Operação Resgate

Não é de hoje que ando querendo “voltar a desenhar”… Mas sequer consigo arranjar tempo – ou paciência (leia-se “ânimo”) – para ao menos uma caminhada diária, que dizer então dessa tola pretensão?

Bem enquanto – frise-se “enquanto” – isso não ocorre (desenhar, não caminhar), andei resgatando alguns rabiscos que tenho guardado comigo já há muito tempo…

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Este é um dos mais antigos. Se bem me lembro era a ilustração de uma camiseta de meu irmão e que achei bem bacaninha…

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Este aqui, ainda da época do ginásio, vem a provar que desde sempre eu estava fadado a ter uma Harley!

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Quando estudava Administração de Empresas, no segundo grau, haviam algumas aulas simplesmente insuportáveis! E o que me restava era rabiscar nas folhas do meu caderno. Este desenho é fruto de um desses momentos de tédio. Existem outros, mas são impublicáveis…

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Já este daqui, baseado em uma imagem tirada de uma das revistas do Conan, remonta ao tempo em que eu estudava Desenho Técnico Mecânico, na ETEP.

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Falando em Conan, já tratamos deste desenho antes, bem aqui

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Mais alguns devaneios – já não sei mais de qual época…

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Este aqui tem uma longa história – que não cabe nestas parcas linhas. Basta, por ora, saber que foi um “estudo” pensando num “brasão de família”, baseado na figura central, que é a tatuagem que tenho.

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Eis outro desenho que também não sei dizer exatamente de que época foi, copiado de uma das tirinhas do Laerte, referente aos Piratas do Tietê.

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E pra fechar, o guru mutcholoco do Angeli, desenhado quando eu trabalhava no Valeparaibano, como Supervisor de Digitação, e tinha que ficar às vezes horas aguardando o fechamento do jornal…

Vamos ver se crio coragem para trazer algo de novo por aqui. Até mesmo pra saber se ainda resta alguma firmeza nestas trêmulas e ébrias mãos que invariavelmente vos tecla… 😉

Solidário à solidão

Em 2011 fui apresentado a um livro de Rilke – “Cartas a um jovem poeta” – que contém uma passagem bastante interessante. Antes de mais nada, para que compreendam um pouco melhor essa história, esse livro é uma coletânea da correspondência trocada no período de 1903 a 1908 entre o poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926) e um jovem chamado Franz Xaver Kappus, com dicas e conselhos do mestre ao aspirante a poeta… Isso é de uma época em que as missivas eram longas, bem escritas e levavam dias, às vezes até mesmo semanas – ou mais – para que chegassem ao seu destinatário. E o curioso é que foram publicadas somente as cartas de Rilke, mas como ele se esmerava tanto em suas respostas acaba sendo até mesmo desnecessário conhecer o conteúdo das cartas que recebeu.

A passagem à qual me refiro é de uma carta de dezembro de 1903, quando o jovem poeta provavelmente deve ter se queixado da solidão que sentia com a proximidade do Natal. Rilke, escritor experiente, lhe falou acerca de determinados momentos em que as pessoas sentem uma grande solidão, muito difícil de suportar, e que seriam até mesmo capazes de trocar essa solidão por um relacionamento qualquer, por mais banal ou indigno que fosse, somente pela aparência de uma mínima concordância com o próximo… E então desfiou:

“Mas isso não deve confundi-lo. O que é necessário é apenas o seguinte: solidão, uma grande solidão interior. Entrar em si mesmo e não encontrar ninguém durante horas, é preciso conseguir isso. Ser solitário como se era quando criança, quando os adultos passavam para lá e para cá, envolvidos com coisas que pareciam importantes e grandiosas, porque esses adultos davam a impressão de estarem tão ocupados e porque a criança não entendia nada de seus afazeres.”

Por mais de uma vez eu já disse por aqui o quanto é importante saber gostar de ficar sozinho. Mesmo em meio a uma multidão, no dia-a-dia de casa, até mesmo no trabalho. Cultivar esse tipo de solidão não quer necessariamente dizer que se está alheio ao mundo que o cerca, nem mesmo busca nenhuma conotação de tristeza, sequer significa que se é solitário! É que é bom ficar sozinho. É bom conversar com as próprias ideias. Assim como uma criança, como sabiamente ensinou Rilke. Vejam que poderosa compreensão: “ser solitário como se era quando criança”. E penso na minha infância, antes mesmo de começar a frequentar a escola – pois somente com sete anos de idade é que entrávamos direto no primeiro ano; nada de creche, infantil I, II, III, o escambau! – o meu mundo era o quintal de casa. Meus pais moravam numa avenida movimentada (aliás é onde vivem até hoje) de modo que sair para rua não era uma opção, ambos trabalhavam o dia inteirinho, meus irmãos mais velhos já eram adolescentes e não tinham tempo para um fedelho como eu, e assim o que me restava era inventar estórias, coisas e brinquedos naquele quintal gigantesco – aliás, exatamente o mesmo que, hoje, acho minúsculo…

Mas com o tempo, começando a participar do “mundo lá fora”, fui esquecendo esse prazer dessa solidão. Pois era, sim, prazerosa. Cada vez mais me envolvendo com pessoas, estudos, trabalhos, clientes, situações – e em especial tendo conhecido o quão cativante era a companhia do sexo feminino – houve um momento em que eu não mais conhecia, nem queria, ter que sentir nenhum tipo de solidão. Equivocadamente, para mim, qualquer tipo de solidão significava ser solitário. Quão ingênuo!

E então o ano de 2011 chegou, lançando minha vida numa tortuosa corredeira natural, consequência de todas as cascatas e quedas dos anos anteriores, com um correnteza alucinante e que, curiosamente, não fez com que essa mesma vida passasse mais rápido – antes o contrário, ela se tornou mais lenta e perceptível. Muito provavelmente pelo fato de ter saído totalmente da rotina e da estagnação em que me encontrava, pude apreender melhor o mundo ao meu redor. E, apesar da canoagem selvagem a que me lancei, ora raspando o fundo de meu coração em afiadas pedras de desapontamento, ora arremessando as laterais de minh’alma em sólidos barrancos de incompreensão e, às vezes, quase perdendo totalmente o controle da canoa de minha vida em redemoinhos de confusão sentimental, ainda assim encontrei meu caminho, meu fluxo, minha estabilidade. E isso somente foi possível graças aos bolsões de solidão que esse rio chamado tempo me proporcionou, entre um apuro e outro.

Foram nessas águas mais lentas, longe da imperiosa necessidade de me envolver em coisas que pareciam importantes e grandiosas (ao menos para minha própria existência), sem precisar me preocupar ou sequer entender desses afazeres, é que pude realmente voltar meu olhar para mim mesmo, para aquela danificada canoa de minha vida, e que pude perceber o quão caótico é o fluxo das águas do tempo, finalmente compreendendo que esse era o segredo: não há que se combater o caos, há que se deixar levar! Todos os desafios lançados por aquela absurda correnteza somente me magoavam porque eram resistidos, porque eram combatidos. Apenas lá, nos bolsões da solidão, tal qual criança voltada a si mesma, é que pude me reencontrar e consequentemente encontrar o caminho para águas mais mansas de viver.

Com sequelas, é óbvio. Não se passa por tudo isso sem se transformar. Aquele eu que já fui um dia deu lugar a um outro eu que sou agora. E nessa canoa de minha vida materializou-se um baú para trancafiar tudo aquilo que nubla a percepção. Somente assim o horizonte se tornou mais claro. O que não implica necessariamente em dizer que eu tenha me tornado uma pessoa melhor ou pior. Talvez, no mínimo, mais intrigante…

Enfim, toda essa metáfora foi para deixar claro que, tal qual como num outro texto que li recentemente, “para ser um bom par é preciso ser um bom ímpar”. Ou seja, não há que se procurar em outra pessoa o que está dentro de si. É preciso ter a capacidade de se sentir feliz sozinho, de descobrir seu próprio valor – o que, em absoluto, significa viver só. Apenas que é bom, ao menos de quando em quando, estar só. Curtir isso. Permitir isso. Viver isso. Somente assim, sem cobranças, sem imposições, de acordo com o próprio sacrossanto livre arbítrio com que somos dotados, é que se torna possível se deixar levar pelo caótico fluxo do tempo, que sempre vai nos apresentar novas armadilhas aqui e ali, mas que com leveza, cuidando bem de si, torna-se possível contornar, desviar ou – por que não? – até mesmo enfrentar. Mas com a segurança de que não existem obrigações. Não existem amarrações ou, sequer, a necessidade de ancorar em alguma margem. Não existe destino certo. Só existe o navegar rio adiante.

E não é justamente para isso que essa nossa canoa da vida foi criada?

Para navegar?…

What’s in a kiss?

– Eu nunca beijei um homem de barba.

Olhou para aquela figurinha sapeca, que parecia estar o desafiando, e, com sábias e profundas palavras, concluiu:

– Cê tá me zoando…

– Não, é sério. Fico pensando se é diferente, sei lá, como é que é?

– Olha, sou obrigado a lhe dizer: eu também NUNCA beijei um homem de barba. Aliás, nem mesmo um homem, sequer.

Risos. Risos nervosos. De ambos.

– Tá…

Ele, bem mais velho. A barba, outrora negra, já começando a ficar grisalha. Separado, advogado, sem escritório, sem clientes, mas prestando uma consultoria ora aqui, ora ali (quase um nômade), sempre em busca de uma vida financeira estável. Ela, praticamente uma menina. Morena, cabelo curto e grandes óculos. Ah, e sim: sapeca. Brincalhona. Sempre um encanto estar em sua presença. Ouvir suas conversas, suas dificuldades, seus problemas na faculdade, o difícil relacionamento com um namorado ainda imaturo, seus sonhos, seus anseios, suas viagens. Viagens de devaneios e de pensamentos. Encantadora, sempre.

Ali mesmo, no restaurante, resolveu aceitar o desafio. Se é que era um.

– Você sabe que só tem um jeito de resolver isso, né?

Com um ligeiro aperto nos olhos e um meio sorriso nos lábios ela vagarosamente meneou a cabeça.

Sentindo que aquele era o momento, ele não teve dúvidas. Simplesmente, de sopetão, puxou a cadeira dela para perto de si – com ela junto, por óbvio – e, com calma e segurança, reclinou-se sobre aquele rosto lindo, que, com olhos arregalados, meio que prendendo a respiração, meio que não podendo acreditar, também simplesmente deixou-se levar.

E ela sentiu aquela mão firme em sua nuca, que não a deixava escapar, mesmo que quisesse. E não queria! Seu coração batia forte e descompassado dentro do peito, enquanto que um ligeiro tremor e calor a envolvia nas mais íntimas e estranhas partes de seu corpo. Deixou-se levar. Os dedos dele entrelaçavam-se em seus cabelos, por pura emoção o ar começava a lhe faltar, mas, de jeito nenhum, ela queria parar. Deixou-se levar. Aproximou ainda mais seu corpo sedento, sentiu a outra mão em sua cintura e, com carinho, um carinho que jamais sabia que seria capaz de sentir, com ambas as mãos segurou seu rosto, acariciando aquela macia barba, enquanto mais e mais aprofundava naquele beijo tão intenso e cheio de desejo. Deixou-se levar.

Não sabem quanto tempo permaneceram assim, pois segundos poderiam parecer anos tal a fúria com que se entregaram um ao outro. Mas anos seriam poucos para esquecer a intensidade daquele momento… Lentamente se afastaram um do outro. Ele a olhava com aquele olhar calmo e profundo que lhe era característico, agora também com um meio sorriso pairando nos lábios, enquanto que ela sentia-se arregalar os olhos ainda mais.

– Meu… Como você beija bem!

– Caramba! Obrigado… Mas, olha só, na verdade um beijo – um beijo MESMO – é como uma dança bem dançada de um casal: enquanto que um conduz, a outra se deixa conduzir. Se aquele que conduz não sabe o que faz, nem sequer dança teremos; já se aquela que se deixa conduzir não acompanha seu parceiro, ainda que possa parecer uma dança, ela fica desencontrada. Deixou de ser uma dança. Um beijo, um verdadeiro beijo, também é assim. Como uma dança. Então esse “mérito” não pode ficar apenas de um lado, porque se um não acerta, dois não fazem… E, só pra constar, você também me acompanha maravilhosamente bem…

Em tempo: Antes que vocês, hereges, candinhas e outras criaturas de pouca fé neste que vos tecla pensem que isso foi comigo, já lhes garanto: não foi. Mas, em verdade, foi a maneira fantasiosa que encontrei de (re)contar esse pequeno causo somente para chegar nessa última frase, a qual, dia desses, ouvi de um grande amigo num dos botecos da vida e que particularmente achei de uma verve poética no mínimo fodástica! 😀

Aproveitem e ouçam a música…

Questão de preconceito

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Ligia Ribeiro

Quando eu era adolescente, era simpatizante do anarquismo, inocência boa típica da idade.

Gostava de punk rock/hardcore mais que de chocolate… Uma das bandas que eu simpatizava era dead fish (me julguem) e dentre as músicas deles, havia uma chamada “Anarquia Corporation” que criticava a maneira como o anarquismo estava se popularizando e virando um movimento de preconceito às avessas.

“Acho que já sei o que você quer, mais uma regra pra seguir, constituição anárquica. Feita pra outra minoria dominar. Não há mudança, só alternância de poder. Discriminado hoje, discriminador amanhã. Mudança aonde? Aonde cidadão?”

 

Então hoje, já longe da utopia anárquica, vejo esse comportamento preconceituoso em outros grupos.

Grupos que tem uma causa seria, mas que avacalham demais na milícia.

Vi um vídeo fantástico da Avon onde uma mulher trans se maquiava… Pensei comigo: “Que do caralho! Puta quebra de paradigma!”

 

Aí, Li os comentários… Ah, meus amigos… Que grande enxurrada de bosta!

Chegando ao cúmulo de dizer que os homens estavam tirando o protagonismo das mulheres nas propagandas de cosméticos… (WTF?)

E uma luta pra saber quem é mais oprimido que o outro… Como se o foco fosse esse. Como se o foco não fosse a equidade entre as pessoas…

São só mais um monte de fantoches sem senso crítico, disseminando um discurso de ódio contra aquilo que é diferente do que acreditam.

Mais uma vez… Não há mudança, só alternância de poder.

Que tristeza, meus amigos.

Que tristeza…

Namore um cara que lê

Namore um cara que se orgulha mais da biblioteca que tem, que do carro, das roupas ou do penteado. Ele também tem e se interessa por essas coisas, mas sabe que não é isso que vai torná-lo interessante aos seus olhos. Namore um cara que tenha uma pilha de quatro ou doze livros na cabeceira e que lembre com carinho do nome da professora que o ensinou as primeiras letras. Namore um cara que tem uma lista de livros que quer ler e que ainda possui aquele mesmo cartão de biblioteca desde que tinha doze anos – mesmo que, hoje, prefira ter seus próprios livros.

Encontre um cara que lê. Não é difícil descobrir: ele é aquele que tem a fala mansa e os olhos inquietos. Ele é aquele que sempre entra numa livraria, ainda que só para olhar um bocadinho. Você vai reconhecê-lo na figura do sujeito que olha com carinho e ternura para as prateleiras da livraria, o único que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo um cara estranho cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Esse é o leitor. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ele é o cara que não tem medo de se sentar sozinho num café, num bar, num restaurante. Mas, se você olhar bem, ele nunca está sozinho: tem sempre um livro por perto. O rosto pode ser sério, mas é só porque está absorto, provavelmente perdido em um mundo criado pelo autor. Sente-se na mesa ao lado, estique o olho para enxergar a capa, sorria de leve. É bem fácil saber sobre o que conversar.

Pergunte se ele está gostando do livro. Descubra que outros livros que ele já leu. Fale sobre sobre alguns novos lançamentos e de novas traduções que andam saindo por aí. Mas entenda que se ele quiser começar a lhe explicar como deve ser compreendida alguma obra complexa, isso é só para parecer inteligente. Neste caso, fuja. Um cara que realmente lê não precisa ser chato, muito menos arrogante. Caso contrário, pergunte o que mais ele está lendo – e tenha paciência para escutar, a resposta nunca é assim tão fácil…

É fácil namorar um cara que lê. Ofereça livros no aniversário dele, no Natal e em comemorações de namoro. E até mesmo no Dia das Crianças – por que não? Afinal, um cara que lê jamais abandona aquela pontinha de vontade de entrar num mundo de fantasia. Ofereça poesia, crônica, contos, histórias. Deixe que ele saiba que você entende que as palavras são amor. Normalmente, por tudo que já leu, ele vai entender um pouco melhor o seu universo. Entenda que ele sabe a diferença entre os livros e a realidade mas tenha certeza que ele vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ele conseguir não será por sua causa, mas porque ele é assim. Não sabe ser de outro jeito.

Por isso seja você mesma, você mesmíssima, porque ele sabe que são as complicações, os poréns, os porquês, que fazem uma grande heroína. Um cara que lê pode vir a enxergar em você todas as personagens de todos os romances.

E você também ganhará um ou outro livro de presente. No seu aniversário ou no Dia dos Namorados ou numa terça-feira qualquer. Não existe um padrão. E já fique sabendo que o mais importante não é bem o livro em si, mas o que ele quis dizer quando escolheu justo aquele. Um cara que lê não dá um livro por acaso. E escreve dedicatórias. Sempre.

Um cara que lê não tem pressa, sabe que as pessoas aprendem com os anos, que qualquer um dos grandes autores tem parágrafos ruins, que alguns começaram a escrever já velhos, que outros melhoram a cada romance, que sempre existirão aqueles famosos que podem soar sem sentido e que para chegar ao final de algumas obras é necessária muita paciência. Os caras que leem sabem que as pessoas, tal como os personagens, evoluem.

Ao conviver com um cara que lê você corre o risco de encontrá-lo acordado às duas da manhã, irrequieto e desconfiado, talvez até andando de um lado para outro; pode procurar, pois certamente haverá algum livro aberto por perto. Prepare um café, deixe-lhe um beijo e tudo certo. Entenda que de vez em quando ele precisa de um tempo sozinho, mas não é porque quer fugir de você. Você pode perdê-lo por um par de horas, mas ele sempre vai voltar para você. E falará como se os personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.

Ao namorar com um cara que lê, você vai sorrir tanto, terá tanto contentamento, que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu lá dentro do seu peito. Ele não só vai transformar sua vida numa história, como também vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ele vai apresentar aos seus filhos os personagens de vários mundos de fantasias – provavelmente misturando-os todos. Não por não conhecer as histórias, mas só pelo prazer de arrancar um brilho dos olhos e um sorriso dos lábios dos pequeninos. E do seu, também. Vocês vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ele recitará poemas enquanto, enrolados num cobertor, saboreiam um chocolate quente. Ou, talvez, chá.

Enfim, namore um cara que lê porque você merece. Merece um cara que pode lhe proporcionar uma vida mais colorida do que você possa imaginar. Por vezes com a força envolvente dos grandes romances e por vezes com a beleza singela dos melhores poemas. Mas se você quiser uma companhia superficial, uma coisinha só para quebrar o galho por um tempo, então talvez ele não seja a melhor escolha. Então talvez seja até melhor ficar sozinha. Mas se quiser o mundo e outros além, em especial aquela parte do “e eles viveram felizes para sempre”, não tenho dúvidas: namore um cara que lê.

Ou, melhor ainda, namore um cara que escreve.

Rosemary Urquico escreveu
“Namore uma garota que lê”;
Gabriela Ventura traduziu e adaptou;
Bruno Palma e Silva fez uma adaptação
para “Namore um cara que lê”;
e eu adaptei a adaptação do jeito que quis…

Transbordo, não nego

Mylena Gama

O direito de transbordar… Ah, que poético é! Se encher de emoções, das mais perversas às mais humanas, sendo mais emoção do que corpo, razão ou qualquer lógica. Eu já passei por isso e você também. Transbordar faz parte da nossa natureza, somos inundados de sentimentos e vez ou outra, eles são maiores que nós. Por isso, amo essa imagem que achei no Pinterest e que traduz esses sentimentos.

E aí depois que a gente transborda e volta a caber, tudo se encaixa e o caminho volta a ficar claro. Ano passado, minha xícara esteve cheia praticamente o tempo todo, não foi surpresa quando transbordei. A parte boa é que a gente ganha novas lentes para ver o mundo, e como sou dessas que gosta de compartilhar minhas descobertas, aqui vão elas.

Tudo tem só duas perspectivas, a do ser ou não ser, a do ter ou não ter, do querer ou não querer. Por isso, quando a ansiedade bate, existem apenas duas opções: dar atenção e vez para ela ou não. Juro que não é difícil, faz uma diferença tremenda, tudo fica mais leve! Às vezes acho que criamos esses pensamentos e inquietações porque gostamos de brincar com fogo, pode parecer divertido ter sentimentos oscilantes, mas eu decidi que não quero mais isso.

A caneta e o papel, ou os dedos e um teclado, são duplas fantásticas que têm a função de exorcizar tensões e angústias. Mesmo que ninguém vá ler, mesmo que você nunca releia. Uma vez que não está mais em você, simplesmente não está mais em você, entende? É diferente de desabafar com um amigo e é diferente de ficar ruminando mentalmente os acontecimentos. Desde que eu me conheço por gente eu escrevo muito, talvez isso não seja da sua natureza, mas vale a pena tentar e depois vale a pena não parar.

Depois que voltar a caber, dê tempo ao tempo, não seja um rolo compressor que destrói as lembranças. Deixe que fiquem soltas. Automaticamente e de forma delicada, cada coisa vai tomando seu lugar, cada sentimento dá sua cara verdadeira. E aí sem drama ou sem antecipação, você colabora para que a xícara não volte a encher tão cedo.

É, estou em um momento mais zen, mas quem me conhece sabe a garota enxaqueca que posso me tornar quando estou prestes a transbordar. E sabe o quê? Eu não me culpo e nem me sinto mal, tento só ver o lado bom das coisas para que o próximo transbordamento (ou seria transbordação?) seja diferente, porque né, sem tédio ou repetição!

♪ Queen & David Bowie – Under Pressure