Eu tenho um bom e velho Marajó, ano 1982. Um daqueles automóveis mais antigos, da época em que carros com injeção eletrônica eram vistos com solenidade e reverência. Na realidade ele não é o único veículo que temos em casa, pois a Dona Patroa tem um carro “de verdade”. O Marajó (carinhosamente chamado de Rabecão, e com a figura dos Caça-Fantasmas colada atrás) é o que eu chamo de “mobília”.
É uma espécie de síndrome de advogado, pois prefiro manter um carrinho velho, mas em bom estado, quitado e sem dívidas, que sirva para nos levar pra cima e pra baixo em qualquer situação; e também um carro melhor, que pode ser convertido em dinheiro numa eventual época de vacas magras. Desse modo a família nunca ficaria a pé.
Tudo bem, sei que a verdadeira síndrome de advogado é justamente o contrário: é o caboclo que quer aparentar ser o que não é, para mostrar para quem ele não gosta uma situação que ele não tem. Conheço muitos “doutores” que fazem questão de usar terno italiano, mas não pagam condomínio há anos…
Fazer o quê? Seu Bento, vulgo meu pai, do alto de sua sapiência sul-mineira me ensinou que a gente tem que dar o passo de acordo com o tamanho da perna, mas sempre guardando um queijinho na despensa. Tá certo que levei anos pra aprender a lição, mas aprendi. Eu acho.
Mas voltemos ao Marajó.
Tem duas coisas nas quais sou mestre. Uma é não ter a mínima idéia do consumo de um veículo, e outra é deixar acabar a gasolina do tanque… Acho que simplesmente TODOS os carros e motos que tive até hoje, novos ou velhos, passaram pela desventura de parar na estrada por falta de gasolina.
E nos dias de hoje isso ainda tá pior, pois não adianta andar com um vasilhame qualquer no carro, pois os postos simplesmente não estão vendendo combustível avulso – receio de que vá se fazer algum Coquetel Molotov…
Mesmo assim consegui encher uma garrafa de Coca-Cola e deixei-a no carro para fins experimentais. Que fins? Bem, coloquei cinquenta litros no Rabecão (que estava com o tanque total e completamente vazio) e comecei a marcar a quilometragem para ver quanto ele fazia. Meu companheiro nessa desventura – um amigo que trabalha comigo na “repartição” e que tem pego carona nesses dias frios – passou por maus bocados. Até porque ele, no princípio, não sabia que eu estava com a gasolina reserva. Bastava o carro dar uma engasgada que ele já ficava branco, nas subidas íngremes ele suava frio (pois o tanque ficava desalinhado e o combustível não ia para o motor), enfim, encrenca na certa.
Só que, depois que o filho duma égua descobriu que eu estava com combustível de reserva, o bicho ficou valente! “Não, agora vamos até o fim. Enquanto não acabar a gente não reabastece.” E a besta aqui achando graça…
A expectativa era de que acabasse a gasolina no PIOR lugar possível. Provavelmente no meio do trânsito, sobre uma ponte, numa subida, sei lá. E tudo isso só pra ter a certeza absoluta de quantos quilômetros o carro efetivamente faria por litro. Sei que existiriam meios empíricos mais adequados pra se medir isso, mas não seriam tão divertidos!
No final das contas, ontem acabou a gasolina. De vez. Onde? Numa reta, bem no acostamento, DE FRENTE PARA UM POSTO DE GASOLINA!
Segundo meu amigo, “pobre, até quando tem sorte, tem azar – a gasolina só acabou em frente a um posto justamente porque não precisava”.
Tudo bem. Pelo menos foi divertido.
Ah! O resultado disso tudo? 7,5km/litro… :’-(
E aquele ponteirinho do tanque?…
O hodômetro parcial, talvez?
Beijos,
JU…
Aí é que tá. No Rabecão quando o tanque tá cheio, marca meio tanque, quando o tanque tá começando a entrar na reserva, marca um quarto, e quando já acabou, às vezes fica no um quarto, às vezes na reserva. Na realidade eu preciso é trocar o tanque, a bóia e o marcador numa tacada só. Mas falta vontade ($$$)…