Então.
Passei o dia inteiro ontem correndo TODOS os desmanches que conheço por aqui, de modo a tentar encontrar uma bendita cremalheira para um motor de Opala seis cilindros. Neste não tem, naquele está pra chegar, acho que o outro talvez quem sabe pode ser que deva ter, e assim por diante.
No frigir dos ovos encontrei três: uma a R$130,00, mas que tinha que confirmar a numeração da peça para ver se a furação batia; uma a R$150,00 que, segundo o caboclo, era de 92 e serviria em qualquer modelo; e uma a R$200,00 (!!!) – mas que ainda estava instalada num motor (teria que, primeiro, tirar) – que o distinto dono do desmanche garantiu que seria a única de toda a cidade. Nem adiantaria procurar mais. Bom poder trabalhar com confiança nos outros, né?
Bem, conversei com o japonês da autoelétrica e informei que pretendia trocar a cremalheira, no que ele indicou um mecânico da confiança dele. Não que o meu não o seja, mas é que ele é careeeeeiro…
Fui conversar com o tal do mecânico (lá tem um quadro informativo sobre as condições das velas – ainda voltarei para tirar uma foto disso), expus-lhe o problema e ele comentou de um conhecido que trabalhava como reparador numa loja de autopeças e que volta e meia teria alguma coisa usada na casa dele pra vender. Fui atrás do distinto, encontrei-o e conversamos.
– Cém réal, mais é a basi di tróca, viu?
Beleza. Afinal o que eu iria fazer com uma cremalheira usada? Um troço do tamanho de um LP (se vocês não sabem o que é isso é porque são beeeem mais novos que meu Opala mais novo…) e que pesa sei lá quantos quilos. Usaria como peso de papel? Brincaria como disco de frisbee? Não. Sem esquema. Acho que nada disso rola…
Ficou acertado que ele traria a peça no dia seguinte (hoje), pelo que conversei com o mecânico para saber se ele iria trabalhar – afinal seria pleno início de feriadão, Quinta-feira Santa. Pelo menos até a hora do almoço, trabalharia. “Seria tempo suficiente para a troca?” – perguntei. Sim, seria. Então tudo certo.
Assim, montamos quase que uma operação de guerra em termos de horários, serviços e estratégia. Mais ou menos assim: leva o carro para o mecânico às oito, oito e quinze a Dona Patroa me pega com o carro dela para que eu possa buscar a Parati (a que está à venda, lembram?), oito e quarenta e cinco volto no mecânico para pegar a cremalheira que acabou de retirar, nove horas passo na casa do rapaz para medir as cremalheiras e fechar negócio (se não servisse ainda me restariam os desmanches), nove e quinze entrego a cremalheira para o mecânico, nove e quarenta e cinco estou num desmanche no outro lado da cidade para comprar uma capa de cremalheira (pois o carro estava sem), dez e trinta entrego a capa de cremalheira para o mecânico (peguei trânsito na volta), que me informou que tinha mais algumas coisinhas perrengueadas e se já seria para fazer, ao que concordo, onze e trinta chegam as peças que faltavam, meio-dia e quinze acaba a montagem, meio-dia e dezesseis concluímos que a capa de cremalheira não serve perfeitamente (era de uma Caravan 80), meio-dia e dezessete concordo que sim, ele pode tentar “adaptar”, ainda que corra o risco de perder, meio-dia e quarenta e cinco o carro está pronto, meio-dia e cinquenta eu retorno da volta de teste (insatisfeito), meio-dia e cinquenta e um ele levanta o carro e acerta o câmbio na exata posição em que estava antes, e, finalmente, às treze horas e trinta minutos (e mais algumas voltas depois) concluímos a operação.
É LÓGICO que em alguns momentos no meio de todo esse trololó eu tomei uma ou duas latinhas… 🙂
Um ponto interessante dessa história toda é que vim a aprender sobre a questão da furação da cremalheira. Até determinado ano (89, eu acho – mas estou chutando) a furação era de um tipo, e, após, passou a ser de outro tipo. Por isso que quando perguntei num dos desmanches (talvez o único mais “sério” dentre todos), eles me questionaram qual seria o número da peça. Achei aquilo esquisito, mas seria, na verdade, para saber qual o sistema de furação da mesma – através do número de série da peça. Entretanto, conversando com alguns “entendidos” da área, parece-me que as peças mais antigas somente servem nos motores mais antigos, entretanto as últimas que saíram, dos motores mais novos, já têm furação pronta tanto para uma situação quanto para outra. Ou seja, uma cremalheira antiga não serviria num motor novo, mas uma nova serviria em qualquer motor. Basicamente seria isso.
Outro ponto interessante é que, juntamente com o serviço de troca de cremalheira já foi feita também a troca do retentor da embreagem, o qual, ao que parece, não estava lá muito bom. O que levou o mecânico a uma conclusão interessante, a de que o motor não seria tão antigo quanto o carro, pois esse tipo de melhoria técnica – retentor – só passou a existir nos motores de 90 a 92.
Olha, no meio de tanto perrengue, essa notícia – a de que o motor talvez seja melhor do que aquilo que eu esperava – veio como um bálsamo…
Afinal de contas não dá pra só levar na cabeça o tempo todo, né?…
Hein? A cremalheira? Perfeita. Ainda mais se considerarmos que a que eu tirei estava com um chanfro de uns 45° em toda a volta da dentição, dá pra perceber bem o porquê o a engrenagem do motor de arranque vivia engastalhando…
Agora, ainda que permaneça com o “motorzinho” de arranque de um quatro cilindros, pelo menos está girando muito bem, muito mais suave, haja vista o encaixe perfeito – do jeito que tem que ser (veja a figura abaixo).
* Quem quiser entender o porquê do título “esquisito” deste post deverá ter idade o suficiente para lembrar da musiquinha do antigo comercial do Cremogema…