Você sabe o que foi o Projeto 676?

Sei que provavelmente uma minoria, mas ainda tem muito opaleiro por aí que não sabe o porquê de este blog se chamar “Projeto 676”. Então, por favor, acomodem-se confortavelmente em seus assentos e prestem atenção pois agora vamos conhecer um pouco da história antes da história.

O ano era 1966.

Acontecia nesse ano a 8ª Copa do Mundo, sediada na Inglaterra, que foi escolhida para celebrar o centenário da The Football Association – a mais antiga associação de futebol do mundo. A Seleção Brasileira, bicampeã mundial (composta, dentre outros, por Pelé, Garrincha, Gérson, Jairzinho e Tostão), numa fase ruim, foi desclassificada logo na primeira etapa. Por sua vez, após uma acirradíssima partida contra a Alemanha, a vencedora da Copa foi a Inglaterra, conquistando assim seu primeiro título mundial.

Na China Mao Tsé-Tung, no poder desde 1949, insatisfeito com o sistema que ele mesmo havia implantado, desencadeou a chamada “Revolução Cultural Chinesa”, pois queria que o Partido Comunista Chinês fugisse do modelo soviético de comunismo, por considerá-lo falido e onde os burocratas do governo viviam num mundo irreal, com mordomias que o restante da população não tinha. Tinha como ideia essencial manter na mente do povo o fervor revolucionário e um estado constante de luta e superação. Na prática teve o condão de, através da criação das Guardas Vermelhas, eliminar toda a oposição ao governo, promover uma intensa perseguição ideológica, bem como paralisar todo o progresso material e tecnológico do país.

A 38ª cerimônia de entrega Oscar teve vários destaques, tais como Doutor Jivago, A Nau dos Insensatos, A Corrida do Século, Darling – a que amou demais e até mesmo 007 contra a Chantagem Atômica. Mas o filme que realmente foi o grande vencedor nesse ano foi A Noviça Rebelde, que dentre as dez indicações conquistou cinco estatuetas (filme, diretor, edição, som e trilha sonora).

Os Beatles lançaram seu sétimo álbum, Revolver – cujo nome nada tem a ver com a arma de fogo, mas sim com o movimento de rotação do LP na vitrola e com a própria renovação de ideias e musicalidades. Foi um produto de inovação da banda, abordando temas mais profundos e dando início a uma fase com um rock mais psicodélico.

Dentre outras, alcançaram os primeiros lugares na Billboard: The Sound of Silence (Simon & Garfunkel), We Can Work it Out (The Beatles), Paint it Black (Rolling Stones), California Dreamin (The Mamas & The Papas), Like a Rolling Stone (Bob Dylan) e I’m a Believer (The Monkees).

O Golpe Militar de 1964 (que duraria 21 longos anos) colocou no poder do Executivo o marechal Humberto de Alencar Castello Branco, que exerceu amplo controle sobre os poderes Legislativo e Judiciário e nesse período promoveu a concentração de renda entre as classes médias e os mais ricos, prejudicando diretamente qualquer tipo de benefício às classes populares. Especificamente no ano de 1966 foi baixado o Ato Institucional Número Três (AI-3), que veio a complementar o AI-2 do ano anterior – o qual instituiu o bipartidarismo (para uma falsa sensação de democracia) – instituindo as eleições indiretas para governador dos estados e determinando que os prefeitos seriam nomeados por esses governadores.

A TV Record organizou a segunda versão do Festival de Música Popular Brasileira e das 2.635 canções inscritas, a selecionada foi Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, sob a interpretação de Jair Rodrigues, dividindo o primeiro lugar com A Banda, de Chico Buarque, interpretada pelo próprio Chico e por Nara Leão.

E eis algumas das músicas mais tocadas nas rádios brasileiras nessa época da Jovem Guarda: Quero que vá tudo pro Inferno (Roberto Carlos), A Banda (Nara Leão), Meu Bem (Ronnie Von), Disparada (Jair Rodrigues), Pobre Menina (Leno & Lilian) e O Bom (Eduardo Araújo).

A Opel, em agosto de 1966, lançou na Alemanha o Rekord C, com praticamente o mesmo desenho de carroceria que viria a ser aplicado no Opala brasileiro.

E, finalmente, no dia 23 de novembro de 1966, durante uma entrevista coletiva para a imprensa, realizada no decorrer de um jantar dançante no elegante Clube Atlético Paulistano, na capital de São Paulo, a General Motor anunciou a expansão de suas duas fábricas para a fabricação de um carro de passageiros – havia sido dado início ao Projeto 676, o futuro carro de passeio brasileiro: um sedã de quatro portas que teria, já no lançamento, as versões “básica” e “luxo”, ambas com capacidade para seis passageiros.

Na prática, desde meados de 1963, os carros de passeio brasileiros em sua essência eram o Simca Chambord, o FNM 2000 JK, o Aero-Willys e os pequeninos Gordini e o Sedan 1200 (que mais tarde viria a ser chamado simplesmente de Fusca). Enquanto isso as linhas de montagem da General Motors do Brasil concentravam-se nos caminhões e nas caminhonetes – mas já havia a intenção de construir um carro de passeio no Brasil, pois enxergavam que o nosso mercado automobilístico tinha boa possibilidade de crescimento.

Já havia, desde então, algumas preferências acerca de qual veículo deveria ser “tropicalizado”: O europeu Opel Rekord (que, de fato, acabou sendo escolhido) ou mesmo o pequeno Opel Kadett (para competir com o Fusca), ou ainda os americanos Bel Air, tendo sido cogitado até mesmo o argentino Chevy II e, em especial, o Impala 67, que era um sucesso de vendas nos Estados Unidos. Porém esse novo carro deveria ter um custo compatível com a realidade brasileira, de modo que foi montada uma equipe de profissionais brasileiros para verificar a viabilidade financeira desse projeto – que, dentro da empresa, já possuía um nome: Projeto 676 – o que, na minha talvez obtusa conclusão, tenha a ver com essa preferência pelo Impala 67 para designar um projeto que havia sido anunciado no ano de 66, daí o nome Projeto 676… Mas são apenas devaneios e estou aberto a explicações melhores! Enfim, não importava quem fosse ou onde fosse, quando surgia qualquer referência a esse nome já se sabia que seria uma reunião para discutir o futuro automóvel de passeio brasileiro.

Desde o início já estiveram envolvidos nesse projeto André Beer, Diretor Financeiro da General Motors, Clare MacKichan e sua equipe que cuidavam do design dos veículos da empresa, e mais adiante Ciro Cayres, ex-piloto da equipe de competições da Simca. Foram diversos os motivos para a escolha do Opel Rekord, dentre eles o fato de possuir a carroceria monobloco implicava na diminuição dos efeitos dos custos, haja vista a fabricação própria do ferramental para as prensas, diferenciando-o assim de alguns dos produtos oferecidos no mercado mundial.

No início de 1967 começaram inúmeros testes com o carro alemão com a finalidade de tropicalizá-lo – buscando assim minimizar um erro até então comum no Brasil: os veículos simplesmente vinham de fora e praticamente já eram expostos às duras condições do clima e das estradas brasileiras…

Ainda que a carroceria já tivesse sido escolhida, o mesmo não poderia ser dito do motor, pois o do Opel era de baixa cilindrada e elevada rotação, de acordo com a tecnologia alemã de fabricação. Assim, o motor básico escolhido foi o mesmo da Chevy II, que já era fabricado desde 1962 pela General Motors do Brasil: um motor com quatro cilindros, 2.507 cm³ e potência de 90 cv.

Porém os “concorrentes” das outras empresas (Aero-Willys, Simca, Ford Galaxie e Dodge Dart, por exemplo) possuíam em seus veículos motores de 6 e 8 cilindros, de modo que a General Motors do Brasil teria que buscar também preencher essa lacuna. Ora, desde 1958 a empresa já possuía uma fundição própria aqui no Brasil, onde se produzia um motor seis cilindros para caminhões e caminhonetes da empresa norte-americana. Embora já estivesse um tanto obsoleto, já que esse motor foi projetado em 1929 e apenas em 1937 veio a ter algumas modificações, ainda assim era plenamente confiável e um velho conhecido dos mecânicos brasileiros. Graças aos seus dois cilindros a mais deslocava 3.708 cm³ e tinha uma potência de 125 cv.

E isso explica o porquê de todos os parafusos relacionados à carroceria do Opala serem em milímetros (carroceria e medidas no padrão europeu) enquanto que todos os parafusos relacionados ao motor são em polegadas (motor e medidas no padrão norte-americano).

Não há um consenso nem mesmo entre aqueles que participaram de sua construção de como efetivamente surgiu o nome “Opala”. Simplesmente começou a ser amplamente usado internamente pelos funcionários da General Motors do Brasil quando se referiam “àquele carro do Projeto 676”. Uns dizem que esse foi apenas um dos nomes sugeridos pelo departamento de marketing da fábrica, pois tratava-se de uma pedra preciosa – tanto em português quanto em outras línguas – incolor quando de sua extração, mas que com o tempo ganhava novas cores, numa alusão direta ao desenvolvimento e evolução de uma linha de produção de um veículo. Já nos mapas astrológicos a opala representa o mês de outubro, que foi o mesmo mês em que o primeiro carro piloto saiu da linha de montagem. E, por sua vez, André Beer alega que esse nome saiu de uma seleção que contou com cerca de oitocentas sugestões apresentadas por pessoas ligadas à empresa no Brasil.

E, além disso, considerando que no imaginário do público automobilístico brasileiro da época, no tocante a automóveis a marca Chevrolet era amplamente conhecida em decorrência do Impala, ainda que não tivesse sido utilizado especificamente o motor desse modelo, foi meio que óbvia a aliteração das marcas OPel e ImPALA para formar a nova marca OPALA.

E, por fim, uma vez definidos tanto a carroceria quanto o motor, ainda era necessário dar ao novo veículo um visual próprio, que o distanciasse do Opel Rekord C e tivesse uma cara mais familiar dos carros da Chevrolet, de modo que ambos os para-choques receberam um novo desenho, a frente foi alterada para colocação de uma grade frontal e faróis redondos, do mesmo modo que também foram modificadas as lanternas traseiras e os para-lamas traseiros passaram a possuir o charmoso formato de “garrafa de Coca-Cola” (Coke bottle, tal qual os do Impala 67), uma das principais características estéticas do Opala.

E foi assim, que no VI Salão do Automóvel de São Paulo, realizado entre 19 de novembro e 8 de dezembro de 1968, montado sobre um palco giratório em um estande de 1.500m², que o Opala foi apresentado ao mundo – já como linha 1969.

Antes mesmo disso houve uma forte campanha publicitária que adotou personagens que representassem várias faixas sociais, tais como a atriz Tônia Carrero, exemplo de elegância, finesse e sofisticação, o atleta Rivelino, grande jogador de futebol da época e o cantor Jair Rodrigues, ainda famoso por sua apresentação no Festival da Record e detentor de uma enorme simpatia pessoal. Todos se apresentavam em propagandas que coroavam com o bordão “Seu carro vem aí”.

Na sequência, após ter sido efetivamente lançado, essas propagandas deram lugar a uma nova campanha, cujo bordão desta vez era “Pronto, seu carro chegou”.

E foi assim, meus caros, que surgiu o Projeto 676 que veio a culminar com o lançamento e início da fabricação do nosso querido Opala, iniciada em novembro de 1968 e que findou-se em abril de 1992, após 23 anos ininterruptos de produção e com a marca de quase um milhão de unidades produzidas.

E, ainda, cerca de 40 anos depois, teve início este blog… 😜

Speed Racer

Dia desses eu estava na caça de algumas referências visuais para o nosso amado, idolatrado, salve, salve, Titanic e vim parar na imagem desse estupendo SS aí em cima.

E então resolvi perguntar para mim mesmo: “mim mesmo, desde quando gostamos tanto assim de carros?…”

E fui buscar minhas memórias mais antigas, desde quando ainda brincava nos fundos da casa de meus pais, quando bastava um toquinho de madeira, quatro pregos, quatro tampinhas e – pronto! – estava feito meu carrinho para ficar empurrando pelos montes de terra, grama e lama que eu espalhava pelo quintal.

Mas ainda não era isso. Esse quê de paixão com relação às curvas do carro, com o ronco do motor, com a tecnologia embarcada – nada disso estava presente naquela pueril brincadeira de criança.

Foi então que me lembrei!

Speed Racer!

Naquela época da infância – idos da década de setenta – não havia Internet, não tínhamos acesso (nem interesse) a revistas especializadas e, quando muito, havia o sinal da TV aberta, impingindo-nos o que quer que achassem que valia a pena. Bem, com relação à TV até hoje ainda continua assim…

Enfim, dentre as parcas opções oferecidas pela extinta TV Tupi (que mais tarde viria a se tornar o SBT) tínhamos o desenho japonês dos anos sessenta Mach Go Go Go que acabaram “traduzindo” para o resto do mundo como Speed Racer. Um piloto sempre ético que, juntamente com a família e amigos, sempre estava disposto a lutar pela justiça e, de quebra, sagrar-se como Campeão do Mundo nas corridas.

Mas a grande estrela era o Mach 5. Um possante carro com linhas futuristas e que tinha como maior atrativo seu volante com sete botões, nominados de A a G, que permitiam ao piloto se destacar dentre os demais pilotos nos momentos cruciais das corridas:

(A) Autojack – hastes propulsoras, que faziam o carro saltar;

(B) Belt Tire – esteira que recobria os pneus em terrenos acidentados e também servia para proteger os pneus contra armadilhas;

(C) Cutter – duas serras, que saíam da fente do carro, para cortar qualquer obstáculo;

(D) Defenser – uma proteção de vidro à prova de balas que recobria o cockpit;

(E) Evening Eye – faróis infravermelhos;

(F) Frogger – permitia que o carro funcionasse e viajasse debaixo d’água, como um submarino; e

(G) Gizmo Robot – um robô mensageiro, na forma de um pombo-correio, que também funcionava como um GPS, fornecendo sempre a localização exata do Mach 5.

Como muitos outros animes, era um desenho bastante fantasioso, com cenas que beiravam o absurdo da lógica e movimentos dos carros que desafiavam as leis da física. E lá eu queria saber disso? Eu curtia – e muito – cada uma daquelas aventuras, isso sim!

Mas o tempo passou, eu cresci, outros interesses surgiram na minha vida e aquele pedacinho de emoção meio que ficou perdido lá na infância…

Há alguns anos, quando meus filhotes ainda eram pequenos (e agora já com o advento da Internet), consegui localizar vários episódios daquela série. Fomos assistir juntos e, ainda que eles até tenham gostado, pra mim ficou um gostinho estranho, pois “não era bem assim que eu me lembrava”… Alguns traços até mesmo meio toscos, umas tramas previsíveis, piadas óbvias, mistérios fajutos… Algo se quebrou. E fiquei imaginando, uma vez que já eram inúmeros os recursos digitais existentes, como seria bom se alguém resolvesse transformar aquele desenho em filme.

E eis que aconteceu!

Em 2008 lançaram o filme Speed Racer (que já vinha sendo desenvolvido desde 1992), contando inclusive com alguns medalhões do cinema! O filme possuía efeitos especiais absurdos e em excesso e, assim como eu me lembrava do desenho, com situações que desafiavam as leis da física. A bilheteria não foi tão boa quanto esperavam (até porque teve que competir com então recém-lançado – e excelente – Homem de Ferro), o público mais novo não se interessou tanto por um “remake” de um desenho dos anos sessenta e a crítica caiu de pau. Como sempre.

E eu lá quis saber disso? Assisti e, sim, gostei muito mesmo do filme. Me trouxe de volta todos aqueles bons sentimentos que eu tinha quando assistia os desenhos lá na minha longínqua infância!

E para não ficarmos só em palavras, eis a cena que eu considero como sendo a melhor do filme. Absurdamente repleta de efeitos especiais, desenho animado, saltos impossíveis, movimentos absurdos, reações exageradas, ou seja, tudo que é de bom para o nosso entretenimento. Para o MEU entretenimento. Ainda que você não tenha visto todo o restante da película, não tem como assistir esses parcos três minutos de filme sem se emocionar com tudo que está acontecendo naquele momento final da corrida…

Outro combate inusitado

Alguém ainda se lembra daquele combate inusitado?

Pois é. Quando a gente pensa que já viu de tudo ainda acaba sendo surpreendido.

Isso porque a ÚLTIMA coisa que eu poderia imaginar seria que o Impala 67 do Dean (de Supernatural) algum dia iria tirar um racha com a Mystery Machine do Fred (de Scooby Doo).

Pra ver como as coisa são… Confiram: