Con-fiando no serviço

É lógico que, depois da “amostra” que o gordinho deu, fiquei bem à vontade para levar o carro lá para uma guaribada mais a fundo nessa parte da fiação e, em especial, na alavanca de seta.

Já cheguei logo pela manhã, fui enfiando o carro porta a dentro e dizendo: “não disse que eu voltava?”…

O caboclinho riu com gosto e disse que o especialista em GM ainda não tinha chegado, mas assim que estivesse lá já iria dar uma olhada naquela chave de seta desmilinguida.

Voltei somente no final da tarde e não encontrei o tal do especialista. Mesmo assim o carro estava pronto.

A alavanca de seta firme como jamais vi. A coluna de direção – que andava meio chacoalhando – bem ajustada. O painel acendendo.

– Quanto é?

– Sessenta contos.

Justo. Apesar de ter feito bem mais do que eu pedi – mas fez bem feito. Deve ser daquele cara do tipo que não se conforma em arrumar as coisas pela metade.

Gostei disso.

Confiança é tudo.

Definitivamente, ganharam um freguês!

Desafiando a fiação

No final das contas o negócio dos faróis era beeem mais simples do que eu podia imaginar.

Talvez seja esse o grande problema de não poder “brincar” de desmontar o carro todos os dias… Não dá tempo de aprender (e apreender) todos os pequeninos “segredos” escondidos sob o capô.

Enfim, levei o carro para uma autoelétrica que ficava no caminho para o trabalho. Lugar grande. Espaçoso. Muitos carros – novos e antigos – abertos para conserto. Tive uma boa primeira impressão.

E só.

Depois de uns cinco minutos (não, não estou exagerando, foram cinco minutos mesmo) parado com um discretíssimo Opala bem no meio da oficina e apesar de mecânicos e atendentes indo e vindo ao meu redor (sem sequer me olhar nos olhos), decidi que já era hora de procurar alguém para me atender. Fui até o fundo do salão e encontrei um tiozinho limpando umas peças.

– Será que tem como o senhor dar uma olhada no meu carro?

Como se fosse um aluno convocado pelo professor para uma chamada oral sem ter estudado a matéria, o figura deu uma travada, olhou prum lado, olhou pro outro, coçou a cabeça, se resignou, deixou as peças num canto e, num passinho todo gingado e limpando as mãos com uma estopa, resolveu me acompanhar.

– Então, chefia. Acontece que os faróis não estão funcionando. Assim, de uma hora para outra, parou! Já chequei os fusíveis hoje cedo e com certeza estão todos ok. Como foram os dois de uma vez, acho que dá pra descartar as lâmpadas. O botão de acionamento – ali no pé – é novo, mas talvez seja bom o senhor checar se…

Não deu tempo de eu completar a frase.

VIIIXE! Ah, esse botão não existe mais não! Se for ele, não vai dar conserto não!

Juro que não foi por maldade, mas naquele momento eu o olhei de uma maneira tal que o caboclo deve ter se sentido o mais insignificante projeto de intenção de pústula de ameba anã que já tenha caminhado sobre a face da Terra.

Fiquei imaginando todas as inúmeras vezes em que eu e meu pai chegamos até mesmo a fabricar peças no fundo do quintal para colocar esta ou aquela máquina em funcionamento. E não, não estou falando de gambiarra, não! Pôxa, basta querer que é possível fazer qualquer coisa – ainda mais numa mecânica simples como é a do Opala.

Fiquei tão puto que acho que nem me despedi. Entrei no carro, engatei a ré e fui embora.

Mais tarde, conversando com um amigo que cuida da manutenção da frota, pedi-lhe que me indicasse alguém na cidade. E ele me indicou exatamente a mesma oficina! Não preciso repetir aqui o “rosário de gentilezas” que lhe disse ao telefone…

– Puta merda, cara! Cê caiu bem com o tiozinho? Aquele véio é foda mesmo! Tá pra nascer outro mais enrolado que ele… Não é à toa que você saiu de lá puto da vida!

Apesar de tudo ele me indicou outro caboclo. Dessa vez uma autoelétrica próxima do trabalho. Fui lá, confesso, com uma certa desconfiança.

Lugarzinho até fuleiro – mas fui atendido por um gordinho bonachão. Estava pronto para deixar o carro para que eles pudessem verificar com calma, mas de imediato ele fuçou daqui, fuçou dali, fez um teste e já deu o diagnóstico.

Acontece que o fio que leva energia aos faróis estava formado mais com fita isolante que cobre propriamente dito. Ou seja, emenda sobre emenda sobre emenda sobre emenda. Bastaria cortar o danado a alguns centímetros de sua ponta, substituir o terminal e conectar novamente. E pronto!

Enquanto explicava já foi pegando um rolo de fio, um alicate, etc, etc, etc. E fez tudo na hora.

– Quanto é?

– Nada não.

– Cumassim?

– Nah! Quando tiver algo mais complicado, daí você traz o carro de novo.

Nem preciso falar que ganhou um cliente!

Acho que mais tarde vou deixar o carro lá para dar uma (nova) geral na seta…

Mais pequenos reparos

Esse negócio já está ficando recorrente!

Como se já não bastasse o banco (que já foi consertado), a seta (que já foi consertada e quebrou novamente) agora foi a vez dos faróis!

E, lógico, como Murphy é meu MELHOR amigo, isso aconteceu ontem à noite – sendo que saí do trabalho lá pelas dez horas. Ou seja, nada de autoelétrica de plantão…

E, pior, do trabalho até em casa eu tenho que pegar um trecho conhecido como “estrada velha”, onde em boa parte não tem absolutamente nenhuma iluminação.

Diante do imprevisto ainda tentei “pegar carona” no farol de um Uninho que ia à minha frente, mas acho que o motorista fiadaputa deve ter ficado preocupado em ter um Opalão só com as lanternas ligadas numa escuridão de breu e em plena estrada velha literalmente grudado nele. O caboclo pisou fundo e foi embora. Sem possibilidade de me guiar com segurança entre a faixa central e lateral da pista – que não tem acostamento, é pura terra – fui obrigado a diminuir…

Graças a Deus, ainda que com um susto ou outro, cheguei bem em casa.

Sim, eu sei que provavelmente deve ter sido só um fusível. Mas sequer uma lanterna eu tinha à mão para tentar alguma gambiarra! Tive que ir conforme dava, mesmo!

Ainda vou dar uma checada nisso (enquanto é dia) e depois eu conto…

Pequenos reparos

Bem, não teve jeito.

Desde que a seta quebrou pela segunda vez ainda não consegui tempo para uma nova intervenção cirúrgica na dita cuja. Mas com relação ao banco não teve jeito!

Eu já devia ter percebido que ele estava prestes a me deixar na mão. Ainda ontem o encosto estava “escapando”, ou seja, saía fora do pino de encaixe e ficava bambo, bambo. Isso me fez voltar para casa (são 15km, lembram?) praticamente fazendo exercícios abdominais o tempo todo, pois não tinha como repousar as costas.

Eu colocava o encosto no lugar e o maldito novamente escapava. Estava na cara que tinha algo errado.

Mesmo assim, dando uma de Scarlet O’Hara, decidi que mais tarde veria aquilo. Sempre haverá uma amanhã…

Só que o danado do amanhã chegou mais cedo do que eu esperava!

Não contente em simplesmente ter o encosto escapando, eis que o próprio assento afundou! Só então deu pra perceber qual era o verdadeiro perrengue que tinha desconjuntado todo o banco. A gaiola lateral, ali, próxima de onde fica a alavanca de regulagem, quebrou.

Ou seja, só soldando.

Eu poderia fazer isso no final de semana na casa de meu pai. Mesmo pensando num possível reforço ali não iria nem meia vareta de solda elétrica. Porém ainda estávamos em plena quarta-feira, sendo que eu realmente preciso do carro diariamente e não conseguia me ver fazendo mais algumas séries de abdominais forçadas – dormi mal pra caramba de ontem pra hoje…

É. O jeito seria me submeter a algum profissional da área – já considerando uma eventual “taxa de urgência”…

Achei um caboclo no caminho para o trabalho. Para desmontar, dar uma limpada e engraxada geral na máquina, soldar (com reforço) e montar o banco de novo: R$60,00. Sessenta contos.

Paciência. Mandei fazer. Já era dia de adiantamento mesmo, então foi só questão de unir o inútil ao desagradável

Pelo menos, findo o serviço, o banco ficou muito bom. Firme como uma rocha. Deslizando bem nos trilhos. Até mesmo mais macio, pois ele aproveitou e deu uma mexida no enchimento do assento.

É, tá bom, valeu o gasto então…