele.

– Como assim?

– É que, para mim, todo carro novo que a gente pega – ainda mais sendo velho – passa por um período de adaptação. Eu tenho que pegar confiança nele. Saber que ele não vai me deixar na mão, conhecer seus macetes, manias, cacoetes e birras. Só então daria para encarar uma viagem dessas.

– É, mas isso não é só com carro velho não, carro novo também…

Enfim, ao encerrar o expediente na quinta, após um merecido choppinho com o copoanheiro Bicarato – que, infelizmente, por motivos trabalhísticos não pode se juntar à nossa caravana – a Dona Patroa foi me pegar com as crianças. Deixei a tropa em casa para acabar de arrumar as malas e parti para providências de praxe antes de qualquer viagem. Amortecedores, freios e pneus já eram novos, substituídos há cerca de três meses. Então foi questão de trocar óleo, completar água, calibrar pneus (inclusive o estepe), trocar o extintor vencido há dois anos, completar o tanque e tomar três latinhas nesse processo.

Tudo pronto.

Chegando em casa acabei de fazer também as minhas malas, separei uma muda de roupas para viagem, colocamos tudo no carro – inclusive pensando na logística de acesso aos mantimentos, remédios, blusas, etc.

Celulares carregados e baterias da câmera fotográfica completas.

Algum dinheiro em espécie disponível na carteira.

Tudo preparado.

Heh…

E pensar que, nas minhas viagens de antigamente, o máximo que eu me preocuparia seria em deixar uma graninha à parte para eventualmente pegar o busão de volta caso não conseguisse carona. De resto era carregar o mínimo de peso indispensável para não passar nenhum perrengue. Ou seja, máxima eficiência com mínimo esforço.

Com tudo encaminhado, ansiedade da criançada devidamente controlada e despertadores a postos bastava aguardar o raiar do dia 30 de outubro para a grande viagem.

Mal sabíamos o que nos aguardava.

Continua?