Feed-se

Com o subtítulo de “O primeiro agregador de feeds em revista do Brasil”, emblematicamente no dia 1º de abril de 2008 foi lançada a edição piloto da revista Feed-se. Seu download pode ser feito aqui.

Projeto interessante e com um belo design – de autoria do Celso Junior. São mais de dez os idealizadores e co-produtores da revista (constam todos na ficha técnica, na penúltima página).

Os artigos até que são interessantes, destacando-se (na minha opinião) a experiência orientalizada do Fernando Mafra, um pouco de história de Nospheratt, e as dicas de Luciana Monte.

Os demais autores que me perdoem, mas tudo que consegui ver além dos textos acima foram dicas e mais dicas para “agregar valor” ao seu blog. Como afinar o Adsense, fazer seu blog conhecido, torná-lo um instrumento de sucesso, etc, etc, etc.

Ora, “blogar”, para mim, é simplesmente um prazer. É exercitar minha capacidade de raciocínio e de escrita. É compartilhar informações, experiências e situações. É gritar sozinho no deserto. É ficar feliz com os quase quatro leitores que tenho – Uai? Não eram cinco?…

Tentativas expressas de “monetização” de um blog me deixam desconfiado. Nada contra um bannerzinho aqui ou uma propagandinha ali. Mas esse não pode ser o foco principal, sob risco de perda do própria identidade.

Bão, é isso.

Enquanto escrevia, percebi que já saiu a revista número um do Feed-se, estando disponível para download no mesmo link que citei no início. Vou baixar o arquivão PDF e ler – quem sabe minha impressão não muda um pouco?

Depois eu conto…

Racista sem querer

O Dr. Alegado, como vocês já devem saber, sempre foi um boa-praça. Aquele cara amigão que vai chegando e conversando com todo mundo, sem nenhum tipo de preconceito, qualquer que seja. Talvez seja uma maneira de auto-defesa para tentar contrabalancear sua iminente tendência ao desastre.

Acontece que na comarca onde Alegado costumava advogar havia um juiz – ainda que não me lembre seu primeiro nome – cujo sobrenome era “Negrão”. E ao contrário da soberba de muitos meritíssimos de hoje em dia, este sempre recebia qualquer um a qualquer hora em seu gabinete. Volta e meia Alegado precisava despachar alguma coisa diretamente com o juiz e – quando muito – anunciava à sua secretária que já estava entrando.

Acontece que esse juiz foi transferido para outra comarca e no lugar do meritíssimo “Dr. Negrão”, veio um novo juiz – meio recalcado, diga-se de passagem – e que efetivamente era negro.

Já dá pra perceber a desgraça em curso, não é?

Alegado, sem saber da transferência, subiu tranquilamente ao gabinete do juiz e antes mesmo que a secretária pudesse falar algo (apesar de estar gesticulando freneticamente e quase em pânico), ele já foi entrando e gritando:

– E aí? Tudo bem? O Negrão tá por aí? Tô precisando trocar uma palavrinha com ele…

A secretária largou-se, inerte, na cadeira. Boca ainda escancarada e sacudindo lentamente a cabeça, com aquela cara de “não acredito”.

Alegado ainda ficou ali por alguns segundos sem ter entendido patavinas da reação da menina. Até que a porta do gabinete se escancara furiosamente e o juiz com seu olhar de ódio fixo em Alegado esbraveja:

– QUEM É QUE O SENHOR OUSOU CHAMAR DE NEGÃO???

Caso tivesse restado a Alegado algo de sua voz, talvez ele pudesse ter explicado alguma coisa. Mas naquele momento tudo que ele conseguia era gaguejar e balbuciar poucas palavras praticamente ininteligíveis enquanto o juiz desfilava um rol inominável de impropérios sobre sua pessoa.

É certo que depois de algum tempo a situação foi esclarecida. Assim como é certo que a porta daquele gabinete jamais voltou a ser franqueada como antes para Alegado…

* Existem diversas histórias que permeiam os corredores dos fóruns da vida, que já aconteceram comigo, com você e com todo mundo, mas que seriam impublicáveis se conhecida a autoria. Pensando nisso criei o “Dr. Alegado” – um personagem que possibilita compartilhar tais histórias – todas verídicas!