Por que um corvo se parece com uma escrivaninha?

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O que é um coelho branco? O que ele representa? Uma mensagem de esperança? Um sentimento de renovação? Uma firmeza de propósito? Promessas estranhas que ele mesmo significava sem saber que o fazia… Seja lá como for, quando passou, consultando seu relógio no bolso do colete, já estava atrasado. Aliás, como sempre, como tudo na vida de Alice.

E ao se meter num profundo buraco, eis que Alice, inconsequente, sem pestanejar também se atirou de corpo e alma atrás do coelho e de suas promessas não ditas.

E ao cair naquele buraco sem fim (mal sabendo que, na realidade, tudo na vida tem um fim), enquanto aguardava um fundo que não chegava, fez o que melhor sabia fazer: tagarelava de si para si, pois toda Alice – principalmente as escorpianas – é sonhadora e perguntadeira. E quando o fundo chegou, meio que sem avisar, meio trôpego até, lá ela encontrou um corredor, e do corredor encontrou um salão, e no salão encontrou uma chave de ouro que para sua decepção não abria baús, mas sim portas. Mas, diferente do que possam imaginar, essa chave abria todas as portas. Ora essa, e agora? Como decidir que rumo tomar, qual porta revelaria qual destino, qual futuro?

Ah, essa Alice imprudente! Quis porque quis beber da garrafa do desconhecido e se inebriou, mesmo sabendo que não haveria antídoto que lhe resolvesse! Mesmo com a garrafa quebrada, com lascas e cacos a cortar-lhe as mãos, os lábios, o juízo, a alma – ainda assim ansiava por dela sorver novamente. E seus efeitos mediatos e imediatos era fazer com que seu coração crescesse e diminuísse, que sua alma se expandisse e encolhesse, nunca sem dor, nunca sem mágoa, nunca sem alegria, nunca sem esperança.

E, em sua tagarelice, se ouvia a tecer recomendações para que não sofresse, pois “em geral dava conselhos muito bons para si mesma (embora nunca os seguisse)”

E da porta que escolheu, na jornada em que se meteu, no jardim que desbravava, encontrou abrigo sob um belo cogumelo, onde, ensimesmado, pairava lânguida e senhora de si, fumando seu narguilé, uma lagarta azul. E, não há de se saber como, mas ela sabia, aquela lagarta detinha todo o conhecimento do mundo que ela precisava. Todas as respostas a todas as perguntas estavam com ela, com essa lagarta-bruxa, que sabia ser sua amiga, que exalava mística sapiência. E que não estava só. E, num mundo que para qualquer outro seria de uma realidade atordoante, exceto para as Alices, que sabem que o impossível é apenas uma questão de ponto de vista, pela primeira vez esta Alice duvidou de seus sentidos!

Pois, incorpóreos, na fumaça do narguilé, Gandalf, Yoda e Dumbledore pairavam, numa muda conversa com a lagarta. Todos bruxos, todos poderosos, todos mortos como sua própria magia.

Desconcertada, assustada e, sabe-se lá o porquê, com uma certa raiva por não poder ter a atenção toda para si perante aqueles gigantescos vultos, sentindo-se pequena (e nem fôra por causa da beberagem), deu meia-volta e resolveu afastar-se dali. No meio àquela fumaça e vultos que se dissipavam, lágrimas no rosto, firmou seu passo.

“Volte!” chamou a Lagarta. “Tenho uma coisa importante para dizer!”

Isso parecia promissor, sem dúvida; Alice se virou e voltou.

“Controle-se”, disse a Lagarta.

“Isso é tudo?” quis saber Alice, engolindo a raiva o melhor que podia.

Mas o silêncio e o vazio foram suas únicas respostas.

E tudo que Alice queria era saber que caminho tomar. Sabia que caminho queria, era o que a levava de volta onde esteve, mas não aguentava mais seu coração e sua alma a esticar e encolher, como borracha prestes a arrebentar. E, às vezes, de fato se sentia arrebentada. E então, do nada, um sorriso lhe sorriu. E, por trás dele, um gato, o Gato de Cheshire. Perguntou-lhe:

“Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?”

“Depende bastante de para onde quer ir”, respondeu o Gato.

“Não me importa muito para onde”, disse Alice.

“Então não importa que caminho tome”, disse o Gato.

“Contanto que eu chegue a algum lugar”, Alice acrescentou à guisa de explicação.

“Oh, isso você certamente vai conseguir”, afirmou o Gato, “desde que ande o bastante”.

Mas, apesar da pouca idade, Alice já carregava um cansaço de séculos… Ainda assim o Gato lhe apontou algumas direções, dizendo que tipo de gente encontraria por ali: todos loucos!

“Mas não quero me meter com gente louca”, Alice observou.

“Oh! É inevitável”, disse o Gato; “somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca”.

“Como sabe que sou louca?” perguntou Alice.

“Só pode ser”, respondeu o Gato, “ou não teria vindo parar aqui”.

E assim, tomou seu rumo. E o Chapeleiro foi quem encontrou. Talvez o mais louco entre os loucos daquelas paragens. E era justamente a última pessoa que precisava encontrar. E era justamente a primeira pessoa que desejava encontrar. Pois esse Chapeleiro alquímico, super-herói de meia pataca, tinha justamente o poder de destilar aquela estranha beberagem que estava arrasando com Alice. E seu silêncio é o que mais comprovava sua loucura, deixando Alice e sua tagarelice a mercê de um destino incerto. “Renda-se” disse ela. “Fale comigo, fale qualquer coisa, mas fale! A vida se nos passa e não há suficiente tempo!”

“Se você conhecesse o Tempo tão bem quanto eu”, disse o Chapeleiro, “falaria dele com mais respeito.”

E ela pensou naquela frase enigmática (mas talvez nem tanto), olhou para aqueles olhos juvenis, velhos como estrelas, para seu sorriso de criança que acumulava uma experiência de eras, e entendeu que não havia o que entender.

Louco, louco, louco.

E que também a estava deixando louca.

Melhor enfrentar o Jaguadarte.

Não sabia como, mas sabia. O Jaguadarte, imortal, com garras e bocarra, olhos de fogo e riso louco (por que afinal tudo tem que ser louco na vida de Alice?), ferível apenas pela Espada Vorpal – que ela não tinha – era o destino a que se prestava, era sua sina. Ali estaria o descanso que precisava: esquecer, esquecer e esquecer…

E finalmente ao encontrá-lo, sentado na esquina, sob a árvore Tamtam, ao fitar aqueles olhos, ao vislumbrar aquele sorriso, finalmente compreendeu: ele era ele. Um era o outro. Seu maior louco era também seu pior inimigo, eis que a levava às raias da loucura!

E lembrou-se das palavras da Duquesa: “Nunca imagine que você mesma não é outra coisa senão o que poderia parecer a outros do que o que você fosse ou poderia ter sido não fosse senão o que você tivesse sido teria parecido a eles ser de outra maneira”.

Já havia começado pelo começo e prosseguido até chegar ao fim. Sem dúvida era hora de parar.

Melhor ser normal, que sofrer.

E (Neo entenderia) em busca de um espelho se deu sua nova jornada.

E em sua pressa de se ver livre, tentou repelir todos aqueles pensamentos que lhe atormentavam, como quem repele mosquitos numa noite de calor, e se viu deitada no sofá, a cabeça no colo de Dinah, sua menina, que afastava delicadamente alguns insetos que esvoaçavam por perto de seu rosto.

“Acorde, Alice querida!”, disse-lhe. “Mas que sono comprido você dormiu!”

“Ah, tive um sonho tão curioso!”

E, tentando recapitular, ficou ali sentada, os olhos fechados e quase acreditou estar de volta a seu momento no País das Maravilhas, embora soubesse que bastaria abri-los e tudo se transformaria em insípida realidade… E tudo que ela queria, agora que adulta, era conservar aquele mesmo coração simples e amoroso de sua infância, reencontrar todas as alegrias simples de criança, sempre pronta para se doar mas também exigente em receber.

“E como foi seu sonho, bem?”

E com a certeza de que esse sonho, de que aqueles momentos somente a ela pertenciam, limitou-se a responder:

“Não tenho a menor ideia…”

Festa de Fim de Ano

De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 01/12/2015 16:05
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Natal

Tenho o prazer de informar que a festa de Natal da empresa será no dia 23 de dezembro, com início ao meio-dia, no salão de festas privativo da Churrascaria Grill House. O bar estará aberto com várias opções de bebidas. Teremos uma pequena banda tocando canções tradicionais de Natal. Sinta-se à vontade para se juntar ao grupo e cantar!

Não se surpreenda se nosso Vice-Presidente aparecer vestido de Papai-Noel! A árvore de Natal terá suas luzes acesas às 13:00. A troca de presentes de amigo secreto poderá ser feita a qualquer momento.

Entretanto, nenhum presente deverá exceder R$20,00, a fim de facilitar as escolhas e adequar os gastos a todos os bolsos. Este encontro é exclusivo para funcionários.

Nesta ocasião, nosso Presidente fará um discurso bastante especial.

Feliz Natal para vocês e suas famílias!

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 02/12/2015 11:04
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Final de Ano

De maneira alguma nosso e-mail datado de 1º de dezembro pretendeu discriminar ou ofender nossos funcionários judeus! Reconhecemos que o Chanukah é um feriado importante e que costuma coincidir com o Natal mas isso não aconteceu este ano. De qualquer forma passaremos a chamá-la de “Festa de Final de Ano”.

A mesma política se aplica a todos os outros funcionários que não sejam cristãos. Não haverá árvore de Natal. Nada de canções de Natal nem coral. Teremos outros tipos de música para seu entretenimento.

Felizes agora?

Minhas desculpas.

Bom final de ano para vocês e suas famílias,

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 03/12/2015 15:12
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Final de Ano

Com relação ao bilhete que recebi de um membro do Alcoólicos Anônimos solicitando uma mesa para pessoas que não bebem álcool: você não assinou seu nome! Fico feliz em atender o pedido, mas se eu puser uma placa na mesa “Exclusivo para AA”, vocês não serão mais anônimos. Como faço então?

Esqueçam a troca de presentes. Nenhuma troca de presentes será permitida, uma vez que os membros do sindicato acham que R$20,00 é muito dinheiro e os executivos acham que R$20,00 é muito pouco para um presente. NENHUMA TROCA DE PRESENTES SERÁ PERMITIDA, certo?

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 07/12/2015 11:45
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Festa de Final de Ano

Nossa! Que grupo heterogêneo nós temos! Em 1º dezembro começa o mês sagrado do Ramadan para os muçulmanos, que os proíbe comer e beber durante as horas do dia. Lá se vai a festa! Agora entendemos que uma refeição nesta época do ano será um problema para a crença de nossos funcionários muçulmanos. Talvez a Churrascaria Grill House possa segurar o serviço de buffet até o fim do dia – ou, então, embalar tudo para que vocês o levem para casa nas marmitex. O que vocês acham disso?

Atendendo a outras reclamações:

1) Consegui que os membros do Vigilantes do Peso se sentem o mais longe possível do buffet de sobremesas e a mulheres grávidas sentem-se o mais perto possível dos banheiros.

2) Homossexuais podem sentar-se juntos, se quiserem. Mulheres homossexuais não têm que sentar com homens homossexuais, que terão sua própria mesa. E, sim, também haverá um arranjo de flores no centro da mesa dos homens homossexuais.

3) Os transexuais que pediram permissão para trocarem as roupas pelas do sexo psicológico, isto está autorizado!

4) Teremos assentos mais altos para pessoas baixas.

5) Comida com baixa caloria estará disponível para os que estão de dieta.

6) Nós não podemos controlar a quantidade de sal utilizada na comida. Desta forma sugerimos para estas pessoas com pressão alta que provem o teor de sal antes de se servirem.

7) Haverá frutas frescas de sobremesa para os diabéticos. O restaurante não dispõe de sobremesas sem açúcar.

Nossas profundas desculpas.

Será que esqueci de alguma coisa?

Ass.: Patrícia

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De: Patrícia Gomes – Diretora de Recursos Humanos
Data: 08/12/2015 09:15
Para: Todos os Funcionários FILHOS DA PUTA
Assunto: A PORRA DA FESTA DESSE FINAL DE ANO DE MERDA!

Vegetarianos e Adventistas? Sim, vocês também tinham que dar sua opinião de merda ou reclamar de alguma coisa! Nós manteremos o local da festa na Churrascaria Grill House. Quem não gostar, FODA-SE!

Então, como alternativa, vocês podem sentar-se quietinhos na mesa mais distante da “churrasqueira da morte” como vocês se referiram de forma bastante depreciativa ao utensílio. Vocês terão a porcaria da sua mesa de saladas, incluindo vegetais hidropônicos da CASA DO CARALHO, sem nenhum agrotóxico, arrozinho grudento para comer de pauzinho. Mas aqueles (naturalmente haverá) que não concordarem em usá-los, podem enfiá-los no… Mas como vocês devem saber, os vegetais também têm sentimentos! Os tomates gritam quando vocês os fatiam. EU mesma os ouvi gritar! Eu os estou ouvindo gritar agora mesmo! Assassinos de inocentes tomates!

AH! Espero que vocês todos tenham um péssimo final de ano!

Dirijam muito, fiquem bêbados, batam o carro ou sejam atropelados. E morram todos, escutaram? Vão para a puta que os pariu!

Ass.: A vaca-louca da Diretora de Recursos Humanos – como sou gentilmente chamada por muitos filhos da puta!!!

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De: Jonas Gomes – Diretor de Recursos Humanos Interino
Data: 14/12/2015 16:22
Para: Todos os Funcionários
Assunto: Patrícia Gomes e a Festa de Final de Ano

Tenho certeza que falo por todos desejando para a Patrícia um rápido restabelecimento para sua crise de stress. Continuarei a encaminhar as mensagens para ela no sanatório. Por conta deste fato, a diretoria decidiu cancelar a Festa de Final de Ano e dar folga remunerada para todos na tarde do dia 23 de dezembro.

Boas Festas.

Um estranho no ninho

Depois que se tem filhos, difícil guardar espaço para aquela antiga vida, de livre comum união a dois, de namoricos ainda que em casa, quando se tinha a (falsa?) sensação de que éramos donos do próprio nariz.

E, melhor, da própria cama.

Mas aí veio o primeiro filho.

Veio chegando, tomando seu espaço, tomando nosso tempo, nossa atenção, nosso fôlego, nosso sono. Quando começou a ficar mais crescidinho – e tolamente pensávamos que iríamos ter um pouco mais de volta a vida a dois – eis que começa a engatinhar, logo a andar, levantar à noite, ocupar o vão entre a Dona Patroa e eu, dormir agarradinho, dormir a noite toda. Mas, como tudo passa, ele foi crescendo, foi para o próprio quarto e vislumbramos uma luz no fim do túnel…

E então veio o segundo filho.

Disputando espaço, sendo amamentado, sendo trocado, sendo cuidado, também teve seus perrengues, também foi crescendo, mudamos de casa e, agora num apartamento, tudo menor, tudo mais fácil, tudo mais acessível – inclusive a nossa cama – já engatinhando, já andando, levantando à noite, ocupando o vão entre a Dona Patroa e eu, dormindo agarradinho, dormindo a noite toda. Já não tão certos de que tudo passa, fomos simplesmente gerenciando a situação, pois um dia ele e o irmão se ajustariam no próprio quarto.

Até que veio o terceiro filho.

Já chegou no meio da mudança, do apartamento para a casa, e casa vazia, com bastante espaço, com bastante quintal, não disputou espaço, tomou o seu próprio. Logo engatinhou, logo cresceu, logo andou. Levantou à noite, ocupou o vão entre a Dona Patroa e eu, dormiu agarradinho, dormiu a noite toda. Até que cresceu mais ainda. E cada um dos três foi para seu próprio quarto. E cada um deles não tinha mais necessidade de nós – exceto ele, o caçula, pois em qualquer casa caçula é caçula, e de quando em quando eu ainda perdia meu lugar (pois já passou a ficar difícil os três na cama), evento cada vez mais raro e aquela luz no fim do túnel voltou a brilhar!

Daí os filhotes arranjaram um gato.

Ou melhor, uma gata: a Yuki. Senhora absoluta deste nosso lar. Cujo ninho preferido, adivinhem onde é? Ninguém? Você, aí, da esquerda, que levantou a mão? Isso, isso mesmo! O malfadado vão entre a Dona Patroa e eu!!! Aliás, não só esse. Embaixo, em cima, do lado, empurrando, esfregando; passa pelas cobertas, passa pelos pés, passa pelas cabeças, passa pelo travesseiro, passa dos limites!

E a maior diferença, a GIGANTESCA diferença para com os filhotes é que caso nos mexêssemos no decorrer da noite, eles, quando muito, resmungavam.

ELA. METE. AS UNHAS!

Mas, olha, lhes digo uma coisa: de minha parte até que isso não tem me incomodado tanto. Chega um ponto na vida que a gente atinge a maturidade suficiente para compreender certos aspectos de nossa existência, certos padrões, que estão fadados a estar presentes em nosso viver, de modo a nos ensinar algum tipo de lição, para nos trazer algum tipo de aprendizado. É necessário agudeza de espírito e profunda percepção do mundo ao seu redor para, diante dos sinais, se tornar um ser humano melhor, um ser mais evoluído…

(…)

Quer saber? Mentira. Que se dane a evolução!

Sigo dormindo no sofá da sala.

De apenas dois lugares.


#sósifôdo   #marditagata   #querobeliche

Além da vida

Desde pequeno ele sempre quis realidades diferentes para sua vida. Queria, sobretudo, ser feliz. Mas sabia, não só por convicção como também por experiência de outrem, que realidades somente surgem após um longo e quase sempre árduo caminho.

Foi assim, almejando essas realidades, que começou a cultivar desejos e sonhos.

Era uma plantação linda: desejos das mais variadas formas, cores e tons. Alguns mais perfumados que outros, outros mais consistentes que uns. Mas desejos, por mais que crescessem depressa e rápido chegassem ao ponto de colheita, ainda assim não têm o condão de se tornar uma sólida realidade. São efêmeros e passageiros, esses desejos. Uma verdadeira realidade normalmente é fruto de um bem cultivado sonho.

E, naqueles seus campos existenciais, bem ao fundo, vislumbrava-se o bosque de sonhos que, desde sempre, vinha cultivando. Alguns mais consistentes que outros, outros mais enraizados que alguns. Mas sonhos são de crescimento lento e devem ser muito bem cuidados, acalentados. Deixe um sonho de lado, esqueça-o por algum tempo e provavelmente ele murchará por pura e simples falta de atenção. Não se tornará uma realidade e, muitas vezes, jamais voltará a brotar de novo.

E, a cada dia que passava, ele olhava para esse bosque com esperança…

Mas tinha seu dia a dia, seus afazeres, e, mais que todo o restante, suas responsabilidades… RES-PON-SA-BI-LI-DA-DES! Palavra complicada que nos traz sentimentos ambíguos, tanto implicando nos felizes resultados de um trabalho bem feito quanto nos levando a uma amarga sensação de ceticismo perante tudo e perante todos. E ceticismo é uma praga que se multiplica rapidamente.

E, esquecido que estava de seu bosque de sonhos, tendo deixado de lado sua plantação de desejos, não percebeu aquela nuvem de ceticismo que se avolumava, zumbindo, preenchendo os vãos de esperança, avidamente devorando seus campos, consumindo tudo aquilo que vinha acalentando e que, sem sequer perceber, acabou deixando de lado…

Quando finalmente, num intervalo indesejado entre uma responsabilidade e outra, decidiu dar atenção aos seus próprios campos existenciais que havia largado ao léu, surpreendeu-se com toda aquelas plagas vazias, com a erosão que invadiu aquela outrora terra fértil, única lembrança deixada pra trás por todo aquele ceticismo que sequer percebeu surgir.

Desolado, mas ainda no firme propósito de ter realidades em sua vida, de ser feliz, passou então a criar expectativas.

E expectativa é um bicho curioso, pois nasce e cresce solto, aqui e ali, ciscando as ranhuras de nossas memórias, às vezes vinculadas a alguém, às vezes do nada. E as expectativas que criava cresciam em tamanho e número. Mas, daí a se tornarem realidades, havia uma distância muito longa.

E ele, que já não fôra capaz de cuidar de uma bela plantação e de um frondoso bosque, que demandavam apenas de alguma atenção, que se dirá então com relação a essa criação de expectativas, que requerem vigília constante para que não sucumbam ou, pior, para que não se devorem umas às outras (pois expectativas, dizem os especialistas, são antropofágicas e as maiores sempre acabam devorando as menores).

E, pior, uma expectativa mal cuidada pode nem sequer vir a se tornar uma minguada realidade, mas certamente pode se transformar numa forte desilusão!

E, ocupado que sempre estava, com foco em suas responsabilidades (olha ela aí de novo…), uma a uma apenas percebia suas expectativas sucumbirem.

Até que nada mais sobrou.

E nos campos de sua própria existência quase mais área nenhuma restava, eis que em estado de desolação por sua própria falta de atenção.

Desejos ao pó…

Sonhos putrefatos…

Expectativas em decomposição…

E, aqui e ali, algumas gordas e fétidas desilusões chafurdavam naquela lama existencial… Sempre com algum ceticismo sobrevoando os campos, em busca de algum mínimo vestígio de esperança…

E, olhando de si para si, pela talvez primeira vez depois de tanto tempo, naquele restinho dos campos que intactos ainda lhe restava, descobriu um pequenino espaço cercado que nunca sequer tinha reparado que existia. Um pequenino jardim, protegido por vigorosas rochas de confiança, fé, paz, bem querer e outras mais da mesma natureza. Ali, bem no meio de um vistoso gramado de esperança, à parte do mundo devastado que ele mesmo deixara para si, rodeadas por alguns sonhos que sequer lembrava da existência, crescendo em algumas colunas de certeza, permanecia uma única e vigorosa roseira de amor.

Há quanto tempo estaria ali?

Como nasceu, floresceu e se manteve forte sem que jamais tivesse tomado nenhum cuidado com ela?

Por que não foi afetada como todo o resto que praticamente arruinou os campos de sua existência?

E, agora mais velho e mais sábio, acabou por perceber que nada disso importava. Não se questiona o imponderável! Era um dádiva. Estava ali – como, aliás, sempre estivera – com perfumadas rosas com amor de todas as matizes, prontas para serem colhidas. Independentemente das realidades que pairassem no mundo lá fora, quer tivessem sido criadas por ele ou não, à margem de seus desejos, sonhos, expectativas ou o que quer que fosse. Tudo que precisava era simplesmente ter prestado um pouco mais de atenção em si próprio. Ou, ao menos, que não tivesse dado tanta atenção fora de si.

E com o que lhe resta do campos de sua existência, despreocupado com o passado – que já foi, que já não pode mais lhe afetar – foi ao lado dessa roseira, desfrutando de todo esse amor que ela teria para lhe proporcionar, que pôde sorver com felicidade até a última gota do regato de vida que ainda o alimentava e o mantinha vivo.

E no seu último suspiro, renasceu.

E deparou-se com novos campos a serem explorados!

Mas desta vez fez diferente: tratou de, antes de mais nada, localizar todo o amor necessário para, desta vez, pautar sua vida da maneira certa desde o início.

E todo o restante seria apenas consequência…

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Os teus olhos

Tayná Freire

Os teus olhos. Por que eles me encantam tanto? Cara, é algo que eu não consigo entender… sou apaixonada por olhos escuros. Eles trazem em si um mistério. Uma coisa que vai além de qualquer entendimento. Além de qualquer além, entende?

Quando nos encontramos e conversamos, pode ter a total certeza de que eu estou totalmente perdida na tua imensidão, tão escura, tão desconhecida, tão excitante. Eu quero te desvendar, te descobrir. Mas os teus olhos de cores indefinidas, não me mostram quem é você. Sinto que eles estão sempre fixos a algo que só você vê. Enquanto os meus estão sempre perdidos por aí, procurando respostas que só os teus podem dar.

Quando te olho, me sinto afogando em um oceano escuro, um oceano que não sei ao certo quão profundo é. Mas não sinto medo de mergulhar. Pelo contrário, eu só não o faço porque você não permite. Sempre que tento mergulhar nos teus olhos – e em você, no teu corpo definido, nos teus braços donos de uma tatuagem que me enlouquece – você os fecha. E eu fico ali, a ponto de morrer na praia. Teus olhos são firmes. Encaram. Olham. Sem medo. Mas quando tentamos fazer o mesmo, eles somem. Teus olhos não são tão grandes assim, mas mesmo assim parecem ser imensos para poderem carregar todas as coisas que já presenciaram. Quando nossos olhos se encontram, os meus têm a certeza de que não trocaria aquela troca de olhares com os teus, nem por todos os olhos claros desse mundo. Eles têm a certeza de que os teus olhos – de cores indefinidas e sentimentos desconhecidos – são os mais lindos que eles já viram.

Eu não sei o que você tem. O que eles já viram. Muito menos o que eles sentem ou pensam. Só sei que, amigo, você é o dono dos olhos mais lindos que os meus olhos – cansados e perdidos – já viram nesse mundo. Nesse mundo de olhares mortos e frouxos. De olhares fracos e sem expressão. Só sei que teus olhos dizem tudo sem dizer nada. Convida-nos para um mergulho e secam quando decidimos entrar… É, talvez eu passe a vida sem entender quem é você. E como consegue ter os olhos mais lindos que os meus já viram.

Anos Oitenta

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Com toda a emoção que veio do segundo encontro dos ex-alunos do Rui Dória, já ficou o indelével desejo no coração de todos esses jurássicos sobreviventes da década de oitenta de se reunir novamente – provavelmente agora para um “bailinho”…

Bem, desde já vai aqui minha contribuição, com uma senhora seleção de músicas da época, quando ainda era na vitrola e nos discos de vinil que escutávamos nossos maiores ídolos. Aos interessados de plantão, no final da relação tem o link para baixar essas músicas – todas em MP3.

Ah, e sim: só internacionais. Mas me aguardem, pois ainda vou preparar uma outra relação com as nacionais… 😉

1999 – Prince
A little respect – Erasure
Addicted to love – Robert Palmer
Africa – Toto
All night long – Lionel Richie
Always – Bon Jovi
Always on my mind – Pet Shop Boys
Another one bites the dust – Queen
Ask – The Smiths
Axel F – Harold Faltermeyer
Baby I love your way – Will to Power
Beat it – Michael Jackson
Bette Davis eyes – Kim Carnes
Big in Japan – Alphavile
Billy Jean – Michael Jackson
Blaze of glory – Bon Jovi
Blue monday – New Order
Born in the U.S.A. – Bruce Springsteen
Boys don’t cry – The Cure
Broken wings – Mr. Mister
Burning heart – Survivor
Call me – Blondie
Careless whisper – George Michael
Come on Eileen – Dexy’s Midnight Runners
Come undone – Duran Duran
Cum’on feel the noize – Quiet Riot
Dancin’ with myself – Billy Idol
Dancing in the dark – Bruce Springsteen
Dancing on the ceiling – Lionel Richie
Danger zone – Kenny Loggins
Do you really want to hurt me – Culture Club
Don’t dream it’s over – Crowded House
Don’t get me wrong – The Pretenders
Don’t stop believin’ – Journey
Don’t you – Simple Minds
Don’t you want me – The Human League
Electric Avenue – Eddy Grant
Eternal flame – The Bangles
Every breath you take – Sting and The Police
Everybody wants to rule the world – Tears for Fears
Eye of the tiger – Survivor
Faith – George Michael
Fast car – Tracy Chapman
Father figure – George Michael
Footloose – Kenny Loggins
Forever young – Alphaville
Friday I’m in love – The Cure
Ghostbusters – Ray Parker Jr
Girls just want to have fun – Cindy Lauper
Give it up – KC and The Sunshine Band
Glory of love – Peter Cetera
Heaven – Bryan Adams
Hello – Lionel Richie
Here she comes – Bonnie Tyler
Hip to be square – Huey Lewis and The News
Hold me now – Thompson Twins
Holding out for a hero – Bonnie Tyler
Hungry like the wolf – Duran Duran
I drove all night – Cindy Lauper
I hate myself for loving you – Joan Jet and The Blackhearts
I still haven’t found what I’m looking for – U2
I will survive – Gloria Gaynor
I’ll be there for you – Bon Jovi
I’m so excited – The Pointer Sisters
In the air tonight – Phill Collins
Into the groove – Madonna
Is this love – Whitesnake
It’s a sin – Pet Shop Boys
It’s my life – Bon Jovi
It’s raining men – The Wheater Girls
It’s the end of the world as we know it – REM
Jump – Van Halen
Just can’t get enough – Depeche Mode
Karma Chameleon – Culture Club
Legal tender – The B-52’s
Let’s dance – David Bowie
Let’s groove – Earth Wind and Fire
Let’s hear it for the boy – Deniece Williams
Like a prayer – Madonna
Like a virgin – Madonna
Livin’ on a prayer – Bon Jovi
Love shack – The B-52’s
Lovesong – The Cure
Maneater – Daryl Hall and John Oates
Maniac – Michael Sembello
Manic monday – The Bangles
Material girl – Madonna
Money for nothing – Dire Straits
My oh my – Slade
Need you tonight – INXS
Never – Heart
Never gonna give you up – Rick Astley
Never tear us apart – INXS
Nine to five – Dolly Parton
Ninety nine red baloons – Nena
Nothing’s gonna stop us now – Starship
Panama – Van Halen
Papa don’t preach – Madonna
Physical – Olivia Newton-John
Purple rain – Prince
Relax – Frank Goes to Hollywood
Right here waiting – Richard Marx
Rock and roll is king – Electric Light Orchestra
Rock me Amadeus – Falco
Sexual healing – Marvin Gaye
Shake you down – Gregory Abbot
She drives me crazy – Fine Young Cannibals
Should I stay or should I go – The Clash
Shout – Tears for Fears
Somebody’s watching me – Rockwell
Sultans of swing – Dire Straits
Sweet dreams – Eurythmics
Tainted love – Soft Cell
Take my breath away – Berlin
Take on me – A-Ha
Tell it to my heart – Taylor Dayne
The boys of Summer – Don Henley
The final countdown – Europe
The glory of love – Peter Cetera
The power of love – Huey Lewis and The News
The time of my life – Bill Medley and Jennifer Warnes
The way it is – Bruce Hornsby
Time after time – Cindy Lauper
Together forever – Rick Astley
Tom Sawyer – Rush
Too shy – Kajagoogoo
Total eclipse of the heart – Bonny Tyler
Toy Soldiers – Martika
True – Spandau Ballet
True colors – Cyndi Lauper
Uptown girl – Billy Joel
Video killed the radio star – The Buggles
Voyage voyage – Desireless
Wake me up before you go-go – Wham
Walk like an egyptian – The Bangles
Walking on sunshine – Katrina and The Waves
We built this city – Jefferson Starship
West End girls – Pet Shop Boys
What a feeling – Irene Cara
Whip it – Devo
Wild boys – Duran Duran
With or without you – U2
You can call me Al – Paul Simon
You got it – Roy Orbison

Todas essas músicas estão disponíveis lá no Mega, neste link aqui.